PRÓLOGO
Era uma noite fria em São Paulo. Por onde se andava podia-se perceber as vitrines das lojas e os vidros dos carros embaçados. Algumas pessoas usavam agasalhos não tão pesados e sombrinhas nas mãos prontas para receber a chuva.
Abner franziu a testa enquanto olhava para o céu vermelho e se arrependeu de ter ido ao supermercado. Tão logo choveria e suas compras molhariam. Andou pelo ruas da cidade com as sacolas pesadas na mão apressadamente. Resolveu cortar caminho por um dos becos do bairro sem se dar conta das ondas de crimes daqueles tempos. Levantou o capuz do moletom e caminhou sob as luzes fracas dos postes.
O cenário parecia ficar cada vez mais sombrio, com os ratos correndo vez ou outra e os relâmpagos e trovões rugindo na escuridão. Abner olhou mais uma vez a negritude no alto e sentiu falta das estrelas. Ele gostava delas. No entanto, essa sua nostalgia durou pouco quando mais a frente viu dois ladrões abordando uma mulher. A possível advogada estava com a bolsa grudada ao corpo e com uma arma apontada para a cabeça.
Abner congelou.
Os homens eram tão assustadores quanto a noite e terrivelmente cruéis. O mais alto deles gritava vários palavrões para a pobre mulher e ameaçava atirar se ela não desse logo a bolsa. O mais parrudo tinha um grande taco de madeira cheio de pregos nas mãos e demostrava que não teria medo de usá-lo contra a jovem. O garoto, que assistia a tudo isso, chamou atenção deixando as sacolas caírem no chão, fazendo as garrafas de cerveja de sua mãe quebrarem.
A coragem de Abner escorreu junto com o líquido no chão. Os dois criminosos começaram a vir pra cima dele, e sua primeira reação foi se esconder atrás de umas latas de lixo fedorentas. Dizer que sentia medo era um mero eufemismo. Abaixou-se e protegeu a cabeça com as mãos esperando o seu fim. Seu coração batia tão violentamente que ele jurava ouvi-lo. Nunca achou que morreria tão cedo. Se pelos menos não fosse magrelo e fraco poderia os enfrentar. Mas eles tinham uma arma! Você não é de aço, seu imbecil. Foi o que ele pensou.
A morte estava demorando tanto para chegar. Só queria que aqueles homens o assassinassem logo para não ter que sofrer mais com o pavor que já latejava. Mas eles não o abordaram. Num momento de loucura, levantou e ergueu os punhos na defensiva. Era tão covarde que exprimia os olhos ao ponto de doerem. Estava decidido a acertar um deles mesmo sem enxergar. Foi então que ouviu gritos... de Dor?
Abner abriu os olhos e viu algo sobrenatural. Os dois brutamontes apanhavam de uma garota pequenina. Espera! Não era uma garota normal. Ela era toda... Oh meu Deus. Murmurou o medroso com os olhos saltando das pálpebras. Sua pele, seus cabelos, sua roupa. Tudo era... Vermelho.
✦ ✦ ✦
Nota: 482 palavras
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro