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Eternamente Helena

 Foi assim.

Foi assim, que a minha vida começou, antes de terminar.

Eu não conseguia mexer minha perna esquerda, e ainda sentia dores fortes na cabeça. O choque tinha sido grande, e mesmo que eu tivesse tentado desviar, seria impossível conseguir evitar que aquilo acontecesse. Um carro na contramão, invadiu a faixa que eu estava, e o pior aconteceu. Olhei para Alice, minha esposa, e ela não se mexia. Virei a cabeça, para olhar minha filha que estava no banco traseiro, Angel, e ela... ela também não se mexia, ou esboçava qualquer movimento na cadeirinha, mas, o pior de tudo foi sentir que tinha perdido o sentido e o controle sobre tudo, e conforme o tempo foi passando, e eu apaguei.

Quando acordei, tudo o meu corpo doía, e uma dor de cabeça que mais parecia querer explodir meu crânio, e espalhar meu cérebro pela sala...branca? então não tinha sido um sonho? Levantei a cabeça com muita luta, e pude ver que eu estava no hospital, ao lado de outros pacientes. Depois disso, nunca mais fui o mesmo. Eu tinha perdido a minha mulher e a minha filha. Tudo isso, porque eu não consegui aceitar um bendito divórcio.

Dois anos depois, eu estava na cidade de são Miguel do Gostoso. Onde fica isso? Fica no Rio grande do Norte, a duas horas de Natal, capital do estado. Eu, Roberto Figueiredo, não suportava mais ficar na grande cidade de são Paulo, e ter que acordar todos os dias, sabendo que nunca mais seria o mesmo. Vendi tudo o que eu tinha, e que consegui trabalhando na bolsa de valores, e comprei uma pousada de frente para o mar. Tudo o que eu queria, era fugir. Fugir e começar uma vida longe das pessoas sabendo o que tinha acontecido... das pessoas sabendo, que eu não tinha uma das minhas pernas. Fora um castigo por ser um babaca. Um completo imbecil. Naquela cidade pequena, e paradisíaca, ninguém sabia da minha vida. Ninguém me conhecia. E isso, era muito bom.

A pousada ia muito bem, até a dona Quitéria, resolver se aposentar e me deixar na mão. Não poderia ser tão egoísta, a ponto de prender ela, por mais que ela gostasse da cozinha... ela já estava passando dos setenta, e é claro que tinha que descansar, só tinha medo de não encontrar alguém tão boa na cozinha quanto ela.

Depois de um mês... um mês procurando uma cozinheira, que conseguisse dar conta de uma pousada de apenas quinze unidades. Eu já estava arrancando os cabelos, até ela aparecer. Ela, a morena dos sonhos de qualquer homem...qualquer homem normal e inteiro. Com sua pele morena, cor de avelã, e seus cabelos pretos cacheados, ela me esperava na recepção para realizar uma entrevista. Quando ele virou-se, quase senti o meu coração parar. Seu sorriso era único. Um sorriso largo e sincero, que derreteu meu coração e fez a minha cabeça perder o rumo dos bons pensamentos. Ela usava um vestido verde claro simples e sem decote. Ele não revelava muito sobre o seu corpo, mas a sua alma foi exposta, quando aquele sorriso tomou conta da minha.

— Senhor Figueiredo, meu nome é Helena Cardoso — bastou ela abrir a boca, para eu cair aos seus pés, mas em segredo.

Helena trabalhou por um ano. Durante um ano, eu permaneci quieto e calado. Apenas admirando ela de longe, e respeitando. Em uma noite, depois de não conseguir dormir, resolvi sair para dar uma caminhada na praia. Em uma cidade como Gostoso, você nunca se preocuparia com qualquer tipo de abordagem violenta, apenas se deparava com o brilho da luz da lua, tomando conta da imensidão do mar.

Gritos.

Gritos, que fizeram meu coração acelerar. Eu conhecia aquela voz. Era Helena gritando, não era tão distante, mas eu sabia que era ela. Senti que era ela. A pouca luz não estava ajudando, e eu não poderia correr... correr não seria uma boa ideia. Não quando você usa uma prótese ultrapassada, e andar na areia fofa era um pouco complicado, mas ainda assim, me arrisquei, e parecia que Deus tinha me escutado. Mesmo optando por não correr, apenas andar mais rápido, vi que ela estava brigando com um cara alto, e forte. Não saberia dizer de onde surgiu aquela força, mas, foi a força que eu precisei para socar a cara daquele imbecil. 

— Você está... — não deu tempo perguntar. Ele já tinha levantado, e socado a minha cara. E eu? Eu cai, como um saco de batatas no chão. O mais difícil, foi ouvir ela gritando, pedindo por ajuda, enquanto eu, não conseguia levantar. Não quando tinha um babaca montado na minha cintura, socando o meu rosto, com fedor de sardinha e álcool.

— Nunca ouviu falar que, em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher...? — marido? Queria pensar em algo para revidar, porém, a minha cabeça estava sendo mais esmagada que carne moída.

Depois disso, não me lembro como foi que eu fui parar no meu quarto. Apenas lembro de já estar lá. Ainda era noite, ou era madrugada... Bom, de qualquer forma, só poderia ser um sonho. Tinha que ser um sonho, senti seu cheiro e sabia que ela estava sentada na beira da minha cama, quando abri os olhos um pouco a vi, me olhando aflita. Meu rosto doía, e uma forte dor de cabeça, e mesmo com tanta dor, abri meus olhos por completo, e lá estava ela, meu sonho de consumo. Morena de cabelos cacheados, e de sorriso encantador, que aos poucos estava sumido do seu rosto, deixando apenas a expressão de dor e preocupação.

— Me desculpe — ela pediu chorando silenciosamente — eu não sei o que dizer senhor Figueiredo....

— Você está bem? — minha voz saiu ansiosa e preocupada, e isso transpareceu em um semblante de surpresa.

— Eu vou entender, se o senhor quiser me demitir — do que ela estava falando? Eu jamais a demitiria por causa do incidente, que provavelmente não tinha sido por culpa dela.

— Helena, apenas me diga que ele não a machucou — tentei levantar a cabeça, e mover meu corpo, mas algo me impediu. Senti a falta de algo.... e meus olhos se arregalaram, quando olhei para fundo do quarto, e vi no canto da parede a minha "perna". Ninguém sabia. Durante todo esse tempo, ninguém tinha conhecimento da minha deficiência. E agora, a mulher por quem eu tinha me apaixonado secretamente, estava sentada na minha cama, e sabia do meu segredo. Que eu não era um homem completo. Eu senti o sangue sumir das minhas veias, e principalmente das minhas artérias.

— Se eu soubesse... — ela murmurou, entendendo a minha reação — ele só parou de bater em você quando... — deixou o restante das palavras suspensas no ar. Ela me olhava com o olhar de pena...? Eu não queria que ela me olhasse daquela forma.

— Responda — falei firme, tentando esconder a vergonha — ele a machucou?

— Não... — ela não poderia ficar ao meu lado, não quando me olhava daquela forma.

— Então, saia — pedi, mesmo querendo dizer "fique", fechando olhos com força — espere... — ela parou próximo a porta, ainda de costas para mim — quem ajudou você? — eu precisava saber quem mais sabia, além dela.

— Foram apenas dois pescadores — ela murmurou — e eles não viram a sua... — aquela pausa foi pior do que ter que escutar o fim da frase.

— E como...? — mesmo doendo, eu tinha que perguntar. Como ela tinha descoberto?

— Você estava molhado...e eu resolvi trocar a sua roupa — ela quase gaguejou, mas eu vi seus ombros caírem pela vergonha de ter que admitir aquilo. Então, por qual motivo o marido dela tinha parado de socar o meu rosto? Quando tornei a abrir a boca, nada saiu. Nada além de um suspiro pesado e sem qualquer tipo de reação. E ela se foi.

Domingo era o melhor dia da semana, para quem trabalha na hotelaria, ainda mais quando estávamos na auto estação, e completamente lotados. Eu sempre tinha que ajudar na recepção e ajudar no atendimento, dando boas-vindas aos hospedes, mas nunca tinha coragem de olhar nos olhos de Helena, mesmo que fosse apenas para repassar o cardápio, ou até mesmo perguntar se faltava algo. Ela sempre mantinha distância, e isso já era normal para mim, já que eu nunca tive nada além de uma paixão platônica – mas é obviou, que eu achava que era platônico – por ela, e completa admiração por sua beleza exótica. Eu sabia que ela, depois do que viu, nunca se apaixonaria por um homem como eu. Pedia todos os dias a Deus, para ela permanecer ali, e que todos os dias, eu pudesse admirar ainda mais aquela mulher. Meu coração queria sair pela boca, todas as vezes que escutava sua voz, doce...macia e firme.

Quando chegou a noite, eu tinha certeza que os funcionários da cozinha tinham ido embora, inclusive ela, e resolvi tomar uma boa cachaça. Aquelas cachaças que lembram o interior e família reunida nas brincadeiras de final de semana, que eu nunca tive a oportunidade de ter, já que passei tão pouco tempo com a minha...minha filha Angel, e mesmo com o pedido do divórcio da minha mulher Alice. Já estava no quinto copo, e a intensão de beber para passar o tempo, se fora completamente, e agora, eu bebia para afogar as magoas e tentar esquecer o que tinha acontecido. Mesmo depois de tanto tempo, as feridas não queriam sarar, e tendiam a querer permanecer abertas para me lembrar de tudo o que eu tinha perdido. Eu não estava bêbado... não o suficiente. Talvez, ficar bêbado fosse melhor. Talvez queimar tudo fosse ainda melhor... Sorri com a ideia de me juntar a minha filha Angel, enchi o copo e tomei todo o liquido de uma vez, sentindo o álcool queimar na minha garganta.

— Ao menos, ninguém vai se importar se eu morrer — enchi, novamente o copo e bebi tudo.

— Senhor Figueiredo? — aquela voz não me era estranha... Era Helena. Mas, o que ela fazia até tarde na pousada?

— Você não deveria estar na sua casa, senhora Cardoso? — a forma como saiu aquela pergunta, não deveria ser cheia de rancor e ciúme...? Sim, era o ciúme mais nítido que eu já senti, e não estava fazendo um pingo de esforço para disfarçar.

— Eu precisava falar com o senhor... — quando ela falou isso, senti que estava tudo perdido. Ela iria pedir demissão e ia embora da minha vida... e aquela vontade de me juntar a minha filha, sumiu.

Helena era o tipo de mulher que nunca mostrava ser aberta, ou melhor, ela nunca deu liberdade para qualquer homem, e eu já sabia o motivo. Ela era casada. Ela não precisava usar roupas provocantes para ser sensual, e nem mostrar partes do corpo para despertar o mais profundo desejo em possuir seu corpo.

— Ótimo — sorri nervoso pela situação, porém, pareceu mais uma cara retorcida quando tentei sorrir — agora você vai pedir demissão — coloquei outra dose no meu copo, tomando tudo de uma vez.

— Na verdade — ela andou até a minha direção, sentou em uma das cadeiras da mesa da cozinha e me encarou — era outra coisa. Bem, é muito complicado falar isso...

— Que foi, seu marido não quer que você venha mais trabalhar aqui? — o sarcasmo na minha voz, e a irritação, me fizeram soltar uma risadinha amarga.

— Ele não é o meu marido — seu tom saiu irritado — ex-marido, senhor Figueiredo — seria uma luz no final do túnel? Não. Eu não poderia pensar nela como um amante, e nem querer que ela me quisesse como um. O álcool pareceu sumir do meu organismo, e eu pude observar o quanto ela estava linda. Cabelos soltos, sem maquiagem, com aquela boca carnuda e aquele brilho nos olhos. Ela usava um dos seus habituais vestidos sem decote, e que apenas contornava seu corpo.

— Se não é pedir demissão, e nem por causa do seu marido...

— Ex-marido — me corrigiu irritada.

— Certo — respirei fundo, afastando o copo e a garrafa para o lado — o que você quer me falar?

— Bom — ela abaixou um pouco a cabeça, acho que ela tentava encontrar as palavras certas — primeiro, eu quero pedir desculpa pelo ocorrido naquela noite, e por... você sabe — aonde ela queria chegar com aquilo?

— Helena... — tentei começar a falar, mas ela me interrompeu, levantando a mão.

— Roberto — tinha sido a primeira vez, que eu tinha escutado ela me chamar pelo meu primeiro nome. E saiu de uma forma, que eu não poderia, e nem saberia explicar. Era como se ela me beijasse ou me desse carinho, e eu congelei — me deixe falar, antes que eu me arrependa e a coragem que eu tenho se vá — apenas assenti — faz um tempo que eu percebi, e eu precisava perguntar. Normalmente não sou do tipo que toma iniciativas — iniciativa? — mas, eu acho que já estava ficando insuportável sentir, e não saber se o que eu percebi, é verdade.

— Do que você está falando? — perguntei confuso.

— Apenas escute — ela respirou fundo e levantou a cabeça, me olhando por um bom tempo com aqueles olhos castanhos, quase negros — quando eu vi você pela primeira vez, nossa... — um sorriso apareceu no canto da sua boca — eu fiquei sem ar, e não foi possível ficar só em achar você bonito, eu tinha que me apaixonar por você... — aquilo estava mesmo acontecendo, ou os céus tinha me escutado, mesmo sendo impossível? Senti meus olhos se arregalarem com aquela revelação — eu não sei como não falei antes, mas eu sempre percebi que você me olhava, e na noite quando aconteceu o incidente, você falou meu nome desacordado... — e aquele sorriso de canto, se transformou em um largo sorriso, me fazendo perder o ar.

— Não — falei em pânico — você não pode estar apaixonada por mim. Não quando eu sou um homem incompleto.... — me levantei da cadeira, pronto para sair dali, e deixar ela sozinha, porém algo me impediu. Sua mão estava segurando a minha, e quando olhei para baixo, vi seus olhos marejados e suplicando — Helena... — respirei fundo, sentindo o cheiro do seu perfume — eu...

— Você não sente nada por mim? — como eu poderia negar, quando meu coração já a amava a cada dia, mesmo que de longe? O ar que estava preso em meus pulmões, aos poucos foi liberado.

— Eu também sinto o mesmo — confessei, completamente derrotado — mas, eu não sou o homem certo para você.

— Por que não?

— Helena, você sabe o porquê — balancei a cabeça, afastando a imagem dela me olhando, enquanto trocava minhas roupas.

— Isso não importa — ainda segurando minha mão, ela se levantou, e ficou bem próxima a mim — não quando sentimos o mesmo. Não quando eu digo que amo você — com a sua outra mão, ela acariciou meu rosto, e estava tão quente e macia — não quando eu sei que você também me ama.

— Helena.... — não precisei terminar de falar para poder sentir seus lábios tomando o meu por completo, e sua língua procurando a minha. Não tinha mais o que pensar. Ela me tinha por completo, e a única coisa que eu poderia fazer, era sucumbir aquela vontade de ter ela em meus braços, e me esquecer que o mundo existia. Quando dei por mim, minhas mãos já estavam na sua cintura, puxando para ela ficar mais próxima ao meu corpo. Suas mãos foram para os meus cabelos, e parecia que ela queria mais, enquanto puxava eles... pedia para que eu intensificasse o beijo. Não segurei a vontade de beijá-la ainda mais forte e com mais paixão, e pude ser retribuído com um leve gemido. Ela era tão doce... tão macia e tão perfeita, que não consegui resistir. A coloquei sentada sobre a mesa, e afastei suas pernas, me posicionando entre elas, continuando o beijo, naquela boca incrível e maravilhosa. Com uma das mãos segurando o seu cabelo, a outra passeou preguiçosamente sobre o seu pescoço, seios e barriga até chegar a barra do seu vestido, e subi-lo, me dando mais da sua pele macia e cheirosa. Conforme eu subia o tecido da saia do seu vestido, sentia que sua pele arrepiar com o meu toque, e ao chegar a sua calcinha, senti o quanto ela me queria. Sua intimidade estava completamente úmida, o que me fez ficar surpreso, e me afastar do beijo apenas para encará-la. 

— Você... está.... — não consegui terminar de falar, e ataquei a sua boca, com um beijo nenhum pouco delicado. Praticamente devorando-a por completo. Eu não precisei abrir o botão da calça e nem descer o zíper, porque ela já estava fazendo isso por mim, e quando senti sua mão envolver, subir e descer no meu membro, eu quase morri ali mesmo. Já tinha se passado tanto tempo... sem tocar um corpo de uma mulher, ou até mesmo me tocado pensado em uma. Eu não tinha porque ficar esperando mais. Massageando seu clitóris, e afastando a calcinha para o lado, enquanto ela continuava seu carinho, eu pedi. Foi um pedido silencioso, que ela entendeu assentindo e facilitando o inevitável. A sensação de entrar nela, e a preencher por completo, senti lagrimas escorreram pelo seu rosto, e um sorriso se espalhar, na sua boca, mesmo eu que ainda estivesse beijando ela.

— Te amo — ela murmurava contra minha boca, e mexendo o quadril, fazendo com que eu me perdesse ainda mais, e para minha surpresa, aquelas duas palavras também saíram da minha boca:

— Te amo Helena — e foi quando nós nos entregamos ao amor, com toda a força que existia.

Depois daquela noite, meus dias não foram mais os mesmos. Eu tinha Helena na minha vida, e aquele sentimento de culpa, por mais que não tivesse ido embora por completo, ela tinha amenizado mais a minha dor. Eu a pedi em casamento seis meses depois, e foi o casamento mais lindo que a cidade já presenciou. Helena de vestido cumprido de alças, azul claro e com coroa de margarinas no cabelo cacheado, e descalça na areia fofa da praia de Gostoso, vindo em direção altar, preparado para selar a nossa união.  A visão era perfeita, e eu não poderia quer mais nada na minha vida, e foi naquele altar, que ela me deu mais um presente. Minha morena de sorriso perfeito, estava gravida de dois meses. Tudo estava indo às mil maravilhas, e quando Pedro nasceu, eu passava a maior parte dos meus dias cantado pela pousada. Eu tinha trinta e oito anos, e Helena tinha vinte e sete, e estávamos muito felizes com a nossa vida. Isso transparecia no nosso relacionamento. Nunca brigávamos, e quando completamos um ano de casados, e achávamos que nada poderia estragar aquele momento, és que uma tempestade toma conta de nossas vidas.

Helena tinha um tipo de câncer raro, que depois de vários tratamentos e a quimioterapia, os médicos não deram um tempo de sobrevida, entretanto falaram que era melhor a levar para casa, para passar os últimos dias de sua vida ao lado das pessoas que a amavam. Eu não conseguia entender como Deus tinha sido tão cruel comigo. Não quando eu tinha a mulher perfeita ao meu lado, e tínhamos um fruto desse amor crescendo e quase quebrando toda a pousada, mesmo sendo tão pequeno. Eu orei. Orei por um milagre, para que ela voltasse a sorrir como antes, e aquecesse o coração de todos, e voltasse a fazer o que mais gostava, que era cozinhar para várias pessoas. Porém, com o passar do tempo, o meu pedido e minha suplicas não foram atendidas, e a cada dia, a minha Helena ia perdendo o brilho de seus lindos olhos castanhos, e a sua pele já não tinha mais aquela cor de avelã, mas, nem por isso eu deixei de ama-la. Nem quando o seu cabelo caiu, e ela teve que raspá-lo por causa dos medicamentos. Minha morena tinha se tornado uma guerreira. Ainda que tudo estivesse desabando, ela nunca perdia a vontade de viver. A cena mais marcante, foi ver ela com o nosso filho, Pedro, em seus braços, olhando o pôr do sol e cantando para ele dormir. Isso me deixava ainda mais revoltado com Deus, e sem fé. Fé? O que era aquilo, que ninguém poderia ver, ou tocar? Quem era Deus, para tirar de mim, um anjo que fez da minha vida, um mar de rosas? Deus... Tudo tinha sido culpa desse tal de Deus. Por que ele não deixava a minha Helena ao meu lado? Por que ele a queria para ele, ao invés de deixar ela feliz, ao meu lado? Tantos questionamentos, ainda assim, ela insistia em querer acreditar em um Deus, que queria que ela partisse.

— Meu amor — ela sorriu, mas aquele sorriso, eu sabia que ele tinha colocado toda a sua força nele — Deus sabe o que faz. Às vezes, ele escreve os nossos caminhos com as linhas um pouco tortas, mas no final, tudo dá certo. Não culpe Deus por isso. Se está acontecendo, é porque tem que acontecer, e nada pode mudar isso...

— Não é justo — resmunguei, sentindo o toque se sua mão em meu rosto — não quando você é um anjo.

— Anjos foram criados para ficar no céu, meu amor — doeu. Doeu saber que ela, mesmo sabendo que o câncer era terminal, já tinha se entregado a morte.

— Você não foi criada para ficar no céu — eu não poderia ficar irritado com ela. A culpa não era dela, a culpa era de Deus — você foi criada para ser minha Helena. Minha.

— Eu sei que você não se conforma com isso, mas, eu quero que cuide do nosso filho. E toda as vezes que olhar para ele, lembre-se que eu estou nele — isso me deixou ainda mais revoltado, e as lagrimas saíram ardendo dos meus olhos... quase como o fogo queimando a minha pele.

Eu estava em desgraça.

Perdido.

Sem rumo.

Depois de dois meses, ela partiu.

Helena me deixou, e deixou o nosso filho, e ainda assim, lutou bravamente por mais um pouco de felicidade. Ainda não aceitava a morte dela, e acho que nunca iria aceitar. No nosso quarto, dobrando as roupas dela... tocando em seus vestidos, e colocando-os em uma caixa para doação, junto com as outras roupas, uma carta caiu. Helena tinha me deixado uma carta, e apenas depois de ter me sentido menos desconfortável em tocar em seus objetos, tive a surpresa por ela ainda ter pensado em mim.

Fiquei parado por mais de meia hora, encarando a carta que estava no chão. Tentei por várias vezes, reunir as forças que precisava para abri-la e quando eu percebi que não tinha mais saída, a apanhei do chão. Helena sempre teve a letra bonita. Letras dignas de sua beleza. 

"Meu amor,

Eu sei que as coisas nem sempre são como planejamos, mas foi assim que Deus planejou o nosso encontro. Queria ter aproveitado mais o tempo que passamos juntos, ou até mesmo, ter encontrado você antes. Quero que você saiba, que foi e sempre será o amor da minha vida, e que esse pouco tempo que passamos juntos, serviu de aprendizagem, pois aprendi o que é ser amada plenamente por você. Aprendi que amar não é apenas receber, e também, se doar ao outro, de maneira integra e sem barreiras. Aprendi o verdadeiro sentido do amor, e o que esse sentimento pode trazer. Não posso reclamar a Deus pelo o que me aconteceu. Eu só posso agradecer, por ele ter colocado você no meu caminho. E Ele sabe que o amei, assim que os meus olhos encontraram os seus. O que posso dizer? Você me deixou sem ar, de tão lindo que é. Sou a mulher mais feliz do mundo, por ter encontrado um homem tão perfeito e amoroso. Um homem cuja a alma, é de luz e cativa a cada um que está ao seu redor. Feche os olhos, e me imagine beijando você, enquanto ler essa carta. Cuide do nosso filho, e lembre-se do pedido que lhe fiz. Todas as vezes que olhar para ele, saiba que nele também existe um pedaço de mim, e que isso foi a obra de Deus em nossas vidas, pois sem a permissão dele, nada do que passamos juntos, seria possível.

Te amo. Te amo mais do que posso suportar, e mesmo passando por esse momento triste, eu quero deixar aqui outro pedido: Siga a sua vida, e encontre outro amor. Minha missão na terra já está próxima do fim, e como você me chamou de anjo, eu digo que anjos foram criados para ficar no céu. Não se preocupe comigo, quando eu estiver lá em cima, vou guardar todos os seus sonhos, e cuidar do nosso filho. Você disse que eu tinha sido um anjo na sua vida, mas não lembrou-se de si mesmo. Você também é um anjo. Um anjo que precisa cuidar do nosso filho. Provavelmente, você demorou muito a encontrar essa carta, e passou um bom tempo avaliando se ela queimava a pele ou não, mas espero que leia, e entenda que chegou a minha hora de partir, e desculpa ter que te deixar.

Te amo, e siga a sua vida.

Sua e eterna Helena".

Fiquei olhando aquela carta por horas, e relendo inúmeras vezes, para ter certeza que ela tinha escrito aquelas palavras, depois, chorei por mais um mês. Eu estava um bagaço e me sentia cada vez longe de ter de volta aquela fé, e crer que Deus existia, mantendo os mesmos questionamentos. O pior foi ver a minha vida passar, e não ter acompanhado o crescimento do meu filho do jeito que ele merecia. Pedro já estava com dezoito anos, estava na faculdade, e cuidava dos negócios. Ele tinha herdado o talento da mãe para cozinha. Um rapaz bom, e com um caráter sem igual. Eu não era mais o mesmo, e não tinha encontrado outra mulher para minha vida. Não quando Helena ainda era dona do meu coração. Quando fiz sessenta anos, Pedro encontrou sua metade da laranja. Clara iria fazer ele muito feliz, e isso me deixou feliz também. O meu presente de aniversário, foi saber que eu seria avô de uma menina, que ele fez questão de chamar de Helena. Pedro nunca teve a oportunidade de conhecer a sua mãe. Não do jeito que era para ter sido.

Quando Helena nasceu, a emoção tomou conta de todos, e por incrível que pareça, Helena era a coisa mais linda que eu já tinha visto. Pele moreninha, olhos pequenos e castanhos... um sorriso fácil. Eu senti novamente a esperança, e tal de fé, se renovar dentro de mim. Mas, a minha alegria não poderia durar muito, ou poderia, já que o que aconteceu, não tinha como ser evitado. A emoção foi tamanha, que não suportei e enfartei. Pedro estava ao meu lado, no quarto do hospital, quando a dor forte fez com que ele se assustasse e saísse gritando como um louco...porém, já era tarde. E lá estava ela, ao meu lado, sorrindo.

— Pronto para se juntar a mim? — ela estava tão linda, que mesmo sentido a dor do me consumido, não pude deixar de sorrir.

— Meu amor — gemi com a dor mais forte, que atravessou o meu coração, como se estivesse o partindo em mil pedaços.

— Meu amor — ela disse com carinho.

— Pronto — fechei os olhos com força, tentando segurar a completa agonia — sempre estarei pronto para você.

— A Angel também veio buscar você — não segurei, quando vi a minha filha de sete anos, segurando a mão da mulher que me fez o homem mais feliz do mundo.

Não tentei resistir.

Me entreguei.

Depois de tudo o que eu passei, um pouco de paz, para uma alma cansada, e uma certeza:

Deus escreve certo, por linhas tortas.

Não sei pelo o que você passou, mas tenho a certeza que Deus tem um presente para você, mesmo que tudo pareça difícil. Saiba, que ele sabe de tudo, e sabe o que é bom para o seu coração. Ele soube o desejo do meu coração, então, se ele sabe o desejo do coração de todos, não se preocupe, ele sabe o que faz.

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