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Legado De Lilith | Capítulo Vinte

O almoço com Candace se transformara em um jantar em casa no dia seguinte.

Bethany ficou surpresa com o quanto a presença dela aliviava a tensão. Talvez a novidade de ter Candace ali lhe ajudasse a tirar a mente de toda as coisas horríveis que aconteceram no último mês, então baixou a guarda e parou de agir de modo tão defensivo.

Era um tanto estranho pensar que talvez ela já tivesse dormido na casa de seu pai antes — uma vez encontrara duas taças de vinho em cima da pia, quando passara para pegar um livro didático antes de ir para aula, mas não pensou muito sobre aquilo, evitou devanear sobre quem estivera ali durante a noite.

De qualquer forma, agora Candace estava sentada na cadeira de sua escrivaninha, e Bethany tentava não estranhar aquilo. Sua mãe estivera poucas vezes naquele quarto depois que se mudara, mas havia fotos com ela no mural, fotos de seus pais juntos e abraçando duas crianças como uma família perfeita. Candace não pareceu notar, ou talvez tenha evitado olhar para as fotos na parede.

— Estes são ótimos — disse ela, enquanto Bethany olhava para o mural e pensava na loucura de tudo aquilo. Dois dias atrás, jamais imaginaria ter a namorada de seu pai dentro de seu quarto, lhe ajudando com seus desenhos e a inscrição da faculdade. — Você tem muito material, talvez possamos organizar mais de um portfólio, cada um visando o perfil de cada universidade — comentou a loira, a menina apenas assentiu.

Estavam ali fazia um tempo, Candace lhe ajudava a separar os melhores desenhos para digitalizar e montar um portfólio mais assertivo e padronizado. Bethany precisou se encolher no canto da cama porque as pilhas de desenho ocupavam quase todo o espaço, separados pela organização minuciosa de loira.

Ela lhe dera uma lista de faculdades para pesquisar e considerar, aquilo manteria sua mente ocupada por um tempo.

— Quando vocês falaram sobre jantar aqui, não achei que o plano fossevocês duas. — Ambas levantaram e a cabeça quando Liam parou à porta, recostando-se no batente com um sorriso fraco. Candace riu, levantando-se da cadeira com cuidado e colocando a pasta de desenhos sobre a escrivaninha.

— Podemos terminar outra hora, já fizemos o bastante hoje — disse ela, e Bethany concordou. A loira seguiu para o corredor, mas seu pai ficou quando Candace desapareceu para voltar à cozinha.

— Você está bem? Como estão as coisas depois do que aconteceu na escola? — perguntou ele, com aquela mesma ênfase preocupada e atenciosa.

— Eles vão continuar falando de mim até isso acontecer com a próxima garota — falou Bethany, dando de ombros. Vira seu nome rabiscado nas cabines do banheiro, junto de palavrões machistas. Simplesmente parara de se importar, mesmo sabendo que deveria se indignar com todo o falatório que via. Não havia transado com Thomas, mas e se tivesse? Não dava o direito de lhe julgarem por isso, principalmente quando Thomas estava sendo vangloriado como um deus do sexo. — Vou ficar bem, o ano já está acabando, de qualquer forma. — Queria que sua mãe estivesse ali, queria que ela lhe abraçasse e dissesse que tudo ficaria bem, que pudessem passar a noite comendo pipoca e xingando os atletas hipócritas do colégio. Queria que Ally estivesse ali, que ela lhe ajudasse a pensar em uma forma de rebater cada insulto, de fazer com que todos engolissem os julgamentos machistas sobre sua vida sexual.

Mas não tinha energia para fazer isso. Não depois de tudo o que acontecera com Ally, com sua mãe e Aislinn.

Liam continuava lhe encarando com preocupação, quase sem saber o que fazer. Ele já estava fazendo tudo o que podia, percebeu Bethany. Algumas coisas dependiam apenas de si mesma.

— Beth, se você ou Noah tiverem algum problema na escola, se precisar que eu...

— Você pode me ajudar devolvendo meu celular — disse Bethany, sem deixar que ele completasse a frase.

— Não vai acontecer — rebateu seu pai, sem nem hesitar. — Vou te devolver o celular quando você parar de usá-lo para combinar de beber com as líderes de torcida.

— Não tenho como sair com as líderes de torcida porque você me leva e me busca na escola como se eu tivesse cinco anos, lembra? — argumentou a menina, inclinando-se para começar a arrumar as pilhas de papel. Liam estava bem rígido quanto aos horários de voltar para casa e os locais que podia frequentar. — E eu tenho dezoito anos, não acha que passei da idade de ter o celular confiscado? — questionou, e ele riu com uma sobrancelha levantada, os braços cruzados ao lhe encarar com desdém.

— Acho, mas aqui estamos, mesmo assim — retrucou, e Bethany revirou os olhos.

Ele lhe deixou sozinha enquanto terminava de guardar os desenhos, tomando cuidado para manter a organização que Candace havia feito. Desceu as escadarias quando terminou, sentindo um aroma suave e salgado de comida sendo preparada.

Aquilo era meio inédito ali, seu pai cozinhava bem, mas raramente o fazia — ou tinha tempo para isso.

— Os outros professores têm comentado sobre Thomas, que ele está agindo de maneira diferente. — Bethany parou à porta da cozinha, franzindo as sobrancelhas. Lembrou-se do que seu pai havia comentado sobre as tatuagens, e agora a voz de Candace soava preocupada. — Eles acham que Thomas está envolvido com drogas, todos notaram a palidez exagerada, que ele passa as aulas inteiras desenhando figuras bizarras no caderno, que está irritadiço demais e se afastando dos amigos — complementou, e Bethany sentiu um enjoo repentino. — Não sei o que está acontecendo com o garoto, só o vejo raramente, mas depois do que aconteceu com Beth... Estou atenta, mas talvez você devesse avisá-la, pedir para que ela se proteja.

Bethany finalmente tomou coragem para entrar na cozinha, percebendo o silêncio tenso logo depois. Ninguém voltou a falar sobre Thomas, o que lhe deixou aliviada, porque não aguentava mais ouvir o nome daquele garoto.

Ajudou a organizar a mesa com os pratos e copos, Noah e Nicholas chegaram atrasados e tudo foi estranhamente normal — finalmente o jantar com Nicholas acontecera, mesmo que Sara não estivesse presente. Era estranho ter Candace ali porque tinha memórias de sua mãe sentada ao seu lado, de seus pais abraçados perto da pia e dos cafés da manhã divididos naquela mesa, mas tentou não pensar nisso.

Depois de jantar, quando subiu para pegar uma faixa para o cabelo e procurar o controle reserva do videogame, seu pai apareceu à porta do quarto. Estava sentada no chão, revirando a gaveta da escrivaninha enquanto procurava pelos jogos e o controle desaparecido.

— Tudo bem quanto à Candace aqui? — ele indagou de maneira cuidadosa, e Bethany se levantou com o controle na mão.

A garota apenas assentiu, sem querer admitir que gostou da sensação familiar do jantar, que gostava de tê-la ali e de todos jantando juntos.

— É só estranho, mas vou me acostumar. Ela é legal — disse com sinceridade. Candace era simpática e não estava forçando nada, sempre cautelosa para que Bethany pudesse estabelecer limites. Não era difícil gostar dela, mas Liam ainda lhe encarava com desconfiança. — Está tudo bem, sério. É bom não ser a única garota na casa, não precisa fingir que ela nunca esteve aqui — reafirmou. Havia percebido, enquanto observava os dois lavando a louça suja e tirando a mesa do jantar, que seu pai e Candace pareciam muito tranquilos e confortáveis, confortáveis demais para uma primeira vez visitando a casa do outro.

Eles tinham certa intimidade e leveza, não era difícil perceber que ela estivera ali antes. Também percebeu que seus pais não tinham essa mesma leveza quando estavam juntos, apesar de se darem bem.

« ♡ »

Noah, Nicholas e Bethany passaram o resto da noite em um torneio de Mario Kart, se é que Noah podia chamar de torneio, porque Nicholas e Bethany eram terríveis naquilo.

Os três estavam esparramados no sofá, Nicholas e Bethany com os olhos vidrados na televisão e seus personagens percorrendo cenários coloridos e surrealistas. As almofadas estavam todas caídas no tapete felpudo da sala, espalhadas entre os fios do videogame.

— Estão fazendo audição para uma adaptação de Heathers na escola — comentou Noah, enquanto Bethany inclinava-se para a televisão e estreitava os olhos para focar no circuito do jogo. Ela girou o controle, determinada a ganhar.

— Eu sei — retrucou a menina, de maneira quase apática. Nicholas virou-se para ela, mas quase bateu o carro no jogo, então voltou-se rapidamente para a televisão.

Bethany havia conquistado o sexto lugar na corrida, enquanto Nicholas estava em décimo.

— Eu vou fazer audição para J.D, você podia tentar para Veronica — continuou Nicholas, cheio de expectativas. Bethany não pareceu se impressionar, os olhos fixados na televisão e o rosto contornado pelas luzes coloridas da tela.

— Não — respondeu a garota, girando o controle em um movimento súbito.

— Você é a Veronica Sawyer perfeita — insistiu Noah, um tanto impaciente com a indiferença dela.

— A escola inteira vai tentar papel para protagonista, não estou com cabeça para competir — retrucou Bethany, ajeitando-se no sofá e chutando uma almofada para ter mais espaço. — Vocês podiam fazer a audição juntos e convencer o diretor a fazer uma versão gay do musical, aí eu posso pensar em participar como uma das Heathers, — murmurou, concentrada em pular um rio de lava e pressionando os botões do controle — de preferência a que morre — complementou baixinho, mas Noah ouviu a franziu as sobrancelhas.

O personagem de Nicholas caiu no rio de lava e foi engolido pelo fogo, perdendo a corrida. A metade da tela que pertencia a ele escureceu completamente enquanto Bethany continuava na competição com os outros personagens.

— Noah já está trabalhando na parte instrumental, ele vai tocar bateria. Nós podemos cantar Seventeen — teimou Nicholas, largando o controle e voltando-se para Bethany. — Noah me disse que você era obcecada por Heathers no segundo ano, sei que você fez dois anos de aula de canto.

— Eu já participei de quase todas as atividades extracurriculares do colégio — retrucou, sem dar muita atenção aos argumentos dele. Noah encontrou o olhar de Nicholas, encarando-o incisivamente e esperando que ele compreendesse o recado, mas chutou o pé dele para reforçar.

Continue insistindo. Ela precisa disso.

— Por favor, é só uma música para a audição! — Nicholas ajeitou-se no sofá, inclinando-se para ela e levantando as sobrancelhas. Noah quase riu, reconhecendo aquele olhar inocente de cachorrinho perdido que ele usava para conseguir qualquer coisa. — Beth, é uma música de três minutos! Você mesma disse que a escola inteira vai tentar o protagonismo! Se você conseguir, pode abrir mão e não fazer o musical.

— Eu achei que você mataria e morreria para ser Veronica Sawyer — complementou Noah, sabendo de toda a obsessão da irmã com a personagem e o musical. Bethany suspirou, finalizando a corrida em oitavo lugar e largando o controle com certa impaciência.

— Tudo bem, eu faço a audição com você — disse, cruzando os braços e com os cabelos pretos refletindo as luzes coloridas do jogo. — Mas só por causa da minha obsessão por Heathers e porque Seventeen era meu toque de despertador — justificou, e Nicholas riu ao assentir.

Ficaram mais um tempo jogando, até que Bethany subiu para o quarto e lhes deixou sozinhos. Já era um pouco tarde, Candace e seu pai continuavam bebendo whisky na cozinha e entretidos com alguma coisa.

Puxou Nicholas para o próprio quarto, os dois de mãos dadas enquanto o arrastava escada acima. Acendeu a luz quando entrou, revelando pilhas de revistas em quadrinho espalhadas, copos vazios nos mais diversos lugares e as baquetas sobre a cama bagunçada.

— Seu pai me odeia — disse Nicholas, deixando-se cair sobre o colchão, tomando cuidado para não quebrar as baquetas.

— E ele está errado? — riu Noah, sentando-se na cadeira da escrivaninha e abrindo o notebook. Quase todo o ressentimento por Nicholas ter escondido tanta coisa havia diminuído, mas essas alfinetadas escapavam às vezes, mesmo que não houvesse nenhum tom acusativo na voz.

— Babaca — reclamou Nicholas.

— Ele não te odeia, só não confia totalmente em você — respondeu, esperando que o computador ligasse para procurar alguma série.

Estava realmente triste quando explicou para seu pai toda a história e o envolvimento de Nicholas nela, então Liam lhe perguntou se valia a pena perdoá-lo, se gostava dele o suficiente para isso — porque Nicholas, assim como Bethany, fora apenas uma peça no tabuleiro de Mamon.

— Pessoas cometem erros, Noah. Se você acha que pode confiar nele, se acha que o ama o suficiente para perdoá-lo, talvez devesse dar uma chance a Nicholas. — Era o que ele havia dito na ocasião.

Nicholas lhe encarava de maneira desconfiada.

— Ah, é? E aquele olhar de faça mal ao meu filho e eu te persigo até o inferno para te fazer sofrer que ele manteve noite inteira? — retrucou o menino, passando os dedos pelo cabelo escuro para tirá-los do rosto. Noah riu mais uma vez e girou a cadeira para encará-lo.

— Aquele é o olhar padrão dele — explicou, achando graça da cara de espanto de Nicholas. — Se você achou isso intimidador, considere um treino para quando jantar com minha mãe, porque ela costuma ser pior. Aquilo, de fato, é um olhar intimidador — continuou, se encolhendo de leve ao perceber as próprias palavras. Havia soado como se ela estivesse acordada, como se ela estivesse bem e prestes a conhecer Nicholas.

Desviou o olhar para o computador, um tanto incomodado com o repentino aperto no peito.

— Seus pais são dois pitbulls te protegendo — falou Nicholas, se apoiando nos cotovelos para encarar Noah. — Eu sou um poodle — concluiu o raciocínio, fazendo Noah rir alto enquanto analisava as recomendações de filmes e séries para assistir. Voltou-se para o garoto quando desistiu de encontrar algo, decidindo que assistiria o que Nicholas escolhesse.

— Devia ver como meu pai olhou para o Thomas, parecia que ele ia fatiá-lo com uma espada — falou, girando na cadeira e levantando as sobrancelhas. — E não de maneira metafórica, porque ele sabe usar uma espada — concluiu.

Nicholas estava rindo quando se sentou na cama, de frente para o loiro. Ele lhe puxou pelas mãos, trazendo-lhe para mais perto de si. Noah deixou que Nicholas lhe puxasse, logo os dois estavam deitados lado a lado entre o lençol bagunçado.

— É engraçado como o time de futebol consegue ser homofóbico, considerando que já fiquei com mais da metade dos atletas — comentou ele, e Noah o encarou com interesse, os lábios se curvando em um sorriso.

— Sério? Preciso de nomes — exigiu, puxando um travesseiro para se apoiar. Nicholas pareceu hesitante, depois um pouco cético quanto ao seu pedido. — Você não pode falar isso e não dar nomes — argumentou. Nicholas pigarreou, pensando um momento antes de começar a falar.

— Mark, Henry, Brendon...

— Meu Deus, eu não sei por que namoro você — interrompeu Noah, fingindo uma expressão mau humorada ao empurrá-lo de leve.

— Porque eu sou lindo e extremamente talentoso — retrucou o outro, muito seriamente. Noah não conseguiu segurar a risada.

— Sorte sua que você tem essa cara de bad boy. — Nicholas riu e lhe puxou para mais perto, enterrando a face entre seu pescoço e o ombro. O loiro riu também, abraçando-o de volta.

— Eu recebi minha carta da universidade hoje — disse, e Noah se remexeu na cama, afastando-se repentinamente para lhe encarar.

— A de Nova York? — perguntou ansiosamente, ficando de joelhos no colchão. Nicholas sentou-se também, assentindo.

— Sim, eu fui aceito — respondeu, e Noah sentiu face se iluminando com um sorriso. Não era como se estivesse surpreso, porque nenhuma faculdade de música seria idiota suficiente para recusar Nicholas e sua voz.

— Nick, isso é incrível! — animou-se, quase inclinando-se para frente para abraçá-lo. Parou quando percebeu que ele não estava animado, só estava... normal, um pouco confuso, talvez. Era como se não tivesse acabado de contar que fora aceito em uma faculdade de música incrível em Nova York.

— Eu não vou, não este ano — falou, para a surpresa e confusão de Noah. Chutou os lençóis para sentar-se de frente para ele.

— Como assim?

— Eu achei que fosse óbvio — respondeu, levantando uma sobrancelha enquanto lhe encarava. Noah mordeu o lábio, tentando disfarçar o nervosismo. — Sempre falamos sobre como seria incrível ir para lá juntos, eu não me imagino em Nova York sem você, sabe disso — concluiu, e o loiro sentiu a pressão no próprio estômago.

— É claro que imagina, você sempre teve esse complexo de rockstar — retrucou, percebendo que realmente tinham muitos planos para ir para Nova York, mas não envolviam Nicholas recusando uma vaga em uma boa faculdade.

E Nova York era longe, muito longe.

— Mas você é mais importante — insistiu ele, lhe olhando nos olhos. Noah podia derreter com o tanto de certeza que ouviu na voz dele, percebendo que Nicholas não hesitara nem por um segundo. — Eu não me importo de ficar dois anos por aqui, posso conseguir algum trabalho e então você se forma, depois nós vamos juntos.

— Dois anos pode parecer pouco tempo agora, mas você vai ficar entediado e depois eu vou me culpar — murmurou Noah, buscando motivos racionais para que ele fosse para Nova York. Queria abraçá-lo e agradecê-lo por ficar, queria ignorar essa voz lhe mandando ser responsável e insistir para que Nicholas não adiasse uma oportunidade tão incrível.

— Noah, estou falando sério. Não é como se eu estivesse com pressa, Nova York continuará lá e eu não preciso de um público para continuar fazendo música — argumentou Nicholas, um tanto tenso e com um tom de desespero. Noah manteve-se impassível, mesmo sentindo tudo desmoronando por dentro.

Mas você é mais importante.

— Nick, você vai. — Ficou surpreso por ter conseguido manter a voz firme e olhar nos olhos dele.

— Noah...

— Se você odiar, você volta, mas você precisa ir — disse, inclinando-se para Nicholas e sorrindo de leve. — Eu te encontro lá — complementou, encostando os lábios nos dele e sentindo as mãos de Nicholas em sua cintura, lhe puxando para mais perto. Ele se afastou um pouquinho, lhe encarando com aqueles olhos profundos e amendoados.

— Jura? — perguntou, e Noah assentiu com a cabeça. Encarou-o nos olhos e levantou a mão para tirar os cabelos escuros dos olhos dele.

— Juro.

« ♡ »

Bethany acordou com um pulo, a respiração acelerada.

Teve de conter um grito, despertando de um pesadelo com o som da arma ecoando em seus ouvidos, o corpo trêmulo e dolorido por ter dormido de mal jeito. Passou os olhos pelo quarto escuro, tentando decifrar o contorno dos móveis e dos objetos.

O quarto era iluminado fracamente pela luz da rua, afundou nos travesseiros quando teve certeza de que estava sozinha ali. Ainda tremia, inquieta toda vez que fechava os olhos. Ouvia o som de um tiro, ouvia Aislinn engasgando-se no sangue e desabando nos braços de Rafael.

Encolheu-se, tremendo e desta vez de frio. Enrolou-se com mais força na coberta, tentando se aquecer e tirar aquela sensação ruim do peito. Abria e fechava os olhos, revirava-se na cama com os pensamentos disparados.

Finalmente se rendeu e levantou-se para pegar outra coberta, talvez ir para a cozinha e beber alguma coisa quente que lhe reconfortasse. Saiu da cama e foi direto para a janela, empurrando a cortina para observar a rua.

Não ficou surpresa ao perceber que o carro de Candace ainda estava ali, duvidava que ela fosse embora tão tarde da noite. Era quase meia-noite quando foi dormir, pareceu óbvio que ela fosse ficar.

Virou-se para pegar uma coberta no guarda-roupas, percebendo que não se importava tanto com aquilo. Estava exausta de ser a adolescente rebelde, de apresentar tanta resistência e teimosia para tudo. Não percebia que fazia isso até que estivesse exausta demais para continuar revoltada.

Mas não que quisesse se revoltar com o fato de Candace ter dormido ali, porque ela parecia fazer bem para seu pai.

O quarto ainda estava escuro, tomou cuidado para não tropeçar em nada enquanto voltava para cama. Jogou a coberta em cima do colchão; estava de pé e inclinada para ajeitá-la quando algo agarrou seu tornozelo, apertando-o como uma mão cheia de garras que machucavam sua pele.

Bethany gritou quando caiu para trás, girando para amenizar o impacto — exatamente como Verônica havia ensinado. Chocou-se com força contra o chão, perdendo o fôlego por um momento e tentando puxar a perna. Aquilo foi um erro, porque lhe machucou mais ainda e Bethany pôde sentir o sangue quente escorrendo.

Estava deitada no chão quando viu a criatura sair de baixo da cama, uma sombra corpórea que deslizava como uma aranha, com grandes garras que se esticavam ameaçadoramente. Gritou mais uma vez, tentando ser rápida e se levantar — não deu certo, porque a criatura deu um salto e lhe segurou contra o chão, as garras afundando em seus ombros e lhe mantendo presa. Seus olhos lacrimejaram com a dor.

Ofegava, zonza enquanto tentava pensar em como se livrar daquilo. Era uma mera sombra, sem face ou contornos humanos, mas um corpo esquisito e cheio de garras que eram muito reais.

Olhou para o lado, para a mesinha de cabeceira. Havia deixado o colar que sua mãe lhe dera lá, tirava-o durante a noite por medo de arrebentar, se ao menos conseguisse alcançá-lo...

— O legado de Lilith continua — disse a criatura em uma voz cavernosa. Bethany viu o pingente de pentagrama brilhar ao seu lado, provavelmente havia o derrubado no chão quando caiu. Fez um movimento brusco, mordeu o lábio quando sentiu as garras adentrarem sua pele e machucarem seu ombro, tentando não gritar de dor.

Agarrou o pingente no mesmo momento que a porta se abriu, a criatura-demônio fez um som dolorido e se afastou quando Bethany fechou a mão em volta do colar de pentagrama. A luz invadiu o quarto, machucando seus olhos e lhe fazendo piscar.

Ouviu palavras em latim, mas continuou com os olhos fechados por causa da dor. Sentia o sangue escorrer, molhando sua camiseta e descendo pelos ombros. Alguém segurou seus braços, só então Bethany percebeu que estava se debatendo.

— Beth, está tudo bem — afirmou uma voz feminina, mas a garota demorou para reconhecer o tom suave de Candace, notar suas mãos gentilmente lhe segurando. Bethany abriu os olhos e tentou controlar o próprio coração disparado, trêmula.

Aceitou a ajuda de Candace para se levantar, percebendo que o toque dela lhe ajudava a acalmar a respiração entrecortada.

Olhou em volta, a sombra havia desaparecido e agora seu pai lhe encarava com uma face pálida e preocupada. Noah também estava à porta, os cabelos loiros desgrenhados e a roupa amassada de quem havia acabado de sair da cama. Ele tinha os olhos arregalados.

— Não, não está. Eles não vão parar de vir — respondeu Bethany, a voz tremendo. — O legado de Lilith continua, foi o que ele disse.

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