Capítulo 11
São Paulo, capital paulista, Brasil
Dois anos depois
A delegacia estava movimentada. Policiais corriam de um gabinete ao outro o tempo inteiro e criminosos eram trazidos para as celas não raramente. Se São Paulo tivesse uma população bem menor que as outras cidades do Brasil, tão logo seria considerada a mais perigosa do país, já que a razão entre homicídios e habitante seria maior. Mas mesmo assim, ainda não deixava de preocupar quem morava nela. Se as cadeias já não tinham mais espaços, porque o governo não agia sobre as bestialidades?
– Garoto! É sua vez! – Um policial gritou para Abner.
Até então, ele divagava sentado num banco de escritório no canto da delegacia e balançava a perna com medo. Não entendia porque tinha sido trago aquele local. Se a vizinha, que denunciara a tentativa de assalto a advogada, tinha realmente visto tudo, deveria ter contado aos policiais que o garoto magrelo somente tinha se escondido atrás das latas de lixo. Onde eu fui me meter?...
– Então... – O detetive começou – Você abateu aqueles dois delinquentes?
Eu?! Os olhos de Abner quase saltaram para fora das pálpebras. Ele mal conseguiu articular um "não" para aquele homem, pois o medo tomara conta por completo dele. Só tinha 17 anos, não poderia ser preso. No próximo ano estaria na faculdade e trabalhando legalmente na conveniência do seu João. Não poderia estragar sua vida assim, indo para a cadeira, e muito pior, não poderia deixar sua mãe sozinha, ainda, carregando o fardo de um filho presidiário. No entanto, quando sua loucura de não querer ser preso quase atingiu o ápice, ele se deu conta de que era inocente. Não tinha feito nada, na verdade, ele ó testemunho uma tentaiva de assalto e uma briga entre doi homens e uma garota e nenhuma dessas coisas conferia pena, pelo que ele sabia. Mais mesmo assim, ainda temia.
– Não?! – O detetive respondeu a resposta espremida do garoto – Que intrigante... A mulher que chamou a polícia disse ver um garoto bater em dois assaltantes... Não era você?
Abner engoliu em seco. Será que ele havia enlouquecido? Realmente, quem tinha batido nos bandidos era ele ou foi aquela garota vermelha? Afinal, ela era tão pequenina. Não, com certeza fora aquele ser singuar. Abner se lembrava com toda clareza dela jogando os dois bandidos no fundo do beco, quebrando alguns caixotes de madeira. Ele se lembrava também dos cabelos vermelhos e dos olhos como chamas. Era a coisa mais linda que já tinha visto, embora muito surreal.
No entanto, não tinha sido a primeira vez que Abner presenciara algo fora do comum. Pouco menos de um ano antes, o garoto vira uma grande bola de fogo azul cruzar o céu de Magé, a cidade carioca que estava a milhares de quilômetros longe dele. Questionava-se se tinha sido apenas uma visão ou um sonho. Em um momento ele via o fenômeno galáctico na noite estrelada e no outro, literalemente, ele acordava na sua cama, numa manhanzinha bem cedo. E agora aquilo acontecia. Ele só tinha ido comprar cervejas para sua mãe e acabou presenciando mais uma anomalia da matrix. Questionou-se, de novo, se não foi um sonho, pois depois de ver a garota nada normal arrancar um dente do ladrão mais baixo, trocou um olhar intenso com ela e apagou completamente. Acordou com os paramédicos lhe reanimando.
Antes que pudesse Abner argumentar algo, sua mãe abriu as portas vai e vem da sala do detetive e lhe abraçou assustada.
Cora não sabia o que fazer. Por mais que nos últimos dois anos tenha estado estável e perdida, ela sempre tentara proteger Abner. Quando resolveu sair de Minas, foi para manter eu filho longe de toda a confusão que envolvia os Berson. Mas, ainda sob o efeito do álcool, pensou que tinha falhado como mãe pela primeira vez.
– Meu filho, o que você aprontou dessa vez?
Cora olhou no fundo dos olhos de Abner e notou que ele amadurecera muito rápido sem que ela percebesse. Abner já não era mais o garoto assustado que ela encontrei naquele dia em que arruavam suas maa desesperados, fungindo da barragem de Brumadinho que iria estourar e dizimar sua comunidade. Ela olhou ao redor e compreendeu onde de fato estavam. Quantas coisas mais seu filho ia passar?
– Eu estou bem, mãe. – Abner fcou um pouco desajeitado e envergonhado com a presença de Cora. Ele pensava naquele momento que trouxera muita vergonha a família, um garoto em uma delegacia.
– Podemos ir embora agora? – Perguntou Cora ao detetive. Esperou paciente com seus olhos azuis aflitos.
– Não ainda. – Ele respondeu – Seu filho ainda precisa me explicar porque bateu naqueles dois homens.
– Eu já disse que não bati em ninguém! – Abner arregalava os olhos como se quisesse expulsa-lo do corpo.
– Porque você mente garoto? Temos uma testemunha!
– E-ela... Ela não viu a garota vermelha?
Os dois adultos olharam para Abner como se ele fosse um louco.
– Olha, não importa! – Cora sibilou – Meu filho pode até ter batido neles, mas eram criminosos, tentaram assaltar uma mulher. Foi por autodefesa e não há lei contra isso. Sou a responsável por ele e já assinei os papéis. O delegado liberou.
Cora tirou seu filho da sala do detetive e caminhou de volta para casa com o coração aflito.
✦ ✦ ✦
Lapsos de memória do acidente em Brumadinho rodavam, mais uma vez, a cabeça de Cora. Entre uma golada e outra na cerveja, lembrava das vezes em que Abner tinha agido de modo estranho, olhando como louco para o sol, desmaiando de repente e depois esquecendo de tudo que tinha feito. Na época, achava que era fruto da instabilidade emocional que todos enfrentavam, afinal, a segunda barragem ameaçava explodir a qualquer hora e matar a comunidade Corrego do Feijõ, assim como fora com a primeira, em Brumadinho. No entanto, depois de mais de dois anos, o filho ainda continuava com seus "ataques" eminentes.
Ela sabia que Abner não tinha abatido nenhum bandido. O garoto tinha medo de muitas coisas e ser corajoso não era seu forte. Além disso, era muito dócil e amável, um comportamento violento não lhe podia ser atribuído. O que estava acontecendo então?
– Será que ele anda estressado por minha causa? – Sussurrou para a latinha em suas mãos.
– Disse alguma coisa, mãe? – Abner perguntou enquanto juntava roupas sujas espalhadas pela sala.
Cora se sentiu lamentável. Desde que vieram para São Paulo, sua vida tinha caminhado para o precipício. Ter se encontrado com Michelangelo depois de tantos anos a destruíra por dentro. Não segurava em empregos por mais de dois meses, fazendo Abner trabalhar em dois empregos para sustentar a casa, o que lhe oferecia um grande o risco de nunca pisar em uma universidade. Não bastasse isso, ela desenvolvera a dependência por álcool. Ela não queria isso, afinal, abominava seu ex-marido alcóolatra que lhe batia constantemente, mas com o passar do tempo, tudo foi ficando difícil. A barragem não estou na comunidade Córrego do Feijão, mas problemas maiores surgiram para a pequena família dos Maldonados, a saber, a mídia desobrir a relação deles com Berson, o homem que literalemnte quase os mato, através de sua empresa.
– Mãe, eu sei que já é tarde, mas a senhora gostaria de jantar?
Cora negou com a cabeça e voltou a dar goladas na cerveja enquanto assistia um programa de variedades na tevê.
– Me desculpa por ter feito a senhora ir para a delegacia – Abner se aninhou em sua mãe – Eu juro que não fiz nada.
– Não se preocupe, filho, – Beijou os cabelos pretos dele – Vá dormir! Eu lavo a louça hoje.
Abner obedeceu. Fazia dias que a mãe não tinha ânimo para fazer nada, querer lavar a louça era um milagre. Do outro lado da história, Abner também se via em uma posição difícil, decobrindo que seu pai era o homem pelo qual ele nutria raiva a cada dia que passava. Se já não bastasse ter o abandonado quando era um bebê, depois que descobriu sua existência, fez dela um tormento. O garoto viu sua mãe desmoronar, porque as pessoas não os deixavam em paz ao insistirem sobre saber do passado oculto de Cora e Michelangelo. O jovem for forçado a a assumir a responsabilidade de cuidar da casa e da única pessa que amava o mundo, já que esta não conseguia mais lidar com nada. Ele nem atingira a maioridade, mas já lidava com situações que nem gente adulta.
Enquanto ouvia a máquina de lavar barulhenta, Abner arrancou as meias e jogou dentro dos sapatos. Deitou na cama e começou a olhar as estrelas pela janela aberta. Até quando seria um esquisitão? Por que continuava vendo eventos sobrenaturais que ninguém mais vê? O problema estava nele? Precisava ir ao médico, pois estava ficando louco, mas não tinha dinheiro. Sua mãe dependia de sua sanidade intacta. Nem para isso eu sirvo!
Assim, como desafio aos seus pensamentos, algo surreal acontecera novamente. A garota vermelha estava bem ali, sentada na janela, olhando para ele com desdém. Uma de suas pernas pendia para dentro do quarto e balançava para frente e para trás, como se ela estivesse despreocupada. Abner paralisou quando viu aquele ser sobenatural mover os lábios e emitir sons muito parecidos, quase idênticos a fala humana.
– Que grande miserável tu és, certo?
✦ ✦ ✦
Nota: 1571 palavras
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro