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26: Estrelas Até o Infinito

— Blusão maneiro. — Foram as primeiras palavras de Clarice, assim que apoiei o quadril no balcão improvisado da barraca de tiro ao alvo.

A fumaça do seu cigarro se dissipou em meio ao céu que se estendia acima de nós, assim que entreabriu os lábios e permitiu que escapasse rumo ao azul, as orbes viajando até o meu rosto sob as sobrancelhas erguidas.

O sol irradiava acima da minha cabeça e espargia seu calor fumegante pela nuca descoberta, graças aos meus cachos presos em um rabo de cavalo.

A previsão do tempo acusou que não passaria dos vinte e sete graus à tarde, mas eu tinha certeza que erraram miseravelmente. Se colocassem um termômetro naquela praia, o coitado certamente seria reduzido ao estado de ovo frito.

— Foi a mais praiana que eu encontrei. — disse, dando de ombros, meus dedos esticando a barra da camiseta que escorria até o meio das minhas coxas, quase tapando por completo o short jeans.

— Nirvana tem realmente tudo a ver com isso aqui. — brincou, soprando um riso, enquanto o queixo apontava para o mar que deslizava sua espuma no horizonte. — Mas, então, por que me ligou?

Nem eu sabia, honestamente. Foi só que, no meio da tarde de quinta, percebi que se não me distraísse com alguma coisa, seria devorada pela profusão de pensamentos embaralhados que corriam pela minha cabeça e acentuavam ainda mais o aperto latejante que envolvia meu peito há uma semana.

Pensei que poderia ser uma boa ideia sair com alguém, e senti que Cris não seria a melhor pessoa para fazer isso, devido às suas legações constantes de ocupação, que, consequentemente, me fizeram recuar na hora de mandar mensagem.

Então, refleti, com os neurônios que ainda me restavam, que falar com uma parcial desconhecida poderia não ser uma ideia tão ruim assim.

Apesar de ter ficado desconfortável quando contatei Clarice, sua empolgação em me chamar para encontrá-la, numa barraca muito particular no meio da praia onde fazia um dos seus inúmeros bicos, deixou-me um pouco mais leve.

Dei de ombros após alguns instantes, torcendo os lábios em uma careta sob o seu olhar curioso.

— Nada em específico, eu acho. — disse, inclinando a cabeça para cima e recebendo o sol em um abraço abrasador contra meus poros. — É que você me pareceu legal.

— Eu entendo, sou mesmo espetacular. — A descontração em seu tom me fez fitá-la, observando-a deslizar um pano não muito limpo pela extensão de uma das armas enfileiradas sobre o balcão de madeira. — Sou tão incrível que levei um fora hoje de manhã.

— Um fora? — indaguei, na esperança que falasse mais.

— É. — murmurou, espalmando as mãos recheadas de anéis de prata na madeira, os olhos estreitos como quem pondera. — Pelo menos, a garota me avisou antes que eu começasse a construir meus castelinhos cor de rosa. Quer dizer, tecnicamente ela me mandou enfiar o castelinhos no rabo, só que de forma educada.

Soprei um riso.

— Sentimentos são complicados pra cacete. — afirmei, torcendo o nariz em uma careta.

— Eles, não. A gente que costuma complicar tudo.

Duvidei que sua afirmação fosse verdade por alguns segundos, até pensar que, talvez, eu só achasse o contrário porque culpar sentimentos abstratos sempre foi mais fácil do que admitir que quem ferrava com tudo era quem os sentia.

— Você parece bem experiente nessas coisas de sentimentos. — comentei, por fim.

Ela riu.

— Já senti demais, admito. Eu tenho um tipo de mantra, de que não vale à pena ficar reprimindo o que a gente sente. Se eu gosto de você, por exemplo, eu vou falar e foda-se. Isso assusta algumas pessoas, mas outras eu conquisto. Acho que o saldo vale à pena. — Deu de ombros, os lábios se curvando em um sorriso.

— Você vê o mundo de uma forma tão... simples. — Ri, ligeiramente fascinada.

— É que, sei lá, as coisas são simples, a gente que coloca uma porrada de coisa na frente. Tipo, se eu estiver com você e tiver alguma coisa em ti que me faz muito mal e não tem nenhum tipo de chance de melhorar, é claro que eu não vou ficar. Mas, se não, é só sentir e viver.

Pensar que ela conseguia resumir as coisas a sentir e viver me deixou indignada, pela redução que as duas palavras faziam no tamanho megalomaníaco que as minhas confusões pareciam ter.

— Mas muita coisa ruim pode vim nesse processo. — Ressaltei de forma automática, testando para ver se o meu pessimismo aflorado conseguia mudar sua ideia.

— É. — concordou. — Mas qual é a pior coisa que pode acontecer? As contas, a gente negocia no banco, problemas, a gente fica triste, mas resolve depois e volta a ficar feliz, até chegar outro problema e tudo acontecer de novo, machucados doem menos com o passar do tempo, e vergonhas, as pessoas esquecem mais rápido do que a gente imagina.

Comprimi os lábios com força, sorvendo suas palavras e percebendo, com surpresa, o quanto elas atingiram o meu lado permeado de inseguranças que fazia o possível para manter oculto debaixo da superfície.

— Você tá com uma cara muito hilária. — Gargalhou. — Tem certeza que não aconteceu nada que queira, sei lá, comentar? Eu tô de fora, mal te conheço, sou imparcial. — Ergueu as mãos espalmadas nas laterais do corpo, no típico gesto de inocência.

Soprei o ar em um suspiro receoso, tentando tornar minimamente coerente para transpor em palavras o que estava se passando dentro de mim.

Mais difícil do que explicar um problema, era confessar que a pessoa que sofria com ele era eu.

— Aconteceu uma situação esquisita com uma pessoa que eu conheço, que deixou ela com... medo, e ela não sabe como agir direito no meio disso. E eu não sei o que dizer à ela. — Encolhi ligeiramente os ombros.

— Essa pessoa... — testou, cerrando os olhos. — Do que exatamente ela tem medo?

— Ela não sabe. Talvez ela tenha medo de... tudo que seja estranho e tire ela do chão, mas se considera corajosa pra lidar com esses medos, só que... essa coisa que aconteceu foi muito estranha pra ela. Muito... diferente. E ela só consegue pensar em... fugir.

Compreensão brilhou nas suas íris fixas em mim.

— Talvez ela só tenha que se deixar flutuar, sem olhar tanto pra baixo.

— E se ela cair?

Clarice riu.

— Ela se recupera e tenta de novo. As estrelas que tem lá em cima fazem valer à pena. — Soltou um riso descontraído, cutucando a lateral do meu braço com o cotovelo. — Falando de estrelas, vou te mostrar um lugar quando escurecer. Eu viajo demais nele, acho que tu vai gostar.

Meus lábios se puxaram em um sorriso, contagiados por alguma coisa invisível que escorria dos poros de Clarice e polvilhava cada partícula de oxigênio do ambiente.

Depois que fechou a barraca, ficamos algum tempo sentadas na areia, bebendo o som das ondas do mar e das nossas próprias vozes que se mesclavam em diálogos intermináveis e risos involuntários, enquanto esperávamos o sol terminar de explodir seus últimos vestígios no horizonte, com mais tons de amarelo do que Van Gogh conseguiria salpicar em suas telas mesclado a um laranja-fresco que parecia nos chamar para dançar sobre as nuvens.

Ela me contou que tinha planos de fazer uma faculdade de cinema, e, como não podia contar com o apoio dos seus pais para ajudá-la a se manter na cidade vizinha que possuía o curso, dedicava-se a quantos trabalhos pudesse pegar para juntar o máximo de dinheiro possível e, futuramente, se mudar para ir atrás do seu sonho.

Admirei-a de um jeito inimaginável por isso.

Quando a lua já se fazia presente, a garota me puxou pela mão e, com a lanterna do celular acesa na outra, guiou-me o que deveria ter sido mais de um quilômetro até chegarmos na base de uma falésia que, certamente, estendia-se mais de dez metros acima do mar sacolejante.

Subimos por uma escada de segurança, cuja idade avançada se fazia evidente no ranger do metal enferrujado por ação do tempo e do sal, até chegarmos no topo.

— Estrelas até o infinito. — Clarice entoou, apontando para cima assim que venci o último degrau.

Deixei a cabeça pender para trás, e vislumbrei todos os inúmeros pontos luminosos que explodiam seu brilho em meio à escuridão do céu noturno, como minúsculos furinhos que alguma traça intergaláctica roeu do pano do universo.

O fascínio enlaçou minhas veias com seu furor, enquanto meus lábios se partiam de forma involuntária debaixo do sopro da brisa que trazia um pouco do mar aos meus poros.

Clarice desatou o nó do casaco que pendia em sua cintura e o deixou abraçar o chão para, em seguida, encaixarmos nossas cabeças lado a lado sobre o tecido.

E ficamos ali por vários minutos, cobertas por um silêncio cortado pelo ruído longínquo das ondas engolindo a areia da praia, enquanto eu pensava sobre viagens metafóricas até as estrelas.

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