Samantha Carpenter

Chegando no apartamento, coloquei todas as compras para dentro da casa. Fechei a porta e fiquei analisando a tranca, notei que era bem fácil de se arrombar, então terei que colocar novas trancas nessa porta. Aquele cara na rua foi um alerta de que pessoas estranhas estão por perto, melhor prevenir antes que alguma coisa aconteça.

Tara estava muito feliz por ter finalmente tirado aquele gesso, era tão bom ver a garota andando livremente pela casa sem a ajuda de uma muleta ou se apoiando em alguma coisa.

— Que cheiro bom... - Tara falou correndo em direção a cozinha

— Meninas, estão com fome ? - Quinn perguntou lá da cozinha.

Cheguei na cozinha e deixei as sacolas em cima da mesa, Tara também tinha colocado algumas sacolas lá em cima. Quinn estava cozinhando alguma comida no fogão e estava com um cheiro ótimo.

— O que você está fazendo ? - Me aproximei do fogão e me encostei na bancada.

— Receita secreta de família - Quinn arqueou a sobrancelha. — Tô brincando, são apenas algumas panquecas para o jantar. Vocês duas comem carne né ?

— Comemos sim - Acabei rindo do quase desespero de Quinn. — Estão com a cara muito boa - Falei observando a panela.

Quinn agradeceu e Tara me ajudou a guardar as coisas nos armários e na geladeira. A ruiva logo estava terminando de montar as panquecas que ela estava preparando.

— Sam, depois passa o valor que eu tenho que te pagar - Quinn falou se referindo as compras do mercado.

— Não precisa se preocupar - Tentei negar, já que eu tinha apenas comprado alguns lanches e bebidas para nós comermos ao longo do mês.

— Eu insisto - Quinn sorriu. — Se são coisas para a casa, é injusto você pagar isso sozinha.

Quinn afirmou enquanto colocava a sua mão em meu ombro, reafirmando que ela estava bem em dividir a conta do mercado. Tara estava ocupada mexendo em seu celular, fiquei um tempo encarando a mais nova. Eu confesso que estou ficando um pouco preocupada com ela, Tara parece estar bem até demais para alguém que foi atacada e quase morreu no ano passado.

— Sam! - Quinn estalou os dedos na minha frente. — Você ouviu o que eu falei ?

— Não... Desculpa, o que era ? - Pisquei várias vezes, voltando o meu foco para a ruiva.

— Eu disse que o jantar está pronto - Ela apontou para a mesa.

Quinn havia colocado uma travessa, com várias panquecas, bem no meio da mesa e também tinha ajeitado os pratos, já que eu acabei colocando eles apenas um em cima do outro e esqueci de arrumar.

— Ah sim! - Forcei um sorriso. — Tara, pode vir jantar.

Chamei pela mais nova, que logo guardou o celular e veio até a mesa. Começamos a comer calmamente, as panquecas estavam muito gostosas, nunca havia comido algo tão gostoso assim. Quinn realmente mandou muito bem nos temperos. A ruiva parece ter percebido isso, já que tanto a Tara quanto eu, estávamos sorrindo enquanto comemos.

— Vai sobrar muitas - Quinn falou apontando para a travessa que ainda tinha muitas panquecas. — Vocês não querem chamar as meninas para vir comer ?

— Boa ideia - Tara concordou pegando o celular novamente.

Anika Kayoko

Mindy e eu estávamos arrumando algumas apostilas para a semana de aula. Aquele professor deu muita coisa para a gente fazer, essas anotações tem assunto demais para ser apenas a carga horária desse semestre.

Nós duas estávamos sentadas no chão da sala, havia uma mesinha na nossa frente, onde tínhamos espalhados todos aqueles papéis.

— Eu não aguento mais - Mindy se jogou em cima de mim.

— Mindy, a gente mal começou a separar os assuntos - Falei olhando para a morena.

— Não importa, já cansei - Mindy começou a fazer drama.

— Você é inacreditável, Mindy - Comecei a rir da garota.

— Não ria de mim - A morena me olhou incrédula e começou a bater levemente em mim.

Nós começamos uma pequena briga ali no chão, Mindy tentava bater em mim e eu me defendia. Até que ela usou a força do seu corpo para se jogar em cima de mim, me fazendo cair de costas no chão e com a garota por cima de mim.

— Você venceu - Me rendi

Acabei desistindo de lutar ao perceber que não teria como sair daquela situação, Mindy era visivelmente mais forte que eu, além de ser mais alta também.

— Você é uma gracinha, mas não pode vencer de mim - Mindy fez um bico nos lábios.

Acabei sorrindo com aquele seu comentário. Nós ficamos por alguns segundos naquela posição, trocando alguns olhares. Inconscientemente minha visão intercalaram entre a sua boca e seus olhos. Mindy tinha se aproximado um pouco mais os nossos corpos, me fazendo acreditar que eu teria alguma chance de beijar ela, mas o barulho do seu celular deu um pequeno susto em nós duas.

Mindy rapidamente saiu de cima de mim e foi até o seu celular que estava na mesinha, bem embaixo daqueles vários papéis.

— Tara tá chamando a gente para jantar lá na casa dela - Mindy falou ao ler as mensagens em seu celular. — O que você acha ?

— Claro... - Respondi um pouco envergonhada pelos meus pensamentos sobre ela.

Mindy começou a digitar em seu celular, acho que avisando a Tara que iríamos para lá em alguns minutos. Aproveitei para me levantar e arrumar aquela mesa, além dos papéis, também havia vários pacotes de salgadinhos jogados por cima, estava um completo caos.

— A gente arruma isso depois - Mindy, ainda no chão, começou a se espreguiçar.

— Eu não vou deixar essa bagunça - Catei todas aquelas embalagens e fui até a cozinha para joga-las no lixo.

Assim que joguei todos aqueles pacotes no lixo, me virei para voltar a sala, mas acabei dando de cara com Mindy, que estava logo atrás de mim.

— Credo Mindy, que susto - Reclamei colocando a mão no peito, sentindo meu coração levemente acelerado. — O que você...

Fui interrompida quando Mindy me deu um beijo, arregalei os olhos com aquele ato repentino, mas logo relaxei e retribui o beijo. Senti as suas mãos indo de encontro com a minha cintura, me empurrando para trás, até que acabei encostando no balcão logo atrás de mim.

— Você queria isso ? - Mindy parou o nosso beijo, mas não se distanciou de mim.

— Queria sim... - Fiquei um pouco envergonhada, mas Mindy me deu um selinho demorado nos lábios.

— Que bom. - Mindy sorriu e se afastou um pouco. — Eu queria fazer isso a um tempinho já.

— Nos conhecemos ontem, Mindy - Inclinei a minha cabeça para o lado

— Não vejo problema nisso - Ela deu de ombros enquanto tinha uma feição inocente no rosto.

Acabei rindo juntamente com a garota. Até que Mindy estendeu o seu braço em minha direção.

— Vamos ? - Mindy aproximou a sua mão de mim. — Estou ficando com fome.

— Você sempre tá com fome - Sorri e peguei a sua mão.

Nós duas caminhamos até a porta do nosso apartamento, mas no meio do caminho notei que Mindy tinha desfeito o seu sorriso, me deixando um pouco preocupada.

— Anika, eu gosto de você - Mindy começou a falar, mas o seu tom de voz parecia um pouco preocupado e triste

— Vai me dar um fora ? - Franzi o cenho

— O que ? Não! - Ela disse quase em desespero, enquanto gesticulava rapidamente com as mãos.

— Então o que é ? - Acabei rindo do seu desespero

— Tem uma coisa que eu preciso muito te contar... - Mindy segurou nossas duas mãos juntas.

— Pode me contar qualquer coisa - Fiz carinho em suas mãos, usando o meu polegar.

— Promete que não vai se afastar de mim ou algo do tipo ? - Mindy estava bastante insegura.

— Mindy, eu jamais ousaria me afastar de você - Me aproximei para lhe dar um abraço.

Mindy então começou a me falar tudo que tinha acontecido ano passado, quando ela ainda morava em uma cidade chamada Woodsboro, junto com a Tara, Chad e mais alguns amigos. Arregalei os olhos quando ela me contou sobre os ataques, não consigo imaginar pelo ela e os outros passaram. Mindy parecia tentar não se importar, embora ela tenha dito que Nova York era uma nova chance de todos tentarem ter uma vida normal.

— Meio que todo mundo que for próximo da gente, corre esse risco - Mindy se referia aos ataques. — Eu não me perdoaria se algo acontecesse com você por minha causa.

— Mindy, você não tem culpa - Passei a mão pelo seu braço, fazendo um carinho. — Se algo acontecer com a gente, vamos superar isso juntas, certo ?

— Você é uma gracinha, sabia disso ? - Ela sorriu apertando um pouco a minha bochecha.

— Você já falou isso - Respondi sentindo um sorriso se formando em meu rosto.

Resolvemos que já era a hora de ir para o apartamento das meninas, elas com certeza vão falar do nosso atraso, então temos que andar. Quando saímos de casa e fomos em direção ao apartamento de Tara, que ficava bem ao lado do nosso. Acabei notando que tinha alguma coisa no chão, estava longe, próximo a escada de emergência.

— Espera, Mindy - Segurei o braço da garota, antes que ela batesse na porta do outro apartamento.

— O que foi ? - Mindy me olhou confusa.

Resolvi ir até lá pegar aquele objeto, a curiosidade tomou conta de mim nesse momento. Mindy observava todos os meus movimentos. Quando cheguei mais perto, notei que era alguma espécie de pendrive, parece que alguém deixou cair aqui.

— De quem é ? - Mindy se aproximou de mim.

Dei de ombros, já que eu não sabia de quem era. Virei aquele pendrive, para ver o que tinha atrás dele, e por sorte tinha um nome colado atrás.

— É da Maxine - Comentei quando li o seu nome junto com a inicial do seu sobrenome, que era P.

— Você sabe onde ela mora ? - Mindy me perguntou e eu confirmei.

— Vamos lá entregar para ela - Sugeri apontando para o final do corredor. — Ela mora logo ali.

Maxine Prescott

Minha cabeça na estava latejando depois de ler tantas pesquisas sobre os trabalhos da faculdade. A grande maioria dos trabalhos era individual e eu teria que digitar todos eles. Olhei para o relógio e estava quase de madrugada.

Acomodei as minhas costas no encosto da minha cadeira e descansei um pouco ali, eu estava muito longe de acabar o que eu tinha que fazer, mas pelo menos consegui adiantar algumas coisas. Tenho sorte por esses trabalhos não precisarem ser entregues amanhã, ou eu estaria condenada.

— Acho melhor parar por aqui - Me levantei sentindo os ossos das minhas costas estralarem aos poucos.

Não posso dormir tarde, se eu me atrasar amanhã, com certeza irei ouvir mais reclamações. Resolvi ir até a cozinha para pegar um copo d'água, minha garganta estava um pouco seca e eu não iria conseguir dormir assim.

No meio do caminho para a cozinha, escuto a campainha tocando, por um momento estranhei, já que nunca recebi visitas a não ser quando o síndico do apartamento resolve fazer uma ronda pelo prédio, perguntando se precisa concertar algo. Hoje de fato não era o dia para isso, e muito menos o horário.

Meio incerta, vou até a porta e observo pelo olho mágico que tinha na porta. Consigo ver que era a Anika e ela estava acompanhada junto de outra garota que eu suspeito ser a tal Mindy que ela tanto fala, então relaxo um pouco e abro a porta, cumprimentando elas com um sorriso no rosto.

— Maxine, você estava dormindo ? - Anika parecia um pouco preocupada.

— Não se preocupe, eu estava só estudando um pouco - Acabei bocejando entre a minha fala.

— Maxine, como vai ?  - Mindy me deu um leve aceno

— Oi Mindy - Acenei de volta para ela.

— Como você sabe meu nome ? - Mindy arqueou a sobrancelha.

— Anika só fala de você - Falei e a mais baixa me olhou boquiaberta.

— Você fala de mim para as pessoas ? - A morena cruzou os braços e botou um sorriso malicioso no rosto.

— Maxine, isso aqui é seu ? - Anika resolveu fingir que Mindy não estava falando com ela

— Onde você achou isso ? - Franzi o cenho, aquele pendrive era realmente meu.

— Estava ali no chão - Anika apontou para o corredor.

— Obrigada... - Alguma coisa estava errada.

— Tá tudo bem ? - Mindy me perguntou e eu concordei devagar.

— Sim, eu só... - Pensei um pouco. — Não achei que tinha perdido, ele sempre fica dentro da minha bolsa.

— Deve ter caído quando você pegou alguma coisa de dentro da bolsa - Mindy respondeu.

— Pode ser... - Dei de ombros. — Obrigada mesmo assim.

— De nada - Anika sorriu satisfeita.

Me despedi das duas e fechei a porta do apartamento. Olhei um pouco para aquele pendrive, eu não acredito que o derrubei no chão, ele sempre fica guardado dentro do meu estojo.

Então comecei a sentir uma sensação estranha, algo estava errado.