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Capítulo V


[CAPITULO V]

[Aviso de gatilho. Tortura, perseguição.]

NOVECENTOS E DEZ ANOS ANTES DA NOITE

Há poucos dias, um novo ciclo de luas foi deixado para trás. E com esse ciclo, se esvaia também uma brisa fria, carregando consigo o último dos ventos de inverno, cálido e veloz a sumir entre os vales, extinguindo a suave luz do amanhecer.

Ainda não se podia dizer que era primavera.

Nem mesmo todo o aroma floral e o chilrear de vida que voltava a ser audível puderam mascarar as temperaturas baixas, ou a fina camada de geada que cobria as folhas recém nascidas nas copas das árvores. O cheiro de plantas em putrefação se misturava ao cheiro de tempestade e neve, quase completamente derretida. O clima era congelante, mas A Mulher não se importava. O frio a ajudava a mascarar sua presença.

Vestia sobre o corpo esguio de músculos fortes, um vestido de veludo quente, com o interior forrado por duas camadas de tecido branco, feito para a proteger das baixas temperaturas. Nos pés, botas de couro altas e reforçadas transpunham sem grandes dificuldades a terra congelada, mal sentindo o terreno escorregadio. A Mulher usava uma capa preta de fundo vermelho, colada na pele e o capuz largo ocultava o rosto, os cabelos de um loiro muito claro presos de forma firme em uma trança.

Há pouco mais de dois dias, ela encontrou um pequeno vilarejo de povo pobre, fazendeiros e criadores de um pequeno rebanho de cabras, prostrados à volta do imenso mar continental. Lá, pediu auxílio a um casal de idosos gentis, alegando estar perdida na floresta congelante há dias e faminta. Suas vestes e a beleza sobrenatural induziam o humilde casal a pensar que era, no mínimo, filha de um nobre e a acolheram de bom grado em sua cabana de pedra e madeira velha, dando leite, pão fresco e uma cama de palha para ocupar até o amanhecer.

Ela acabou por descobrir que chegou em um momento oportuno.

Na noite de sua breve estadia, uma grande festa correu pelas ruelas de terra batida, dedicada à Deusa de Três Rostos. O povo cantava e dançava, a fim de celebrar o início da estação de plantio e o nascimento de um novo cabrito, inundando a floresta com o som de cânticos e preces celtas, tão antigos quanto o próprio tempo. Ali, se sentou nas rodas de conversa junto às mulheres mais jovens, que ora exaltavam o imenso poder da natureza, ora gritavam às estrelas suas orações, ora sucumbiam à capacidade humana de ouvir e recontar histórias, as sussurrando como um segredo proibido. Foi ali, entre resquícios de cultura de seu povo, que escutou uma notícia perturbadora.

Uma expedição de ordem religiosa católica peregrinava em direção à Jerusalém, a fim de reivindicar a cidade. A revelação foi trazida pelo filho mais velho da parteira local, que viajava constantemente para trazer tecidos para que as moças da aldeia fiassem. Acabou por topar com uma caravana de nobres e soldados, que seguiam a cavalo pela rota principal entre os mares, centenas de homens a perder de vista.

A notícia era pouco importante àquele povo, tratada apenas com grande curiosidade e logo em seguida esquecida, mas foi valiosa para ela como ouro. Expedições como aquela traziam perigos e empecilhos dos quais não perderia tempo em enfrentar. A festa adentrou a noite, esticada a cada novo cântico e carneiro assado.

Na manhã seguinte, o clima festivo foi substituído pela aura fúnebre e amedrontada, quando o corpo estripado de um homem foi encontrado às margens d'água por sua esposa. Não havia nem mesmo uma gota de sangue ao redor. A morte fora tratada como um aviso divino da Deusa, demonstrando insatisfação com o vilarejo e suas comemorações, mas A Mulher não teve interesse em saber qual fim o burburinho levou.

A floresta começava a gotejar baixinho, provocando um ruído constante e um tanto incômodo. Já era açoitada pelo som do vento, pelo esmagar de terra sob seus pés e pelo quebrar do gelo... Os pelos de seu corpo arrepiavam, não pelo frio, mas pelas reações à flor da pele, desde o mais ínfimo som à maior das explosões.

As horas correram junto aos passos apressados d'A Mulher, que transpunha a floresta com agilidade. Ela tinha consciência de que estava em uma região arriscada, caminhava em um campo minado, perigoso aos seres de sua raça.

Sua existência seria complicada se fosse descoberta.

Deveria permanecer morta.

Ao menos por enquanto.

Se aproximava da Constantinopla, contornando a massa de água negra e salobra em direção ao estreito que a levaria ao oriente. Avançou quase um terço do caminho em horas, mais lenta do que gostaria. A situação era pouco favorável e deveria ter cuidado ao transpor uma cidade tão grande.

Ao longe, ela pode escutar um trote rápido e ritmado de dezenas de cavalos, usando a rota que deveria seguir. Transpunham o caminho afoitos. Pouco se importavam com discrição ou cautela, prepotentes. Monitorou o ruído durante todo o trajeto, martelando nas têmporas. Ela esquadrinhou o terreno, visando o leste, buscando rostos ou cheiros humanos, o mais ínfimo ruído de passos.

Apesar d'A Mulher apreciar o pseudo-silêncio proporcionado pela floresta, seus instintos afirmavam a todo instante que havia perigo iminente. Podia escutar o burburinho de passos, caminhando em uma trilha a pouco menos de um quilômetro, o relinchar e o trote de cavalos.

Subitamente, seu corpo estagnou e a respiração se tornou imperceptível. Posicionada a favor do vento, ela esperou, carregando seu cheiro em direção ao mar.

Passos ecoaram como fogos de artifício, rasgando a neve.

Três homens ao menos, todos adultos. Relativamente próximos, ainda que não fosse possível vê-los entre a mata. As árvores se abriam, o horizonte visível aos seus sentidos ampliados, porém, arbustos e troncos grossos impediam que entendesse ao certo onde os três estavam. Não conseguia sentir seus cheiros contra o vento.

— Não há muito o que ser feito ou dito ao Cardeal... Nossos homens passam fome, porém a igreja não doará um pão que seja. — As palavras foram carregadas pela brisa até ela, uma voz grave. Junto, veio o cheiro de sangue e carne, comum aos humanos.

— Tem razão, mas é certo que entende as dificuldades que o fim do inverno nos traz. — O tom lascivo de outro homem preencheu o ar, carregando o odor de seu dono.

Cada centímetro do corpo d'A Mulher se arrepiou e o sangue pareceu correr mais devagar. Ela não se demorou sobre o chão, escalou com maestria a árvore mais próxima, agarrando o tronco cheio de lascas sem muito cuidado e sentou sobre os galhos mais fortes da copa, oculta pela folhagem jovem, ajeitando o capuz.

Conhecia aquele cheiro, as feições do homem que fedia a metal...

— A floresta está faminta, o pouco de alimento que vemos se torna um tesouro. Encontraremos lebres na caçada, se Deus estiver conosco, até mesmo um cervo ou uma ave. — Disse o humano.

— Ele estará meu bom homem, tenho certeza. — O terceiro viajante se introduziu na conversa, resmungando com ares de brincalhão.

Ela trincou o maxilar ao constatar que dois deles não eram humanos, mas não conhecia a identidade do segundo imortal. O som do piar de um pássaro silenciou os três por um breve momento. Ainda apoiada sobre galhos, espichou o pescoço a fim de ver com quem lidaria, com cuidado para não provocar sons na folhagem. O humano tinha a pele queimada e vestes simples de couro, características de um homem pobre de ofício. Levava um arco desgastado e uma aljava de flechas quase vazia. Ostentava um olhar humilde e uma longa barba revolta.

O imortal desconhecido vestia uma espécie de chapéu de abas largas, um tanto cômico, para se proteger do Sol. Era dono de um sorriso sádico e de uma voz melodiosa e galanteadora, o rosto anguloso e de beleza sobrenatural. Possuía uma larga mancha mais escura em seu pescoço, uma provável queimadura. Para um recém transformado, caminhar à pura luz do meio dia estava sendo um desafio.

O outro imortal ela sabia o nome. Estefano. Reencontrar a pele fina como papel, carregada com as rugas imutáveis a décadas, fora algo desconcertante. O corpo tremeu involuntariamente à visão dos olhos verdes, pálidos e do tique nervoso que o fazia erguer uma de suas sobrancelhas sem perceber. Um velho conhecido de outras vidas. Como o outro, usava camisa e calças compridas.

— Não devemos nos distanciar muito da caravana, está bom por aqui, não esperarão que voltemos. — O humano disse, suspirando.

Os dois imortais se entreolharam. Ela não pôde evitar prender a respiração, ignorando o ímpeto de engolir em seco, observando a pouco mais de duzentos pés, com curiosidade nada fingida. Não sentia sede, ao menos não a vontade incapacitante de sangue, mas sua Escuridão a inundou de expectativa e A Mulher se permitiu sorrir, cruel e dedicar à Mastar cada gota de sangue do pobre caçador.

O ataque de um imortal é como uma dança de lascívia.

Os imortais rodearam o homem como feras, o olhar fixo na presa, sorridentes como hienas. O corpo do humano arrepiou, suas feições se transformando em uma careta amedrontada e algo, no fundo de sua consciência o incitou a correr como se sua vida dependesse daquilo. Uma atitude pouco efetiva, mas instintiva. Estefano cruzou as mãos atrás das costas e seu companheiro riu. Os dois bloquearam trilhas entre a mata. O vento se tornou mais revolto, gélido.

— Qual a graça? — O caçador indagou, em voz baixa. Seu primeiro ímpeto foi levar a mão até o arco, sentir a segurança da madeira.

Estefano mostrou os dentes. A sede já transformava sua face, trazendo as presas alvas, o brilho de crueldade sobrenatural no olhar. O imortal era um Cão de Caça, um tipo de imortal comum, um soldado leal ao seu Conde, implacável, sua postura era um aviso silencioso do perigo. A Mulher pode ouvir o sangue nas veias do humano correr mais rápido, recebendo a descarga de adrenalina que não o salvaria.

O medo o tornaria uma presa ainda mais interessante.

O terceiro homem se adiantou. Apenas dois passos, tranquilo, quando o caçador, na tentativa débil de escapar, tropeçou no chão escorregadio, caindo com as costas na terra. As presas do desconhecido também estavam à mostra, mas diferente de Estefano, as unhas acompanharam seu sorriso, garras compridas e afiadas, preparadas para dilacerar pele, osso e tendão.

O homem era como ela.

Rippija. Um estripador.

O cheiro pungente de sangue fresco poluiu a floresta, manchando a terra e a neve de vermelho. Um ataque indiscreto, não era o estilo d'A Mulher. Presas mal incapacitadas gritam, choram, chamando a atenção de quem estivesse próximo o suficiente. O desconhecido rasgou o tendão que levava sangue ao cérebro do caçador em seu primeiro cravar de presas, a cachoeira de líquido derramada em sua garganta. O humano sentiu apenas a dor do golpe, um ato de misericórdia carregado de sadismo, mas louvável, que não foi bem recebido por Estefano.

O Cão de caça rasgou os tendões do corpo humano, utilizando, ora as presas afiadas, ora as próprias mãos, aproveitando o sangue com olhar maníaco de êxtase. A perda de tanto alimento para a neve provocou um formigar incômodo sobre a pele dela, outro murmurar da natureza imortal que ignorou. O Rippija cortou o homem, desenhando calmamente as linhas angulosas e devagar, sugando fio por fio de sangue, até que a pele e a carne estivessem completamente destroçadas, sem uma gota do líquido rubro.

Um imortal sedento, sem se alimentar a semanas e prestes a sucumbir à Escuridão, se torna puramente visceral e ao encontrar uma fonte de sangue humano, não permite de forma alguma que a presa escape. O vampiro entra em êxtase até que esteja saciado. É o momento de maior vulnerabilidade de um imortal. A ferocidade com que Estefano sorvia o caçador confirmava que já não percebia o que estava ao redor. Mesmo que não tenha atingido o limiar entre a consciência e a sede, a guarda de um Filho da Noite sempre caía durante um ataque.

A Mulher, devagar, fincou as unhas no galho em que se apoiava. A capa continuava sobre o rosto, o vestido colado ao corpo de forma a deixar seu corpo menor do que era. Pela visão periférica, traçou uma rota entre as árvores, intoxicada com o fedor humano. Não tinham outros como ela, além de Estefano e do desconhecido. Estava na hora.

Ela tencionou todos os músculos, a respiração presa no fundo de sua garganta. O Rippija esfaqueou a perna do caçador, arrancada com um solavanco, esmigalhando a pele, a carne, os ossos. Obrigou seu corpo a levantar sem produzir ruídos, se apoiando de cócoras na árvore. Começou a contar, a cabeça apoiada no tronco cheio de líquens.

Mas então, a direção do vento mudou.

O homem desconhecido ergueu o pescoço tão rápido que poderia tê-lo quebrado. A mulher trincou o maxilar, ainda imóvel. Ele buscou o dono daquele cheiro pungente de castanhas e frio, fungando o ar. Seu rosto mantinha a expressão feroz, os dentes e as unhas à mostra. O interior dos lábios estava avermelhado. Estefano, como ela imaginava, não se abalou, a atenção fixa no caçador desmembrado.

A Mulher permitiu que seus lábios se repuxassem, deixando todos os dentes à mostra, assim que o olhar do Rippija se encontrou com o dela, oculto com exceção de um leve brilho, pela capa escura. As íris do homem se arregalaram, mas ela não ficou para ver que cor tinham.

Seu corpo gritava de cansaço, implorava para que parasse. Saltando entre copas de árvores, pisando sobre a terra com o mínimo de ruído possível, ainda acompanhada pelos cheiros de seres como ela, não podia parar. Não permitiria que fosse revelada.

A noite cairia em poucos minutos. O horizonte já se encontrava banhado em tons de laranja e amarelo que pintavam as nuvens. O frio do fim de inverno voltou a arrepiar o corpo, aquecido pela perseguição, a deixando com os músculos duros e dentes trincados.

A decida íngreme de uma encosta pouco arborizada virou um desafio para a mente e corpo exaustos dela. Seus pés derrapavam, arrancando gramas do chão úmido, o corpo inclinado demais para manter o equilíbrio. Era difícil continuar de pé, pouco a pouco ganhando velocidade. Saltou, em busca de restabelecer o ritmo normal, ficando alguns longos segundos no ar. Mas ao encontrar o chão de novo, não foi a sola de sua bota que tocou a grama, mas o lado encouraçado, a fazendo perder completamente o equilíbrio.

Seu ombro suportou a queda brusca, recebendo o baque inicial que poderia quebrar facilmente qualquer osso humano. Ela rolou encosta abaixo, abraçando as próprias pernas e parou apenas quando as costas encontraram o tronco firme de uma grande árvore. Não pôde evitar que um gemido de dor escapasse da garganta.

Ela apoiou as mãos espalmadas sobre o tronco e levantou, sem fôlego. A pele estava arranhada, dolorida ao roçar contra o veludo do vestido e as mãos vermelhas de esforço. O capuz foi arrancado pela queda, o vento chacoalhou seus cabelos e ela suspirou.

Não tinha mais como escapar.

Os dois imortais pararam próximos a ela, os queixos erguidos de forma idêntica, prepotente. A expressão de Estefano parecia iluminada. Ele arrumou a manga da camisa, pigarreando:

— Você deveria estar morta.

— Sempre um ótimo observador... — Debochou ela, rindo. Estefano retribuiu o gesto, jogando o pescoço para trás.

O desconhecido deu um passo à frente, com ar de curiosidade. Ele sorriu com malícia, galanteador, as mãos cruzadas atrás do corpo esbelto e forte, inclinado como se quisesse vê-la melhor.

— Quem é ela? — Indagou.

— Uma pessoa que não deveria mais caminhar sobre a terra. — Estefano respondeu.

— Quando se tornou um papagaio Estefano? O Conde o recrutou para a pirataria? — Zombou ela.

— Tome cuidado com o que diz, senhorita, parece não ter noção de com quem está lidando. — O desconhecido a encarou com seriedade, a voz grave na tentativa de a intimidar. Chegava a ser cômico.

Tentariam a apagar da história de seu povo.

Que assim fosse. O mundo voltaria a ouvir seu nome.

De soslaio, reparou satisfeita que o corpo de Estefano enrijeceu ao simples caminhar dela, sua face foi tomada por uma sombra rara de pavor. A noite finalmente caiu e o murmúrio das folhas a convidou a brindar, piscando os olhos na escuridão.

Seu corpo já não doía mais.

— Meu caro, devo dizer que se tem alguém que não faz ideia de com quem está lidando, esse alguém é você.

A natureza resmungou em resposta. O silêncio completo e absoluto da floresta trouxe o indício de poder bruto, antigo, que A Mulher chamava de seu, reivindicava aos quatro ventos. Não precisava de mais do que isto. Umedeceu os lábios, a capa chacoalhando junto à brisa. Suas presas brilharam, tilintando à luz da Lua. Há muito não sentia o formigar das unhas crescendo, lâminas afiadas raspando contra o chão, pela pele.

Haviam poucos como ela, apesar da constante crescente de seres que se alimentavam de sangue humano. Rippija, estripadores. Destrutivos, inteligentes, mortais até mesmo entre os Filhos da Noite, generais natos em qualquer batalha.

Ladrões da mais pura Escuridão.

Mas ela era tão velha quanto o início de sua raça.

E tão poderosa quanto a própria natureza, naquele dia sua mestra.

Foi necessário apenas que o olhar dos dois imortais encontrasse com o dela, para que a encosta estivesse pintada de um vermelho muito escuro. O corpo d'A Mulher se moveu junto às sombras, acompanhando o vento. Golpeou primeiro o desconhecido, as pernas adquirindo uma força sobre humana ao chutar, o suficiente para que fosse lançado morro acima, sem grande resistência.

Estefano e ela entraram em combate corpo a corpo, um embate que não durou um minuto inteiro. O homem tinha treinamento e força, ao contrário de seu companheiro, desferindo socos bem direcionados, uma vez no ombro, outra no estômago, provocando hematomas. Parecia enfurecido, mas a maioria dos golpes não atingiram o alvo, que se esquivava com maestria.

Ela segurou a cabeça do Cão de Caça, as longas garras arrancando sangue de seu pescoço e puxou para o joelho, o golpe o atingindo com tamanha violência que ouviu os ossos de seu nariz e maxilar rachando. O líquido viscoso espirrou com a pressão e a mulher saltou, usando o corpo de Estefano como ponto de impulso, girando no ar com as mãos ainda fixas no crânio do imortal e pousando às suas costas. Tão rápido quanto saltou, rasgou as omoplatas do homem, cortando pele, osso e tendão. Ele caiu de bruços na terra já embebida de rubro e A Mulher não hesitou em o chutar, quebrando o que restava das costelas. Virou o corpo com a ponta da bota, encarando os olhos sem vida que mediam o céu estrelado e rasgou seu estômago, picotando a pele e as tripas.

O outro imortal não viveu tempo suficiente para lamentar a morte do companheiro.

O Rippija surgiu pelos céus em um salto que se assemelhava muito a um voo. Sua expressão parecia uma careta de ódio puro, os músculos tão retesados que saltavam por baixo do tecido. Chegou com violência, mas ela se esquivou sem pressa e o homem fincou metade do comprimento das garras no chão. Não houve tempo para que se recuperasse, antes d'A Mulher rasgar seu corpo ao meio na altura do peito, roubando a vida e o ódio que faiscava em suas íris. Ele pendeu para o chão, caindo ao lado do corpo inerte de Estefano. Ela partiu suas unhas e o estripou também, deixando a mancha de sangue na grama ainda mais larga.

Eles voltariam ao início do ciclo. A natureza aceitaria seu presente.

Voltou o olhar para as estrelas por um momento, dedicando uma oração silenciosa a Mastar e outra prece à Deusa. Mesmo em guerras, imortais que pereciam tinham direito a um funeral, que os devolveria da forma certa ao início do ciclo. Estefano e o outro não receberiam nada disso, seus corpos seriam esquecidos e engolidos pela terra, serviriam de base para novas vidas. Mereciam ao menos uma prece.

A mulher suspirou, limpando as últimas gotículas do sangue que espirrou em seu rosto. Sem grandes lamentos, caminhou encosta abaixo em direção a mata e desapareceu na escuridão da noite.


.


A quarta noite desde que encontrou seu primeiro destino acabava.

Ela se pôs de pé antes do amanhecer, sentada no solo alaranjado e quente, inerte. As mãos tocaram com cuidado a terra, sentindo a areia entre os dedos, sob o solado das botas. Tirou a capa, a deixando embolada ao lado. Mirava o vale campestre, de montanhas compostas por pedras amareladas, onde pequenos arbustos de aparência seca e verde queimado surgiam. A paisagem de pedregulhos foi afiada pelo vento, pela água e pelo calor, durante centenas de milhares de anos, feitas para cortar pele e carne dos aventureiros. O Sol se erguia por entre os montes, calmo e sereno, guiando o cantar das aves, em meio àquela imensidão de vida e ao azul celeste noturno.

A beleza do horizonte atraia até mesmo os olhares que já percorreram inúmeras paisagens pelo globo.

Não demoraria muito para que os primeiros raios de luz da manhã a alcançassem, caminhando como andarilhos que sabiam aonde ir. Faltava muito pouco, seu coração ribombava descompassado, bombeando sangue e ruborizando o rosto pálido.

Então ela soube. Sentiu, sob a pele, chacoalhando os cabelos, entranhada entre os ossos, buscando saídas e abrindo caminhos. A última brisa de inverno, congelante, varrendo cada rocha, árvore ou animal. Levando consigo, o frio e a neve.

Se inclinou e buscou em sua capa, desenrolando descuidadamente uma pequena pinça de prata e um frasco arredondado, lacrado com uma rolha de cortiça. Com a ponta dos dedos, segurou a pinça firme e colheu rapidamente de uma urtiga verde brilhante, quatro folhas, uma para cada estação passada. Uma Sonho da Manhã, colhida após a última brisa de inverno, sob a primeira luz da verdadeira primavera.

A Mulher guardou o frasco — onde agora via as quatro folhas entrelaçadas, reluzindo de forma quase imperceptível — em um bolso interno e largo da capa. Se permitiu então, soltar um suspiro de satisfação, endireitando a postura, preocupada com o tempo, com o perigo que as estações quentes representavam, a impedindo de esconder seu cheiro com o frio do mundo.

Ela levantou o queixo anguloso e usou a mão fina e comprida para afastar alguns fios revoltos do cabelo loiro. Por fim, ergueu o corpo alto, ouvindo os músculos reclamarem pelos dias e noites sem descanso.

Por um momento, antes de virar e seguir em direção ao próximo destino, ao próximo ingrediente da revolução que iniciava, permitiu que seu olhar esquadrinhasse uma última vez o vale, sentindo o cheiro de um novo início para a vida, mirando o horizonte.

Olhos de um castanho profundo, manchados de azul.


[NOTAS]

 Oiee mis milhos pra pipoca! Tudo bom com vocês, espero que sim!

Antes de qualquer coisa, devo desejar um Feliz Natal a todes es leitories que comemoram esse feriado com a família e amigos, ou apenas sozinhes em casa com a fé e os costumes de cada ume! Queria pedir algo para vocês também! Se você for adepte de qualquer religião que não a cristã (apesar de não ter uma religião, é a que os costumes estão mais próximos de mim), peço que me conte alguns feriados importantes, como o Natal é, para que possa comemorar também! Agradeceria bastante, de verdade!

Falando agora sobre esse capítulo MARAVIGOLD! kakakakak Não nego que estou muito feliz com o que consegui fazer nele, principalmente, porquê, oia quem voltooouuu, Dona Mulher, com maiúscula mesmo, já que por enquanto é o nome dela kakakkaka Ou talvez Marion... Mas quem ela realmente é continua um mistério! Acho que nesse momento, conseguiram ver um pouquinho mais sobre realmente o meio dos imortais e devolver uns detalhes do prólogo, que foi o primeiro da narrativa não linear que quero trazer para A Mulher! Então, temos mais personagens surgindo (mesmo que eles tenham tido uma passagem rápida...) e mais coisas que eles adicionam! Deixem suas opiniões e teorias nos comentários e não se esqueçam de dar aquela estrelinha linda que me ajuda demaaais, muito mesmo!

Até domingo!!

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