7
Por volta das cinco da tarde, continuava a chover. Parecia que a chuva não iria terminar nunca.
Nely estava na biblioteca. Nicolas trancara-se em seu quarto depois do almoço e não saíra mais de lá. William e Nicole estavam na sala assistindo TV, em silêncio. William tomava uma dose de uísque atrás da outra e parecia nunca ficar bêbado. O pânico que estava sentindo o mantinha sóbrio. Nicole também resolveu beber. O copo que ela estava segurando agora era o quarto.
Ela tomou o resto e deixou o copo sobre a mesa de centro, levantando-se.
William olhou para ela e perguntou:
– Aonde você vai?
– Ao meu quarto. Preciso tomar um banho. Estou fedendo.
William tirou o revólver de Nely da cintura e o estendeu a ela.
– Leve isso com você. Pra mim já não faz diferença.
Nicole pegou o revólver e olhou para William.
– Obrigada.
– É sempre um prazer atender uma fã.
Nicole sorriu e subiu a escada até o segundo andar.
Trancou a porta do quarto, deixou a arma sobre a cama e foi ao banheiro. Encheu a banheira, despiu-se e entrou na água.
A sensação foi maravilhosa. Ela estava precisando daquilo; nada melhor do que um bom banho para aliviar a tensão. Nicole estava apavorada. O medo não a deixava pensar com clareza.
Toda aquela ideia de se aproximar de Nicolas, de afastá-lo de vez de Nely, fora por água abaixo. Agora, nada daquilo importava.
A culpa toda era de Nely. Afinal, era o ex-marido daquela cadela que estava matando as pessoas. Ela só não entendia por que ele não matava Nely de uma vez e os deixava em paz.
Nicole sentiu ainda mais raiva de Nely.
"A culpa é toda daquela cadela! Ela devia mesmo morrer!"
O pensamento ajudou Nicole a relaxar. Se Nely morresse, aquele desgraçado do ex-marido dela não teria mais motivo para matá-los. A não ser que ele fosse, de fato, um psicopata que matava unicamente por esporte, porque achava gostoso. Se esse fosse o caso, eles estariam perdidos. A única esperança que tinham era a morte certa.
"Droga! Eu devia ter ido para a praia!"
E Nicolas?
Ela podia dar um tiro na testa de Nely, outro na cara do maldito marido dela e dar o fora dali com Nicolas.
"Que se foda o Nicolas."
Nicolas não estava nem aí para ela, então Nicole desejou que ele também morresse e fosse para o inferno. Era isso: que o mundo todo fosse para o maldito inferno.
Ela tinha a arma com ela, então o que faria era dar o fora dali sozinha. Nicole tomou sua decisão: ia arrumar suas coisas na mochila que trouxera e sair daquela merda a pé. Os outros podiam ir, se quisessem, mas ela não fazia questão. Não era da sua conta. Numa situação como aquela, cada um devia cuidar da própria pele.
Nicole fechou os olhos, tentando relaxar o máximo possível. Sua mão tocou em um ponto sensível perto do clitóris, e ela gostou da ideia. Colocou a mão lá e foi esfregando bem de leve, sentindo as ondas do prazer tomando conta de si. Era uma loucura pensar em uma coisa como aquela, justamente naquele momento, mas ela já não se importava. Faria aquilo, nem que fosse a última coisa da vida.
Quando atingiu o orgasmo, saiu da banheira, enrolou-se em uma toalha e caminhou até o quarto.
A arma ainda estava sobre a cama, no lugar em que a havia deixado. Ela se enxugou, abriu o guarda-roupas, pegou a mochila e começou a colocar suas roupas nela.
Foi quando Nicole se deu conta do frio. O quarto estava gelado.
Olhou para trás e viu a vidraça aberta.
Franziu o cenho; a onda de ar frio fez seu corpo estremecer.
Havia alguém no quarto, parado bem atrás dela!
Nicole olhou com o canto dos olhos e viu uma sombra difusa.
O medo a paralisava, deixando-a plantada no chão, tremendo em estado de total pânico.
– Vo... você... você é o... o marido dela?
Não houve resposta. Alguns segundos se passaram, e ela ouviu uma voz:
– Nossa, como você é gostosa! Agora fiquei até de pau duro. Se fosse em outra ocasião, eu ia jogar você nessa cama e fodê-la.
Nicole agora estava chorando, seu corpo todo arrepiado pelo frio e pelo medo que a dominava.
– Você... você vai me matar?!
– Eu sinto muito. Não é nada pessoal. Eu não queria, mas é preciso.
Nicole olhou e viu a arma sobre a cama, a poucos centímetros de seu alcance.
Num lance rápido, ela pegou o revólver e disparou.
Nicole não viu a sombra. O quarto parecia vazio.
Em estado de pânico, ela apontou a arma para a frente e começou a caminhar em direção à vidraça. Limpou o rosto com a mão esquerda e obrigou-se a parar de chorar. Era difícil segurar o revólver; ela estava tremendo, tremendo de medo.
Nicole aproximou-se do dec. Não havia nada lá fora, apenas a floresta impassível ao redor da casa.
Ela abaixou a arma e olhou para trás.
Nicole levou uma foiçada no meio da testa e gemeu, soltando uma golfada de sangue. O golpe a fez se cagar toda; era a primeira vez que se borrava de merda na vida.
Ela caiu no chão e soltou a arma.
Sem poder reagir, começou a ser arrastada em direção ao banheiro.
Aos poucos, Nicole foi caindo na escuridão. A escuridão era gelada.
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