Capítulo 1
— Bem-vindo a Chicago! — disse o motorista do táxi, enquanto estacionava em frente ao meu prédio. Olhei pela janela e respirei fundo, sentindo um misto de empolgação e nervosismo.
A fachada era moderna, com vidros espelhados que refletiam o céu cinzento. Era o começo de uma nova fase, e eu estava pronto. Ou, pelo menos, queria acreditar nisso. Peguei minha mochila no banco ao lado e desci, agradecendo ao motorista enquanto ele retirava minha mala do porta-malas.
— Boa sorte, rapaz. Chicago é uma cidade incrível, mas precisa ter coragem para encará-la. — Ele sorriu antes de partir.
Era um bom presságio? Talvez. Entrei no prédio e fui direto para o elevador. O apartamento era pequeno, mas tinha uma vista impressionante da cidade. As janelas mostravam os arranha-céus iluminados, as ruas movimentadas e o som distante da vida que pulsava lá fora.
Depois de organizar minhas coisas, liguei para minha mãe. Sabia que ela estava preocupada, mas também estava orgulhosa de mim. O telefone tocou duas vezes antes de ela atender.
— Hans! Você chegou bem? Como está a cidade? — perguntou minha mãe, claramente tentando esconder a ansiedade.
— Cheguei, sim. O apartamento é pequeno, mas confortável. E a vista... É incrível! Acho que vou gostar daqui.
— Fico feliz, meu filho. Mas não esqueça de comer direito. Sei que quando está animado, você acaba vivendo só de café e sanduíches.
— Mãe, estou bem. Prometo me cuidar. E você? Como está Emily? E James? Tem dado notícias sobre como estão as coisas na DW? Você sabe, com toda essa coisa de encontrar um substituto, né?
Antes de responder, minha mãe deu aquela risada gostosa que só ela sabia dar.
— Uma coisa de cada vez, Hans! Sua irmã está ansiosa para saber tudo sobre Chicago. Já disse que quer visitá-lo logo. E o James? Ele apareceu aqui ontem para contar uma novidade. — Ela fez uma pausa dramática. — A Lilibeth terminou com aquele Lucas.
Quase deixei o telefone cair. Não sabia como reagir a essa informação, mas tentei parecer indiferente.
— Bom... Espero que ela esteja bem. — Foi tudo o que consegui dizer.
— Hans, você sabe que ela foi importante para você. Não precisa fingir que não se importa. Mas... — Ela parou por um momento. — Apenas viva sua vida. Você está em Chicago, com um futuro incrível pela frente. Não se prenda ao passado.
Respirei fundo e sorri, mesmo que ela não pudesse ver.
— Obrigado, mãe. E diga à Emily que vou ligar para ela amanhã. Preciso organizar as coisas por aqui.
— Está bem, querido. Cuide-se. Te amo.
— Também te amo.
Depois da ligação, resolvi explorar a cidade. Coloquei um casaco e saí para caminhar. Chicago tinha uma energia única, uma mistura de caos e beleza. As pessoas passavam apressadas, carregando sacolas, falando ao telefone, enquanto o vento frio cortava as ruas.
Passei por um café aconchegante e não resisti. Entrei, pedi um cappuccino e me sentei perto da janela. Era impossível não refletir sobre tudo o que me trouxe até ali. Toronto parecia uma vida atrás. A DW Digital World, Lilibeth, os amigos, minha mãe e Emily... Tudo isso fazia parte de quem eu era, mas agora eu precisava me concentrar no que vinha pela frente.
Peguei meu celular e abri uma mensagem de Emily que tinha ignorado mais cedo.
"Não esqueça de me mandar fotos! Quero ver o apartamento e a cidade! Ah, e não esqueça que você é o melhor irmão do mundo. Mesmo que esteja longe agora. Beijos, Em."
Ri sozinho e respondi: "Vou te mandar fotos amanhã, prometo. E você é a melhor irmã, mesmo implicando comigo. Beijos."
Ao sair do café, percebi que a noite já estava caindo. As luzes da cidade eram como um espetáculo. Decidi voltar para o apartamento e descansar. Amanhã seria meu primeiro dia na Gaming Universe and Company, e eu queria estar preparado.
De volta ao apartamento, enquanto arrumava a cozinha improvisada, meu celular vibrou. Era James.
— Hans! Chicago já te encantou ou ainda não? — Ele começou, sem dar tempo para uma resposta. — Eu estava pensando... Você acha que a Lilibeth vai tentar falar com você? Digo, após o término dela com Lucas, porque, se fosse comigo, eu tentaria. — Ele fez uma pausa para então me matar de susto de repente — Surpresa! Lilibeth está livre novamente!
Revirei os olhos já sem paciência. Além do mais, a quanto tempo eu vinha aturando as loucuras de James?
— James, sério? — Suspirei, cansado de ouvir esse nome. — Por que você está tão interessado nisso?
— Porque eu sou seu amigo e me preocupo. Só acho que, se ela te procurar, você devia ouvir o que ela tem a dizer. Quem sabe...
— James, chega. O que passou, passou. Estou em outra fase da minha vida. E, sinceramente, prefiro focar no futuro. Agora, me deixe em paz para dormir.
— Certo, certo. Mas só um aviso: não bloqueie as possibilidades. Às vezes, o passado volta por uma razão.
James desligou antes que eu pudesse rebater. Joguei o telefone no sofá e decidi ignorar aquela conversa.
Depois da ligação de James, continuei pensando na conversa com minha mãe e, especialmente, na última coisa que ela disse: "Não se prenda ao passado". Era fácil falar. A questão era como deixar isso para trás. Lilibeth não era um capítulo qualquer. Era como um daqueles livros que você relê várias vezes, mesmo sabendo que o final é sempre o mesmo. E afinal, quão rápido havia sido isso? Bastou eu pisar em Chicago para James me informar!
Enfim, sacudi a cabeça, tentando afastar o pensamento. Levantei-me do sofá e abri uma das caixas ainda lacradas. Dentro, estavam alguns objetos que decidi trazer de Toronto, como uma pequena moldura com uma foto minha com Emily e minha mãe. Coloquei-a no parapeito da janela, achando um lugar para ela. Às vezes, só de olhar para aquela foto, eu me sentia em casa.
Depois, fui até a pequena cozinha e comecei a guardar o que tinha comprado no supermercado. Chicago era diferente de Toronto de muitas maneiras. As pessoas pareciam estar sempre em movimento, sempre com pressa. Mas havia algo charmoso na rotina frenética da cidade, algo que fazia tudo parecer mais vivo.
Assim que terminei de organizar as coisas, decidi sair novamente. Ainda havia muito para explorar, e o vento frio que vinha da janela parecia me convidar a caminhar. Coloquei o casaco e desci as escadas rapidamente. Sei que pode parecer esquisito, mas quando estou em adrenalina gosto de descer escadas ignorando completamente a existência do elevador!
A rua estava iluminada pelas vitrines das lojas e pelos postes, que lançavam um brilho quente nas calçadas molhadas pela garoa que caíra mais cedo. Passei por um pequeno mercado, um restaurante tailandês e um parque com algumas pessoas passeando com seus cachorros. Parei em uma banca de jornal e comprei um mapa da cidade, mais por impulso do que por necessidade. Era algo que me fazia sentir mais preparado, como se pudesse dominar esse novo território apenas estudando suas ruas e avenidas.
Parei em uma praça e me sentei em um dos bancos. A cidade parecia vibrar ao meu redor, como se tivesse vida própria. Pessoas caminhavam apressadas, carros passavam constantemente, e eu ficava me perguntando o que cada um deles estava fazendo ali, quais eram suas histórias.
Peguei o celular novamente e procurei pelo número de Emily. Ela sempre tinha algo a dizer que me fazia rir, e eu precisava disso agora.
— Hans! — Ela atendeu no primeiro toque, como se estivesse esperando minha ligação. — Está na cidade dos sonhos, hein? Já viu algum famoso?
— Só no reflexo do espelho. — Respondi, rindo.
— Nossa, que original. Mas, sério, como está o lugar? O apartamento é bonito? Você já comeu alguma comida típica daí?
— O apartamento é pequeno, mas é bom. E sobre a comida... Acabei de tomar um café. Estou me aclimatando ainda, Em.
— Bom, quando eu visitar, quero que a gente coma aquela pizza famosa de Chicago. Sabe, aquela com a borda gigante.
— É claro que você está pensando em comida.
— Sempre. E, Hans, só uma coisa... Sei que você não gosta de falar sobre isso, mas... Está realmente deixando o passado para trás?
Ela não precisava dizer nomes. Eu sabia do que ela estava falando. Ou melhor, de quem.
— Estou tentando, Emily. E estar aqui ajuda. É como se cada esquina me dissesse que tenho a chance de recomeçar.
— Isso é bom. Porque você merece ser feliz, sabe? E não deixar ninguém te atrasar.
Conversamos por mais alguns minutos antes de desligarmos. Emily sempre sabia o que dizer, mesmo que fosse de forma simples.
A noite avançava, e o cansaço começou a pesar. Resolvi voltar para o apartamento, sentindo que o dia seguinte seria um marco. Primeiro dia na Gaming Universe and Company. Eu sabia que precisava causar uma boa impressão, mas não tinha ideia do que esperar.
Quando cheguei ao apartamento, tirei os sapatos e me joguei no sofá. O barulho da cidade ainda podia ser ouvido pela janela, mas era quase reconfortante. Peguei o mapa que havia comprado e comecei a traçar mentalmente o caminho para o escritório.
— Bem, Hans, amanhã é o dia. — Falei para mim mesmo, tentando não soar nervoso.
Antes de dormir, peguei um caderno velho e escrevi algumas metas para essa nova fase. Era algo que eu fazia sempre que precisava de foco. No topo da lista, estava: "Não deixe o passado atrapalhar seu futuro".
E com esse pensamento, fechei os olhos, deixando o sono finalmente me levar.
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