Tudo que queria naquele momento era voltar para casa, mas era impossível, porque o Canadá ficava a setecentos e dez quilômetros de distância daquela cidade horrível. Odiava ser a única criança de dez anos que entraria no colégio na metade do ano, por que a vida era assim? Meu pai, Brian Carter, não poderia simplesmente continuar com o emprego em Ottawa? Tinha que vir para Detroit com o ar tão sem graça.

Encarei os grandes portões brancos com leves tons de amarelo, antes de descer do carro. Minha mãe, Charlotte Carter estava tentando fazer de tudo para me alegrar naquela manhã, mas nenhum de seus truques estavam funcionando comigo, até mesmo as cócegas que eram tão cômicas, perderam a diversão.

— Querido, não fique triste. Essa cidade será ótima para você. — pronunciou com sua voz suave. Sorriu e beijou minhas bochechas rosadas e rechonchudas.

Detestava todo esse jeito dócil que ela tinha porquê me fazia sentir-me mal por desejar ir embora dali. Ela era a mulher mais afetuosa que eu poderia imaginar.

— Te vejo às quatro, mãe. —disse abrindo a porta do carro. Estava tão mal humorado que esta foi a única resposta que pude dar para não machucá-la.

A mulher com cabelos castanhos na altura dos ombros, e olhos tão azuis quantos os meus, deu o seu melhor sorriso.

Caminhei em passos arrastados até a entrada da escola, com enormes fachadas em cores vermelha, azul e branca, uma águia colossal estava desenhada no chão do pátio que tinha o gramado bem cuidado. Olhando para todas aquelas crianças correndo em volta da grama, observei que todos se conheciam e aquilo era um desastre. Quando andei mais alguns passos ainda olhando para um grupo que estava brincando de corrida, fui atingido por alguém.

— Ah! Me desculpa. — A voz aguda soou.

Quando olhei para a garota observei os seus longos fios de cabelo dourados, que brilhavam com intensidade, os olhos tão castanhos, mas que com o sol resultava em uma cor extraordinária âmbar, e o rosto parecia ser perfeitamente desenhado. Aquela garota era a mais bonita que já tinha visto em toda a minha vida.

— Não tem problema. — pronunciei ajeitando a mochila verde nas minhas costas.

— Sofia Johnson. —disse estendendo a mão, balançando a sua pulseira de corações dourados.

— Noah Carter. — apertei sua mão. Senti como se estivesse apertando uma lã de algodão macia.

— É novo? O seu sotaque é diferente. — sorriu, fazendo com que observasse mais os seus lábios preenchidos por um gloss rosa.

— Sim, primeiro dia, venho do Canadá.

— Meu sonho sempre foi conhecer, é tão bonito como nas imagens? — indagou eufórica.

— Bem mais, as luzes são o melhor da cidade e com certeza os lugares são incríveis, como Canal Rideau, com tantos parques que brincava, todos tinham brinquedos e um lago que no inverno congela que vira um ringue de patinação, adorava patinar. — falou com tantas saudades e se recordando das suas últimas lembranças do local.

— Uau! — disse surpresa. —Espero um dia conhecê-lo. — deu uma pausa ajeitando o seu caderno e livros. — Quem sabe não seja com você, afinal é o meu novo amigo. — abriu um enorme sorriso.

E naquele momento me senti o menino mais feliz, não parecia um pesadelo que tanto imaginei quando passasse naqueles portões, na verdade foi bem melhor. Sentia extremamente aliviado por não precisar passar por vergonhas ou até mesmo rirem do meu sotaque canadense. Sofia Jonhson havia me acolhido.