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2 | Folhas em Redemoinhos Mentais

Por que você faz assim comigo?
Parece querer me machucar
Por que você olha assim pra mim?

Por que você faz assim comigo? - Mallu Magalhães

Eu tinha plena convicção de que Valentim Garcia me odiava com cada partícula que compunha o universo.

No meu íntimo, tinha consciência que parte disso deveria ser por causa do episódio da gangorra no nono ano, em que eu fiz uma merda movido por um impulso idiota e a culpa acabou caindo na sua cabeça, feito uma bigorna de desenho infantil sobre algum personagem desavisado.

Sequer havia percebido que ele estava no parque exatamente no mesmo momento que eu, mas, pela forma arredia que começou a agir comigo depois da sua semana de suspensão, percebi que, ao contrário de mim, o garoto tivera plena consciência da minha presença lá.

Pensei em falar com Valentim sobre isso todos os dias, por quase um ano inteiro. Até mesmo tinha começado a sentar na cadeira atrás dele para tentar arrumar coragem de fazê-lo, mas a vergonha falava mais alto e me fazia encolher sob mim mesmo todas as vezes, até a ideia de me desculpar não fazer mais sentido pelo tempo que passou.

Quer dizer, seres humanos não costumam ser tipo peixes de aquário na questão de ter memória curta demais, mas um ano não era tão pouco tempo assim, muito menos dois. Imaginava que aqueles mais de 730 dias deveriam ter sido o suficientes para que esquecesse do incidente.

A questão era que continuava dando sinais de que não gostava de mim, e eu não tinha ideia do que mais poderia ter lhe feito de tão ruim.

Por mais que tentasse descobrir, Valentim parecia constantemente querer me repelir, como se eu fosse uma mosca intrusa voando ao redor do sanduíche de jujuba com chocolate que ele comia no lanche desde sempre.

O garoto era esquisito de um jeito que me deixava intrigado, com o costume de se esconder por trás do capuz dos seus casacos e das ondas negras do cabelo que lhe caíam pelas maçãs do rosto, cobrindo ocasionalmente os olhos imersos em olheiras que o faziam parecer um guaxinim tamanho família.

Valentim tinha uma expressão de tédio direcionada ao mundo que parecia ter se tatuado em seu rosto, e eu me perguntava se alguma coisa era capaz de fazê-lo sorrir, além da própria irmã.

Parecia quase esnobe, na verdade, como se acreditasse fielmente que era um Deus indigno de entrar em contato com um bando de humanos nojentos que faziam coisas tão ofensivas aos seus olhos, como pedir um prato a mais de macarrão com salsicha no lanche.

Era exatamente o que Vance iria fazer, e, conforme chegava mais perto do seu destino, o olhar de Valentim sobre meu amigo ficava cada vez mais apertado em estranheza.

Quer dizer, eu não sabia se poderíamos ser chamados de amigos, já que só o conhecia há cerca de uma semana, quando se tornou namorado de um colega e ele nos apresentou. Desde então, conversávamos com uma certa frequência.

De qualquer forma, eu admirava secretamente os dois, pela coragem diária que tinham de enfrentar todos os olhares e comentários que recaíam sobre eles pelos corredores colégio.

Estávamos os três na fila do refeitório, ao lado da mesa em que Valentim estava sentado.

Seu humor ficara mais nublado do que o normal depois de ter sido enxotado da aula de matemática, antes do intervalo, e eu me perguntava se havia tido uma parcela de culpa nisso.

Talvez tivesse falado alguma coisa que o incomodou. Era bem possível, já que meu cérebro parecia entrar em colapso toda vez que ele dirigia a palavra a mim, cortando a ligação que possuía com o que saía da minha boca.

- Quem gosta tanto assim de salsicha? - Pude ouvi-lo sussurrar para si mesmo, parecendo cético, enquanto balançava a cabeça em negação discretamente.

- Eu amo. Todas as que você imaginar. - Vance respondeu de imediato, com um pretenso ar sugestivo.

Valentim arregalou ligeiramente os olhos, surpreso por ter sido ouvido e mais ainda pelas palavras do outro garoto, seu rosto mudando o tom para vermelho em uma fração de segundo.

Acertei uma cotovelada sutil em Vance e seu olhar caiu na órbita do meu, estreito em dúvida.

- O quê? Só respondi a pergunta dele... - O tom grave exprimia uma falsa inocência hilária.

Tentei conter o riso, mas ele escapou em um sopro por entre os meus lábios, atraindo a atenção de Valentim para mim.

Nesses momentos, eu sentia alguma coisa explodir no meu peito, como se tivesse engolido uma estrela que fervilhava na sua agitação de átomos para, de súbito, irromper em uma supernova que ameaçava espalhar pedaços de mim por toda parte, movidos pelas batidas em disritmia do meu coração.

Entretanto, o furor não durou muito tempo, porque, dentro de instantes, ele desviou as íris para outro lugar que não tivesse resquícios meus.

Aquilo costumava acontecer. Às vezes, sentia minha nuca ferver e, quando caçava o responsável pela sensação, meu olhar se cruzava com o dele durante segundos confusos, em que tirar a atenção do seu castanho era impossível.

Ele sustentava da mesma forma, mantendo aquela coisa invisível que pairava entre nós, desenhando linhas abstratas luminescentes que amarravam meu corpo ao seu e me puxavam até quase me fazer dar um passo na sua direção.

Quase. Porque, no milésimo seguinte, ele cortava o contato, distraindo-se com alguma coisa que pintava o mundo ao redor, com uma casualidade que me fazia ter certeza de que não tinha sentido absolutamente nada do que invadiu meu sistema ao imergir no universo em profusão que se escondia nas suas orbes.

Você é um idiota, Aart, por pensar que ele pode ser tão estranho quanto você a ponto de sentir algo parecido.

Uma vez, no ano anterior, tínhamos sido colocados em uma mesma equipe para montar uma maquete de biologia sobre DNA e RNA. O grupo todo se reuniu na casa de um dos integrantes para fazer aquela joça, e, graças a algum incidente sobrenatural, Valentim se acomodou ao meu lado sobre o tapete do quarto.

Deu que, no final das contas, meu raciocínio lógico foi reduzido ao mesmo nível do de um ovo de pardal que sequer tem o pardal dentro - se é que isso faz sentido.

Fiquei tão avoado que acabei derrubando um pote gigante de tinta de tecido vermelha na calça dele.

No meu estado de desespero, tentei passar um pedaço de papel que estava ao alcance da mão para limpar, mas piorei a situação ao nível de fazer parecer que estávamos dentro de uma cena de crime, em que alguém tinha tentado assassiná-lo, mas errado brutalmente a mira e acertado sua coxa.

Na hora, pensei que Valentim fosse explodir, porque seu rosto ficou em um tom de vermelho ainda mais forte que o da cor que manchava sua roupa. Mas a única coisa que fez foi praticamente correr para o banheiro do quarto, debaixo dos risos descontraídos do resto do pessoal, e fechar a porta atrás de si.

Depois de um tempo razoável, em que passei me xingando de todos os possíveis sinônimos que se dá para tirar de anta, ele voltou, com o jeans molhado e a mancha quase imperceptível no meio da região ensopada, sentou-se longe de mim e passou o resto da tarde sem ao menos olhar na minha cara.

Tudo bem, talvez entendesse um pouco do seu ódio pela minha pessoa.

Porém, ainda assim, era frustrante perceber que nada que eu fazia era capaz impressioná-lo de alguma forma, e nenhum assunto que tentava puxar, de qualquer forma existente, funcionava para mantê-lo em uma conversa.

Só queria que conseguisse enxergar o quanto eu desejava que pudéssemos ser amigos, desde o primeiro dia de aula do nono ano, quando dividiu seu lanche comigo porque viu que eu não tinha levado e disse, no meio de um diálogo aleatório em que falou o quanto detestava sapos, que os sinais no meu rosto pareciam constelações.

Entretanto, eu tinha arruinado tudo com aquela maldita bomba na gangorra logo na semana seguinte, e todo o medo escroto que me impedia de falar com ele desde então.

Mais tarde naquela manhã, dentro do banheiro masculino com Vance e mais alguns garotos que tinham feito a aula de educação física junto com a gente, minha cabeça não parava de girar por mundos que sequer existiam, enquanto encarava minhas feições refletidas no espelho sem ter exata noção da passagem do tempo.

- Acho que ele sente alguma coisa por você. - Meu amigo entoou, de súbito, atraindo minha atenção para ele.

Pude ver o momento em que puxou bainha da camisa suada de educação física, o tecido escorregando ao longo do seu abdômen até descobri-lo por completo.

Desviei o olhar rapidamente, tentando me concentrar apenas no que diria a seguir, ao invés dos paralelos e meridianos que compunham o seu corpo ao meu lado.

- Ele, quem? - Fingi inocência, capturando a minha própria farda dentro da mochila sobre o mármore da pia, para substituir a suja.

Meu sangue ainda fervia um pouco por causa do esforço físico dos últimos minutos na quadra, correndo ao som do apito irritante do professor.

- O emo esquisitão do refeitório. - explicou Vance. - Sei lá, ele te olha de um jeito estranho.

- Eu sei. É como se quisesse me assassinar com uma faca de pão. - Obviedade banhou as sílabas, conforme me punha a remover a minha própria camisa ensopada.

- Não, retardado. - afirmou, com uma convicção que me forçou a encará-lo, meus cílios se apertando de forma automática diante da surpresa que me engolfou. - Quer dizer, eu meio que vejo algo a mais. Parece que ele tenta fugir de alguma coisa quando te olha, porque a cara dele mudou na hora, e não pareceu bem ser por causa de um sentimento de raiva. Sei lá, é esquisito, entende?

Não, eu não entendia, porque a ideia de que Valentim pudesse gostar minimamente de mim, de qualquer forma que fosse, era viável em um universo paralelo que existia somente no campo das ideias e, portanto, não dava para entrar fisicamente.

Porém, mesmo sem querer, sua fala ficou reverberando na minha cabeça, como uma folha que gira dentro de um redemoinho com tendência a durar até o infinito.

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