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3: O Plano Pseudo-perfeito

Amaré era uma cidade monótona na maior parte dos dias, com sua população razoavelmente pequena e estabelecimentos comerciais carcomidos pelo sal que os tentáculos de vento puxavam do mar faiscante repleto de mistérios opacos.

A tranquilidade só era varrida nos últimos meses do ano, quando se tornava o refúgio perfeito para turistas que ansiavam passar as férias debaixo de um guarda sol na praia exuberante que banhava a cidade, sob seu habitual sol de tinir. Então, eles salpicavam a areia com suas toalhas vibrantes e corpos dourados de bronze até onde os olhos conseguiam ver, compondo um amontoado de massas caleidoscópicas sob os raios luminescentes do astro-rei.

Mas, como não era alta temporada, eu observava a praia deserta enquanto cortava a estrada com minha bicicleta naquele início de manhã, rumo a mais um dia no colégio.

O alvorecer tingido de mostarda congestionava o horizonte, inundando meus pulmões com calor e meus poros de luz. A brisa se agitava em torvelinhos contra meus cachos, espargindo os fios espiralados sob o brilho que se dissolvia por toda parte. A praia, de Cícero, explodia contra meus tímpanos em um embalo que me motivava a pedalar mais rápido.

Foi um milagre o Quinzinho da portaria ter me deixado entrar, na verdade. Tive que insistir para cacete, a ponto de pensar que a última alternativa seria tentar seduzi-lo.

Não que tenha realmente cogitado essa possibilidade, foi apenas o devaneio de uma mente desesperada para passar em biologia. Se perdesse mais um dia de aula, estava ferrada.

- E aí, Carmelita, já tá sabendo da festa?

Aquela foi a primeira coisa que ouvi assim que me acomodei na minha cadeira de sempre, em frente à de Cris. As notícias corriam rápido com ela.

Virei-me para encarar os olhos da minha amiga por meio segundo, como se tentasse ler nas íris cor de folha seca um motivo pelo qual eu deveria me importar com mais uma festa.

Tinha delas o ano inteiro, até porque o Instituto em que estudávamos era cheio de adolescentes sedentos por uma boa farra.

- Não. Que festa? - questionei, balançando a cabeça.

Um sorriso imenso se abriu em seu rosto.

- Como assim?! Em que mundo você vive, garota? Carolina Ribeiro vai dar uma festa daquelas em comemoração ao dia dos namorados! Toda a elite do colégio vai estar lá! - exclamou, numa altura que chamou a atenção do professor de biologia.

Ele nos lançou um olhar fulminante e ambas nos encolhemos.

Cris se aproximou sorrateiramente da minha carteira, só para completar:

- É a sua chance de ascender na hierarquia! Imagine só, aparecer lá com um namorado super-popular numa festa cheia de populares!

Puxo um pouco de ar, um tanto zonza pela carga de sensações que sua fala pinicou no meu sistema.

Popularidade era uma utopia que eu tinha desde que entrei naquele colégio e passei a ser zoada por toda a carga de esquisitice que me perseguia como moscas fazem com pessoas que não tomam banho nos desenhos.

Quando eu e Cris descobrimos que tínhamos o mesmo desejo, ela me forneceu palavras de incentivo que só serviram para aumentar a vontade secreta que me habitava de melhorar minha fama naquele lugar. Mas nunca tinham aparecido muitas oportunidades para isso acontecer, até aquele momento.

Notas de empolgação começaram a ressoar no meu peito, mas foram cortadas dentro da fração de segundo que demorou para que eu me lembrasse de um pequeno detalhe.

- Eu não tenho namorado, Cris. Que maconha você fumou?

- Mas isso também faz parte do plano!

Mais uma vez, o professor nos lançou um olhar de advertência. Capturei meu caderno e uma caneta para fingir que estava copiando o resumo imenso que ele colocou no quadro sobre plantas, mas, na verdade, permanecia mortalmente interessada em saber o que a cabeça geniosa da garota à minha frente tinha planejado.

- Fala. O que tem em mente? - sussurrei, o mais baixo que pude.

- É simples! Você só tem que fazer com que Antônio Moraes te convide para ser o par dele na festa, em um mês.

Quase engasguei com a minha própria saliva quando a imagem do garoto suado da praça povoou meus pensamentos.

- Como é que é? Aquele skatista esquisito?

- Aquele skatista esquisito é um dos caras mais populares da escola. Ir com ele na festa do dia dos namorados vai alavancar a sua fama em níveis estratosféricos! E a minha, também!

Dei uma gargalhada tão alta e ruidosa que todos os pares de olhos da sala se voltaram a mim, raivosos por ter interrompido seus estados de concentração.

Eu e Cris fomos convidadas a nos retirarmos da sala em uma expulsão educada, e eu praguejei tanto durante o tempo em que ficamos esperando a troca de professores que, se duvidar, ganhei duas passagens para o inferno cristão; uma extra para o caso de perder a primeira, como provavelmente faria se esse tipo de coisa fosse palpável.

Depois de chutar a lata de lixo do corredor e me arrepender amargamente por isso - meus dedinhos do pé que o digam -, consegui me acalmar e refletir sobre o plano da minha amiga.

Sempre fui um desastre incomensurável para sedução, do tipo que consegue fazer a menor das coisas desencadear em uma tragédia grega; como na vez em que estava beijando um cara no sofá da sua sala e o indivíduo inventou de apagar a luz, achando que ia rolar algo a mais.

Eu, que pensei que ele iria somente pegar alguma coisa na cozinha, assustei-me com o escuro repentino e levantei para acendê-la novamente. O resultado foi que escorreguei no tapete e caí por cima do hamster do garoto, que tinha, por motivos desconhecidos e possivelmente satânicos, escapado da gaiola.

Matei o coitado.

Não teve mais clima depois do assassinato do roedor. Seu dono me mandou embora e nem me convidou para o enterro do bicho, que foi tragicamente sepultado dentro de uma caixa de sapatos, de acordo com o que sua irmã me disse.

Não vou mentir, foi um tropeço muito bem vindo, embora... trágico. Porque eu, ao contrário do que o cara provavelmente pensava, não estava nem um pouco a fim de ultrapassar a linha dos amassos com ele.

Tem uma história chinesa que diz que nascemos com uma linha vermelha invisível em torno do tornozelo, ligada à nossa alma gêmea. Eu desconfiava ferozmente que, em dado momento da minha existência, havia tropeçado em algum lugar e arrebentado a coitada.

Pensando naquilo e em toda a questão da maldição que não conspirava em nada ao meu favor, o mais tentador era desistir da ideia de girino de conquistar Antônio.

Mas eu não podia fazer isso. Aquela era, muito possivelmente, a última chance que teria de ser notada no Ensino Médio.

Porcaria.

Que palavra estranha. Eu sempre achei que porcaria seria algum tipo de lugar onde se vende porcos, já que cafeteria vende café e peixaria vende peixe.

Acho que perdi a linha do raciocínio.

Certo. Eu precisava arquitetar um plano para fazer Antônio me convidar para a festa dali a algumas semanas. Mas o que poderia fazer?

Sem dúvidas, nada que precisasse mudar alguma coisa em mim mesma só para agradá-lo.

Um chapéu de melancia seria a opção mais rápida.

Mais rápida para ele sair correndo, é claro.

Era evidente que eu não tinha ideia de como fazer aquilo; sequer sabia do que o indivíduo gostava ou quem era.

Lugar que vende porcos, de novo.

Minha cabeça estava borbulhando com esses pensamentos, até que, no intervalo, a solução caiu quase que de paraquedas bem diante de mim.

Era o tal de Jader, o garoto que estava pelado na minha sala horas atrás. Ele conversava animadamente no intervalo com Antônio, e a cena me fez lembrar de que também tinha visto os dois andando juntos na sexta.

De súbito, fui atingida por um avalanche cataclísmico de ideias que ficaram se revolvendo na minha cabeça por alguns minutos, até que me sentasse na cadeira de plástico atrás de uma das mesinhas quadradas do refeitório, em frente ao meu digníssimo irmão, que mantinha os cílios fechados e o fone preenchendo seus ouvidos, certamente no volume máximo.

Inclinei-me sobre o tampo e retirei o aparelho, vendo-o abrir as pálpebras no exato instante e me encarar com uma hilária expressão indignada.

- O que foi, nojenta?

- Será que dá pra você me dizer o porquê de não avisar que tinha trazido um amigo pra dormir em casa? A mamãe sabe disso? Não pode simplesmente levar qualquer um pro apartamento, Paulo. Tá pensando que a gente mora na casa da mãe Joana? E se ele fosse um assassino em série e tivesse te matado? Ou comido o seu rabo enquanto dormia? - Sacudi seus ombros, para me certificar que estava prestando atenção.

Ele ergueu as sobrancelhas, parecendo cético diante das minhas palavras.

- Carmelita, ele é mais inofensivo do que um hamster de focinheira com as pernas amarradas. Olha só pra cara dele. - Ergueu o queixo, mirando algum ponto distante atrás de mim onde provavelmente Jader estaria, mas me recusei a olhar.

- Ah, claro... - Sarcasmo banhou as sílabas. - Ted Bundy também não tinha a menor cara de assassino, e mesmo assim sequestrou e matou todas aquelas mulheres!

- Ted o quê? - Apertou os cílios, confuso.

Bufei, levando a mão ao rosto.

- Quis dizer que não se deve confiar em carinhas de anjo, Paulo.

- Fala sério, você é exagerada demais. - Um riso breve lhe escapou. - E para de falar comigo como se eu tivesse doze anos. É claro que eu não ia levar um desconhecido pro apartamento. Conheço o Jader há um tempo, daí ontem ele me disse que não podia passar a noite em casa e eu não vi nada demais em chamar ele pra lá. E, sim, a mãe sabe. Eu ia te dizer quando acordasse, porque não ouvi tuas músicas ontem à noite quando a gente chegou e achei que já tava dormindo, daí não avisei. E esqueci hoje. - Abriu um sorriso cínico, suas bochechas adquirindo um tom de vermelho culpado.

Às vezes, eu tinha certeza que Paulo me levaria à morte por infarto antes dos trinta.

Deixei que o assunto morresse ali, porque não queria realmente entrar em detalhes sobre o que acontecera mais cedo para preservar a integridade do sujeito - se é que ele ainda a tinha.

Conforme as aulas restantes se transcorriam, eu fazia anotações em uma das folhas do meu bloco de notas para lembrar do que pretendia fazer dentro do plano mirabolante de Cris. Mas todas as setas das minhas linhas de raciocínio exigiam que eu soubesse o básico sobre Antônio, como lugares que frequentava ou coisas que gostava de fazer, para, ao menos, conseguir engatar algum assunto com o cara.

Assim que a sineta do último horário sacudiu meus miolos com seu tom agudo infernal, eu já sabia exatamente o que precisava fazer. Só ia exigir de mim uma dose cavalar de paciência e um favor, se tudo ocorresse de acordo com o que estava planejando.

Joguei minha mochila desbotada nas costas e percorri todos os corredores lotados de adolescentes afoitos atrás da criatura de cabelo laranja que, da forma mais inusitada possível, poderia ser a minha salvação.

Quando já estava achando que tinha ido embora, encontrei-o no caminho do estacionamento.

- Ei!

Jader parou de andar e se virou, a sobrancelha se erguendo em dúvida assim que seu olhar caiu na órbita do meu. Suas mãos foram de encontro às mechas ruivas, jogando os que tinham lhe escorrido pela testa para trás.

- Você é amigo do Antônio, não é? - continuei.

- Acho que posso dizer que sim. - Sacudiu os ombros. - Por quê?

- Porque preciso da sua ajuda para fazer ele me convidar para a festa do dia dos namorados da Carolina Ribeiro.

O garoto me encarou como se eu tivesse acabado de dizer que era um filhote de alienígena.

- Espera um pouco. - Ergueu o indicador, como quem se prepara para argumentar um ponto importante. - Você me trata como um pedaço de merda nas duas vezes que a gente se encontrou, inclusive quando tentei ser legal, aí depois chega aqui com essa cara de quem não quer ouvir um não pedindo minha ajuda para um treco completamente doido? - Seu timbre exprimia incredulidade. - Olha, não estou aberto a negócios.

Meus ombros caíram, na proporção que soprava todo o ar dos pulmões em um suspiro ruidoso que exprimia toda a minha frustração.

- Certo, eu... me desculpa. - pedi, um gosto amargo se dissolvendo na língua. - Eu acordei meio mal hoje, mas realmente não queria descontar em você.

- Passou pela sua cabeça que eu poderia ter acordado do mesmo jeito?

Suas palavras foram suaves, mas atingiram meus ouvidos com a força de um furacão que me fez vacilar.

Diante da minha ausência resposta, Jader apenas balançou de leve a cabeça, expulsando um riso nasalado sem muito humor.

- Olha, eu tenho certeza que deve ter alguma coisa que queira. - sugeri, ignorando o fato de que aquela frase parecia muito com as do início de filmes pornôs.

Não que eu tivesse experiência no assunto; foi apenas um pensamento especulador.

Suas íris permaneceram em mim por um momento infinito, a ruga tatuada na testa modelando a expressão pensativa que se desenhara em seu rosto, até que um sopro de ar precedeu suas palavras.

- Tudo bem. Eu quero levar uma garota para sair, mas não sou muito bom com essas coisas. Se me ajudar a conseguir um encontro com ela e a me sair bem nele, eu te ajudo com o Toni.

- Cara, o quão virgem você é? - A pergunta escapou antes que pudesse contê-la, fazendo-o erguer uma sobrancelha e notas de arrependimento dispararem no meu sistema. - Certo, desculpa. Eu te ajudo. Posso saber quem é?

Ele torceu os lábios, baixando o olhar.

- Marina Rodrigues.

Eu conhecia a Mari, pois já tínhamos sido amigas por um tempo; o suficiente para que eu soubesse que Jader definitivamente não fazia o tipo da loira. Mas como a ajuda dele seria muito útil, não me custaria nada tentar ajudá-lo também.

Nossa relação não era mais a mesma coisa, mas seria fácil falar com ela.

- Feito. - afirmei, estendendo a mão espalmada no vão entre nós. - Eu me chamo Carmelita.

Seus cílios se apertaram levemente.

- Acho que eu nunca conheci alguém com esse nome. É bem bonito. - afirmou, singelo fascínio se refugiando nas palavras.

- Ah, obrigada... - Foi a única coisa que consegui dizer, sem saber ao certo como reagir ao elogio repentino.

Ele curvou a boca em um sorriso quase imperceptível.

- Vem comigo. - entoou, de súbito, agarrando minha mão e se pondo a andar.

Estacionei no lugar depois de dois passos, impedindo-o de seguir, e lhe lancei um olhar que poderia, no mínimo, ser classificado como fulminante.

- Para onde você pensa que vai me levar? - Minha pergunta foi cética.

- Minha casa, discutir o nosso plano. - explicou, com a mesma simplicidade de quem diz preferir azul à amarelo como cor de camiseta. - Tem alguma coisa para fazer hoje à tarde?

- Não, mas não vou para a casa de um desconhecido! Por que não pode ser, sei lá, uma lanchonete ou qualquer outro lugar em que o fluxo de pessoas não te deixe sacar uma faca e me transformar em um queijo gigante?

Um riso vibrou em sua garganta.

- Não tem nada a ver, mas eu sempre me perguntei por que o queijo tem aquele monte de furinhos, aí li em um site que eles podem ser sinal de contaminação por coliformes fecais e umas bactérias bem bizarras.

- O quê? Eu achava que era por causa do processo que eles tem que passar pra virar queijo... - murmurei, mais para mim mesma do que para ele, até me dar conta do desvio súbito de foco. - Mas isso não vem ao caso. Ainda quero saber por que precisa me levar para a sua casa.

Ele ponderou por um instante, as orbes se estreitando um pouco mais.

- Não sei, talvez por ser um lugar onde ninguém vai achar estranho dois adolescentes conversando sobre como laçar um cara, e o silêncio é maior? - Obviedade refugiou-se sob seu tom. - Ah, não é muito distante daqui, também. E prometo te dar alguma coisa pra comer.

- E o que me garante que você não vai tentar, sei lá, arrancar minha pele para fazer tapete?

Ele deu de ombros. Então, fixou os olhos nos meus e respondeu, da forma mais estranhamente natural possível:

- Sua pele nem é tão bonita assim.


Saudações, terráqueos!

E aí, o que acharam do capítulo? Acham que vai dar bom esses dois na mesma casa? Hahaha.

Para os que leram a primeira versão do livro, repararam as diferenças? Estão curtindo?

O que acham que está por vir?

Beijos de nuvem pra vcs, e tenham um ótimo final de semana! <3

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