Capítulo 2
Camila
Eu encarava o relógio pendurado na parede do consultório a meia hora, a médica que havia me atendido falava para o Dr Mendes sobre meu estado, ela disse que nada foi mostrado no raio x e que provavelmente minha perda de memória era apenas temporária por conta do trauma.
Ela estava enganada assim como ele, não havia nenhuma perca de memória eu apenas menti afinal era minha única opção.
Eu tentei fugir do quarto duas vezes, todas as duas foram um total fracasso já que da primeira vez eu não encontrei minhas roupas e não seria nada discreto sair com aquelas roupas de hospital, na segunda o próprio Dr Mendes me pegou em flagrante e para o meu azar.
— Vamos entrar em contato com a polícia para ver se encontram algo sobre algum familiar para buscá-la e você deve ficar no hospital até então- a doutora diz olhando para mim.
Abro a boca para protestar mas acabo ficando quieta, eu não tinha como dizer alguma coisa sem acabar com a mentira e a polícia não poderia saber de mim, isso seria meu fim.
— Doutora podemos falar à sós por um momento- Dr Mendes fala sério.
— Claro- ela diz e se levanta.
Os dois saem do consultório em silêncio.
Eu apenas fico sentada olhando para as paredes brancas. Mas o que não sai da minha cabeça é porque o Dr Mendes está tão interessado no meu estado, será que ele é alguém mandado por -ele- , só a ideia me dá um arrepio na espinha, preciso sair daqui o mais rápido possível.
A doutora volta ao consultório e sorri pra mim e eu apenas a encaro.
— Pode ir Karla- ela diz e se senta em sua cadeira.
— Para onde?- pergunto.
— Dr Mendes vai acompanhá-la- ela diz simplesmente.
Me levanto devagar e saio pela porta, Dr Mendes está me esperando encostado na parede oposta com as mãos no bolso.
— Vamos?- ele pergunta.
— Para onde?- pergunto novamente.
— Apenas me acompanhe Karla- ele diz e começa a andar.
— Não.
Ele para de andar e se volta para mim me encarando.
— Por que não?
— Eu não vou a qualquer lugar com um estranho- digo cruzando os braços.
Ele bufa e depois passa a mão pelos cabelos.
— Eu só quero te ajudar Karla, conversei com a doutora e me responsabilizei por você.
— Você vai me levar a polícia?
— Não, creio que não seja necessário e você pareceu desconfortável com a ideia eu percebi.
— Por motivo você seria tão bom comigo?- pergunto desconfiada.
Eu não posso correr o risco de ser pega novamente.
— Me sinto responsável por você- ele diz se aproximando e ficando a centímetros de mim.
Sua proximidade faz meu corpo tremer, ele era alto e tive que erguer a cabeça para olhar para seus olhos castanhos claros.
— Por que?- pergunto em um sussurro.
— Você sempre faz tantas perguntas?- ele pergunta sorrindo.
Droga ele é tão bonito que chega até a doer. Pisco para afastar esse pensamento e continuo o encarando.
— Vamos- ele diz e pega a minha mão.
Ele começa a andar e não tenho outra alternativa a não ser acompanhá-lo.
E o observei durante todo o caminho, seus traços, o queixo perfeito, os olhos castanhos claros, os lábios e também o cabelo negro que caia sobre sua testa, Dr Mendes não me parece perigoso mas não posso deixar de lembrar que ELE também não parecia.
Para a minha surpresa Dr Mendes para o carro a alguns metros de onde eu fui atropelada na noite passada, ele estaciona em frente a um prédio luxuoso e me olha.
— O que estamos fazendo aqui?- pergunto antes que ele diga algo.
— Você vai ficar comigo- ele diz tirando o cinto de segurança.
— O que?- pergunto apoiando minhas costas na porta do carro mantendo distância dele.
Ele percebe o meu medo e bufa, respira fundo e tenta explicar.
— Me desculpe Karla eu não expliquei direito, eu conversei com a doutora e ela permitiu que você ficasse na minha casa até você recuperar a memória- ele explica com um olhar sereno.
— Acho que quem tem que permitir ou não algo sobre a minha vida sou eu- digo de braços cruzados.
Como vou sair dessa agora? Pelo visto essa mentira foi uma péssima idéia.
— Sim você está certa, só que nas condições que você se encontra não está apta para tomar decisões e se você ficasse no hospital eles chamariam a polícia para investigarem sobre você para encontrarem sua família mas acho que você não quer conversar com a polícia não é mesmo?
— Não.
— Então você vai ficar no meu apartamento, sem nenhuma pressão fica mais fácil para você se lembrar de tudo e então assim que esse lapso de memória acabar eu levo você até a sua família e tudo ficará bem- ele diz e abre a porta do carro.
Eu bem que queria isso Dr só que minha família não está a nosso alcance nem ao de ninguém.
— Por que está fazendo isso?- pergunto quando ele está saindo do carro.
Ele me olha e então se senta no banco novamente.
— Isso o que?- ele pergunta.
— Cuidando de mim, eu soube por uma enfermeira que foi você que me levou para o hospital mas por que quer me ajudar?
Ele fecha os olhos e apoia a cabeça no volante, ele respira fundo antes de me encarar.
— Eu sei que você provavelmente vai ficar com raiva de mim mas eu vou te contar- ele dá uma pausa e olha no fundo dos meus olhos- fui eu que atropelei você, eu peço desculpas mas foi algo tão de repente e...
Eu o paro.
— Tudo bem, você não teve culpa- digo vendo seus lábios separados e sua expressão confusa- a culpa foi minha, eu que atravessei a rua correndo então você não precisa se desculpar.
Ele sorri e sai do carro, da a volta e abre a porta para mim. Saio do carro e sinto a brisa gelada da manhã de Toronto.
Andamos lado a lado para dentro do prédio, o lugar é incrível e muito parecido com os lugares que eu frequentava antigamente com minha família antes de tudo.
O porteiro do prédio o cumprimenta com um aceno e ele retribui, entramos no elevador em silêncio, ele parecia pensativo e eu só o observava, quando chegamos ao décimo quinto andar o elevador parou, é sério que ele mora na cobertura?
Ele sai do elevador e eu o sigo até a única porta daquele andar, ele tira as chaves do bolso e destranca a porta.
— Fique a vontade- ele diz depois de entrarmos.
— Shawn- uma voz feminina chama de algum lugar do apartamento.
— Só um segundo- ele responde tirando o blazer e dobrando as mangas de sua camisa social.
Então eu percebi as tatuagens, um pássaro na sua mão direita, uma pequena que não consegui ver direito o que era e um violão ao que me parece só que tinham mais detalhes que não consegui ver.
— Vem vou te apresentar uma pessoa- ele diz antes de pegar a minha mão e me guiar pelo apartamento.
Passamos rapidamente pela sala de estar e pude ver que era ampla e bem organizada, logo que chegamos a cozinha vejo uma garota cozinhando animadamente enquanto ouve Shape of you do Ed Sheeran, assim que ela nos vê abaixa o volume da música e sorri.
Eu a analiso, ela é mais nova do que eu então acho improvável que ela seja namorada dele.
— Até que enfim vocês chegaram, eu já fiz tudo o que me pediu Shawn- ela diz se aproximando.
Ela o abraça apertado.
— Karla essa é minha irmã Aaliyah, Aaliyah essa é Karla- ele nos apresenta.
Ela sorri para mim e eu retribuo só que o que eu não esperava era o que veio em seguida, Aaliyah me dá um abraço caloroso e apertado igual ao que deu em seu irmão, quando ela se afasta e volta para o lado do irmão foi que percebi a semelhança, os mesmos cabelos negros e o sorriso encantador.
— Eu imagino que você esteja cansada e com fome não é mesmo?- ela pergunta docemente e eu concordo- Shawn cuide das panelas enquanto eu a levo para o quarto para que tome um banho relaxante antes de comer.
Dito isso ela pega minha mão me leva em direção ao corredor que provavelmente ficam os quartos, ela para na penúltima porta e se vira para mim antes de abrir.
— Eu só tive duas horas para organizar tudo então se não gostar de algo fale com Shawn e ele dará um jeito de resolver- ela diz antes de abrir a porta.
Eu não fazia ideia do que ela estava falando. Ela me faz entrar no quarto e diz que eles estarão na cozinha então fecha a porta e me deixa sozinha.
Olho em volta, o quarto é amplo, a cama é grande e está forrada com uma colcha azul royal linda, todo o resto da decoração segue o mesmo tom de cor, haviam duas portas, uma deve ser a do banheiro mas a outra vou ter que descobrir.
Abro a primeira porta e fico surpresa, um closet repleto de roupas, sapatos e bolsas está a minha frente, entro no lugar e começo a analisar, as roupas eram do meu tamanho assim como os sapatos só que isso me intriga, por que tudo isso para uma estranha? Eu não sabia.
Separo uma blusa preta e uma calça jeans também preta e vou em direção a outra porta que como eu esperava era o banheiro, mas não um banheiro simples e sim um banheiro grande com uma banheira grande e com um balcão cheio de produtos de banho, cremes e maquiagens, no banheiro então era o lugar perfeito para eu finalmente conseguir ver o meu estado.
Tirei minhas roupas calmamente sem olhar para o espelho, meus braços, colchas e abdômen estão cheios de hematomas roxos mas eu já os tinha visto essa manhã quando me vesti no hospital, assim que fiquei totalmente nua me voltei para o espelho grande sob o balcão, me aproximei do balcão e vi com detalhes o meu rosto todo machucado, meu olho direito estava roxo e inchado, o canto da minha boca está machucado e há alguns arranhões no restante do meu rosto.
Sem aguentar eu começo a chorar encarando meu reflexo no espelho, olha o que ELE fez comigo, olha o que ele está fazendo durante todos esses anos, me destruindo, me matando, acabando com tudo que eu já tive, eu estou cansada disso. Mergulho na banheira e deixo meu corpo afundar na água.
Eu só preciso esquecer, nem que seja por alguns minutos.
Oieee pessoas, td bem? Mais um capitulo dessa história cheia de mistérios pra vcs.
Eu não iria postar mas como tô muito feliz hoje pois finalmente voltei a escrever (no meu perfil pessoal) resolvi trazer esse capítulo pra vcs.
O que vcs acham que a Camila esconde? Quem será ELE? Fica ai o mistério 😘
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