🎸 . Capítulo 1
Eram seis e cinquenta e sete da manhã de segunda-feira, exatos três minutos faltavam para o sinal da renomada universidade de artes da costa leste tocar.
E a exatos setenta e sete minutos para o grande desastre do dia.
Mellyssa não tinha pressa ao andar pelos corredores, muito pelo contrário, a garota de fios loiros estava muito ocupada em seu armário decidindo qual de suas paletas seria a escolhida para aquela manhã.
- Ah, não fique triste amarelinha, amanhã será sua vez, mas ontem eu tinha prometido para a azul...
Após fechar a porta de metal e colocar seu cadeado, Mellyssa parou um segundo absorvendo energia para lidar com o dia que viria, ela não havia conseguido dormir na noite anterior.
E nem nas outras noites que se antecederam a ela.
Mas aqui estava a maior prodígio do Rock'n Roll do lugar: a regata branca dos Beatles, calças jeans pretas rasgadas, um All Star que precisava urgentemente ser lavado, seus tão marcantes curativos nos dedos anelar, indicador e mindinho da mão direita e no dedão e indicador da esquerda. E claro, a guitarra esquisita transpassada nas costas.
Essa era Mellyssa St., ou apenas Queeny, como todos a chamavam.
Depois de fechar os olhos com força e balançar a cabeça para espantar o sono, o sorriso de ladinho se faz presente no rosto da loira que olha para o lado e pisca para uma aluna qualquer que a muito tempo a estava encarando.
A fama de pegadora se espalhou rápido após Queeny ter saído com uma das alunas mais bonitas do curso de fotografia. Não tinha sido nada demais, apenas uma troca de favores, entretanto depois dessa deixa e de ser vista em outro momento com um garoto das aulas de piano, que depois descobriram ser seu primo, o armário da guitarrista passou a ficar cheio de confissões de admiradores secretos. Não que a garota não chamasse atenção antes, ela chamava, e como, mas aparentemente a ilusão dela se apaixonar por alguém da universidade se tornou mais real.
Queeny sempre andou pelos corredores como se fosse dona deles e isso só ficou mais explicito com o passar do tempo e com cada garoto e garota que ela beijava nas festas. Todos abriam espaço para ela, todos queriam ser notados, todos queriam um pouco de Mellyssa Saint.
Todos menos a maldita, patricinha, café com leite Kondou Chisa, a melhor dançarina do campus.
Filha do professor de guitarra, a morena odiava ser passada para trás ou diminuída por sua condição, então ela abriu seu caminho até o topo da cadeia alimentar daquele lugar na base do talento e da língua afiada.
Diferente de Mellyssa, a dançarina andava rápido pelos corredores para chegar a tempo de sua primeira aula do dia. Tênis branquinho da nike, uma calça de moletom cinza com um crooped branco por baixo de um casaco também cinza. Aqui estava Chisa, parte das Top3 juntamente com Jurin e Maya, é a garota mais desejada da escola depois da guitarrista, a diferença é que ninguém nunca a viu com ninguém, ela era quase uma santa.
Kondou não gosta de Queeny, e Queeny não gosta da Kondou.
Todos sabiam. E todos amavam a rivalidade das duas maiores do campus.
Menos as duas.
Chisa odiava o modo como a loira sorria com desdém perto dela ou como a fazia se sentir incapaz durante uma troca de farpas.
Mellyssa odiava o modo como a dançarina parecia sempre estar com uma resposta para ela, ou como ela esbarrava de proposito em sua guitarra fazendo questão de passar as unhas pela tintura.
Uma estava doida para que a outra sumisse do mapa.
Mas o destino não foi bom com elas, nunca foi bom com a guitarrista e agora estava dando muitas mancadas com a Kondou, que quase foi para o chão depois de esbarrar em alguém se não fosse por uma mão cheia de curativos em sua cintura a aparando da queda.
- Eu não acredito nisso... - murmurou a dançarina se recompondo e empurrando a mão da garrota para longe.
- Não finja que não fez isso de propósito apenas para se aproveitar da minha boa alma que certamente te ajudaria... - a loira põe a mão no peito de modo ofendido, mas com um sorriso que desmentia seu gesto.
Filha da puta.
- A sua sorte é que eu não estou com tempo para lidar com gente babaca. - Chisa ajeitou a mochila nas costas e voltou a andar rápido, fazendo questão de, mais uma vez naquele mês, passar as unhas pela tintura da guitarra da mais alta, que murmurou um palavrão enquanto a dançarina se afastava rapidamente com um sorriso de satisfação de canto a canto.
- Da próxima vez eu vou cobrar, sua mimadinha! - Mellyssa gritou para que a morena ouvisse - A pintura dessa guitarra seu papai não paga nem com um ano de salário!
Chisa parou de sorrir na hora e se virou de costas para ver o rosto irado da loira, mas que ainda sustentava o mesmo sorriso. Maldito sorriso de merda.
A dançarina se contentou com um dedo do meio, ela estava completamente atrasada, não se daria ao luxo de ter uma bronca da professora apenas para tirar aquele sorrisinho idiota dos lábios da guitarrista, por mais tentador que fosse.
Mellyssa se sentiu decepcionada por um breve segundo, queria que a garota viesse discutir, ou... Ela não sabia o que queria na verdade, mas se sentiu decepcionada. Por um breve segundo. Então deu de ombros e continuou a caminhar devagar até a sala de aulas teóricas sobre instrumentos de corda.
Queeny dizia o que dizia para irritar a Kondou, mas ela nunca cobraria por algo tão banal. Nem sequer gostava daquela guitarra. Ainda mais colocaria seu professor favorito em maus lençóis.
Kondou Simon, o amado professor de guitarra era um cara incrível na opinião de Mellyssa, seu único defeito era a filha, mas ninguém era perfeito, né?
Simon fazia o papel de um mentor, psicólogo e pai para a guitarrista que sempre o procurava em suas aulas livres e intervalos, a ajudava com a guitarra, com concelhos e ela podia confiar nele de fato. Ele nunca contou nada do que ela já havia contado para ele a ninguém. Simon era um verdadeiro amigo, um dos poucos que a Saint tinha o luxo de ter.
A primeira aula passou rápido, os cinquenta minutos mais chatos da vida de Queeny e os cinquenta minutos mais cansativos da vida de Chisa.
Estamos a 25 minutos do desastre do dia.
Alguns alunos de dança queriam se organizar para uma competição no campus onde os vencedores ganhariam uma bolsa para fazerem um intercambio de um ano e meio na França. Todos estavam muito animados embora eles fossem competir com amigos.
O tema era música contemporânea-clássica, uma mistura que a universidade decidiu realizar para abranger um número de participantes maior. Chisa treinou muito pensando nisso, conseguia se ver ganhando com facilidade, ela sabia que havia dançarinos incríveis, mas ela acreditava nela, ela queria essa bolsa. Mas havia um porém: as inscrições são em duplas, e nessa dupla deve haver um dançarino e um instrumentista clássico.
A Kondou sentiu como se o teto tivesse desabado em sua cabeça. Conhecia apenas sua amiga Harvey que estudava piano na universidade, mas Jurin tinha se inscrito com a namorada, então ela não tinha muitas ideias, não conhecia muitos estudantes de música, evitava aquela parte da universidade justamente pela personificação do demo que rondava por aquela área.
- Vamos lá, Chi. - Maya tentava animar a amiga enquanto caminhavam pelo jardim - Aposto que você vai conseguir alguém para fazer dupla com você!
- Não sei não... - chutou algumas folhas secas no chão - Eu não faço ideia de onde achar alguém que toque um instrumento clássico nessa escola, e me recuso a ir procurar naquele lugar. - apontou para o prédio de tijolos vermelhos a sua esquerda e continuou andando - Mas e você? Por que não participa? Cocona não toca flauta?
- Não acho que eu esteje boa suficiente para competir e a Coco anda muito ocupada ultimamente. - a garota de mechas azuis deu de ombros como se não fosse nada demais - Mas sério, tenta achar alguém, por favor, Chi...
Ambas garotas pararam ao ver um pequeno grupo de músicos rindo alto logo em frente, mas não quaisquer músicos, era a banda dela. A banda da filha da puta loira filhinha de mamãe.
Tinha o Suga, como todo mundo conhecia, que cismou que era o produtor musical deles; Beomgyu era o baixista, um garoto de cabelos longos que só usava roupas que ele mesmo customizava; Momo era a baterista, sempre com um lanche na mão e com um estilo que destoava muito do restante; e NingNing, a vocalista que tinha uma necessidade quase que vital em ficar pendurada na loira de qualquer modo, Chisa ss sentia profundamente incomodada com isso, era tão esquisito e desnecessário.
Todos com o mesmo sorriso de merda de Mellyssa Saint.
Eles se merecem mesmo.
- Maya, olha para isso. - a dançarina apontou para o grupo que imediatamente parou de rir para prestarem atenção no que seria dito sobre eles, principalmente Queeny que fechou a cara imediatamente, mas a morena pareceu não notar nada disso - Eu não vou entrar num lugar onde tem pessoas assim só por causa disso. Eu adoraria participar, mas ter que encarar isso mesmo que por alguns segundos é tortura!
- Repete de novo na minha cara que eu não entendi, putinha da dança!
Estamos a 3 minutos do desastre do dia.
A loira tinha se levantado e estava a cerca de dez passos das duas dançarinas. Maya tentou puxar o braço da amiga murmurando para irem embora, mas Chisa não moveu um músculo, a Kondou era muito mais forte que a azulada, aquilo era uma batalha perdida.
- Me chamou do que, vadia da guitarra?
Dez segundos para o desastre
- Além de falar mal das pessoas sem nem ter um pingo de vergonha na cara a pirralha também é surda? - Mellyssa se aproximou mais agora somente a um passo da Kondou - Eu repito então: putinha da danç...
Antes de terminar de falar Cisha soltou-se do aperto de Maya e encerrou a distância da guitarrista com um tapa.
Os amigos da garota se levantaram rápido, mas pararam ao sinal da loira que começou a rir com o rosto ainda virado para o chão.
Poucos alunos viram aquela cena, Maya estava com os olhos arregalados e mãos sobre a boca enquanto Chisa começou a raciocinar o que tinha feito respirando com dificuldade após o pico de adrenalina.
Mellyssa, ainda rindo, passou a mão sobre a bochecha esquerda que formigava de leve e ganhava uma cor carmesim.
- Você até que tem uma mão pesada, Kondou. - começou parando de rir olhando para a garota que estava com alguns fios de cabelo grudados na testa e a boca pouco entreaberta - Mas acha que me bater vai adiantar alguma coisa? - pegou o pulso da morena o levantando e ficando com a voz levemente alterada.
- Me solta, Saint...
- Eu perguntei se você acha que me bater vai adiantar alguma coisa, garota! - o aperto no pulso de Cisha não afrouxou e a voz se tornou mais firme.
Chisa viu o sorriso de Mellyssa sumindo pela primeira vez e descobriu que preferia mil vezes aquele sorriso arrogante do que aquela cara.
- Mell, não compensa, deixa isso... - Ningning se aproximou tocando o nome da citada, mas ao ver a garota remexer num ato de desconforto rapidamente recuou.
- Não vou deixar nada, eu quero ouvir. Gostou de me bater, Kondou? Valeu a pena? Adiantou algo pra você?
Antes que pudesse responder, um dos inspetores apareceu e flagrou a cena. Não se dando ao trabalho de ouvir nenhum dos lados.
- As duas, para a sala do diretor, agora e sem mas.
E assim foi marcado o desastre do dia, daria um quadro, Maya, Ningning, Beomgyu, Momo e Suga olhando para o inspetor andando logo atrás de uma Chisa de cabeça baixa tentando explicar para o pai como tinha ido parar na direção e com uma Mellyssa despreocupada do lado com a bochecha vermelha e voltado com o maldito sorriso de ladinho.
__°• 🎸 •.°
As garotas se encontravam no banco de espera da sala do diretor, o inspetor estava relatando o que havia visto e as garotas estavam do lado de fora esperando, uma em cada ponta do banco sem trocar uma palavra.
- Você não repondeu. - Queeny disse ainda olhando para o poster da competição contemporâneo-clássico.
- O que? - a dançarina virou para a loira que continuava encarando o poster.
- Valeu a pena? O tapa.
- Era algo que eu queria fazer a muito tempo. - voltou a olhar para a parede cruzando os braços, sério que ela queria falar sobre isso?
- Isso eu sei, quero saber se valeu a pena. - a loira olhou para a garota pela primeira vez, com a expressão ilegível.
- Sim, muito a pena. - a morena murmurou sem se importar em olhar para a garota a seu lado.
Mellyssa apenas balançou a cabeça afirmativamente e voltou a encarar o poster.
O inspetor saiu alguns segundos depois se dirigindo para o corredor em busca do pai de Chisa para que estivesse presente enquanto as garotas entraram na sala do superior.
O homem gordo de meia idade que estava despojado sobre a cadeira giratória atrás da mesa era o Diretor Browers, um homem bondoso que quase nunca dava punições severas.
Quase.
Após pedir para que as garotas se acomodassem nas duas cadeiras a sua frente o homem começou a brincar com sua caneta.
- Então, contem-me o que aconteceu, sei apenas que a senhorita Saint estava segurando o braço da senhorita Kondou com certa violência. Expliquem-se.
Chisa iria começar a falar se não fosse pela loira ao seu lado abrindo a boca antes.
- Chisa estava numa área onde não deveria, aquela parte do jardim é apenas para estudantes de música, só estava explicando isso para ela... - deu de ombros arredando sua cadeira mais para frente assim como seu corpo enquanto tombava a cabeça para o lado sendo seguida de um olhar surpreso da Kondou. - Talvez eu tenha sido só um pouquinho incisiva demais.
- E essa marca vermelha na sua cara, Saint? Como me explica? Te vi na entrada hoje e posso jurar que não estava aí.
- Acabei tendo um acidente com a minha guitarra. - voltou para trás estalando os dedos esticando os braços.
- Certo, acho que posso fingir que sua guitarra tenha o formato de uma mão... Você confirma isso, senhorita Kondou?
Seja lá qual fosse o joguinho que a loira estivesse fazendo, Chisa iria entrar nele, não estava nem um pouco afim de ser suspensa por agressão, então balançou a cabeça freneticamente com medo de não conseguir dizer a mentira em voz alta.
Antes de falar qualquer coisa, o diretor foi interrompido por batidas na porta e Simon entrando em seguida.
- Bom dia, senhor Browers, bom dia Queeny... Bom dia filha.
- Senhor Kondou! Entre, entre, estava a sua espera. - o homem sorriu e logo em seguida voltou a sua postura de diretor para proferir a punição - Aparentemente foi tudo um grande mal entendido, mas por saber do histórico das meninas não posso deixar isso passar em branco então...
O diretor abriu uma das gavetas e tirou de lá um panfleto e o passou para o outro lado da mesa para que Simon o pegasse.
- A competição?
- Exatamente, as duas iram ser uma das duplas e...
As duas garotas que até agora se mantiveram quietas começaram a rir desacreditadas atraindo a atenção dos adultos.
- Eu me recuso a fazer dupla com essa garota metida a astro do Rock.
- E eu nunca participaria de algo assim, ainda mais com essa garota.
O diretor bateu na mesa cessando os risos.
- Não dei a vocês uma opção. Chisa, seu pai me contou do seu interesse por isso e Saint... - o homem respirou fundo - Não é a primeira vez que você vem aqui e você sabe que não sou idiota, então se você não quer que sua mentirinha vá para o ralo e você juntamente com a senhorita Kondou levem uma suspensão de duas semanas e dois meses limpando os ginásios eu sugiro que fique quieta e apenas aceite a punição que não é nem de longe tão ruim.
A morena abaixou a cabeça e a loira fechou a cara olhando para o lado.
- Bom... - retomou o velho - Só tem um porém, que seria o tal do instrumento clássico que...
- Não será um problema. - interrompeu o professor olhando para o folheto com um sorriso e depois para Mellyssa que agora estava balançando a cabeça negativamente olhando com súplica para o homem que apenas murmurou um desculpa.
- Nesse caso, estão dispensados. - o diretor se recostou na cadeira voltando a brincar com sua caneta enquanto os demais se retiravam.
Depois de dar um beijo na testa da filha e dar um aceno de cabeça para a outra garota, o senhor Kondou voltou para sua sala deixando as duas garotas sozinhas no corredor.
Mellyssa não estava sorrindo e nem com o mesmo olhar de mais cedo, estava olhando para Chisa como se tivesse olhando para uma parede. Já Chisa não podia deixar de sorrir, mas era um sorriso nervoso de quem não fazia ideia do que fazer agora. Estava pensando seriamente em se jogar do terraço da universidade ou tentar se afogar na fonte do jardim. Ficar como dupla de Mellyssa Saint, acho que era preferível lavar o banheiro masculino por seis meses. A dançarina nem havia se dado conta que seu sorriso estava levemente tombado para o lado, mas o corrigiu assim que ouviu a voz do demo:
- Você é tão sem personalidade que tem que copiar até o meu sorriso, garota?
- E você é tão fã da minha pessoa que planejou tudo isso só pra passar mais tempo comigo? - a Kondou juntou as mãos colocando do lado do rosto piscando os olhos excessivamente.
- Eu acho bom você saber que eu não tô nem um pouco disposta a ajudar você. - a guitarrista ficou a apenas um passo da garota mais baixa novamente - Não contei o que você fez por respeito a seu pai que, infelizmente, se orgulha pra caralho de você e, se você achar que em algum momento eu vou estar minimamente suportável é porque ele vai pedir, okay? Então amanhã a gente vai fazer a porra dessa inscrição e você torce pra eu não arrebentar você até o dia da apresentação.
A loira se afastou fazendo a dançarina soltar o ar que ela nem sabia estar prendendo.
- Tomara que você quebre o pé indo para casa, Kondou. - disse dando as costas e seguindo o corredor vazio com as mãos no bolso.
- Tomara que você pule da janela da sua casa e bata bem forte com a cabeça, Saint.
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