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Capítulo IV

[CAPITULO IV]

Aviso de hot leve!

Sentada em uma cadeira de estofado preto um pouco dura, com um enfermeiro bem humorado segurando uma agulha contra sua veia enquanto contava piadinhas sem graça, Lethicia percebeu que era a primeira vez que estava em um hospital sem a mãe ao lado.

Pensou que na primeira vez que acontecesse, ela se sentiria um pouco mais adulta. Mas, na verdade, Leth apenas encarava um vazio largo e obscuro no fundo da alma, tentando seguir com sua vida.

Os minutos coletando amostras para o teste de gravidez passaram rápido, mas a enfermeira carrancuda trouxe os resultados dos exames só depois de uma longa meia hora de espera no saguão. Leth passou o olhar pelos papéis. Pelo que entendia, sua saúde estava em dia. O beta HCG, segundo sua ginecologista, também deu negativo.

Carregando os envelopes entre os dedos, a textura do papel raspando em sua pele, a moça atravessou os corredores do hospital particular, em direção à pequena cafeteria do prédio. O plano de saúde era caro, cobria todo o tipo de consultas e vinha muito a calhar em ocasiões em que precisava de resultados rápidos.

Lethicia sentou em uma mesa redonda para dois, mastigando um salgado. Tomou um gole comprido do expresso, enquanto observava os carros passando pela avenida apinhada de transeuntes. Assim que o gosto amargo desapareceu dos lábios, desbloqueou o celular, digitando o telefone pessoal do escritório de Joana.

Chamou e chamou até cair na caixa postal. Ela ligou novamente e no quarto toque, sua chefe atendeu.

— Alô, é a Lethicia.

— Meu bem... O que aconteceu? — Questionou a mulher, parecendo surpresa. — Avisaram que você não viria hoje, está doente?

— Não, eu estou bem, obrigada. — Leth se viu pensativa, enquanto criava um pequeno roteiro mental do que diria à chefe. — Tinha alguns exames para fazer hoje, inadiáveis... — Mentiu. — Mas ontem você me disse que precisava de uma resposta o mais rápido possível, então decidi ligar, desculpa se estiver incomodando.

— Estava estudando algumas cláusulas da constituição para outro processo, mas não me incomoda. — A mulher respondeu, parecendo curiosa. — Na verdade, precisava de uma pequena pausa, sua ligação veio em boa hora. Já decidiu o que vai fazer?

A questão veio simples, descontraída, mas isso não impediu que a moça sentisse seu estômago formigar, afundando. Lethicia estava se acostumando àquele peso, ao desconforto que caminhava com a decisão tomada. Sua nuca suava.

— Sim. Mas sinto que não vai gostar dela. — Leth tossiu uma risada. — Não vou aceitar... — Ouviu um suspiro irromper dos lábios de Joana e pôde vê-la endireitando a postura, a mente trabalhando para dissuadir a advogada. Engoliu em seco, mas continuou: — Alguns imprevistos acabaram bagunçando a minha vida de uma hora para outra e não vou poder estar 100% focada no caso. Por isso, é melhor que outra pessoa assuma, para que não exista a possibilidade de ser mal trabalhado e prejudicar a menina de alguma forma.

— Uma atitude nobre, mas imagino que teve de pesar muitas opções até tomar essa decisão. — Sua chefe resmungou, firme. Até mesmo quem não conhecesse Joana perceberia o tom de decepção fria em sua voz aveludada, mas o ouvir direcionado à Leth foi como uma faca de ponta afiada entrando em seu peito cruelmente. — Está precisando de ajuda em alguma coisa, Lethicia?

Leth piscou. Sua voz escapou da garganta em uma enxurrada organizada, em apenas um rompante de ar e coragem.

— Na realidade, sim. Gostaria de tirar o próximo mês de férias.

A moça não imaginava que tudo se tornaria tão real, tão palpável, até que fosse dito em alto e bom som. Estava feito, palavras não podiam ser recuperadas. Joana estava surpresa, no mínimo confusa. Nem mesmo Lethicia assimilou todas as reviravoltas das últimas vinte e quatro horas.

— Desculpa, mas não posso simplesmente escutar uma barbaridade dessas e consentir assim. Preciso de alguma explicação! — Bradou, da forma mais amável que pôde.

De certa forma, Leth não esperava menos, mas nutria uma esperança, mesmo que pequena, que conseguiria escapar do rumo que aquela conversa tomava.

— Minha vida se tornou um pequeno drama familiar... — Confessou a moça, decidindo que não esconderia o tom áspero das palavras. — Tenho fortes suspeitas que minha mãe fugiu com meu pai, seu antigo amor de juventude, mas decidiu que não me contaria nada. Convenientemente, fui convidada para visitar ele em outro país. Estou um pouco desnorteada, tudo isso caiu no meu colo muito rápido...

— Você tem notícias de sua mãe menina? — Perguntou Joana, preocupada.

— Tenho. — Mentiu a moça, suspirando enquanto limpava a gordura da mão livre com um guardanapo. — Quero ver ela, confirmar ou não minhas suspeitas e aí retomar minha vida. Não tenho só um processo nas minhas mãos, estou ajudando em alguns casos e posso deixar tudo em ordem até a virada do mês...

— Tenho certeza que sim. — A constatação aqueceu o coração de Lethicia e arrancou um sorriso de alívio. — Tire suas férias querida, endireite sua vida durante o tempo que precisar. Mas lembre, vou cobrar o dobro de você quando estiver de volta.

— Agradeço muito pela compreensão, de verdade.

— Imagina! Preciso voltar a trabalhar. Bom fim de semana, Lethicia.

— Igualmente.

E desligou.

A moça se levantou, esmagando o guardanapo. Enquanto seguia em direção à estação Vergueiro do metrô, a pele quente por conta do Sol do meio dia, Lethicia relembrou mentalmente a carta do pai, repassando os trechos escritos com a caligrafia redonda.

Aquilo tinha tirado sua paz de uma forma que nunca viu antes...

Depois de mais de vinte e cinco anos sem nem ao menos ouvir o nome de seu pai, o reaparecimento em um momento tão inoportuno fechou uma porta importante em sua carreira, jogou sua vida em um furacão. O peito de Lethicia se apertava a cada passo e um nó estranho revirava o estômago. Seria mentir para si mesma, se negasse a vontade que tinha de vê-lo. Encontrar o homem que a tinha gerado, encarar ele profundamente e entender suas motivações, por piores que sejam... Ela pesou suas opções durante o trajeto a pé, em meio ao vento do outono brasileiro, sem saída para a situação.

Tentando colocar em palavras quem realmente a motivava a viajar, seu primeiro ímpeto foi pensar na mãe. Parecia óbvio, ela quem a tinha colocado naquela situação...

Mas a resposta, internamente, não a convencia. E Leth sabia o por quê.

Se alguém realmente a motivava a viajar e rever um lado de sua vida do qual nunca teve acesso, esse alguém era ela mesma.


.


A noite caiu a pouco tempo, ainda ostentando um leve tom alaranjado sob o céu escuro e sem estrelas, mas àquela hora, a ventania leve tinha se tornado gelada, chacoalhando as árvores frondosas e carregando poeira. Lethicia arrumou a gola da jaqueta preta, assim que entrou no bar em estilo irlandês, esquadrinhando o salão em busca de Ana Lúcia.

O lugar tinha paredes de madeira e ar rústico e acolhedor. Inúmeras mesas, também de madeira, escuras e com estofado castanho, enchiam o ambiente de vida e, mesmo vazias por conta do horário, revelavam o quanto o local era frequentado. O bar era decorado nos mesmos tons de mogno, com banquetas altas e taças penduradas em expositores. Haviam poucas pessoas conversando, porções fumegantes sobre as mesas. O pequeno palco encostado em um canto também estava vazio.

Leth se sentou em uma mesa para dois, com vista privilegiada para o palco. Tirou a jaqueta, arrumou a blusa e encarou a entrada, esperando a amiga. Aguardou durante quase meia hora, picotando um guardanapo e observando grupos de pessoas ocuparem as mesas vizinhas, até avistar a figura de Analu, usando um vestido jeans curto e All Stars verdes. Inconscientemente, a visão a fez sorrir. O estilo da amiga trazia ares de artista, único, como a própria Ana Lúcia.

— Como você não congela nesse vento, usando um vestidinho? — Questionou ela de forma sarcástica.

— Passei meia hora arrancando gelo do sapato para conseguir chegar! Acho até que perdi um dedo... — Respondeu a outra, gesticulando espalhafatosamente. Pediram um drink para Leth e uma cerveja preta para Analu, além de uma porção de batata frita e a entrada de pães e vinagrete. Os primeiros acordes da guitarra inundaram o burburinho, a dupla que faria o show ao vivo testando o equipamento. — Você falou com a Joana? — Perguntou Ana Lúcia, colocando vinagrete sobre uma fatia do pão e mordendo.

— Falei. Ela apoiou minha decisão, apesar de não ter curtido muito. Vou pegar férias assim que virar o mês.

— Glória! Você tem sorte de ter uma chefe como ela. É raro. — Comentou, animada. Buscou um punhado de batatas e as deixou no pratinho à frente, parecendo afobada. — Não almocei hoje, se eu acabar me engasgando, por favor me salva!

— Se joga, mas deixa um pãozinho para mim! — Lethicia sorveu um gole do drink, a mistura gelada e a vodka descendo pela garganta.

— Teve alguma notícia de sua mãe?

Leth engoliu em seco, levando uma batata aos lábios, desconfortável. Buscou dentro da bolsa o envelope desgastado e rasgado com o B em cera vermelha atraindo a atenção da amiga. A moça esperou que Analu lesse o conteúdo da carta duas ou três vezes, absorvendo tudo com cuidado, antes de se manifestar:

— Foi um jeito incrivelmente estranho de receber notícias, concorda?

— Estranho? Acho que já tive contato com algo assim... Foi na Netflix, em uma série sobrenatural! — Ana Lúcia tossiu uma risada. — Quem, em sã consciência e no século XXI, mandaria uma carta com um brasão familiar, como se fosse um clã ou uma seita!

— Me sinto meio medieval agora...

Lethicia apoiou o rosto nas mãos e bebeu um pouco mais do drink, esperando que o álcool lavasse suas preocupações, ao menos por aquela noite. Sua amiga encheu o copo de cerveja até o topo e em uma golada só bebeu metade do líquido, cruzando as pernas.

— O que decidiu? — Perguntou Ana Lúcia, limpando a boca.

— Eu vou ver ele. — Ao ver a expressão de susto no rosto da outra, continuou: — Tenho alguma outra escolha? Já fiz um BO, mas duvido muito que algo vai acontecer, se não souber quem invadiu meu apartamento, ou se foi mesmo invadido! Minha mãe desapareceu por livre e espontânea vontade, a caligrafia dela na carta confirma isso e sendo adulta e completamente sã, não tem mais nenhuma providência legal a ser tomada! Se algo ruim aconteceu ou acontecerá com ela, não me perdoaria nunca sabendo que deixei isso para lá! — A cada frase, o tom de voz de Lethicia se elevava um decibel, perdendo um pouco da calma.

— Me preocupa que algo ruim aconteça com você, mas tem razão. — A jovem revirou os olhos, mordiscando o pão. — Você sempre tem razão, chega a ser irritante...

— Vamos falar de qualquer outra coisa hoje, ou acho que vou enlouquecer mais cedo ou mais tarde! — Chiou Leth. — Sobre o teste de elenco, como você está se preparando?

— Eu tenho duas falas simples para decorar, não é algo difícil. Mas confesso que estou um tantinho preocupada Lê... Meu espelho já me ouviu interpretando mais vezes do que acho que é saudável.

— Tem alguma estatística que diga se tem um número de vezes saudável? — As duas riram, observando os outros clientes do bar, que conversavam em um burburinho baixo — E o curso de teatro? — A moça continuou, arrancando a laranja presa ao drink.

— Ah! — Analu soltou um gritinho de puro prazer e chacoalhou o corpo inteiro. — Me inscrevi na noite passada, no site! Estou esperando o e-mail de confirmação, mas ainda tinham vagas para as seletivas quando coloquei meu nome na lista, sinto que vou conseguir ao menos uma chance dessa vez!

Com o rosto pendendo para o lado e as pupilas brilhando de satisfação, Lethicia observou a felicidade iluminar a pele de Ana Lúcia, cada fio de seus cabelos parecendo mais vivo. Enquanto falava, o tom vertia alegria. Era inspirador ver ela gesticular, espalhafatosa, a voz alta demais, simplesmente porque era apaixonada pelo assunto. Leth petiscou outro punhado de batatas.

— É bom te ver animada. — Comentou.

— Você pediu alto astral não pediu? — Analu utilizou a mesa como um batuque, produzindo um som ritmado com a palma das mãos.

Não demorou muito até que a dupla que bagunçava o palco finalmente terminasse de ajustar os equipamentos e começasse a primeira música. A mesa mais próxima, onde se sentavam quatro acompanhantes dos cantores, tentou animar o bar, batendo palmas e gritando assim que o som se espalhou. O gesto chamou a atenção de Ana Lúcia, que encarou as pessoas sem muita discrição.

Enfim sentindo a vodka subir para a mente, a moça encontrou um par de olhos castanhos que chamaram sua atenção. A dona tinha a pele bronzeada, cabelos compridos e lábios carnudos. Seu estilo pendia ao alternativo, usava uma saia preta de tecido encouraçado, blusa de um tom de creme, meia arrastão e coturnos.

Lethicia não conseguiu esconder o sorriso que irrompeu de seus lábios, cheio de segundas intenções, quando tanto ela, quanto a garota misteriosa, que parecia mais nova que Ana Lúcia, sustentaram o olhar uma da outra, tornando o jogo divertido. Ela esperou até que o flerte se tornasse insustentável e a garota desviasse o rosto. Então, com um gesto rápido de mão, chamou um garçom:

— Me traz outro drink desse, por favor!

A amiga seguiu o olhar de Leth até a jovem que as observava discretamente na outra mesa, inclinando o corpo e disse:

— Se já não tiver, vamos criar um bom motivo para nos divertir hoje.

— Pode acreditar... — As duas se entreolharam, cúmplices.


.


O corpo de Laura ainda estava quente, apesar do dia ter amanhecido como todas as outras manhãs paulistanas, gelado. Ela era linda, do tipo de beleza jovem até demais, no auge dos dezenove anos. Não que Lethicia ficasse muito atrás, afinal, era apenas alguns anos mais velha do que a garota, ainda adormecida, os cabelos se embaraçando em uma confusão escura sobre os travesseiros.

Apesar de ter despertado, Leth mantinha os olhos fechados, o corpo imóvel e a respiração calma. Sua pele parecia suada apesar das horas que se passaram depois do sexo e naquela posição, corpo a corpo, era impossível não relembrar a noite. Ela passou a ponta dos dedos sobre a pele da garota, a apertando.

Laura resmungou algo incompreensível e virou, piscando ao abrir os olhos. As duas se encararam e a garota murmurou um bom dia, que foi respondido por Lethicia com um beijo leve. O segundo foi mais profundo, o toque das peles quentes carregado de tensão sexual. Leth puxou a perna bronzeada para cima de seu corpo, Seu cheiro a envolvia, o odor de sabonete marcando o ambiente. Quando finalmente pararam, um sorriso malicioso rasgou o rosto de Lethicia.

— Desculpe o corte, mas realmente preciso ir ou vou me atrasar para o trabalho... — A garota do bar disse, o tom pouco diferente de um sussurro carregado de luxúria. As duas tossiram risadas e Leth a soltou, permitindo que ela se levantasse.

Laura arrumou os cabelos em um rabo de cavalo. Com um pouco de pressa, caçou suas roupas espalhadas pelo chão do quarto e se observou por um segundo no espelho de corpo inteiro, enquanto a dona da casa digitava em seu celular.

— Chamei seu Uber, deixa que eu pago. — A moça bloqueou o aparelho, deixando sobre a cabeceira.

— Obrigada. — Sorriu ela, sem graça.

Laura se adiantou, apoiando o corpo no lençol e se inclinou para dar um selinho em Lethicia, rápido. Preocupada com o horário, a garota desapareceu quarto afora. Um momento depois, a porta de entrada bateu suavemente.

Leth deitou a cabeça novamente, encarando o teto. Por um momento, se permitiu sentir o tecido das roupas de cama, prestando atenção na própria respiração. Deixou o braço sobre a testa, ouvindo ao redor e percebeu que sua boca estava seca.

A casa parecia vazia... Sem vida.

Silenciosa.

O silêncio nunca tinha sido um problema para a moça, a ajudava a pensar, organizar a mente quando um turbilhão confuso de pequenos problemas a invadia. Problemas ínfimos, se comparados à grande questão que encarava agora.

Mas naquele dia, que, como o anterior parecia estranho desde muito cedo, a falta de uma voz conhecida, o zumbido baixo do vazio, se tornou sufocante, pesado.

O ar parecia denso.

— Google, ligue a música...


.


Assim que a porta do uber se abriu, uma brisa leve e fria chacoalhou os cabelos de Lethicia. O motorista e Ana Lúcia se adiantaram no porta malas, trazendo para as portas do aeroporto, enquanto outros carros paravam em fila, esperando. O lugar estava abarrotado. O olhar da moça esquadrinhou o longo saguão de pé direito alto, recheado de letreiros em neon e lanchonetes. Deu o braço para a amiga e começaram a caminhar, alguns olhares curiosos seguindo seu caminho.

Leth procurou passagens aéreas em vários sites brasileiros, mas teve dificuldades em encontrar um voo sem escala, acabando por pegar uma linha que parava em Londres antes de seguir viagem. Na carta em si, não tinha endereço, nem uma indicação exata de onde seu pai morava, mas no verso do papel, com a mesma caligrafia arredondada, estava um pequeno mapa das rodovias que deveriam levar ela ao vilarejo de Secul, na Romênia e o aeroporto em que deveria encontrar algum conhecido, um dos maiores e mais importantes do país.

Demoraram fazer o check-in, sentadas em um banco próximo às entradas USB, iluminadas por janelões de vidro. Analu comprou dois frappuccinos, enquanto Lethicia deixava seu notebook carregando e checava a etiqueta de identificação das malas.

— Aqui, café, calda de caramelo, sorvete, tudo de bom. — Entregou a bebida e Leth agradeceu com um olhar ansioso. Lethicia apoiou o corpo contra o encosto, deixando o café sobre a divisória entre os bancos e encarou a amiga com um sorriso um tanto triste nos lábios. — Está ansiosa, não está? — Perguntou a mais nova em tom baixo.

A moça demorou um momento para anuir com a cabeça, os olhos voltados para o exterior do aeroporto. Um imenso avião levantou voo e ainda estava dentro de seu campo de visão, se distanciando devagar.

— Quem não estaria...

— Lê, olha para mim. — Chamou Analu. — Vai dar tudo certo, sempre que precisar de alguém para conversar, ou algo estiver dando errado, eu vou estar aqui, pode me ligar, me mandar mensagem sem se importar com fuso horário. Te atenderia até no apocalipse!

As duas trocaram um olhar profundo e cheio de significado.

— É a coisa certa a se fazer e eu vou voltar no fim do mês, não sei por que me incomoda tanto. — Comentou Leth, sentando-se ereta.

— Já pensou no que vai dizer quando encontrar seu pai e Ivana?

— Sim. — Respondeu, convicta. — Quero explicações, não importa qual sejá a história, preciso ouvir ao menos um por quê. Porque minha mãe não me contou nada, porque meu pai não nos procurou, o que realmente aconteceu para que os dois se afastassem... Sinto que existe algo além da versão que me contaram. — Ana Lúcia arregalou os olhos, concordando com a cabeça, como se algo tivesse se iluminado em seus pensamentos. — Talvez meus avós tivessem um motivo a mais para não concordar com o relacionamento dos dois. Não foi certo expulsar ela de casa por ter engravidado. Na verdade foi a coisa mais irresponsável que fizeram, mas pode ser que tenha outro motivo para tanta raiva, além dos preconceitos enraizados.

— Eles são extremamente conservadores, sinceramente, se alguma outra coisa incomodava, não tenho certeza se nos tempos atuais incomoda alguém. — Lethicia riu, sabendo que o comentário da amiga era verdadeiro. — Talvez ele tivesse uma tatuagem, ou não pudesse oferecer uma boa vida à sua mãe...

— Você tem razão, mas de qualquer forma, ainda tenho muitas perguntas. — Olhou o horário, desconectando o carregador do notebook e guardando. A amiga terminou seu frappuccino. — Já conseguiu ver a propaganda que fez passando?

— Mais de uma vez! Nossa, eu quase saio pulando todas as vezes que a música abre antes do vídeo no youtube! — Comentou, extasiada. — Sempre repito a fala principal e me sinto idiota, dublando eu mesma...

— Eu faço também, imitando você.

— É um pouco louco, mas me sinto uma atriz de verdade, pela primeira vez. — A jovem anunciou em voz alta, como se precisasse expor o que pensava ao mundo. Leth arregalou as íris, surpresa com a confissão e um sorriso de incredulidade percorreu o rosto. Ela segurou o queixo da amiga e a obrigou a encarar o fundo dos seus olhos.

— Você é uma atriz incrível, qualquer um consegue perceber isso. Cada coisa que toca, exala arte, você respira teatro! — Analu segurou as mãos da moça e sorriu com o pequeno discurso inspirador. — Quero poder sair para comer com você em um lugar caro, logo depois de ter terminado de apresentar uma temporada da peça mais famosa da Broadway. A gente vai...

— Experimentar cada um dos restaurantes de Nova York, nem que demore a vida inteira.

Lethicia concordou, orgulhosa.

— Esse tempo comigo longe vai te fazer bem. Já está completando as minhas frases! — Leth brincou, revirando os olhos.

— Tem razão, preciso de um detox de Lethicia Castro e sua correria constante. Você está sempre tentando ocupar a mente e está me contaminando com essa mania! — Analu reclamou, sarcástica, fingindo uma expressão de tédio.

— Falando assim, até parece que não faz nada da vida...

Os minutos até que a voz feminina e robótica anunciasse o embarque para o voo da moça passaram rápido. Leth não pode evitar que seu coração acelerasse de súbito, mas manteve o rosto neutro. Segurou as malas tão firmemente que os nós de seus dedos estavam brancos, o único sinal da ansiedade.

Antes que ultrapassasse o portal para embarcar, o passaporte e outros documentos em mãos, virou para a amiga e a abraçou forte. Ela retribuiu com a mesma intensidade, a energia de Analu se entranhando pelos poros de sua pele, dentro dos ossos.

— Vou sentir saudade. — Leth murmurou.

— Parece até que não vai voltar, deixa disso! Estarei esperando com um filminho, café e batata frita. — Ela revirou os olhos, repousando as mãos sobre o quadril. — Se cuida.

— Pode deixar.

A moça entrou na sala de embarque, deixando Ana Lúcia para trás. Suas malas foram despachadas, ela passou pelo detector de metais e se encaminhou para o avião. Enquanto atravessava o pátio em direção à aeronave, o corpo suando de tensão, não conseguia tirar os olhos do aeroporto de Congonhas, buscando inconscientemente Analu pelos janelões de vidro. Já sentia saudades.

Guardou a mala de mão embaixo do banco assim que finalmente conseguiu encontrar sua poltrona no avião. Uma garota com um forte sotaque europeu pediu licença para sentar ao lado de Lethicia, colada à janela e a moça se levantou para abrir passagem. Afivelou os cintos e colocou o celular em modo avião, suspirando. Enquanto a aeromoça explicava os procedimentos de emergência, sua atenção se fixou no exterior da aeronave, no clima quente, em seu apartamento a quilômetros de distância. Todo o trabalho que aceitou estava em dia, sua melhor amiga a apoiava, ainda que ela mesma tivesse dúvidas... Não tinha nada pendente naquela cidade para resolver.

O tremor anunciou que estavam prestes a decolar. Ela respirou fundo e encostou a cabeça no estofado, fechando os olhos para desligar a mente que teimava em incomodar.

O avião não demorou para alçar voo, assim como Lethicia não demoraria para conseguir suas respostas.

[NOTAS]

   Oiee mis milhos pra pipoca! Tudo bom com vocês! Espero que sim.

   Esse capítulo foi um pouquinho menor. Cheeeioo de transição, sim, por quê é necessário, nenhuma história anda sem kaakak Tivemos mais construção da personagem da Leth e também um pouco mais de dona Analu para que vocês possam conhece-las.  Finalmente, estamos saindo dos momentos em São Paulo e indo para a viagem! Acho que vão gostar, tenho quase certeza kakakak

   Coloquem suas opiniões e teorias nos comentários e não se esqueçam de apertar essa estrelinha linda, que me ajuda demais, demais, demais!!! Até domingo mis milhos!!!

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