Eles desistiram.

A ideia era ficar acampados a semana toda, mas, como não parava de chover, decidiram dar o fora.

Por volta das cinco da tarde, começaram a desmontar o acampamento. Seria uma longa caminhada de quase meia hora pela trilha até onde haviam deixado a Kombi.

Carla estava feliz, apesar da chuva que insistia em cair. Afinal, ela tinha acertado as coisas com Rogério. Os dois haviam transado na barraca dele e, agora, estavam namorando para Deus e o mundo verem. Dericéia e Júlio estavam felizes por eles e esperavam que fossem felizes.

Então, no fim das contas, o acampamento não fora de todo ruim para Carla. Se tivessem que passar o resto da semana ali, ela passaria sem problema algum.

Mas Júlio achava mais prudente ir embora. A chuva estava aumentando, e o tempo não dava nenhum sinal de que iria melhorar nos próximos dias. Em alguns anos de experiência acampando, ele aprendera a ser prudente.

Estavam terminando de desmontar as barracas e preparando as lanternas para enfrentarem a trilha quando ouviram um som ecoar no meio da floresta.

Carla parou e olhou para os outros.

— O que foi isso?

— Pareceu fogos de artifício — disse Dericéia.

— Mas quem iria soltar fogos de artifício no meio da floresta?

— Não são fogos — disse Rogério, e todos olharam para ele. — São tiros. Vieram daquela direção.

— Vamos dar uma olhada — disse Júlio.

Ele seguiu pela trilha indicada por Rogério, e os outros o acompanharam.

Eles chegaram a uma ribanceira que se abria para um vasto vale. Dali, viram lá embaixo, a quase dois quilômetros de distância, o que parecia ser uma fazenda às margens de um grande lago.

— O que é aquilo? — perguntou Carla.

— Uma das fazendas abandonadas. Essa região tem uma porção delas — explicou Júlio.

— Parece que está acontecendo alguma coisa lá — disse Rogério.

— O barulho... Foram tiros mesmo? — perguntou Dericéia.

— Acho que sim. Bem, não é da nossa conta. Vamos dar o fora daqui.

— Mas e se alguém estiver precisando de ajuda? — inquiriu Carla.

— A gente passa lá no posto dos bombeiros e avisa eles. Vamos embora antes que anoiteça.

Voltaram ao acampamento, pegaram as coisas e seguiram pela trilha. Conseguiram chegar ao local onde estava a Kombi meia hora depois.

Carla sentiu-se aliviada. Aquela chuva toda a estava sufocando no meio da floresta.

Júlio ligou o carro e seguiu devagar pela estrada.

Eles levaram três horas para alcançar o posto dos bombeiros, às margens da rodovia, e, quando o fizeram, já era noite.

Chovia sem parar.