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Você Sempre Me Protege | Capítulo Quatro

Bethany estava costumada com os pesadelos, mas não com a intensidade daquele. Se viu no meio do bosque, cercada por árvores e escuridão, deslizando pela terra como aconteceu durante a projeção astral.

Não viu nenhuma figura bizarra e demoníaca, nenhuma silhueta fantasmagórica para lhe perseguir. Avançou para uma parte mais escura e silenciosa, passos apressados ecoaram em certo ponto. Bethany ouviu o barulho familiar de galhos se batendo, folhas sendo pisoteadas. Virou-se na direção do som, curiosa para saber quem visitaria o bosque no meio da madrugada

Viu a silhueta de Aislinn surgir com passos apressados, os olhos castanhos brilhavam na escuridão e se arregalavam com preocupação. Ela tinha uma lanterna, procurava alguma coisa por entre as árvores, sem notar Bethany parada a poucos passos.

— Linn? — chamou-a, mas Aislinn não lhe ouviu. Uma sensação fria tomou todo o corpo de Bethany, que ofegou quando viu utra silhueta completamente escura de aproximar. Parecia feita de fumaça, tinha olhos vermelhos vibrantes que queimavam por dentro, uma única brasa na silhueta escura e amedrontadora. Ela se aproximou de Aislinn, levantando suas mãos em direção ao pescoço da garota.

Bethany gritou, tentando alertá-la, e então sentiu as mãos agarrando os lençóis, a floresta se apagou repentinamente e foi substituída por paredes cheias de pôsteres e desenhos espalhados. Sentiu o cheiro familiar de seu quarto, viu a luz suave da rua entrando pela janela. Ofegou, empurrando as cobertas.

Pegou o celular na mesinha de cabeceira, discando o número de Aislinn. Tocou e tocou, Bethany tentou ligar três vezes e todas caíram na caixa postal. Mandou mensagens, mas nenhuma delas fora recebida — o que significava que ela não estava em casa, nem em um lugar com Wi-Fi.

Ainda sentia o coração disparado quando vestiu um casaco e colocou as sapatilhas, descendo as escadarias. É claro que seu pai estava na cozinha justo quando ia pegar as chaves do carro para sair atrás de Aislinn.

— Para ainda está indo? — perguntou, claramente desconfiado. Bethany mordeu o lábio, hesitante. Se tivesse checado o horário, saberia que esta era justamente a hora que ele chegava do plantão. Talvez tivesse tido sorte, talvez ele pudesse lhe ajudar.

— Aislinn está com problemas — disse, sem ter razões para ocultar aquilo. Não podia simplesmente ficar em casa, precisava procurar por Aislinn. — Acho que está no bosque perto do bairro industrial. — Talvez estivesse realmente louca, mas o sonho havia lhe abalado e parecido real demais. Não fora como os outros, sabia que Aislinn precisava de ajuda, pelo que vira ali.

Seu pai hesitou por um momento, considerando se valia a pena perguntar ou não. Ele apenas suspirou, pegando as chaves do carro e a girando entre os dedos.

— Você não vai sair sozinha no meio da noite. — Bethany não questionou.

Logo estavam deslizando pelo trânsito vazio da madrugada, passando pelos letreiros luminosos e postes amarelados. As ruas estavam desertas e frias, Bethany se encolheu no próprio casaco e tremeu de leve, observando a paisagem passar pela janela.

— Mamãe e Lilith são a mesma pessoa? — perguntou, sem conseguir se conter quando o silêncio pesou sobre os dois. Viu Liam hesitar por um momento, as mãos apertando o voltante com mais força.

— Por que está perguntando isso? — indagou, lhe encarando por alguns segundos antes de se voltar para a estrada deserta. Estavam chegando ao pequeno bosque, as ruas ficavam ainda mais assustadoras e fantasmagóricas ao se aproximar da parte industrial da cidade.

— Talvez devesse me responder primeiro — retrucou Bethany, impaciente. A reação dele confirmava que estava escondendo alguma coisa sobre Lilith. — Elas têm alguma relação? — perguntou, sem rodeios.

— Aquela marca que ela tem na clavícula... — começou Liam, virando uma curva e revelando a entrada para o pequeno bosque. Bethany nunca havia entrado por ali, mas imaginava que conseguiria chegar à edícula do cemitério se seguisse pela mata. — Lilith a marcou e a usou para possuí-la, nós conseguimos cortar o controle. Ela descobriu que estava grávida de vocês pouco depois. — Bethany estremeceu, tentando interpretar tudo aquilo.

Tudo bem, pensou. Mais uma coisa para a lista de coisas bizarras e sobrenaturais sobre minha família.

— E o que isso tem a ver comigo e com Eric? — perguntou, com cuidado. Geralmente, estaria irritada por seus pais terem ocultado aquilo, mas sabia que era um assunto delicado.

— Teoricamente, os poderes de Eric tinham algum elo com ela, por isso Lúcifer... — Ele não completou, Bethany mais uma vez estremeceu, sabendo onde ele queria chegar. Sabia o que Lúcifer havia feito. — Mas nunca notamos nada em você, então você me explica: Como soube sobre Lilith? — indagou seu pai, estacionando o carro perto de um chalé de férias inabitado. Bethany aproveitou o carro parado e abriu a porta, desviando do assunto e evitando seu olhar.

— Explico depois, precisamos encontrar Aislinn — disse. Para sua surpresa, seu pai não insistiu quando seguiram para a trilha que serpenteava entre as árvores.

Bethany estremeceu com o ar frio e úmido da mata, percebendo que estava com roupas finas demais para clima invernal. Quanto mais avançavam, mais escuro ficava, então ligaram as lanternas dos celulares para caminhar entre a terra forrada de folhas secas e galhos.

Seguiram em silêncio, imersos no barulho dos galhos se partindo e insetos gritando. Depois de um tempo, passou a reconhecer as árvores e a vegetação, percebeu que deviam estar perto do cemitério. Ia na frente, seu pai seguia logo atrás e iluminava a maior parte do caminho, Bethany sentia o coração batendo acelerado no peito. Será que havia se enganado? Olhou para o celular mais uma vez. Nenhuma notícia de Aislinn, pouco mais de uma hora da manhã.

Pouco à frente, os túmulos do cemitério abandonado se ergueram da terra; as lápides de concreto brilhavam quase brancas sob a luz fraca da lua. Bethany arregalou os olhos, esquecendo-se do cemitério quando disparou entre os galhos e sentiu a pele ser arranhada pelas árvores.

— Aislinn! — exclamou, caindo de joelhos ao lado dela.

Aislinn estava caída entre duas árvores, os cabelos espalhados pela terra e enroscados nas folhas secas, pálida como o mármore dos túmulos. Um corte sangrava acima da sobrancelha esquerda, o sangue pingando na terra enquanto as pálpebras permaneciam fechadas.

Bethany mal via seu peito se mover, mal conseguia notar sua respiração.

Antes que pudesse fazer ou falar qualquer coisa, seu pai já estava lhe afastando suavemente. Bethany se recostou em uma árvore, os olhos ardendo com as lágrimas que se recusava a derramar. Ela vai ficar bem. Ela está bem. Vai ficar tudo bem.

— Me encontre em casa. — Estava tão entorpecida que demorou um pouco para perceber que seu pai lhe esticava as chaves do carro, e Bethany quase entrou em pânico. Não queria ficar sozinha ali, não queria voltar sozinha pelo bosque. — Você vai ficar bem? Preciso tirá-la daqui. Hipotermia — explicou ele. Bethany engoliu a seco e pegou as chaves, assentindo em silêncio.

Como se levados por uma brisa, ele sumiu na escuridão com Aislinn. A menina piscou, achando que jamais se acostumaria com isso.

Se levantou, olhando para a trilha pela qual havia caminhado. Agarrou o celular com força entre os dedos e disparou entre as árvores, correndo o máximo que podia para ignorar o quanto aquele lugar era assustador. Passou pela escuridão do bosque, o barulho dos insetos e desviou dos galhos baixos, quase tropeçando quando chegou ao carro, apoiando-se nele para recuperar o fôlego.

Não havia mais ninguém na estrada, só o carro estacionado. Suspirou aliviada quando ligou o carro, dando partida. Os pulmões ainda queimavam.

« ♡ »

Aislinn acordou em um quarto desconhecido. Olhou para a escrivaninha, para a penteadeira, tentou reconhecer aquela cama e os lençóis que lhe envolviam. A respiração se acelerou novamente, só se acalmou quando reconheceu os desenhos colados na parede branca, organizados como se fossem pôsteres. Bethany.

Isso explicava muita coisa. Aqueles desenhos certamente eram dela, e Aislinn conhecia seu quarto no apartamento de Sara, mas nunca havia estado na casa do pai dela.

Lentamente, afastou as cobertas e colocou os pés no chão, percebendo o próprio reflexo no espelho que cobria a porta do guarda-roupas: Tinha um curativo acima das sobrancelhas e outro envolvendo o braço, ambos os pontos doíam e ardiam com uma faixa ensanguentada. Sentiu-se levemente zonza quando se levantou, uma onda de frio lhe atingiu e lhe fez estremecer ao seguir pelo corredor.

Já havia amanhecido, percebeu. A luz da manhã entrava pelas janelas e iluminava as paredes com um tom quase dourado.

Não viu ninguém, então desceu as escadarias para tentar encontrar Bethany ou qualquer pessoa. As escadarias davam para a sala, encontrou-a encolhida no sofá, adormecida entre um travesseiro e uma coberta.

— Beth? — chamou-a baixinho, acordando-a. Bethany se revirou por um momento e piscou, confusa, só então arregalou os olhos e sorriu.

— Você acordou! — suspirou, claramente aliviada quando se sentou. Aislinn sentou-se ao seu lado, sentindo pontadas de dor no corte acima da sobrancelha. Fez uma careta, inspirando fundo para afastar a náusea que acompanhara a dor.

— O que aconteceu? — perguntou lentamente, e Bethany franziu as sobrancelhas, passando as mãos pelos cabelos curtos e arrepiados.

Eu pergunto isso — protestou, semicerrando os olhos de maneira desconfiada. — Sonhei com você, que você estava no meio do bosque. Achei que fosse mais que um sonho, então fui te procurar e te encontrei perto do cemitério abandonado, inconsciente e cheia de cortes. O que aconteceu? Como foi parar lá? — indagou, impassível.

— Eu não... — Aislinn franziu as sobrancelhas, fazendo uma leve careta de dor. — Estava procurando por algo no bosque, não me lembro exatamente de quando apaguei — murmurou, pensando no branco na memória. A noite passada inteira era um borrão interminável de adrenalina e escuridão.

O bosque. Os pulmões queimando. Os vultos escuros no meio das árvores.

Mais uma vez, Bethany arregalou os olhos em uma compreensão súbita.

— Procurando algo... Foi assim que nos encontrou quando eu estava fazendo uma projeção astral? Você estava por perto e nos viu lá? — Aislinn assentiu com a cabeça, sabendo que as perguntas não parariam ali. — O que estava procurando? Conseguiu encontrar? — perguntou, e Aislinn hesitou. Se dissesse a verdade para ela, sabia que Bethany daria um jeito de se envolver. Tinha a opção de esconder a verdade ou contá-la, então era melhor que ela se envolvesse sob sua proteção do que sem saber onde estava entrando.

Antes que pudesse responder, ouviram vozes pouco antes da porta da sala se abrir. Noah entrou primeiro e Nicholas colocou-se ao seu lado logo depois, eles seguravam sacos de papel com a logotipo de alguma padaria.

— Trouxemos comida — disse Noah, erguendo as sacolas animadamente e nem um pouco surpreso pela presença de Aislinn. Pouco depois, estavam todos sentados em um círculo na sala e questionando Aislinn incessantemente, como um bando de crianças curiosas e ansiosas. Eles falavam alto e as perguntas se entrelaçavam, um falando por cima do outro.

Aislinn suspirou, sentindo a cabeça latejar. Repetiu o que dissera para Bethany, depois acrescentou as informações.

— A presença demoníaca na cidade não diminuiu depois que Sara assumiu os poderes. Acho que Mamon ou Azazel ainda estão tramando alguma coisa, então eu estava investigando — explicou, sob os olhares atentos de Nicholas, Noah e Bethany. — Estava procurando por pistas na floresta, símbolos demoníacos, animais sacrificados ou qualquer coisa assim. O cemitério e o bosque parecem estar infestados de energia demoníaca — murmurou, sem saber se estava cometendo um grande erro. Bethany lhe encarou com a face pálida, os lábios tensionados.

— Por isso você falou que a projeção astral não era segura — sussurrou Bethany, mais para si mesma. Aislinn assentiu com a cabeça. — Encontrou o que procurava? Descobriu o que eles estão fazendo? — indagou, parecendo interessada. O sol já havia nascido e agora seus cabelos negros absorviam a luz, mal refletindo o dourado que cobria a sala iluminada.

Tudo estava extremamente silencioso ali, o ar frio da manhã estava calmo enquanto comiam os donuts que Noah havia trazido da padaria.

— Não. Pretendo voltar para lá hoje — disse, e os três se encararam de uma forma que fez Aislinn querer recuar e pegar as palavras de volta. Sabia o que pediriam antes mesmo que Noah abrisse a boca.

— Podemos ir junto? — pediu ele, e agora todos lhe encaravam com expectativa. Aislinn afundou no sofá, evitando os olhares dos três e inspirando fundo por alguns segundos.

— Se eu negar, vocês vão sozinhos, não vão? — murmurou, ainda sem encará-los.

— Sim — concordou Bethany, com um sorriso animado.

— Definitivamente — disse Nicholas, muito seriamente.

— Vai ser ainda pior se você não estiver lá — comentou Noah, com um tom quase vitorioso. Aislinn ergueu as sobrancelhas, encarando-os com certo desdém.

— O que vocês acham que são? A gangue do Scooby-Doo? — indagou, revirando os olhos. Procurou por um relógio ao redor, querendo saber se estava atrasada para o turno da biblioteca. Seu celular havia ficado dentro do carro e o carro ainda estava em um dos estacionamentos vazios do bairro industrial. — Estou surpresa que ainda não pintaram o carro do Nicholas de Máquina dos Mistérios e saíram por aí resolvendo enigmas demoníacos — comentou com ironia, mas nenhum dos três se abalou. Noah riu, olhando pela janela, de onde conseguia ver o carro de Nicholas estacionado na frente de casa.

— É uma boa ideia — falou, e foi Nicholas quem revirou os olhos desta vez, desaprovando as palavras dele.

— Fique longe do meu carro — disse, apontando para Noah. Aislinn ainda tinha as sobrancelhas erguidas com certo desdém e desafio.

— Aliás, vocês não deveriam estar na aula? — perguntou, o que pareceu jogar um balde de água fria na animação de Nicholas e Noah, mas Bethany continuava sorrindo com a sagacidade de uma criança bagunceira.

— Ainda é cedo — disse a garota, inclinando-se e girando as chaves de um carro. Provavelmente eram do carro de Sara, que vira estacionado do lado de fora quando olhou pela janela do corredor —, e pelo menos um de nós precisa ficar para te levar até seu carro do outro lado da cidade — provocou Bethany, e Aislinn mais uma vez suspirou e afundou no sofá, dando-se por vencida.

« ♡ »

Nicholas e Noah foram para o colégio depois de alguns protestos, Bethany ficou para levar Aislinn até o bairro industrial. É claro que ainda tinha uma lista enorme de perguntas, mas se conteve porque percebeu que ela estava exausta.

Foi só depois de alguns minutos de silêncio na estrada que Bethany falou, sem conseguir se conter.

— Achei que Elisa estivesse cuidando dos problemas sobrenaturais — murmurou, porque parecia fazer sentido. Elisa sempre aparecia para lhe proteger de problemas sobrenaturais, desde o início estava envolvida com alguma coisa mais sombria e demoníaca que não conseguia identificar.

Além disso, tinha aqueles olhos dourados e aquela aura de perfeição inumana.

— Isso não é mais problema dos querubins, é dos anjos — disse Aislinn, e Bethany bateu com os dedos de forma inquieta no volante.

— Querubins? — indagou, confusa. Sentiu Aislinn hesitar no banco do passageiro, olhando para a estrada e considerando as palavras por alguns segundos.

— Elisa... não está viva — disse ela, com a voz por um fio. Bethany sentiu o ar fugindo dos pulmões, subitamente zonza. Lembrou-se de como Elisa sempre aparecia aleatoriamente nos lugares, de como não soubera de sua existência até pouco tempo atrás e de que ela parecia um fantasma naquele mundo, sempre aparecendo e sumindo quando bem entendia. — Lena, a garota que estava conosco na biblioteca, é minha mãe. — Bethany quase engasgou-se, sentindo o sangue fugir do próprio rosto. Elas pareciam ter a mesma idade, mas, pensando bem, eram parecidas como se fossem irmãs.

Lembrou-se de Lena segurando suas mãos, lhe encarando com aqueles olhos dourados iluminados, lhe ajudando a conter uma enorme crise de pânico. Ela fora tão atenciosa e gentil, lhe ajudando sem nem ao menos hesitar...

— Você disse que sua mãe morreu quando você era criança — sussurrou Bethany, a voz falhando entre as palavras, mal conseguindo processar tudo aquilo.

— Exatamente — murmurou Aislinn, a voz amarga e a face voltada para a janela. Bethany lembrou-se de como ela havia empalidecido quando vira Lena subindo as escadas, das palavras que havia sussurrado quando a abraçara.

Achei que nunca mais fosse te ver.

— Como? Como elas... estavam aqui? — pediu Bethany, depois de um tempo em silêncio.

— Elas são querubins, a energia angelical é refinada demais para a dimensão humana — disse Aislinn, voltando-se para Bethany. Os olhos estavam foscos e distantes, o curativo se destacava acima da sobrancelha. — Não impede que elas apareçam aqui, mas é raro que querubins intervenham na nossa dimensão, só vêm por um motivo específico — complementou, e aquilo acalmou Bethany o suficiente para relaxar um pouco ao volante. Você pode pensar em mim como seu anjo da guarda, Elisa havia dito. Não havia imaginado aquilo de maneira tão literal.

Finalmente chegaram ao estacionamento em que Aislinn havia deixado o carro, Bethany estacionou ao lado dela e saíram para adentrar a floresta. Começaram a refazer lentamente o caminho percorrido por Aislinn na noite anterior, encontrando uma trilha quando o bosque ficava mais denso.

Era tudo menos assustador durante a luz do dia, Aislinn olhava atentamente para o tronco das árvores, procurando com sagacidade.

— Por que vocês queriam vir junto? Achei que, depois de tudo aquilo, nenhum de vocês quereria se envolver nisso — perguntou ela, afastando os galhos e fazendo as folhas farfalharem.

— Acha mesmo que alguma coisa sobrenatural aconteceria nessa cidade sem minha família estar envolvida? — provocou Bethany, rindo secamente enquanto esmagava as folhas secas com seu coturno. — Eu também não queria que você viesse sozinha. Não depois de ontem — confessou com sinceridade. Havia se assustado quando a vira inconsciente, se assustado quando viu seu pai limpando o sangue com um algodão encharcado de antisséptico e pedindo-lhe para pegar cobertas, mantê-la aquecida.

Não fora nada muito grave, mas podia ter sido pior.

Aislinn se virou, um brilho admirado nos olhos.

— Você não precisa...

— Você sempre me protege, então, sim, preciso. Gosto de pensar que posso te proteger também — disse, com mais sinceridade ainda. Aislinn sorriu de maneira melancólica e lhe deu a mão, as duas entrelaçaram os dedos e seguiram pela vegetação.

Bethany ignorou a sede, o incômodo que sentia quando ouvia as abelhas zunindo em seus ouvidos. Deviam estar quase no cemitério quando Aislinn parou e, neste ponto, Bethany tinha soltado a mão dela e encolhido os próprios braços em volta do corpo para se aquecer. Havia esfriado muito rápido enquanto avançavam pelo bosque.

Se virou para o lugar que Aislinn encarava.

O tronco da árvore estava seco e esculpido com símbolos estranhos, que eram pintados com alguma coisa escura. Provavelmente alguém tinha feito aquilo com um canivete, raspando a madeira e então pintando-a... com sangue.

Não tinha folhas, percebeu. Só galhos retorcidos e mortos, assim como a vegetação ao redor da árvore parecia estar morrendo lentamente, as folhas adquirindo um tom acinzentado e sem vida.

— É próximo de onde te encontramos — murmurou Bethany, sentindo o estômago embrulhar. Aislinn olhou ao redor, procurando por alguma coisa, talvez mais símbolos. Quando ela se afastou, Bethany a seguiu e rodearam a árvore lotada de símbolos.

Depois de um momento, Aislinn lhe pediu para esperar ali, dizendo que não iria muito longe. Bethany deu mais uma olhada ao redor da árvore enquanto pegava o próprio celular para fotografar os detalhes dos desenhos. Permaneceu ao redor dela, buscando mais símbolos ou qualquer coisa que pudesse ajudar.

Estava justamente se afastando para uma foto panorâmica quando alguém lhe puxou suavemente pelo braço.

Ouviu o som de galho se quebrando e algo caiu logo em sua frente, exatamente no lugar que estava segundos atrás, antes de ser puxada. Achou que fosse Aislinn, então se virou para agradecê-la, mas acabou dando de cara com seu tio e seus olhos azuis desconfiados.

— O que está fazendo aqui? — perguntou Rafael, as sobrancelhas erguidas de forma inquisidora. Bethany quase suspirou, frustrada. Se seu pai não sabia da pequena excursão sobrenatural, agora saberia.

— O que você está fazendo aqui? — retrucou, tentando parecer segura e confiante, como se tivesse permissão para estar ali.

— Cuidando disso — explicou Rafael, apontando para o galho que havia caído. Bethany ofegou. Não era só o galho, havia um pássaro atravessado por ele, como se estivesse empalado pela madeira. Sem perder tempo, olhou para cima e uma onda de enjoo lhe atravessou ao ver que havia três pássaros empalados no alto da árvore seca, os galhos atravessando o pequeno peito das aves.

Agora, elas eram três silhuetas mortas contra o céu azul, atravessadas pelo galho como se por um espeto.

Só então Bethany se lembrou de Aislinn dizendo que aquele era um trabalho dos anjos, não dos querubins. É claro que o arcanjo Miguel estaria envolvido.

— Ela está comigo. — A voz de Aislinn surgiu entre as árvores, lhe tirando daquela onda de horror e enjoo. Bethany voltou-se para ela, como se em busca de ajuda.

Rafael parecia levemente mais tranquilo com Aislinn ali, mas ainda olhava para Bethany de maneira cética.

— Seu pai sabe disso? — indagou, uma sobrancelha levantada e os olhos lhe analisando. Bethany permaneceu firme.

— Eu ia contar para ele — disse, usando toda a segurança que conseguia reproduzir.

— Então não vai se importar se eu comentar com ele, certo? — retrucou Rafael, cruzando os braços. Bethany revirou os olhos de forma irritada, Aislinn parecia satisfeita e sorriu levemente. Bethany a fulminou com o olhar.

— Certo — concordou, meio a contragosto. Rafael pareceu achar graça de seu mau humor. — É melhor eu ir para a aula — disse, sem conseguir conter o desânimo. Aislinn não estaria mais sozinha, afinal, e a proteção de um arcanjo era incontestável, ela ficaria bem se Rafael estivesse ali.

— Sim, é melhor — assentiu seu tio. Aislinn disse que lhe acompanharia até o carro e depois voltaria para acompanhar Rafael na busca, então seguiram pela trilha para voltar ao estacionamento.

Aislinn andava ao seu lado, olhando ao redor com atenção, como se alguma marca pudesse ter aparecido desde o momento em que passaram ali pela primeira vez.

— O que aqueles símbolos significam? — perguntou Bethany, sem conseguir se conter.

— Ainda estou trabalhando nisso — disse Aislinn, desanimada e um tanto frustrada. Apenas assentiu, tão desanimada quanto ela. Estavam quase chegando ao carro quando lembrou-se do comentário dela sobre a projeção astral, de como havia passado mal depois de acordar.

Aquilo foi como um estalo em sua mente.

— O vômito no sábado... Tem alguma coisa a ver com os símbolos? — perguntou, percebendo a relação entre a investigação na floresta e o fato de Aislinn ter passado tão mal naquela tarde. — Em que tipo de enrascada sobrenatural você se envolveu? — insistiu Bethany, quando ela não respondeu. Aislinn inspirou fundo, desanimada e distante.

— Você não faz ideia — murmurou ela, e finalmente haviam chegado ao estacionamento. Bethany resolveu não insistir, preferiu focar nos símbolos que havia fotografado e no alívio de finalmente ter alguma pista, alguma coisa para fazer enquanto sua mãe estava inconsciente.

Despediu-se de Aislinn e entrou no carro sem olhar para trás.

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