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Capítulo 12


"Imaculada sentiu uma fisgada de dor no pescoço, quando ergueu a cabeça para poder ver o rosto de Agatha.

— Esse natal vai ser diferente, Bubu. Eu consegui uma família de voluntários que vai receber você.

— Por quê? — A voz amedrontada soou baixo, a menina se sente assim todas às vezes em que é enviada para qualquer lugar desconhecido.

Imaculada tem medo do mundo.

Ele não parece gostar muito dela.

— Todas as outras crianças vão passar a festa com a família, e pensamos em dar folga para as educadoras. — A menina encara os pés da mulher. — Sinto muito. — A outra acrescenta quando nota o peso de suas palavras.

— Não posso ficar com a Ceci?

— A casa dela está cheia.

— E com você?

— Vou viajar com o meu marido.

Agatha se ajoelhou em frente a Imaculada e segurou as suas mãos.

— Você vai passar a véspera e o natal com essa família, depois disso eles te trazem de volta pro lar.

A menina concordou muda. Ela não podia discordar.

— Seja simpática, ria e brinque. Talvez eles gostem de você e te adotem."

Imaculada não gosta de desconhecidos, ela tem pesadelos com o homem de olhos azuis e, em seu íntimo, acredita que a menina adotada por ele e sua esposa, sofre. Sofre muito. Como era o nome dela? — ela tenta se distrair. — Susana. Ela gostava de brincar na cadeira de balanço.

Sentada diante da mesa, a menina vê de canto de olho, o homem gordo refestelado sobre o largo sofá. Ele não disfarça o incômodo que sente com a presença inesperada, não desvia o olhar... Ele apoia a lata de bebida sobre a barriga grande e redonda, e Imaculada suspeita que esconde uma bola embaixo da camisa, uma bola de plástico cheia que pode explodir a qualquer minuto. O homem leva a lata à boca vezes seguida, e a menina não sabe que bebida tão gostosa é aquela que ele toma, a embalagem não é a mesma do refrigerante que deram para ela.

— Quem convidou você? — A voz grossa soa como um rosnado furioso, e Imaculada apenas se encolhe sem responder.

— Eu convidei. — Eduarda, a dona da casa, passa em frente a ela com uma travessa de comida em mãos. A primeira vez que a menina viu a mulher, pensou que ela poderia ser a sua mãe — a mãe de verdade. O longo cabelo liso e brilhante balança pra lá e pra cá, os fios têm a mesma cor dos seus, e são lindos como o dela jamais será.

Imaculada não sabia que cabelo negro podia ser bonito.

Ela se lembra do dia em que Cecília explicou que o seu cabelo é ruim.

— Encontrou essa aí na rua? — O homem dá uma golada na bebida.

— Ela mora no orfanato.

— Cadê os seus pais, fedelha? — Ele toma um segundo gole.

— Deixa a menina em paz. — A mulher sorri para Imaculada como dissesse que a conversa não passa de uma grande brincadeira.

A menina não entende onde está a graça.

A assistente social estava errada, Imaculada não sente que gostam dela, mesmo que Eduarda tenha mandado ela se sentar diante da mesa coberta de comida.

— Natal é pra família. — O homem gordo se senta ao lado da menina, o cheiro que ela sente não é doce como o do refrigerante, e Imaculada gostaria beber como o ele, que esvazia uma lata atrás da outra e ainda não reclamou de enjoo. — Não tem vergonha de se intrometer?

— Teodoro! — Eduarda chama a atenção do outro, seu irmão, Imaculada foi apresentada para ele e desconhece o significado de intrometer. De cabeça baixa ela vê a mãe, o esposo, as irmãs, cunhados e sobrinhos de Eduarda: a conversa alta é animada e, diferente de Teodoro, a menina não incomoda eles... Na realidade, o grupo não nota a presença dela.

— Devia ter convidado pro ano novo, aquilo ali não importa. — O homem reclama com a irmã. — Ela não tem o nosso sangue.

— E daí, Teo? — Eduarda se afasta sem esperar pela resposta.

— Natal é festa religiosa. — Ele grita para a irmã. — Você não respeita a religião!

Eduarda volta da cozinha com uma última bandeja em mãos, o peru dourado e brilhante sobre ela é o maior que Imaculada já viu, faz sentido para ela aplaudirem a ave.

— Onde conseguiu dinheiro pra comprar isso? — Teodoro estuda a bandeja.

— O orfanato não vai comemorar o natal esse ano, e deram o peru pra gente. — A irmã explica.

— Eles tem dinheiro pra comprar uma coisa dessa?

— Claro que não, Teo. É uma doação.

— A coxa é minha!

Imaculada assiste a ave perneta ser fatiada, os pratos passam em frente ao seu rosto transbordando comida, e ela tenta decidir se deve ou não começar a comer.

Teodoro, com a boca engordurada, não deixa de observar a menina.

— Foi por isso que trouxe essa aí pra casa. — O homem abocanha a carne.

— Não diz besteira, Teo.

— Malandra você, Duda. — Ele balança a coxa na direção da irmã. — Malandra.

— Eu vou fazer o seu prato, Maria.

Eduarda fez, e Imaculada não teve coragem de pedir que colocasse um pouco mais de purê, ela preferia não comer salada com tanta coisa gostosa, poderia trocar ela pela farofa temperada e, se não fosse pedir muito, aceitaria um pedaço, um pedaço qualquer de peru. De todas as comidas sobre a mesa, a menina provou três ou quatro, ela não teve coragem de se servir ou questionar o porquê de não provar os outros pratos... O estômago é acostumado a pouco, mas hoje ele pedia mais comida.

— Como é mesmo... o nome dela? — Teodoro se debruça sobre a mesa como um cão que defende o alimento.

— Maria Imaculada — a irmã responde.

— Blasfêmia! — Pedaços de carne mastigada voam sobre a mesa. — Um absurdo dar o nome da santa pra uma rata de rua. Você vai pro inferno! — O homem aponta o osso descarnado para a menina. — Você e quem te deu esse nome.

Bêbado escroto — Maria se lembra bem do rosto dele, é outro que aparece em seus pesadelos. — Você que já deve tá no inferno, seu monte de bosta — ela xinga o homem, mas a verdade é que têm anos que aquela palavra a atormenta.

A idiota da menina contou para Agatha que aquelas pessoas queriam apenas o peru, mas é claro que a assistente social não acreditou. Eles tiveram uma atitude muito bonita — a mulher tentou convencer Imaculada, e a garota queria dizer para Agatha um terço do que ouviu de Teodoro: fedelha, rata, imunda, vagabundinha, piranhinha...

Criança, ela não soube enfrentar a situação.

Maria teria arrancado a lata da mão dele e socado ela na garganta do homem. Bem no fundo da garganta. Ela aposta que caberia uma cerveja inteira naquela boca enorme.

A santa de gesso acompanha os seus passos. Blasfêmia — ela não consegue evitar o pensamento repetitivo. — O meu nome é uma blasfêmia?

— Cecília? — Maria usa a raiva que o pesadelo despertou em si. É o seu penúltimo dia no lar, e ela não quer partir sem botar um fim nessa história. — Cecília?

— O que foi, Bubu? — Ela encontra a educadora sentada na cadeira que por tantas vezes foi o seu lugar, próximo ao pé dela, a mancha azul não desbotou. Sangue azul também jorra — a garota lembra.

— Aconteceu alguma coisa? — Curiosa, a assistente social estuda a outra, e Maria pensa que o destino quer contar algo para ela. Algo importante, já que ele reuniu as duas mulheres que moldaram o seu passado no escritório de Agatha.

— Quero que expliquem uma última coisa antes de tudo acabar.

— Não exagere, Bubu — Cecília desdenha. — Todos têm que sair do lar um dia.

— Eu não tô simplesmente saindo, mas não foi disso que vim falar.

— Faça logo a pergunta. — Agatha impede que a discussão prossiga.

Maria engole o excesso de raiva em sua boca. Os rostos frios à sua frente escondem os sentimentos.

Sempre esconderam.

— Quem escolheu o meu nome?

— Agatha — Cecília responde direta.

— Por que uma santa?

A assistente social inspira fundo, troca olhar com a amiga, e Maria sente que ela não quer responder.

A garota também não quer ouvir a resposta, mas precisa.

— Por nada — Agatha responde indiferente.

— Como assim?

— Nada, Bubu. É só um nome.

— Mas como chegou nesse nome?

— Você chorou horrores na infância. A Ceci balançava tanto você, que poderia ter uma concussão cerebral e, quando ninguém mais suportava a sua voz, eu berrava para a santa: "Cale a boca dessa menina!"

— E eu parava de chorar?

— Quem dera — Agatha desdenha. — Você parecia odiar o lar, as educadoras. Só se acalmava com a Ceci... O que você não chorou quando foi abandonada, chorou ao ser acolhida.

A garota tenta digerir o que ouviu. Anos desejando que tivesse alguma ligação com a santa. Um passado... Carne e gesso não tem o mesmo sangue, mas podiam fazer parte de uma mesma história.

A história de Maria fala apenas de si mesma.

As Marias Imaculadas compartilham o nome e mais nada.

— Não é o que os bebês fazem? Choram — ela reflete.

— Uns choram mais que outros — Cecília responde.

— Não me faltam motivos pra chorar. Nem um nome eu tenho.

— É claro que você tem nome — Agatha contradiz.

— Você escolheu ele por vingança ou desprezo?

— Seu nome é Maria Imaculada, porque eu rezei muito pra ela na sua infância.

— Você não rezou, você berrou com ela! — As palmas jovens estalam alto contra a mesa. — Você tem raiva da santa que não calou o maldito bebê. Odeia tanto ela, que a droga da escultura é tão abandonada quanto cada criança que foi enterrada viva neste lugar! — Impotente, a garota sente as lágrimas se acumularem nos olhos. — Me deu o nome de Maria Imaculada, porque não me suporta ou porque me acha tão insignificante quanto a porcaria de gesso.

— É só um nome! — A respiração de Agatha acerta a face da outra.

— Não é! — Ela torna a bater na mesa. — É a forma que usaram para dizer que me odeiam. Que não me suportam! — Maria estapeia a mesa, extravasa a raiva sobre ela como se pudesse a destruir, como destruiu a caneta de sangue nobre. A madeira é forte, não sente os golpes, e a garota sabe que aquela é uma luta em vão, ela não tem como vencer.

Maria Imaculada foi derrotada ainda no ventre da mulher que a gestou.

— Está inventando coisas, Bubu. — Cecília tenta acalmar ela.

— Você me jogou contra a cômoda do quarto, e aquele foi o único dia em que me abraçou. — As lágrimas despencam sobre a mesa, pequena poças de desilusão, e Maria sente a umidade acumulada no nariz. Nariz de Imaculada. — Vocês me escorraçaram a vida inteira. Não me deram o mínimo de carinho.

— Trabalhamos aqui. Nenhuma funcionária tinha tempo pra ficar de abraço, brincar com você...

— Vocês duas eram o mais próximo que eu tinha de família! — Ela interrompe a educadora. — Era impossível dizer uma única palavra boa? Me desejar feliz aniversário, me dar um abraço no natal... — Maria limpa a boca salgada. — Eu não queria muito. Nunca quis.

— Nos perdoe se fomos...

— Não seja falsa, Cecília. — Ela encara a outra. — Você me despreza tanto quanto a Agatha. Eu sinto isso. Eu lembro como você me tratava e de tudo o que dizia. Foi quem me ensinou a ser gelo.

— Um dia irá descobrir que criar um filho não é fácil, e então vai entender que criar o filho dos outros é mil vezes pior — Agatha argumenta.

— Eu não escolhi ser abandonada. Não escolhi nascer.

— É difícil cumprir sentença com um sorriso, ainda mais uma sentença longa como essa e que nem deveria ser nossa. Durante dezoitos anos Cecília e eu mantivemos você viva, deveria ser grata por isso. — A assistente social cobra.

Maria recua um passo, alinha as costas e espalha a umidade do rosto.

— Se eu fosse "boazinha", teria morrido na noite que passei do lado de fora. — Ela engole um soluço. — Vocês teriam pena do bebê morto, mas são incapazes de sentir qualquer coisa pela estúpida criança que foram obrigadas a criar.

O silêncio se prolonga e nenhuma das mulheres a contradiz. O choro é doloroso e a garota odeia os soluços que emergem do peito, Maria não quer se mostrar vulnerável na frente das mulheres. No fundo, ela nunca deixou de ser vulnerável. Quando sair do lar, não poderá mais ser assim.

É questão de vida ou morte.

Maria tem que aprender a renascer.

— E o apelido? O que Bubu quer dizer? — ela faz a última pergunta.

Bruuu! Bruuu! — A educadora sopra contra boca fechada, o lábios tremem com a passagem do ar. — Era o único som que fazia quando chegou aqui.

O deboche das mulheres é fogo contra a pele frágil e, em sua mente, Maria escuta as duas dizerem que é o apelido mais idiota de todos os tempos. Elas tem razão. Nem mesmo isso fizeram por ela. O estúpido bebê embosteado passou a noite calado pensando no que podia fazer por si mesmo.

Bruuu! Bruuu!

O que mais um recém nascido poderia fazer?

— Vai mudar o meu nome no registro. — Maria se agarra ao que resta de autocontrole. — Quero me chamar Bubu.

— Isso não é um nome — Agatha protesta. — O cartório não vai concordar com um absurdo desse.

— Dê o seu jeito.

— Já é maior de idade, faça isso você mesma.

— Escolhe: saio daqui escorraçada como as duas querem, ou taco o terror e marco o meu nome na história desse lar.

— Acredite, o seu nome já está marcado, Bubu. — Agatha não esconde a raiva que sente.

— Nada tão ruim quanto eu posso fazer ser.

É um blefe. Maria não tem força para atacar, sua mente agora se foca em preparar a mala para o dia de amanhã.

Que mala?

A garota não precisa de uma.

— Bubu, trocar o nome não é tão simples quanto parece, pode levar meses, tudo foi feito como Maria Imaculada. — A assistente social espia a educadora. — Ainda tem o processo judicial de busca dos seus pais, eu acredito que isso não pode ser alterado.

Dói em Maria não ter um documento, algo que a torne real, que obrigue o mundo a aceitar que ela existe.

— É a droga de um papel. — Ela segue em direção a porta. Passos largos, cabeça erguida, os soluços silenciados. — Não preciso disso para ser Bubu de Mim Mesma.

Se morrer amanhã não há quem chore a sua morte, quem a enterre, quem a receba no céu. Sozinha — Maria entende o recado do bebê. Julie tentou a alertar. — Se quer sobreviver, terá que lutar pela própria vida.

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