13
Toc toc
Alguém batia. Alguém
(morto)
pedia para entrar em seus pensamentos. O monstro que saíra do armário do porão da casa de Angélica.
Ela ouvia um ruído distante, lá no profundo de sua mente, como um tênue som que parecia não existir
Toc toc.
Sooooooooooooocooooooooooroooooooooooo.
Nely abriu os olhos na completa escuridão. A escuridão era opressora. Parecia ter mãos que apertavam seu pescoço, a sufocavam. Desabava sobre ela como uma mortalha fétida, onde cadáveres podres se contorciam.
Olhou em direção ao banheiro, a luz estava apagada. Devia ter acabado a energia por causa da chuva que estava desabando.
A chuva caia impetuosa do lado de fora. Ventos produziam sons sinistros que se assemelhavam a uivos de lobos famintos. Trovões faziam a casa tremer e os relâmpagos clareavam a convulsa noite de segundo a segundo, o clarão bruxuleante penetrava no quarto produzindo sombras que pareciam se mover, como espectros saídos do inferno.
Nely estava com medo. Seu coração palpitava. Aquilo não podia ser um pesadelo. Ela sentia-se bem acordada, distante da terra sombria dos pesadelos, onde o horror era real e o medo podia aprisionar. Ela estava acostumada a viver naquela terra. Mas agora sentia-se totalmente desperta. Desperta e apavorada, sem nem mesmo entender porquê.
Olhou para a cama de Sandra e só viu os contornos de uma sombra.
O desespero se apossou dela. Um pensamento terrível povoou seus pensamentos: Sandra podia estar morta. Todos podiam estar mortos. Codder podia estar ali, naquele quarto, oculto pelas sombras, observando seu desespero e se deliciando com aquilo.
Ouviu Sandra roncar e foi como se alguém tivesse jogado um balde cheio de alívio bem em cima de sua cabeça.
Mas ela ainda sentia medo, uma forma inexplicável de medo, algo como uma premonição terrível. Sentia um Ímpeto de acordar todos na casa e convencê-los a entrar imediatamente na van e sair daquele lugar sombrio.
Estavam ali por causa dela, para que ela pudesse se libertar do passado e viver sua vida. Mas Nely ainda sentia-se aprisionada. Era o que ela era, uma prisioneira dentro de si mesmo, dentro dos corredores macabros de sua mente, marcada pelo sofrimento.
(Você está prestes a cair em um sofrimento tal, que ficará marcado para sempre em sua vida).
Afinal a cigana tinha razão. Alguém lhe disse quando ela era adolescente que maldição de cigano era coisa séria.
Toc toc.
Nheeeeeeeeecccc.
O som metálico ecoou na escuridão. Uma porta se abrindo! As portas do armário no porão da casa de Angélica!
Agora ela ouviria os passos amorfos do monstro que se escondia na escuridão, o monstro que usava uma máscara e matava com uma foice. Ela sentiria o toque gelado de sua mão tocando-lhe o ombro.
(Eu ainda sei onde você está ).
AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHH!!!!!
Nely se encolheu na cama. O medo pulsava em suas veias.
" Pare com isso Nely, você está imaginando coisas. "
Ela olhou em direção à vidraça. Havia um rosto colado ao vidro do lado de fora. O rosto era uma máscara ensanguentada de pânico. Era Érika! Érika em pânico, pedindo ajuda porquê Codder havia arrancado sua cabeça, mas Nely não fora capaz de ajudá-la.
Em Pânico, Nely cobriu a cabeça e ficou ali, acuada em baixo das cobertas, como uma menininha fugindo do bicho papão que vivia no armário.
A vidraça se abriu, produzindo aquele som metálico que parecia ecoar em meio ao silêncio da casa.
Nely ouviu passos, passos amorfos, alguém caminhando em direção à sua cama, deixando escorrer água pelo carpete.
Nely queria gritar, mas estava imóvel, impotente. Se aquele fosse o fim, seria o fim sem que ela pudesse fazer nada para evitá-lo.
Alguém puxou as cobertas. Nely viu Codder, o rosto oculto por uma estranha máscara parecida com a máscara do Jason dos filmes de terror.
— Oi amor. Vim mandar você para o inferno!
Ele ergueu a foice e....
Nely deu um salto na cama. Acordou desesperada, suando frio. Seu coração palpitando.
Fora um pesadelo. Mais um.
Ela olhou para o banheiro e viu que a luz ainda estava acesa. Olhou para a vidraça e viu que estava aberta deixando a chuva entrar no quarto.
Nely se levantou e caminhou até ela. Olhou para fora e viu apenas a escuridão sendo açoitada pela chuva que caia. Ela fechou a vidraça e olhou para a cama de Sandra que dormia e roncava.
Nely voltou para a cama. Colocou a mão embaixo do travesseiro e viu que o revólver ainda estava ali.
Ela achou que não conseguiria dormir mais, mas logo o sono veio, dessa vez sem sonhos, apenas uma vasta escuridão.
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