Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Enterrem-me Em Cetim | Capítulo Vinte E Nove

Bethany tentou reparar em Thomas no dia seguinte, mas ele não estava na escola. Nem no outro dia. Não sabia se Thomas estava desaparecido há dias e não havia notado, ocupada demais com as líderes de torcida, ou se sumira justamente no dia em que decidiu prestar mais atenção em como ele estava.

De qualquer forma, não estava exatamente surpresa com o sumiço dele.

O psiquiatra havia recomendado um remédio que lhe ajudaria a regular o sono, começariam por isso e uma alimentação saudável, à medida que as consultas fossem avançando ele reavaliaria a necessidade de algum remédio para ansiedade e antidepressivos.

Bethany não estava gostando nada daquilo, mas seu pai fazia questão de que fizessem todas as refeições juntos. Nunca haviam sido de almoços em família, mas passaram a ser.

A única parte boa daquilo era que estava mesmo dormindo mais e se sentindo melhor; com o trabalho na biblioteca, não tinha muito tempo para ficar devaneando. Não se sentia tão cansada durante o dia, isso já era uma pequena vitória.

Havia se passado dois dias desde que começara o trabalho na biblioteca, tudo estava tão movimentado que nem tivera tempo de conversar com Amara sobre Thomas. Ela também não lhe procurara para perguntar, então achou melhor esperar por um momento mais calmo.

Esse momento só aconteceu no final da tarde, quando acabaram de guardar todos os livros devolvidos e organizar as estantes. Aproveitando o tempo livre e a biblioteca vazia, as duas se sentaram frente a frente numa mesa de estudos.

Não falou sobre Lilith, nem sua mãe, mas explicou sobre Thomas e repetiu as palavras de seu pai sobre as tentativas de salvá-lo.

— E então? O que você acha? — perguntou com curiosidade genuína, porque passara a confiar em Amara. Admirava todo o conhecimento dela, podia notar o porquê dela ser bibliotecária, já que sempre a via com algum livro sobre angeologia e demonologia na mão.

Ela e Aislinn eram muito parecidas, deviam ter a mesma idade. Era bom ter alguém que lhe lembrava de Aislinn no controle da biblioteca.

— Eu acho que deveria me afastar e deixar seu pai e seu tio resolverem isso — falou ela, suavizando a voz quando notou a aflição no olhar de Bethany. A menina se remexeu com desconforto, insatisfeita. Queria que Amara dissesse que resolveria aquilo, que tinha a resposta para salvar Thomas. — Ele era seu amigo?

— Não, estudou algumas matérias comigo e só, mas sempre o via pelo colégio — explicou, percebendo que Thomas estivera presente em quase toda a sua vida escolar. Nunca foram próximos e nem trocaram mais do que duas palavras, exceto pela festa em que o beijara e a discussão desastrosa no colégio. — Eu queria poder salvá-lo. Não é justo, Thomas tem a minha idade — confessou, sentindo as lágrimas emergindo nos olhos, os lábios tremendo ao pensar em Ally e Thomas.

— Eu sei que é difícil, Beth — concordou Amara, jogando os dreads para trás e lhe encarando com atenção. Tinham desenvolvido essa intimidade nos últimos dias, essa amizade um tanto hesitante, mas que se desenvolvia aos poucos. — Mas quer um conselho? Se proteja e cuide de si mesma — sugeriu ela com seriedade. Havia um lapso de preocupação nos olhos de Amara, encarando-lhe com uma empatia sincera. — Eu sei o que seu pai e seu tio estão fazendo, eu tentaria o mesmo. Mas já vi outros casos como o de Thomas, não há saída. Eu sei, eles sabem, Thomas não tem força suficiente para aguentar tudo isso. — As palavras pesaram dentro de Bethany, que se encolheu na cadeira. — Esteja preparada, saiba que é melhor do que ele ficar preso aqui, nesse turbilhão demoníaco — tranquilizou Amara. Bethany assentiu levemente, sem energia para discutir e insistir em uma resposta.

Olhou para baixo, observando o livro que Amara havia indicado. Pedira recomendações para ela enquanto arrumavam a seção de esoterismo, estava lendo aquele livro desde então. Passara da metade, já que estava sem o celular e lia até dormir.

— Você é humana, certo? Por isso as tatuagens — perguntou, baixando o olhar para os braços dela e tentando decifrar os símbolos na pele escura. Eram bonitos e angulosos, brilhantes até.

— Elas me deixam um pouquinho mais forte — explicou Amara, com um sorriso leve quando respondeu. — Mas tenho uma parte angelical bem pequena, então a exploro como posso — continuou. Bethany assentiu e baixou o olhar, a mente girando e girando com tudo o que havia acontecido nos últimos dias.

Fizera o que seu pai pedira. Não investigou o sumiço de Thomas, não se envolvera demais naquele drama sobrenatural, mas isso não fazia com que desaparecesse, porque o peso da realidade estava sempre ali, lhe sufocando.

— Ele vai morrer, não vai? — perguntou tão baixinho que a voz falhou, mas Amara ouvira, para sua surpresa.

— Não sei o que te dizer, Beth. — A hesitação na voz dela foi toda a resposta que precisava. Naquela noite, chorou até dormir e sonhou com Ally e o funeral de Thomas, nem mesmo os remédios lhe impediram de acordar num grito aterrorizado, mal conseguindo respirar.

Estava desorientada e aterrorizada quando olhou ao redor, procurando qualquer coisa familiar. O quarto estava escuro e assustador, sentiu o peito subir e descer numa respiração acelerada quando encolheu as pernas.

As mãos tremiam quando tentou alcançar o copo de água na mesinha de cabeceira, tremiam tanto que o vidro caiu e se espatifou no chão, fazendo um barulho alto na madrugada. Bethany observou a água se espalhar entre os cacos de vidro, aterrorizada demais para se levantar e acender a luz. Quais criaturas lhe esperavam no escuro? Quantas criaturas estariam embaixo de sua cama?

Cada silhueta escura parecia intimidadora, sentiu uma gota de suor frio escorrer pela lateral do rosto quando o corpo todo tremeu em um calafrio.

— Beth? — A porta se abriu, a luz do corredor inundou o quarto subitamente. Seu pai não precisou de muito tempo para entender o que estava acontecendo, ele acendeu a luz e Bethany se encolheu, sentindo a pele molhada com o suor frio, o peito subindo e descendo. O memorial de Ally, igualzinho ao que Thomas teria futuramente.

Seus pulmões ardiam, sufocava a cada vez que puxava o ar, como se sua garganta tivesse inchada. Se eu morrer jovem, enterrem-me em cetim.

— Está tudo bem — disse o loiro, e se aproximou da cama para tentar lhe ajudar. Bethany se debateu quando ele tentou a segurar, se encolhendo pra longe de seu toque, tudo girando num misto de confusão, medo e vontade de gritar. O sorriso de Thomas na festa, ele lhe chamando para ir até estacionamento. Demorou um pouco para que Liam conseguisse segurar seus braços, para que aceitasse a ajuda dele.

A faca afiada de uma vida curta, eu tive apenas o suficiente.

Liam lhe levou para a sala, sentiu-se zonza ao descer as escadarias, mas deixou que seu pai lhe ajeitasse no sofá e ligasse a televisão em algum programa do meio da madrugada. Não soube quando tempo demorou para a crise de pânico passar, mas ele ficou ali o tempo inteiro, buscou copos de água e segurou suas mãos trêmulas, conversando sobre assuntos leves para que pudesse focar em alguma outra coisa além do pânico.

Acabou adormecendo no sofá, com a televisão ligada e seu pai na poltrona ao lado. Já passava das cinco da manhã.

« ♡ »

— Beth? Você vai se atrasar — chamou uma voz, lhe chacoalhando levemente para lhe acordar. Bethany torceu o nariz, o pescoço todo dolorido por ter dormido encolhida no sofá. Nem mesmo o travesseiro e a coberta lhe deixavam mais confortável.

Olhou ao redor, percebendo que o sol entrava pela janela e a televisão estava desligada, apesar de o copo de vidro continuar em cima da mesinha de centro, totalmente vazio. Foi o copo que fez com que as memórias voltassem: um borrão de falta de ar, coração disparado e muito pânico.

Piscou lentamente, tentando se situar e ignorando a dor quando se sentou no sofá. Seu pai lhe encarava de forma preocupada, Bethany percebeu como ele parecia exausto depois da noite longa.

Queria chorar de novo, pedir desculpas por tudo aquilo, por fazê-lo passar por isso.

— Posso faltar hoje? Estou cansada — pediu, massageando o pescoço dolorido. Liam estava aflito, os olhos fixos em si e tão obscurecidos que a menina se surpreendeu com a preocupação dele.

— Noah já saiu, foi tomar café da manhã com Nicholas, e eu preciso ir para o hospital. Não quero que você fique sozinha.

— Você volta antes do almoço, certo? Provavelmente vou ficar dormindo até lá — insistiu, porque sabia que ir para a escola seria igual à outra crise de pânico no meio do pátio. Não queria arriscar dar de cara com Thomas, isso pioraria tudo.

— Beth... — começou Liam, nada convencido de seus argumentos. Bethany lembrava-se da face pálida com que ele lhe encarara na noite anterior, o quanto parecia assustado e preocupado quando se esquivou de sua ajuda.

Baixou o rosto, mal conseguindo encará-lo depois de tudo aquilo. Não queria preocupá-lo tanto, fazê-lo acordar no meio da noite para isso.

— Me desculpe por ontem — pediu, se encolhendo na coberta como se pudesse esconder sua frustração e constrangimento. Liam lhe encarava com compreensão, viu nele uma atenção cuidadosa que lhe deixou confortável.

— Por que está se desculpando?

— Por tudo, eu não queria incomodar — confessou em um sussurro.

— Beth, você nunca vai me incomodar — prometeu ele, com um sorriso reconfortante que aliviou a culpa que sentia. — Eu quero que você fique bem, se aquilo acontecer de novo, você pode me chamar a qualquer momento. — Bethany forçou um sorriso trêmulo, tentando acreditar nas palavras dele para se livrar dos sentimentos ruins borbulhando na mente.

— Obrigada — agradeceu por fim, abraçando-o. Suspirou levemente quando ele acariciou suas costas, sentindo aquele abraço familiar com gosto de infância, de quando corria para o colo dele como se estivesse protegida de tudo. Por fim, o loiro se levantou para terminar de se arrumar e Bethany continuou ali.

Quando Liam voltou para a sala e veio em sua direção, a menina mal pôde acreditar quando ele lhe esticou um pequeno aparelho. Olhou de seu pai para o celular, do celular para Liam novamente, desconfiada.

— Vai me devolver meu celular? — indagou, pegando o aparelho antes que ele mudasse de ideia. Seu pai revirou os olhos, mas tinha um sorriso fraco nos lábios, o que não era nada bom, porque aquele sorriso irônico lhe deixava com um pé atrás.

— Não se empolgue, é só para caso de emergência e quero de volta quando eu chegar — falou, e Bethany assentiu, percebendo que parecia bom demais para ser verdade. A pior parte era que estava cansada demais para mexer no celular agora, então provavelmente voltaria a dormir e quem sabe acordaria a tempo de checar as mensagens. — Fique em casa hoje, volto assim que puder — disse Liam, por fim. Bethany sorriu e agradeceu, enrolou-se na coberta enquanto ouvia o carro se afastar. Logo que ficou sozinha, subiu de volta para o quarto, para tentar dormir o resto da manhã no conforto de sua cama.

Não demorou muito para adormecer novamente, fechou os blecautes para que o quarto ficasse escuro, mas deixou a porta aberta por puro medo — depois de ver aquela criatura saindo de baixo de sua cama, nunca mais conseguiria dormir da mesma forma.

Acordou com um barulho vindo do banheiro, estava dormindo tão pesado que demorou um pouco para lembrar-se de que estava sozinha em casa e perceber a estranheza do barulho. Olhou para o despertador, percebendo que não se passavam das onze da manhã.

— Pai? — chamou alto, confusa. Ele ainda não deveria estar em casa, mas talvez alguma consulta tivesse sido cancelada de última hora e Liam tivesse voltado mais cedo. Nenhuma resposta. — Noah? — chamou, sentando-se lentamente e franzindo as sobrancelhas quando colocou os pés no chão.

Queria se trancar no quarto, se esconder entre os lençóis. Mais barulho no corredor, nenhuma resposta.

Automaticamente, olhou para as gavetas, percebendo que pareciam exatamente como havia as deixado. Isso era bom, ninguém havia mexido no rubi, mas precisaria encontrar um esconderijo melhor.

Deu um passo para frente e xingou baixinho quando cortou o pé num caco de vidro, porque ainda não havia limpado o copo quebrado. Aquilo foi o impulso que precisava para finalmente sair do quarto e descobrir o que estava acontecendo, porque os curativos estavam no banheiro.

Inspirando fundo, adentrou o corredor, deixando pequenas marcas de sangue com seus passos. Precisaria limpar tudo aquilo depois.

Ouviu mais um ruído vindo do banheiro, a respiração falhou quando parou abruptamente. Não tinha coragem para dar o último passo, mas inspirou fundo e avançou, torcendo até o último segundo para encontrar Noah ou seu pai.

Mas isso seria sorte demais, percebeu. Porque Noah estava na escola e seu pai tinha um banheiro no próprio quarto, raramente usava aquele.

— Como entrou aqui? — Bethany arregalou os olhos quando viu o menino na frente da pia, com um frasco de remédios na mão. Thomas estava pálido e esquelético demais, tudo nele parecia intimidador e errado, desde o tom de pele doentio até os olhos obscurecidos e vidrados.

Lembrava-se de que ele tinha olhos vívidos e brilhantes, mas o castanho claro fora obscurecido. A pele também era um contraste, porque ele passava muito tempo debaixo do sol no campo de futebol, lembrava-se de sua pele bronzeada, muito diferente desse tom pálido e doente.

— Tem certeza de que essa é a pergunta certa? — indagou ele, e os cabelos escuros caíram sobre os olhos quando Thomas sorriu. Bethany sentiu o estômago revirar, lembrando-se naquele momento de que deixara o celular no quarto.

Se ao menos conseguisse correr até lá e trancar a porta, talvez pudesse ligar para seu pai e então descobrir o que o rubi fazia, porque estava quase certa de que aquilo era uma arma e precisava descobrir como usá-la.

— A porta estava trancada — murmurou mais para si mesma do que para ele. Considerou a distância do corredor até seu quarto, as chances de conseguir chegar a tempo, mas se deu conta de que Thomas havia entrado na casa com todas as portas trancadas, a porta de seu quarto não seria desafio.

— E você acha que isso vai me impedir? — riu ele, então levantou o frasco de remédios e o levou aos lábios. Bethany arregalou os olhos, percebendo que aqueles eram os remédios que o psiquiatra receitara para a insônia, ele estava literalmente tomando trinta comprimidos de sonífero.

Percebeu tardiamente que Thomas segurava uma garrafa de plástico na outra mão, demorou dois segundos para reconhecer a garrafa de vodca que havia escondido embaixo de uma pilha de roupas no armário.

Olhou para a garrafa, horrorizada. O fato de que ele sabia de um esconderijo tão discreto e específico lhe causava calafrios.

— Como conseguiu isso? — indagou, ao mesmo tempo que ele girava a tampinha amarela. Bethany quase gritou quando Thomas levou o líquido até à boca, enjoada com o cheio de álcool que sentiu repentinamente. Ele bebeu como se fosse água, dando grandes goles na vodca pura. — Pare, você vai se matar! — gritou, avançando e tomando a garrafa da mão dele, derramando a vodca no chão. Sentiu a garganta queimando como se o álcool estivesse descendo por sua garganta também, tossiu forte a ponto de sentir os pulmões doloridos.

Thomas riu, lhe encarando com aqueles olhos aterrorizadores.

— Não, não vou — falou ele, e Bethany bateu contra a parede, observando o frasco vazio na mão do garoto. Tossiu mais algumas vezes, engasgada com algo invisível.

— Você precisa de uma ambulância, precisa de ajuda... — falou entre as crises de tosse, a garganta queimando. Era a mesma sensação que tinha quando bebia algo alcoólico rápido demais, queimava e queimava, os olhos lacrimejavam.

— Eu não preciso, já você... — retrucou Thomas, e Bethany arregalou os olhos. Foi só nesse momento que se virou de súbito, o mundo girou quando correu para fora do banheiro, para o corredor.

Tudo girou tão intensamente que teve dificuldade para se equilibrar, mas continuou correndo e correndo, os pulmões ardendo. Quando foi virar para entrar em seu quarto, a porta se fechou com uma batida forte, Bethany deu um pulo para trás e bateu contra a parede, assustada com o barulho.

Observou a porta fechada, em pânico.

— O que você fez? — sussurrou para Thomas, correndo para frente e tentando entrar no quarto. O trinco estava emperrado, não conseguia empurrá-lo para abrir a porta, e Thomas se aproveitou disso para se aproximar.

— Nada demais — falou o menino, dando de ombros com um sorriso perturbador.

Bethany sentiu o frio demoníaco tomar tudo ao seu redor, mas seu coração não disparou como sempre fazia. Estava estranhamente calmo e parado, mal conseguia sentir as batidas dentro do peito quando levou a mão até o pescoço. O colar deveria estar lhe protegendo daquilo, se tivesse o colar....

Percebeu, em pânico, que o pingente de pentagrama que Sara lhe dera não estava ali, mas isso não fazia sentido, porque passara a dormir com ele. Nunca o tirava, nem para tomar banho, porque não queria ficar desprotegida.

Deslizou a mão trêmula pelo pescoço, tentando encontrar o colar. Thomas ainda estava sorrindo, mas Bethany precisou piscar para enxergar melhor.

De repente, sua visão estava borrada e difusa, quase escura.

— Procurando por isso? — zombou ele, e Bethany viu quando ele tirou do bolso a corrente com pingente de pentagrama, envolvida por um lencinho para evitar contato direto. Arregalou os olhos, fervendo de ódio por vê-lo tocar algo tão pessoal seu.

Seu presente de aniversário. A última conexão com sua mãe.

— Me devolva! — gritou, e o grito lhe tirou o fôlego e ardeu nos pulmões. Ele recuou quando Bethany se lançou para frente, tentando pegar a corrente em um movimento súbito e enfurecido. O mundo girou numa forte vertigem, perdeu o equilíbrio e caiu de joelhos na frente de Thomas.

Piscou algumas vezes, tentando encontrar forças para se levantar, mas suas pernas não lhe obedeciam e as pálpebras pesavam. Bethany tremeu de frio, se encolhendo contra a porta de seu quarto e pensando que podia tentar se apoiar ali.

Tentou levantar o braço e puxar o trinco, mas a mão caiu ao seu lado, sem força alguma. Quando olhou para baixo, viu seus dedos envolvendo o frasco de soníferos, compreendendo tardiamente que Thomas nunca havia segurado aquilo e nem tomado os comprimidos — quem fizera isso era ela.

Quando levantou os olhos, com muito esforço para manter as pálpebras abertas, percebeu que estava sozinha no corredor.

« ♡ »

Noah estava acostumado a passar a aula de física trocando mensagens com Nicholas, era por isso que sentava em uma das últimas carteiras, assim podia ficar fora da vista da professora quando usasse o celular.

Observava o texto extenso no quadro e os alunos ao seu redor, também silenciosos e entediados. Ouviu alguns ruídos frustrados quando a professora terminou o texto e começou a distribuir atividades impressas.

Noah revirou os olhos e pegou a caneta para copiar, mas a tela do celular se acendeu com uma mensagem de Nicholas. Se distraiu enquanto o respondia, mal percebeu quando a professora parou em sua frente, as sobrancelhas erguidas.

— Noah, ou você guarda o celular, ou seus pais podem vir buscá-lo com o diretor — falou ela, e Noah apenas assentiu, jogando o aparelho dentro da bolsa. Começou a copiar o texto sobre o olhar atento da professora, mas não conseguia se concentrar.

Não havia reparado em como a sala estava fria até o momento, mas se encolheu e olhou para o ar-condicionado. Franziu as sobrancelhas quando percebeu que estava desligado, lembrando-se do sol ardente nos primeiros momentos da manhã.

Voltou a copiar e ignorou o frio, mas não conseguiu se concentrar.

Olhou para o relógio, copiando automaticamente enquanto via o ponteiro deslizar com lentidão. Algo parecia errado, muito errado. Quando voltou ao caderno, assustou-se ao perceber que não havia copiado o texto.

O nome de Bethany estava rabiscado várias vezes, torto e fora da linha porque não estava olhando quando escreveu. Franziu as sobrancelhas, subitamente alarmado. Queria mandar mensagem para Bethany, mas lembrou-se de que ela estava sem celular.

O mais assustador foi quando viu, em um canto da folha, o nome de Thomas rabiscado três vezes, numa letra minúscula.

Levantou a mão e pediu para ir ao banheiro, enfiando o próprio celular no bolso quando saiu da sala. Seu pai havia dito que Bethany não conseguiu dormir naquela noite, ela provavelmente ficara em casa para descansar. Precisava saber se estava tudo bem, principalmente porque aprendera a não subestimar sua intuição.

Correu entre os armários, os pés deslizando pelo piso cinza do corredor quando acelerou para chegar ao estacionamento. Antes de chegar lá, já tinha mandado uma mensagem para Nicholas pedindo para que lhe encontrasse ali, ao lado do carro dele. Exagerou dizendo que era uma emergência, mas isso fez com que ele não demorasse nem cinco minutos para chegar. Sentiu-se culpado ao ver a face tão preocupada dele quando se aproximou.

— O que aconteceu?

— Acho que tem algo errado com Beth, não a vi na escola hoje — explicou, mordendo o lábio com inquietação. A sensação de que havia acontecido alguma coisa com ela crescia cada vez mais, lhe desesperando. — Pode me levar para casa? Preciso ver se está tudo bem, ela ficou sozinha. — Nicholas assentiu no mesmo momento, destrancando as portas do carro e logo depois acelerando para fora da escola. Eram quase trinta minutos de caminhada, o carro diminuía isso para dez.

Pediu para Nicholas acelerar enquanto explicava tudo o que havia acontecido na aula de física, ele pareceu alarmado também.

— Tenta ligar para o seu pai, talvez ele saiba de alguma coisa — sugeriu Nicholas, e Noah achou uma boa ideia. A essa altura, tinha certeza de que alguma coisa estava errada e queria alertá-lo, também se lembrou dele falando que conseguia sentir quando alguém corria risco de morte, o que lhe provocou calafrios.

Procurou o contato dele na agenda, estava prestes a ligar quando ouviu uma buzina alta e os pneus do carro de Nicholas cantaram na estrada. Noah foi jogado para frente com uma freada brusca e ofegou, feliz por ter se lembrado de colocar o cinto de segurança.

— Nick, não vamos poder ajudar Beth se morrermos antes — reclamou, e Nicholas murmurou um pedido de desculpas enquanto olhava para frente. Levou o celular ao ouvido, os dedos se movendo de forma inquieta.

Não conseguia aliviar seu nervosismo, cada toque parecia demorar milênios. Ninguém atendeu e, em vez da voz de seu pai, escutou uma voz robótica.

— Ele não atende, o número está ocupado — falou de maneira frustrada, baixando o aparelho. Olhou para a rua, questionando-se com quem seu pai estaria falando no celular àquela hora da manhã.

Nicholas acelerou, estavam bem perto agora. Noah chamou o número mais uma vez, continuava ocupado. Revirou-se no banco do passageiro, inquieto.

Sentiu-se aliviado quando Nicholas dobrou a esquina de sua casa, mal deixou que ele estacionasse e saltou do veículo, o coração disparado sem saber o porquê. A cada segundo, ficava mais alarmado.

Tentou abrir a porta, mas estava trancada. Impaciente, pegou as chaves no bolso da calça e abriu. Nicholas lhe seguiu para dentro, tudo parecia absolutamente normal, nada que lhe alarmasse. As almofadas estavam bagunçadas como sempre, a televisão estava desligada e tudo estava quieto.

Nem aquilo conseguiu lhe acalmar.

— Beth? — chamou alto, para que ela conseguisse ouvir se estivesse no segundo andar. Nenhuma resposta, passou pela cozinha antes de subir as escadarias, percebendo que estava tudo vazio. — Beth, está aqui? — chamou mais uma vez, subindo as escadarias com Nicholas atrás.

Arregalou os olhos quando chegou ao corredor, paralisado ao ver a menina. Ela estava caída contra a porta do quarto, claramente inconsciente como se tivesse desmaiado ali mesmo.

Nicholas lhe empurrou e correu até Bethany, caindo de joelhos ao lado dela e pegando um frasco de plástico verde que havia caído no chão. Ele esticou para que Noah pudesse ver, então reconheceu o pote de soníferos vazios.

— Merda, ela tomou os remédios — disse, deixando o frasco cair e se voltando para Bethany. Ele a deitou no chão com cuidado, a chacoalhando pelos ombros e chamando-a pelo nome, tentando acordá-la.

Bethany parecia uma boneca de pano nos braços de Nicholas, chacoalhando em seus braços, mas sem acordar. Estava muito, muito pálida, os lábios estavam azulados de uma maneira que nunca vira.

— Não, não tomou — gaguejou Noah, sem conseguir se mexer enquanto observava a irmã. Nicholas media a pulsação dela, colocando os dedos no pescoço e a outra mão embaixo do nariz, tentando sentir sua respiração. — Foi Thomas.

— Quanto tempo seu pai leva para chegar aqui? — perguntou Nicholas, inclinando-se sobre Bethany com os braços esticados e os dedos entrelaçados, as mãos uma em cima da outra. Noah ficou surpreso quando ele começou a fazer uma massagem cardíaca nela, pressionando as mãos com força.

— Uns quinze minutos, se não tiver trânsito — murmurou, um tanto perdido. Nicholas mantinha um ritmo constante enquanto pressionava o peito da menina, colocando todo o peso do corpo nas mãos.

— Não temos tanto tempo, ela mal está respirando e vai parar antes disso — afirmou ele, sem parar a massagem cardíaca. Noah não conseguia parar de encarar os lábios azulados de Bethany, ouvindo o próprio coração pulsar nos ouvidos. — Tem outra pessoa para quem você possa ligar? Alguém que chegue aqui muito rápido? Temos no máximo dez minutos, talvez seja melhor uma ambulância — perguntou Nicholas, mas Noah não respondeu, distraído demais com a cena e encarando os dois. Nicholas continuava fazendo a massagem cardíaca, sempre no mesmo ritmo, como se estivesse contando os segundos. — Noah, me responda! — gritou ele, e Noah despertou. Nunca havia ouvido Nicholas gritar. Ele também tinha uma cara de desespero, percebeu, os olhos arregalados e sem saber onde fixava o olhar.

— Meu... meu tio — falou Noah, já pegando o celular. Rafael podia chegar ali em poucos minutos, levá-la para o hospital imediatamente. Se estava certo, ele podia se teleportar como seu pai fazia. Esquecera de mencionar isso para Nicholas.

Estava tentando encontrar o contato de seu tio, os dedos trêmulos e o celular escorregando, quando o viu subindo as escadas. Noah quase chorou de alívio quando viu Liam, ele estava tão apressado que provavelmente havia tido o mesmo pressentimento sobre Bethany.

Abriu espaço para que seu pai passasse, Nicholas se afastou enquanto o loiro a envolvia nos braços, pronto para levá-la dali.

— O que ela tomou? — perguntou ele, deitando a cabeça de Bethany contra o próprio peito. Nicholas inclinou-se para pegar o frasco de remédio e deu para ele. Noah percebeu, observando a porta aberta do banheiro, a garrafa de plástico caída e com um líquido transparente pingando.

Sabia bem que aquilo não era água.

— E acho que vodca também — acrescentou, apontando para a poça no banheiro, sentindo o cheiro de álcool.

— Ela ficou sem respirar por quanto tempo? — perguntou o loiro.

— Quase não respirava quando comecei a massagem cardíaca, dois minutos atrás — respondeu Nicholas, prontamente. Ele estava um tanto pálido e tinha os olhos arregalados ao observar Bethany.

— Rafael está a caminho, vocês vão para a casa dele. Permaneçam lá até que eu ligue, não fiquem sozinhos — disse seu pai, por fim. Noah não teve tempo nem de piscar, trocou olhares com Nicholas e no momento seguinte Liam e Bethany sumiram.

Nicholas apoiou-se contra a parede e fechou os olhos, deixando os braços caírem ao lado do corpo quando inspirou fundo. Parecia exausto.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro