41: Pinte Você em Mim
Quando seu olhar encontrou o meu, senti um frenesi se instalar em meu peito, acelerando minha pulsação em um grau que sequer acreditava ser possível.
Jader se virou lentamente, e suas orbes escorregaram pela curva do meu pescoço, perdendo-se na região abaixo da clavícula por alguns instantes, antes de se voltarem em uma mescla de emoções ao meu rosto.
O primeiro impulso que tive foi o de cruzar os braços, encolhendo-me como se pudesse me fechar em mim mesma.
O que diabos eu estava fazendo?
Ele parecia estar em conflito, com um milhão de coisas batalhando no seu olhar. Mas apenas ficou estático por um momento, nossas íris se entrelaçando em um olhar banhado de dúvidas e confusão. Até que deu um passo até mim, vencendo a distância entre nós, e, pegando-me de surpresa, não me tocou.
Apenas ergueu a mão que empunhava o pincel e escorregou as cerdas pintadas de rubro pela planície da minha clavícula em um movimento suave, traçando-a com uma lentidão incerta, enquanto os olhos de caramelo faiscavam contra os meus, como se buscasse neles qualquer sinal de censura.
Mas não encontrou.
Então, deixou que as cerdas deslizassem pelo centro das minhas costelas, resvalando-as em um toque elétrico que desmanchava cor nos meus poros, até parar na região entre os meus seios e o contato ser interrompido.
Uma ideia me veio à mente e, em um ímpeto, ergui o meu próprio pincel e carimbei notas de amarelo na lateral do seu pescoço, observando o ar lhe escapar em um sopro entrecortado por entre os lábios.
Seus dedos alcançaram a barra da camisa e, com um puxão, o tecido deslizou pelo seu tórax ate se libertar no topo da cabeça, espargindo os cachos incendiários em todas as direções.
Meus olhos escorregaram por todos os paralelos e meridianos que se desenhavam na pele exposta, pincelada pelas minúsculas manchas que abraçavam, também, os contornos do seu rosto.
Deixei que meu pincel beijasse a elevação da sua clavícula, traçando rotas indefinidas por entre as constelações rabiscadas na galáxia sob meus dedos.
— Você parece um céu estrelado. — Deixei as palavras escaparem em um sussurro, sentindo minhas bochechas quentes.
Um sorriso desconcertado enfeitou seus lábios. Em seguida, removeu o pincel da minha mão, e seus dedos abraçaram os meus para guiá-los até um ponto no centro do seu peito, tatuando minhas digitais na textura macia. Um ligeiro choque térmico entre a minha pele, gelada de nervosismo, e a sua, em brasa, fez seu nariz se torcer em uma pequena careta.
Tracei um caminho sobre as batidas frenéticas do seu coração, sorvendo o veludo da superfície quente.
Eu queria senti-lo completamente; cru, sem quaisquer peças entre nós. Seus lábios, seu corpo, sua pele na minha. Eu o queria, absurdamente, de um jeito único.
— Jader, eu quero você.
Ele estreitou as sobrancelhas, confuso.
— Mas eu estou aqui.
Não sabia se ria de vergonha por precisar explicar o sentido em que estava me referindo, ou da sua lerdeza.
— Não é isso, idiota. É que eu pensei que a gente poderia, talvez... — Fiz uma pausa, na esperança que fosse o suficiente para que ele capturasse a sugestão em meu tom.
Assim que percebeu, seus olhos se arregalaram ligeiramente.
— Cactozinho, eu... — Começou a falar, o polegar escorregando pela lateral do meu rosto enquanto as orbes queimavam as minhas. — Eu quero muito. Tipo, muito mesmo. Mas... você tem certeza? Porque eu não tenho. Quer dizer, eu tenho, mas... acho que, talvez... eu meio que esteja com medo disso. — Entoou a última parte com um constrangimento adorável, como quem conta um segredo.
Um sorriso pequeno enfeitou minhas feições, replicando-se, um tanto acanhado, nas de Jader. Pelo jeito como baixou o olhar do meu logo depois, pude imaginar que provavelmente estava lutando contra uma maré de pensamentos em um fluxo de autossabotagem caótica.
Capturei seus dedos por entre os meus, enlaçando nossas palmas em um aperto firme.
— Olha para mim. — pedi, e seu olhar caiu no meu logo depois. — Tá tudo bem, e vai continuar tudo bem, independente do que acontecer hoje.
— Tem certeza? — A pergunta foi insegura. — Vai continuar gostando de mim mesmo se eu fizer alguma coisa errada ou... for horrível?
— Jader, eu sinto um infinito inteiro por você. E infinitos não podem diminuir. — Minhas palavras foram convictas.
Ele assentiu, pressionando as digitais com mais força contra as minhas enquanto os lábios sorriam verdadeiramente, ondulando calor em meu peito.
Meu coração pulsava em batidas elétricas cada vez mais descompassadas. Ali, diante da convicção do que estava prestes a acontecer, as bordas de um buraco negro começaram a se expandir na minha cabeça, com todo o horizonte de eventos que carregavam as infinitas possibilidades de tudo o que poderia dar errado.
Eu quase podia senti-lo escorrendo por cada parte de mim, enchendo minhas veias da tinta escura do receio que parecia tóxica, porque me fazia desejar com todas as células que já tinham sido atingidas simplesmente estacionar, inventar alguma coisa impossível para sair correndo, ou derreter sob mim mesma assim que tudo explodisse no meu sistema, convertendo-me em um poço de espaço sem estrelas.
Mas não estacionei. Porque, enquanto fitava cada traço que moldava o garoto detentor do meu coração, as leis do universo pareceram entrar em colapso, e a gravidade que tendia a manter tudo no chão, de súbito parecia soprar nas minhas costas, impelindo-me até Jader como se nossos corpos fossem dois polos magnéticos de um ímã.
Não existia mais o mundo lá fora, apenas nós dois no mesmo tempo e espaço compartilhando uma alma e desordens internas parecidas.
Os movimentos rápidos do seu peito denunciavam o descompasso da respiração, que ardeu contra o meu rosto assim que estiquei os pés na sua frente, ficando tão perto que sentia irradiar o calor sutil que emanava dos seus poros.
Inclinei-me e pincelei os lábios na sua bochecha, tatuando nela um toque sutil que fez meu coração bater ainda mais forte, ameaçando arrebentar a caixa torácica logo que me pus a desenhar constelações impossíveis de beijos na sua pele, resvalando pela descida abaixo do seu maxilar em uma queda livre até alcançar os inúmeros sinais pequenos que enfeitavam o seu pescoço.
Depois, viajei rumo à sua garganta, sentindo o gosto macio da pele que recobria a elevação do seu pomo-de-Adão na ponta da língua antes de me afastar um pouco.
Jader soprou o ar em um suspiro ruidoso perto do meu ouvido, e sua boca imprimiu um toque suave contra a lateral do meu rosto, repetindo o que eu fizera. Seu nariz escorregou sobre minha pele, capturando o cheiro que eu exalava conforme descia ao longo do meu maxilar, traçando uma rota desconexa até o pescoço, onde sua língua imprimiu fagulhas incandescentes nas minhas células.
Ele se afastou brevemente, seu olhar voltando a mergulhar no meu, com um misto de fervor e hesitação crepitando nas íris.
Eu conseguia sentir meus batimentos por toda parte, pulsando de forma que incendiava minhas veias quase ao ponto de derretê-las assim que tomei sua nuca por entre os dedos. As ondas de mar dos seus cachos quebraram contra meus nós, e me senti explodir em uma mistura frenética de cores assim que colidi nossos lábios.
Sua língua pintou estrelas incandescentes na minha boca, que escorregaram pela garganta com seu brilho fervoroso e se infiltraram em cada uma das minhas células, derramando luz líquida nos meus órgãos.
Senti as mãos de Jader alcançarem minha cintura em um aperto firme, puxando-me até que nossos quadris se colidissem em meio ao deslizar embevecido das nossas línguas, que desbravavam a textura uma da outra como um fósforo aceso faz na corda de uma bomba pouco antes da explosão capaz de desmoronar estruturas inteiras.
Cambaleamos um pouco, e precisamos interromper o beijo para respirar.
Seu riso se mesclou ao meu e nossas bocas voltaram ao seu enlace eufórico. Os dedos de Jader envolveram as metades da minha bunda em um aperto firme por cima do short, e eu arfei baixinho.
Imprimi uma minúscula distância entre nossos rostos antes de levar os dedos até o seu cinto, mirando o volume que empurrava o jeans abaixo dele enquanto o desafivelava. Joguei a peça em algum canto qualquer do quarto, e ela aterrissou com um baque seco. Jader removeu a própria calça e, após alguns segundos estacionado em dúvida, sua cueca, deixando que desmaiasse próxima aos seus pés.
Carimbei o polegar na sua bochecha com uma ternura palpável, deixando que toda a intensidade que nadava no meu peito escorresse nas palavras:
— Você é lindo demais, seu idiota.
Por um instante, ele ficou calado, absorvendo as sílabas enquanto me fitava com uma profundidade de oceano.
— Até ele? — Olhou para baixo, sinalizando a coisa alienígena que tinha entre as pernas.
Torci o nariz em uma pequena careta.
— Eu posso me acostumar. — brinquei.
Seus lábios esboçaram um sorriso de sol e, dentro de uma ínfima fração segundo, estavam novamente contra os meus, voltando a despejar estrelas pulsantes pelo meu sistema, que se reuniram em um ponto entre as minhas pernas.
De repente, as peças de roupa que me restavam pareciam ser feita de brasa contra mim, queimando as células em um apelo ardente para serem removidas, que ficou mais forte quando as digitais de Jader escorregaram pelas minhas coxas, tocando o botão do short sem, contudo, desabotoá-lo. Talvez por pensar que, depois que tudo o que vestíssemos desmaiasse no chão, não tinha mais volta.
— Pode tirar. — Despejei contra sua boca.
Com um ofego, ele o fez, deslizando o jeans ao longo das minhas pernas com as íris fixas no triângulo entre elas, coberto pela minha calcinha.
Assim que seus polegares alcançaram a barra, seus olhos atingiram os meus, como se pedissem permissão.
Assenti suavemente, em meio ao descompasso da minha respiração, e senti o tecido escorregar pela minha coxa. O vento fresco da tarde me lambeu inteira sob o seu olhar crepitante.
Deixei a cabeça pender para trás, tremendo com a torrente de cores que começaram a pulsar nas minhas células assim que a maciez molhada da sua língua entorpeceu meus sentidos.
Alcancei o fecho do sutiã nas minhas costas e, assim que o abri, o alívio causado pelo sumiço da pressão que a peça fazia se mesclou à volúpia que o toque úmido de Jader disseminou no meu sistema. Deslizei as alças pelos antebraços com uma dificuldade quase bêbada, dando-lhe o mesmo destino que todas as outras vestes que já tínhamos tirado.
O ruivo interrompeu o que estava fazendo e se levantou, deixando o olhar pairar por todos os contornos do meu corpo como se estivesse diante do quadro mais fascinante que já vira em toda a sua existência.
— Às vezes, eu me pergunto se você é real. — Genuíno deslumbramento banhou a declaração.
Só consegui sorrir.
Ele imprimiu eletricidade nos meus poros assim que seus dedos enlaçaram meu quadril e nossas bocas voltassem a se encontrar em um abraço eletrizante, o mundo escuro debaixo das minhas pálpebras fechadas e nossos pés escorregando pelo tapete em uma dança fora de ritmo, mas que era só nossa.
Uma das suas mãos migraram até o meu seio, envolvendo-o em um aperto antes que seu polegar escorregasse pelo mamilo rígido, imprimindo faíscas de brasa que escaparam por entre os meus lábios em forma de sons desconexos.
De súbito, senti minhas costas esbarrarem na escrivaninha com uma dose de força que me fez gemer contra Jader, arrancando-lhe uma risada baixa, carregada de embaraço.
— Desculpa. — soprou.
— Tá tudo bem. Não foi culpa sua. — garanti.
Aproveitando onde estava, ele tateou o móvel atrás de mim até alcançar o puxador da gaveta, abrindo-a em um movimento rápido, e o barulho atraiu de imediato minha atenção. Algumas camisinhas escorregaram ao longo da madeira com o puxão, em pacotes de cor amarela-fluorescente, verde-menta e vermelho-morango.
— A gente pode usar a amarela-néon. — sugeri. — Pena que não é de noite, eu queria ver brilhando.
Jader riu.
— Eu também. Mas meu pau vai ficar parecendo um milho.
Dei risada, capturando a embalagem.
— Gosto de milho.
Ele sorriu e não tardou a me beijar novamente, apertando-me contra seu peito enquanto me guiava a passos meio tortos até a cama. Quando senti a madeira debaixo do colchão contra minha perna, flexionei o joelho e o afundei nos lençóis. O corpo de Jader me empurrou suavemente para trás até que minha cabeça estivesse contra o travesseiro e o garoto sobre mim, e nossas pernas se esbarraram algumas vezes no processo de nos ajeitarmos de um jeito confortável.
Quando aconteceu, observei suas mechas afogueadas ondulando as maçãs do rosto, em frente às íris que diluíam uma profundidade oceânica nas minhas.
Foi uma sensação única no mundo respirar a mesma poeira de Jader enquanto meu suor se mesclava ao seu, como se este fosse apenas a comprovação de que estávamos transbordando dentro de nós mesmos em consequência natural de sentir tanto, e de se estar pairando no meio de uma miríade de centelhas feitas de um milhão de cores inventadas.
Traçamos nossas cicatrizes com a ponta dos dedos, pintando quadros abstratos um no outro, compondo novas linhas em nós. Jader percorreu os caminhos bonitos de rio que minhas estrias moldavam nas coxas, e eu contei todos os sinais que ele tinha do pescoço ao quadril, mordiscando a pele, roçando a língua onde fazia queimar.
Nós brilhávamos no meio daquele quarto, fervilhando em energia crescente, sorrindo de vergonha vezes demais por exibir nossos corpos de forma tão crua, e por uni-los de todos os jeitos que nos foi permitido.
Naquela tarde, nós fomos sol.
Saudações, terráqueos!
O que acharam do capítulo?
Eu particularmente achei uma gracinha. Foi uma experiência intensa e emocionante escrever essa cena, e eu acabei gostando muito dela.
Espero que tenham curtido também! Beijos de nuvem pra vcs<3
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