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Feito De Areia | Capítulo Trinta E Seis

— Me desculpe pela demora, eu estava com Arthur — disse Sara, e as portas se fecharam num baque surdo aos fundos. Elisa fez uma careta, baixando a espada que tinha nas mãos.

Ela estava terminando de separar as lâminas usadas no treinamento, era comum encontrá-la fazendo isso. Lena insistira para que ela fizesse algo mais seguro e ficasse longe do drama com os líderes infernais, Elisa relutou por algum tempo antes de aceitar.

Estava auxiliando no treinamento avançado, mas frequentemente reclamava sobre como Lena lhe superprotegia e parecia obcecada com sua segurança.

— É claro que estava. — A ruiva ergueu as sobrancelhas com certo desdém. — Não acredito que perdi meu posto de melhor amiga para ele — reclamou ela, colocando a espada num suporte de madeira e jogando os cabelos presos sobre o ombro. Sara observou enquanto Elisa guardava uma última espada, encostada na parede.

— Você está sendo dramática — acusou com uma risada, cruzando os braços apesar de saber que ela não estava falando sério.

— Não estou, não — contestou a ruiva. — Não deveria ser assim, vocês deveriam estar vivendo um romance lindo e fofo, mas ficam brincando de ser amigos enquanto isso.

— Isso é o que você decidiu depois que passou a acompanhar minha vida como se fosse um reality show — argumentou Sara, desta vez com seriedade. Elisa não se importou.

— Estou entediada, se eu não puder dar pitacos inúteis sobre sua vida amorosa, o que mais posso fazer? — A ruiva sentou-se num dos bancos de madeira e dobrou a flanela que usara para polir as lâminas e deixá-las limpas depois do treinamento.

— Cuidar da própria vida? — sugeriu Sara, com um sorriso no canto dos lábios que deixava claro o tom de brincadeira.

— Isso foi rude. — Elisa fez uma careta exageradamente ofendida e dramática. — E não venha chorar para mim quando perceber a burrada que está fazendo. — Sara suspirou e deixou-se cair no banco ao lado dela, pensativa.

Para Elisa, era burrice manter essa amizade com Arthur quando estava na cara que eram algo a mais. Ela não sabia sobre o beijo, não sabia que havia dito a ele que não estava preparada para algo a mais.

A pior parte é que, a cada segundo, Elisa parecia soar mais certa. Não conseguia parar de pensar em Arthur, em como seria se deixar levar pelos sentimentos que tinha por ele, que estava sendo idiota ao deixar todo esse sentimento esfriar enquanto brincavam de amizade, como Elisa havia dito.

— Realmente acha isso? — perguntou com um tom distante, sem conseguir esconder certa preocupação. E se ela estivesse certa? E se essa amizade estragasse tudo o que tinha com Arthur?

Estavam muito próximos desde o beijo, mas não haviam feito nada a mais. Sem beijos, sem nenhum sinal de progresso para um relacionamento romântico, estagnados numa zona segura em que não precisava confrontá-lo e complicar as coisas.

— Acho, em algum momento a sua ficha vai cair. — Elisa estava muito convencida.

— Achei que a vidente fosse Lena. — Sara baixou o olhar para a bola de pelos perto do suporte de madeira, onde também repousava uma pilha de livros grossos, provavelmente os catálogos de armas para serem estudados. Heathcliff estava encolhido ali, respirando profundamente em sua soneca cotidiana. O gato gostava de Elisa, mas amava Lena, o que significava que raramente o via com a ruiva. — Onde ela está, aliás? — perguntou, percebendo que Elisa estava sozinha ali. Já era para Lena estar ali também, então poderiam começar a reunião sobre as armas que seriam usadas pelo exército.

Ela e Elisa estavam num relacionamento confuso, mas calmo. Não sabia exatamente o que estava acontecendo, mas as duas sempre estavam juntas, então passara a se familiarizar com Lena e conhecê-la melhor.

— Deve estar chegando, estava resolvendo alguma coisa na estufa com Aislinn. — Elisa se voltou completamente para Sara, sem dar muita atenção para a pergunta. Ela tinha aquele olhar atencioso e desconfiado de quem não deixava passar nenhum detalhe. — E não tente mudar de assunto! Por que está tão na defensiva com Arthur? — insistiu, cruzando os braços e inclinando-se para Sara, exigente. — Você disse que estava bem depois do término com Liam, mas isso é totalmente verdade? Ou ainda tem alguma coisa te prendendo nele?

— Eu odeio quando você faz isso. — Sara soltou o ar preso, deixando-se cair no banco e desviando o olhar. Ou era totalmente sincera com Elisa, ou ela acabava descobrindo a verdade porque lhe conhecia bem demais.

Sara olhou para os livros, desejando que começassem a estudá-los logo. Elisa tinha uma boa experiência e era especialista em armas depois de passar tanto tempo no comando do exército, talvez ela esquecesse do drama amoroso se pegasse os catálogos.

— Começa a falar — exigiu Elisa, com muita firmeza. Sara encarou o teto alto, observando os grandes painéis de vidro que mostravam um horizonte infinito e iluminado, jorrando luz branca para o salão.

— Eu e Liam tínhamos tudo para dar certo. — Sara continuava encarando o teto, absorvendo a luminosidade para não precisar encarar Elisa. Apesar de tudo, era bom poder falar com ela sobre isso, sobre suas inseguranças e medos em relação a Arthur. — Nós temos filhos, nos casamos, fomos felizes. De uma hora para outra, foi como ver um castelo de cartas cair e eu percebi que, o que eu achava que fosse firme e duradouro, era feito de areia e bastou uma maré para acabar. — Finalmente se virou para ela, mordiscando o lábio e batendo nervosamente os dedos contra o banco de madeira. — Então eu vejo Arthur, penso em como temos tudo para dar certo, em como as coisas aconteceram naturalmente entre nós. Não tenho como deixar de comparar. Quando achei que estava tudo bem com Liam, as coisas começaram a piorar e piorar até chegarem num ponto insustentável — confessou com melancolia, sem conseguir adicionar tom nas palavras. Era como se sentia quando pensava muito em Liam. Vazia, estranha e sem nenhuma cor. — Só não quero viver isso de novo.

— Eu vou falar o óbvio: Arthur não é Liam, Liam está em outra dimensão, aproveitando o tempo com outra pessoa. — Elisa se levantou, desta vez lhe fitando com seriedade quando parou em sua frente. Sara tentou evitar o olhar dela, mas Elisa falava com tanta firmeza que teve de encará-la. — O que vocês tinham não era de areia, Sara. Por Deus, vocês tiveram filhos, têm um laço inquebrável. Ele continua do seu lado, sabe disso. — Ela suavizou a voz e fez um gesto impaciente com as mãos, colocando-as na cintura logo depois. — Você está perdendo tempo, arriscando deixar passar um relacionamento com um cara incrível por causa de um medo irracional.

— Eu sei, só não quero magoá-lo. Estou lidando com muita coisa, entrar num relacionamento agora é tolice. — Voltou a encarar o teto, tentando esquecer as palavras de Elisa e esquecer que ela tinha razão. Liam provavelmente estava muito bem com Candace, enquanto a ideia de se abrir para um relacionamento lhe causava pânico.

— Ou não, ou você pode descobrir que vai ser bom tê-lo ao seu lado e vai aliviar sua barra — ponderou Elisa, e agora seus olhos tinham um brilho preocupado, lhe encaravam com atenção. — É sério, você não precisa encarar esse lugar sozinha. Estou aqui por você, mas é bom conhecer novas pessoas e dar os primeiros passos. — Ela abriu um sorriso quando se recostou na parede. — Lembra quando Liam te pediu em casamento e você disse a mesma coisa? Depois se arrependeu? — Sara levantou as mãos em rendição, sem precisar de mais argumentos. Aquilo já bastava para ser um tapa na cara.

— Tudo bem, o que você quer que eu faça? — questionou com um longo suspiro, de mãos atadas. O sorriso de Elisa se alargou numa expressão brilhante de animação, ela bateu palminhas.

— Vá atrás de Arthur, diga como realmente se sente. Tenho certeza que é recíproco, ele quase baba quando olha para você. — Aquilo fez Sara rir, mas ficou pensando nisso enquanto fazia a pequena reunião com Lena, Elisa e Aislinn. Quase não tinha foco para discutir sobre armas e a junção dos exércitos, como tentavam fazer.

Aquela reunião deveria ser feita com Arthur, já que era ele quem estava no comando do exército dos querubins, mas Lena e Elisa estavam encarregadas de discutir o armamento ideal para o exército demoníaco — Arco e flechas? Adagas? Espadas? Tentavam prever todas as tentativas de ataques de Mamon e buscar a melhor forma de defesa e ataque.

Sara convocara um dos demônios para testar as poucas armas que Elisa trouxera para amostra. Todas eram neutras para a energia angelical não atrapalhar — acabou se envolvendo no processo, estudando a estranha criatura e o modo como lidava com as armas.

Era quase como um robô, agia como Sara mandava e falava quando Sara mandava, nada além disso — apenas uma extensão de seus poderes, ao que parecia. Um animal feroz completamente domado.

Quando, por fim, escolheram uma variedade de flechas e espadas, lâminas longas e grossas que eram ótimas para defesa e tão pesadas que somente um demônio poderia segurar, Sara resolveu procurar por Arthur. Deixou as três no salão de treinamento e foi para a sala principal de armas — ele havia dito que estaria lá, tinha de terminar o inventário e era por isso que não estava na reunião.

Podia usar a desculpa de que estava ali para ver as outras armas, caso não tivesse coragem o suficiente para falar.

As portas do lugar estavam abertas, pôde ver as vitrines de vidro exibindo as armas em pedestais. Os mostruários estavam espalhados de forma organizada e elegante, não foi difícil encontrar a mesa onde Arthur estava, no canto esquerdo do salão.

Era um pequeno escritório ao lado do depósito, ele estava sentado e apoiado na mesa de madeira, cercado por pequenas estantes. Não estava sozinho, havia uma mulher loira de olhos brilhantes ao seu lado, ela sorria de uma forma aberta e deslumbrada — e se inclinava para ele de maneira provocante, totalmente perfeita com um rosto bem delineado.

Sara recuou quando viu que Arthur retribuiu o sorriso, tão hipnotizado e focado nela que não lhe viu na porta. Pareciam prestes a se beijar, ela colocava a mão no braço dele como se fossem íntimos o suficiente para aquilo.

Eles pareciam tão... Apaixonados. Envolvidos um no outro.

Tentou não pensar na sensação de soco no estômago quando se virou e voltou para os corredores, tentou não se culpar tanto. Só se permitiu desabar e admitir o próprio erro quando foi para seu quarto e bateu a porta atrás de si.

« ♡ »

Elisa viera lhe procurar depois de um tempo, Sara estava afundada na cama, a face contra um travesseiro. Havia adormecido ali, sem nem ao menos perceber que estava tão cansada. Acordou ouvindo uma batida leve na porta, não respondeu.

Reconheceu os passos de Elisa logo depois, a porta se abrindo e batendo.

— O que aconteceu?

— Eu sou uma imbecil, isso aconteceu — respondeu Sara, a voz abafada pelo travesseiro. Ouviu a risada dela, os passos atravessando o quarto, mas continuou com a cara contra o travesseiro.

— Preciso de detalhes. — Sentiu Elisa ao seu lado na cama, puxando as almofadas. Fez uma careta e segurou a almofada que ela tentava puxar.

— Não quero te dar detalhes — respondeu, esperando que aquilo bastasse para que ela parasse com o questionário.

— E olha só quem está agido como se tivesse quinze anos. — Sara conseguiu ouvir o desdém na voz de Elisa e se virou. Os cabelos escuros se espalharam pelo travesseiro, viu a ruiva sentada ao seu lado na cama. — Falou com Arthur, não falou?

— Não tive a chance. — Sara quase se virou para o travesseiro novamente, como se pudesse desaparecer entre o lençol e as almofadas. Cruzou as mãos sobre a barriga, levantando as sobrancelhas. — Aliás, ele já estava com uma loira sorridente que parecia louca para pular no colo dele. — Elisa riu sonoramente, claramente se divertindo com seu mau humor.

— Aquela deve ser Lindsay, eles têm um caso desde sempre, não é nada sério — explicou ela, fazendo uma pausa. Os lábios de Elisa se curvaram num sorriso provocativo quando ela se deitou na cama e apoiou-se nos cotovelos. — Se fosse sério ele te contaria, não contaria? Você é a melhor amiga dele, então... — Sara a acertou com um travesseiro, interrompendo a frase. A ruiva deixou-se cair no colchão no meio de uma crise de riso, tirando os cabelos avermelhados do rosto. — Olha só para você, se roendo de ciúmes!

— Você não está ajudando! — reclamou Sara, se enfiando novamente embaixo de uma almofada. Elisa ainda estava rindo.

— Só estou sendo irritante, relaxa. Tenho certeza de que Arthur e Lindsay não têm nada demais — afirmou ela, puxando a almofada e lhe obrigando a encará-la. Elisa tinha parado de rir e agora lhe encarava com certa profundidade. — Espero que isso tenha servido como um tapa na cara, quem sabe assim você para de enrolar para ser sincera com ele. Arthur não vai te esperar para sempre. — Sara baixou a almofada e apertou-a com força sobre o corpo.

— Não se preocupe, isso foi bem mais que um tapa na cara — admitiu num tom impaciente, trincando os dentes e pressionando a língua. Lembrava-se de como ficara paralisada ao vê-los juntos, chocada com a proximidade. — Só não tenho intenção nenhuma de competir com a miss perfeição.

— Miss perfeição? — Elisa não conseguiu segurar a gargalhada.

— Já viu aquele sorriso de modelo e os cabelos cacheados sem um fio fora do lugar? — Sara cruzou os braços, sentindo um nó na garganta quando se lembrou mais nitidamente da cena. Alguma parte ingênua e idiota de sua mente achava que tinha toda a atenção de Arthur, que ele sempre estaria disponível.

— Parou com o drama? — A ruiva se levantou da cama e colocou-se de pé, Sara afundou no colchão e riu levemente.

— Parei.

— Ótimo, porque temos uma reunião com Arthur agora. Quem sabe você possa arrumar as coisas — falou ela, e Sara se sentou abruptamente. Não estava sabendo de reunião alguma, nem tinha qualquer condição de encarar Arthur no momento.

— O quê?

— Não se esqueceu da reunião sobre os exércitos, não é? — Elisa recostou-se no braço do sofá de madeira maciça. Os cabelos ruivos ficavam ainda mais vívidos na imensidão preta e branca do quarto.

— Dormi demais — confessou, percebendo que perdera completamente a noção do tempo. Não que tivessem qualquer noção de tempo ali, mas sabiam o momento da reunião.

Elisa balançou a cabeça de forma positiva.

— Te encontro na biblioteca — disse a ruiva, desencostando-se do sofá e andando até a porta. Ela parou por um momento, já com a mão no trinco e se virou com um sorriso. — Aja como adulta. — Sara revirou os olhos, Elisa saiu antes que pudesse revidar a provocação.

Ficou um tempo na cama, tentando imaginar como faria aquilo. Se esforçaria para manter tudo muito profissional.

Finalmente se levantou para trocar a roupa, tirando o conjunto simples que estava usando e procurando por algo mais justo e arrumado no armário. Não se lembrava ao certo de quem estaria na reunião, mas parecia importante debater sobre os exércitos e queria estar minimamente apresentável.

Parou na frente do espelho, observando as cicatrizes espalhadas pelo próprio corpo. O braço estava repleto delas, lembranças das lutas com lâminas e dos confrontos com os demônios que hoje em dia eram seus exércitos.

Geralmente usava blusa de mangras compridas, mas não naquele dia. Queria relembrar daquelas cicatrizes, de cada acontecimento que lhe trouxera até ali, que lhe levara para aquela situação.

Havia cicatrizes espalhadas pelo peito, outras na barriga, entre algumas estrias esbranquiçadas que se delineavam com delicadeza. Passou as mãos sobre as marcas, desviando as cicatrizes e sorrindo levemente.

Era quase impossível passar por uma gravidez de gêmeos sem estrias.

Colocou uma blusa de alcinha e uma calça justa, prendendo os cabelos escuros para que seu rosto ficasse visível. Escolheu sandálias de salto para ficar um pouco mais alta, deu mais uma encarada no espelho e se sentiu pronta para a reunião, pronta como deveria estar.

Era a comandante de um exército demoníaco, estava definindo o rumo das guerras com Mamon. Precisava se lembrar disso, estar ciente do poder que tinha em mãos.

« ♡ »

Arthur já estava na biblioteca quando chegou, assim como Lena, Elisa e Aislinn. Lucas e Kenan também estavam ali, ao redor de uma mesa e inclinados sobre um livro aberto, provavelmente cheio de ilustrações sangrentas de batalhas.

Havia demorado um pouco para achar a sala de leitura, então se desculpou pelo atraso, sentou-se ao lado de Elisa e ajeitou a postura. Havia um bloco de notas livre, esperando para que o pegasse no centro da mesa.

— E então? Por onde começamos? — indagou, puxando o bloco para si e deslizando ponta dos dedos pelo papel. Estava evitando olhar para Arthur até então, mas sua voz lhe fez estremecer de leve.

— O que você acha de um vice comandante? — Sara parou por um momento, lembrando-se de controlar as emoções quando encontrou o olhar dele. Continuava pensando na mulher loira, no modo como eles estavam próximos.

— Vice comandante? — repetiu, sem saber exatamente aonde estava se metendo. Arthur havia comentado que o exército de querubins tinha dois vices comandantes, porque só assim davam conta de suprir todas as demandas de um exército que, diferente do seu, era composto por querubins muito conscientes e com ideias próprias.

— Alguém para dividir o poder e controle com você, essa pessoa também terá poder sobre o exército, mas não sem sua aprovação antes. — Arthur se inclinou um pouco sobre a mesa, Sara baixou o olhar para o bloco de notas para não o encarar. Sentia o olhar dele ardendo em si. — Não é uma boa ideia comandar sozinha, seu exército é feito de criaturas etéreas e sem consciência própria, não há ninguém para debater e contestar suas decisões, mas isso é vital em diversas situações. Um vice experiente poderia te ajudar e te guiar. — Agora todos lhe encaravam, esperando sua resposta. Sara ponderou por um momento, imaginando como seria dividir o próprio poder sobre o exército e se confiava o suficiente em alguém para isso.

Girou a caneta nas mãos, tentando seguir a própria intuição. Se fosse fazer aquilo, precisaria ser uma boa escolha — não parecia algo que poderia simplesmente desfazer, caso não fosse o que esperasse.

Levantou o olhar depois de um tempo, mais confiante sobre o que fazer. Aislinn estava sentada ao lado de Lena, Sara sorriu levemente quando a encarou.

— Aislinn, o que você acha de ser minha vice? — Aislinn piscou, tentando processar as palavras. Ela estava realmente surpresa, os lábios entreabertos e as sobrancelhas franzidas.

— Eu não posso ficar aqui, nesta dimensão — disse ela, e Sara ainda estava sorrindo quando assentiu, girando mais uma vez a caneta nos dedos. Se ajeitou na cadeira, inspirando o cheiro suave de papel que vinha estantes.

— Por isso é perfeito, você pode me manter informada sobre a dimensão humana, controlar as coisas por lá — justificou, percebendo como ela era perfeita para aquilo. Aislinn era inteligente e astuta o suficiente para lhe confrontar quando errasse, para assumir o exército se precisasse. — E isso te dá uma desculpa para vir para cá, ocasionalmente. — Aislinn automaticamente se voltou para Lena, as duas se encararam por um momento. Silêncio.

Sara percebeu que Lena estava prestes a falar algo, seus lábios tremeram, mas ela mudou de ideia. Provavelmente não queria influenciar as ideias da filha, embora Aislinn parecesse um pouco desesperada e sem saber o que pensar.

— Você pode pensar por um tempo, se precisar. Tenho certeza de que seria ótima contra Mamon. — Esperava que aquilo desse a ela um propósito, porque não suportava ver Aislinn tão perdida e desconfortável com seus poderes. Talvez o exército lhe mostrasse a própria força, lhe ajudasse a entender que ainda era si mesma.

— Não tenho experiência. — A voz dela foi baixa, quase um sussurro. Elisa sorriu de maneira empolgada, parecendo feliz com a proposta de Sara. O resto da mesa continuava em silêncio, um ar de surpresa ainda pairava no lugar, mas ninguém contestou a decisão.

— Estou aqui para isso, posso te ajudar com a parte teoria e te orientar na prática — ofereceu a ruiva, atraindo a atenção de Aislinn. O olhar dela passou de confusão para leve empolgação.

Seguiram a reunião enquanto Aislinn continuava pensando, quieta e encolhida na cadeira. Arthur falava sobre a onda assustadora de demônios que conseguiram escapulir para a dimensão humana, embora tudo estivesse estranhamente calmo, sem nada muito chamativo acontecendo, nada que fosse digno de noticiário — o que significava que Mamon estava planejando guerra, e que a batalha aconteceria em pouco tempo.

Ele havia poupado os querubins, o exército estava preparado para a luta. Não costumavam a lutar na dimensão humana, por isso tinham um mapa da cidade e Sara apontava os lugares mais estratégicos para se esconder, atacar e atrair os demônios de Mamon.

O último tópico foi Azazel, Asmodeus e Clarissa, Aislinn falou sobre tudo o que havia observado: Asmodeus estava mais preocupado em se defender do que impedir os planos de Mamon, provavelmente não lutaria e nem se exporia numa batalha contra ele. Azazel estava muito disposta a lutar, mas ninguém sabia se ela era uma inimiga em potencial. Tinham um objetivo em comum, mas isso não significava que não precisariam se defender dela.

Elisa tentaria entrar em contato com Clarissa, Sara passou boa parte da reunião anotando estratégias de defesa que precisaria estudar para aplicar com o exército, mais um monte de burocracias chatas que envolviam estudo teórico e prática com os próprios poderes — Kenan ficaria encarregado disso, porque Arthur já tinha muita coisa para resolver até o conflito final.

Sara estava tão distraída com as anotações e com a pilha de livros que Kenan havia lhe entregado que não notou que a mesa estava lentamente se esvaziando. Só percebeu que Lena e Aislinn já tinham ido quando Elisa pigarreou, chamando sua atenção.

— Preciso ir, tenho novatos para orientar. — Ela piscou, e Sara olhou em volta. Kenan e Lucas também havia partido, eles só haviam passado rapidamente para falar com Sara sobre os estudos e lhe orientar no comando do exército.

— Lisa... — começou a dizer quando percebeu as intenções de Elisa. Arthur continuava na outra ponta da mesa, também terminando as próprias anotações e focado num livro grosso sobre armas.

— Nos encontramos depois — interrompeu ela, se virando com um sorriso sugestivo e depois desaparecendo no meio das estantes. Sara suspirou e afundou na cadeira, frustrada.

Talvez, se saísse rapidamente, não precisasse confrontar Arthur e ele não lhe notasse.

— Você está bem? — Tarde demais. Ele lhe encarava com atenção, deixando o livro de lado. Achava que pudesse derreter com aqueles olhos dourados e preocupados sobre si.

Sara assentiu, baixando o olhar para as próprias anotações.

— Sim, só... Essa batalha está se tornando cada vez mais real — confessou, porque ele ainda era uma pessoa confiável com quem podia conversar sobre isso. Todas as conversas que tiveram nos últimos tempos foram importantes para se sentir melhor, o apoio dele fora essencial para chegar ali. — É sempre assim? Digo, o comando?

— Basicamente — riu Arthur, dobrando os braços sobre a mesa. Quando se voltou para Sara, tinha um olhar desconfiado. — Mas eu te conheço, isso não é por causa da batalha. Você só fica quieta demais se tem algo te incomodando. — Sara parou por um momento, imaginando se deveria dizer a verdade. Estavam sozinhos ali, Arthur estava prestando total atenção em si... Era só dizer a verdade.

— Muitas coisas me incomodam ultimamente — falou por fim, afundando na cadeira e sentindo a garganta apertar com frustração, as palavras engolidas lhe sufocando.

Arthur levantou uma sobrancelha ao lhe encarar.

— Eu vi você na porta do salão de armas, foi só por um segundo e então você foi embora. — Sara ficou tensa, imaginando como escaparia daquilo. Achava que ele não tinha lhe visto, que não precisaria dar satisfações. — Por que não entrou?

— Eu não queria ser inconveniente. — Aquela era parte da verdade, pelo menos. Ele não precisava saber o que estava fazendo no salão, o motivo pelo qual fora lhe procurar quando o encontrara com a mulher loira.

— Inconveniente? — repetiu Artur, confuso.

— Você estava com outra pessoa, eu achei... — Sara deixou a voz morrer, permitindo que ele interpretasse o resto. Talvez Arthur nem mesmo tivesse percebido o quão perto estava de Lindsay e o quanto pareciam prestes a se beijar.

Talvez só estivesse aumentando as coisas em sua cabeça.

— Não estava acontecendo nada — afirmou ele, com tranquilidade. Sara ainda estava tensa, os músculos contraídos. Não conseguiu conter um tom irritado ao responder, mesmo que estivesse tentando manter a neutralidade.

— Parecia que estava. — Arthur levantou uma sobrancelha, incrédulo com seu tom aborrecido.

— Você ficou incomodada com aquilo? Por isso não entrou e quase não me olhou na reunião de hoje? — Sara desejou pegar as palavras de volta, porque não tinha direito algum de julgá-lo e demonstrar incômodo com aquilo. Ele não lhe devia nada, nem satisfações. A incredulidade de Arthur confirmava o quão hipócrita estava sendo. — Sara, você disse que não queria nenhum envolvimento romântico, eu respeitei isso.

— Eu sei, só estou tentando entender o que sinto — disse num tom de desculpas, mas ele já estava se levantando. Os cabelos castanhos caíram por cima dos olhos brilhantes quando ele lhe encarou.

— Bom, então me avise quando tomar uma decisão. — Estava atônita demais com o tom seco e irônico dele para responder, apenas o observou enquanto desaparecia entre duas estantes e lhe deixava sozinha.  

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