v o c ê
O problema é que os seres humanos têm o dom de escolher exatamente aquilo que é pior para eles.
-J.K Rowling
(uma dica: leia ouvindo a música mais triste e romântica da sua playlist)
***
Bem, depois daquele fatídico dia de amor e sofrimento eu decidi manter distância de você, falávamos na escola e só. Não queria você indo na minha casa, pois eu tinha sentido na pele que eu não conseguiria me segurar, as paredes que criei estavam sendo rompidas.
Então os meses seguintes se arrastaram e sentia tremenda falta de ti e você parecia retribuir tal saudade, já que perguntava sobre mim para meus pais com uma frequência impressionante.
Nesses dias afastados eu tentara manter em minha mente o laço de amizade que criamos, em como ele é puro e verdadeiro, forçando-me a crer que as minhas ideias de nos tornamos algo a "mais" tinham que ser extintas.
Eu queria apenas manter esse laço até os últimos dias da minha vida.
Porém, algo trágico aconteceu no meio do nosso caos.
Na primeira semana de abril, fomos bombardeados por uma terrível notícia. Seu pai faleceu de ataque cardíaco fulminante e eu sabia que você tinha uma grande relação com ele. Por isso, quando soube do acontecido o primeiro pensamento em minha cabeça foi de correr até sua casa e te ajudar, como um bom amigo faria. Mas eu não agia como amigo, eu tinha medo. Eu não me tornava confiável perto de ti. Não poderia arriscar.
Uma pena as turbulência desse avião que é minha vida não terem parado por aí.
O segundo iniciou na manhã de sexta, um dia depois da morte do seu pai, com uma conversa entre mim e Melissa na hora do intervalo, ela parecia com raiva de mim sem motivo.
Nesse dia você não foi pra escola e eu sabia o por quê e Melissa também. E bem, naquela tarde, falamos de você e não de uma maneira boa.
- Não quero você perto dele. - disse Melissa sem tocar na comida e me encarando.
- Como assim? Perto de quem? Bruno?
Ela assentiu.
- Melissa, somos só amigos, nada mais que isso.
- Mas... Você sabe. - ela estava tentando parecer simpática, mas não adiantava. - Ele anda falando de você com frequência, estou estranhando.
Nem tive tempo de ficar feliz com essa notícia, estava com raiva.
- Só porque eu sou gay, não quer dizer que vou atacar seu namorado! - sussurrei.
Mas sabe?
Eu queria gritar com ela. Gritar muito. Gay não é sinônimo de tarado. E queria enfiar isso na cabeça dela.
E Bruno, você estava acabando com a única amizade que tive em anos e nem tinha noção sobre isso.
- Mas por favor, só te peço. Você é meu melhor amigo. Não quero te perder por causa de um cara. Por que... Se você não se afastar, é isso que vai acontecer.
Só por cogitar a ideia de não poder falar mais com você fez com que eu sentisse uma tremenda ânsia de desespero.
- Não se preocupe, eu me afasto de você. - e me levantei.
Estava fervendo de ódio e naquele momento eu não pensei nas consequências que minhas escolhas teriam. Nem tinha caído a ficha que minha única amiga estava ficando para atrás e que eu estava trocando ela por você.
Logo você, que não merecia nada, acabou tendo tudo.
No fim das aulas eu fui correndo para minha casa com a cabeça doendo de tanto pensar - e chorar - nas coisas que havia dito para Melissa. Eu apenas desejava - incansavelmente - enfiar a cara no meu travesseiro e dormir, fingir que minha vida estava normal, fingir que estava vivendo feliz em um mundo no qual eu não precisava passar por esses dramas adolescentes e simplesmente pular para a parte que tudo estava resolvido.
A última coisa que eu queria naquele momento era te ver.
Só que como sempre, meus desejos não se realizaram.
Você estava sentando no último degrau da porta da frente na minha casa, com um terno preto e calça social da mesma cor, seus olhos estavam extremamente vermelhos. Aquela imagem despedaçou meu coração por completo.
Esqueci-me que naquele dia tinha ocorrido o enterro do seu pai.
A raiva que havia em mim logo se dissipou.
Atravessei o jardim da frente em passos lentos, como se minha vida dependesse disso, enquanto você...
Bem, você não desviou os olhos dos meus, parecia que havia um fio me ligando a ti.
E Bruno...
Minhas pernas tremiam a cada passo que dava na sua direção, você deixou de ser uma silhueta bela e ganhou forma diante a mim. A sensação do sonho tinha voltado e aquilo me assustou. Eu não tinha noção que sentia tamanha falta de poder ver seu rosto. Seus olhos pareciam maiores e intenso que o habitual. Quando fiquei na sua frente você disse, ainda sentando:
- Você não foi me ver.
Permaneci em silêncio.
Me sentei ao seu lado, mas seus olhos não me acompanharam.
- Até Melissa apareceu lá e você não. - sua voz parecia decepcionada. - Você é meu melhor amigo. Ou era.
- Eu sou! E eu sinto muitíssimo mesmo. - minha voz saiu baixa e envergonhada - Se eu pudesse voltar no tempo eu voltaria, só pra está lá com você. Eu juro. Por favor me desculpe.
No fim, coloquei minha mão esquerda no seu ombro.
- Sabe, meu pai gostou muito de você, principalmente naquele dia que jogamos baralho e você... Ganhou dele umas cinco vezes. - você sorriu, mas não do jeito belo de sempre, faltava algo.
- Eu também gostei muito dele.
Seu sorriso sumiu aos poucos e logo, logo fomos acolhidos pelo o silêncio. Eu não sabia o que dizer a você, nunca consolei ninguém na minha vida, sempre estive no lado oposto.
Mas eu queria fazer de tudo pra ti ajudar. Sempre quis.
- Ele me dizia que você era diferente. De um jeito legal Henrique. Extremamente inteligente. E acho que meio entendo o porque.
Sem que eu prestasse atenção, uma lágrima escapou do meu olho direito e percorreu toda minha bochecha, a boca do meu estômago parecia ter sido atingida por um grande e forte soco.
Eu enxuguei à lágrimas com a mão livre e com a outra apertei um pouco mais seu ombro. Você pôs a mão em meu joelho e balançou de leve.
Você, depois de toda conversa, encarou meu rosto. O cabelo caindo sobre a testa.
- O enterraram com óculos, acredita? - um sorriso surgiu nos seus lábios novamente, mas em seus olhos escorriam lágrimas.
Seu rosto inclinou-se um pouco na minha direção e o encostou no meu ombro.
- Ele amava aquele óculos. - continuou.
Logo em seguida ouvi soluços e seu choro veio forte e descontroladamente. Seus ombros balançaram e sem pensar, eu passei os braços em volta de você e te abracei apertado. Senti suas lágrimas em meu ombro e seu grito repercutiu meu corpo. Suas mãos se cravaram ao redor de mim e me apertaram.
Eu, de uma maneira quase inexplicável, consegui sentir todo seu medo e tristeza se fundindo e indo de encontro a mim, causando arrepios pelo meu corpo e fazendo meu coração se auto-mutilar. Não conseguia te ver daquela maneira.
Até hoje, quando me lembro, meu corpo todo se arrepia - de maneira ruim.
Eu nunca havia visto uma pessoa tão triste na minha vida, até aquele dia. É como se a morte tivesse do nosso lado nos observando e vendo tudo aquilo, na espreita, apenas aguardando.
Mas naquele exato momento não era de fato a morte que nos observava, e sim...
- Sério Henry?
Bruno, sabe de quem era essa voz?
- Melissa? - você disse enquanto retirava a mão da minha cintura e se afastava de mim a encarando.
E você achava que a turbulência acabara.
Bobo.
- Eu ti pedi Henry. Você não podia ter feito isso por mim?
- Sério que você ainda tá com essa paranoia?
- Que paranoia? - você voltou seus olhos para mim, enquanto falava.
- Bruno, precisamos conversar. Agora! - disse Melissa
- Melissa. Não! - falei quase gritando.
Eu já tinha começado a deduzir o que ela queria fazer e meu coração automaticamente se quebrou como se fosse de vidro e o destino pisoteasse ele.
Imaginei todos nossos momentos de pura amizade evaporando feito fumaça. Eu podia ser um pervertido às vezes, mas era bom te ter por perto, ter um amigo e não queria que aquilo acabasse, não mesmo.
Melissa não me respondeu e você estava completamente confuso com o que estava acontecendo. Ela se aproximou e puxou seu braço com força e ti guiou até seu quarto sem responder seus questionamentos e durante tudo isso, fiquei completamente atônito. Parado e com medo.
Corri para minha casa e entrei no meu quarto angustiado, pela primeira vez a cortina da sua janela estava fechada.
Bruno, instantaneamente passou tantas coisas pela minha cabeça que logo comecei a chorar a ponto de soluçar e todo meu corpo tremer. Imaginei você gritando comigo, sentindo nojo de mim e aquilo doeu em minha alma.
Tinha certeza que meu segredo estava sendo exposto para você, sem minha autorização, apenas por causa do ciúme.
Eu confiei em Melissa e a mesma estava me traindo. É isso que dá confiar nas pessoas, elas não tem caráter.
Agora percebo que você e ela se mereciam.
Eu estava suando frio e apertando os nós dos meus dedos enquanto ficava sentado sobre a cama balançando as pernas tentando diminuir o nervosismo. Implorando a Deus para ela não ti contar nada.
Depois de alguns minutos, que - sério - pareceram horas, ouço um barulho forte de porta fechando. Lembro que corri para janela rapidamente a tempo de ver Melissa entrando no carro da mãe dela e saindo. Estava feito, ela tinha te contado.
Ao olhar para seu quarto, não vejo mais a cortina fechadas, pelo contrário, meus olhos vão diretamente ao seu rosto. E por sinal você retribuía meu olhar. Eu não fazia ideia do que se passava na sua cabeça.
Você poderia se sentir enganado?
Talvez!
Mas de uma coisa eu tinha certeza.
Meu coração estava paralisado.
Observei você pegar papel e pincel em cima da mesinha de cabeceira e escrever alguma coisa. Cada segundo que passava mais meu coração doía.
Depois de alguns segundos você pôs o papel escrito na janela e eu leio aquela frase que reside minha mente até hoje:
"Preciso falar com você."
Sua cara parecia mais calma e seus olhos não estavam muito vermelhos.
Bom sinal?
Não sei.
Minhas mãos continuaram a tremer e não consegui escrever nada no papel que havia pegado. Apenas assenti a cabeça para você e sai do meu quarto feito uma bala.
Será se você iria brigar comigo? Cortar todos os laços que criamos?
Ao chegar na calçada te vejo saindo de casa. Acelero o passo e durante todo o trajeto de mim indo até você inicio uma série de maneiras de te explicar o que sou, sem ti deixar chateado ou se sentir traído.
Mas como se explica pro seu melhor amigo que você é gay?
Estava encurralado.
Só me restou falar a verdade e rezar para que me entendesse.
Você já estava descendo as escadas da sua casa indo até a calçada e ficando bem próximo de mim. Eu parei de andar no meio da encruzilhada entre minha casa e a sua, mas você continuou se aproximando.
Eu poderia jurar que você iria me socar, já que sua cara era séria e raivosa.
- Bruno - você estava a centímetros de distância de mim - Eu tenho que...
"Bang"
Você
me
beijou
Seus lábios grudaram nos meus antes mesmo deu pensar em que falar, antes mesmo de eu entender de fato o que estava acontecendo. Eu apenas me permiti sentir tudo de você. Sentir suas mãos segurarem minha nunca. Sentir seus lábios exprimidos os meus. Sentir todo seu calor e desejo. Seu cabelo acabou fazendo cócegas em minha testa, suas mãos me incendiaram.
Bruno vou lhe confessar algo...
Você...
era
minha
poesia
particular
Quando eu segurei seu rosto em minhas mãos você parecia exatamente uma poesia que tinha ganhado forma e me invadia ao tocar meus lábios. Era puro e devastador como a mais perfeita rima. E eu amei tanto.
Eu estava em completo delírio.
Quero que você saiba que eu nunca havia beijado outro garoto além de você, Bruno. Nunca havia sentindo tamanho êxtase como senti naquele momento. E eu não queria que aquilo parasse. Poderia morrer sem ar, mas de maneira nenhuma eu queria desgrudar minha boca da sua. Aquilo foi tão bom, que fez o sonho se tornar uma bobagem esquecível.
Ficaria até feliz em morrer em seus braços naquele momento.
Você se afastou poucos centímetros a ponto apenas de poder sussurrar. Nem atrevi abrir meus olhos.
- Esperei muito tempo para fazer isso.
Eu retribuir sorrindo próximo aos seus lábios, sem crer que aquilo era de fato real. Você se afastou e encarou meu olhos para logo em seguida beijar-me com mais força. E eu me entreguei e afundei no mar que era você. Suas mãos me sustentaram, apoiando-se em minhas costas e me deixei desaparecer dentro de ti.
O amor tem as suas particularidades, mas não é mais bonito ou mais feio, mais gordo ou mais magro, mais careca ou cabeludo. Ele simplesmente é ele.
Você é simplesmente você.
Porém, a chama de realidade veio em minha mente e decidi, meio relutante, me afastar.
- Bruno, o que significa tudo isso? - sussurrei próximo a ti.
Meu coração batia descontrolado.
- Eu gosto de você. Simples assim.
Seu hálito era doce e eu tive a certeza que aquilo era real.
- Não, não é simples assim. - sorri grudando minha testa na sua. Queria sonhar um pouco mais - Como? Por que?
- Eu não sei. - nos dois sorrimos atrapalhados, você sempre segurando minha cintura. - Melissa me contou a verdade e eu quis te beijar. Mas sempre pensei nisso a muito tempo. Tentei da investidas em você, mas sempre se distanciava de mim que acabei desistindo cedo demais.
Isso foi verdade Bruno? Eu queria muito saber, por que na minha mente jovem, era.
- Você deve está louco. - disse.
- Então me deixe ser louco.
E beijou-me mais uma vez segurando meu rosto em suas mãos, exprimindo-me junto ao seu corpo. Tudo que vinha de você, de alguma forma se tornava especial pra mim
Droga,
droga,
droga.
Não consigo Bruno, não dá para continuar essa carta. As memórias estão voltando com força, essa minha ideia foi uma loucura, sem lógica. Eu disse a mim mesmo que não choraria mais por você e cá estou chorando e molhado essa folha inteira. Você não merece minha dor depois do que fez, mas insisto em deixá-la morar dentro de mim.
Eu senti saudade desse sentimento de puro do amor, ele tava tão escondido dentro da armadura que criei a tanto tempo, que não achei que poderia senti-lo de novo. Mas sentir agora, mesmo não querendo.
E isso é um saco.
Não sei se escreverei mais cartas, não consigo me imaginar chegando ao fim disso, assim como tudo em minha vida, mas tentarei.
E espero conseguir.
Espero que você pense em mim de vez em quando, só para eu não me sentir tão patético por pensar em você o tempo todo.
***
Esse capítulo é meio que um presente a lorsdi ❤️e a Halahackbah 💕 por acompanharem essa história desde o começo, estão sempre votando e comentando. Por isso a postagem rápida 😂😂💓💓💓
Espero que gostem!!😍😍🖤
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