Capítulo II
[CAPITULO II]
O metrô de São Paulo sempre foi e até o fim de seus dias será, uma profusão de vozes. Quando muitas vozes se juntam, viram um burburinho, às vezes incômodo. Mas em meio a qualquer burburinho estavam pessoas, seres humanos com vivências diferentes que contavam suas histórias, dia após dia.
O horário de pico já tinha passado e o vagão estava praticamente vazio. Leth era um dos quatro gatos pingados silenciosos, a lateral da cabeça encostada no vidro frio. Não havia muito além de sombras e escuridão para observar, mas a música insistente e animada que tocava em seus ouvidos renovava a energia que o dia de trabalho roubava.
Próxima estação, next station - Palmeiras barra funda, acesso à linha 8 diamante e à linha 3 vermelha do metrô.
Lethicia observou por mais alguns segundos a paisagem noturna e quando o metrô parou na estação, caminhou vagarosamente para a saída. A moça esperou pacientemente na plataforma quase deserta e enfiou as mãos geladas bem fundo nos bolsos, inspirando o ar de sua cidade.
Ela nasceu em São Paulo e morou sua vida inteira na cidade grande. Um paulistano nascido e criado aprendia a ver beleza em prédios altos e cinzas, em uma multidão caminhando, passiva ao mundo. Entendia o quão adorável e perigosa era uma avenida deserta, sabia sentir o cheiro do café com leite e do pão na chapa entre toda a poluição...
O vento forte do metrô balançou os cabelos dela e a moça sentou de novo, cansada. Estava com fome, faria Ana Lúcia pagar mais do que um café... Desbloqueou o celular, vendo que passava alguns minutos das dez e sozinha, tossiu uma risada. Demorou um tantinho a mais do que esperava...
Próxima estação, next station - República, acesso à linha amarela do metrô.
A moça saltou na plataforma e escondeu a bolsa o melhor que pôde, apertando contra o corpo, quando surgiu na Praça da República. Leth correu, apressada em meio à escuridão e às pessoas que dormiam em papelões com cobertores velhos. A noite estava quente e uma brisa balançava as árvores.
O café onde Ana Lúcia trabalhava ficava na esquina da Praça da República com a 24 de Maio. Sua fachada era construída de tijolinhos, ressaltando o letreiro neon um tanto velho, com os dizeres "Docca's Coffe station". As janelas foram fechadas com persianas, mas uma luz tênue saia pela porta de vidro, confirmando que ainda tinha gente lá dentro.
Leth empurrou a porta com cuidado e entrou, relaxando os músculos com um sorriso. O primeiro andar do café estava completamente deserto, nem sinal de Ana Lúcia. A moça percorreu o olhar pelas mesas de assento estofado, à meia luz das lâmpadas no balcão, onde a enorme cafeteira industrial brilhava prateada, o estoque de grãos de café quase extinto no compartimento lateral. Lethicia colocou a bolsa sobre o bar de mármore, sentando em um dos banquinhos altos. A cafeteria exalava cheiro de cravo e erva cidreira. Estava silenciosa, com exceção dos carros que passavam na avenida.
— Estamos fechados... — A voz fina e melodiosa da jovem de 22 anos surgiu do estoque. Ela carregava um saco de grãos de café e sorriu quando viu Leth.
— Até para mim Analu? Sério? Eu jurava que ia conseguir um frappuccino hoje... — Lethicia fez bico, montando sua melhor expressão chateada.
A amiga colocou o saco de café no balcão, despejando ruidosamente o conteúdo no compartimento da cafeteira, enquanto falava:
— Quando eu disse que você poderia vir mais tarde, não era para exagerar!
— A Joana me chamou na sala dela quando eu estava saindo e a conversa foi tão... Nem sei como definir. Eu perdi o ônibus para a estação da Lapa e ele demora uma vida para passar de novo! — Ana Lúcia a olhou por cima do ombro. Amassou o resto do saco vazio, espanando as mãos no avental.
— Essa uma vida, significa especificamente quarenta minutos, não me chama de idiota dona Lethicia!
— No dia em que você for feita de idiota, o mundo está prestes a desmoronar. Uma vida pode significar também receber o melhor caso do escritório! — O sorriso da amiga aumentou. Ana Lúcia vestia um avental branco sobre o corpo, tinha o rosto rechonchudo e a estatura baixa, ainda mais evidente ao lado de Leth, uma mulher alta e usando saltos. Leth e Analu tinham um humor muito parecido e o mesmo tom da pele preta, a amiga sem as manchas de vitiligo. Os cabelos eram do mesmo castanho escuro, mas os de Analu crespos, enquanto Leth usava os seus ondulados.
Com a precisão de quem reproduzia o gesto várias vezes, Ana Lúcia ligou a chave da máquina de café industrial, enquanto decorava dois copos de vidro com calda de sorvete e deixou o café escorrer para dentro. Leth a observou com admiração e a voz da melhor amiga ecoou pelo café quando colocou as bebidas no bar.
— Me conta então. — Ana Lúcia se apoiou no balcão.
— A Joana entregou um caso milionário nas minhas mãos.
A amiga demorou alguns segundos para absorver a informação, franzindo as sobrancelhas. Piscou o par de olhos castanhos, surpresa. Ana Lúcia abriu um sorriso sem precedentes e seu rosto foi iluminado por uma luz divina.
— Puta que pariu Lê, é sério? — Leth balançou a cabeça devagar, um sorriso vitorioso nos lábios. — Você aceitou?
— Pedi um tempo para pensar...
A moça quase se encolheu quando o olhar reprovador de Analu caiu sobre ela. A jovem só dava aquele olhar quando considerava as atitudes de Leth comparáveis às de um lunático. A de cabelos crespos bufou:
— Não poderia esperar algo diferente vindo de você. Acho que foi assim que conseguiu chegar até aquele escritório, sendo ponderada... — Lethicia bebeu um longo gole do café, ainda com a camada de chantilly, o que desenhou um bigode branco sobre a mancha em volta de sua boca.
— Tenho até amanhã, mas confesso que estou tentada a aceitar Analu.
— E está mais do que certa. Mas qual é a parte ruim?
— Exposição. Isabella Bithencöurth foi estuprada pelo pai, dinheiro rolando por todo lado, uma criança envolvida em um processo que pode se tornar político ou abrir alguma sanção no ministério público... Estamos mergulhadas em merda até os cotovelos! Se eu perder no tribunal, perco a minha carreira.
— Oh poha... — Com um suspiro, Ana Lúcia mergulhou em seus pensamentos.
A porta da saleta dos funcionários foi aberta com um rangido e ambas se viraram para lá deixando os cafés no bar de maneira assustadiça. As dobradiças rangeram, revelando um homem de expressão cansada, a boca entreaberta, pronta para anunciar o horário de funcionamento da cafeteria. Mas ele não chegou a dizer nada, encarando Lethicia.
— Chegou um pouco mais tarde do que o normal... — Resmungou Bruno, o chefe de Analu. Ele costumava deixar que Leth se encontrasse com a amiga dentro do estabelecimento fora de hora, já que São Paulo era perigosa à noite.
— Tem algum problema? — Ela o encarou, comendo o homem com os olhos.
Ana Lúcia revirou as íris cor de terra, se amaldiçoado por estar presente.
— Problema nenhum... — A aura carregada de feromônios infestava o ar.
Analu pigarreou alto, revirando os olhos e engoliu em seco.
— Okay, okay... Por favor, parem com isso! — Os dois riram sensualmente e Leth teve a decência de pousar o olhar sobre o café. Bruno mal conseguiu tirar a atenção da curva do pescoço dela.
Lethicia e Bruno já transaram algumas vezes. Analu não tinha nada contra sua melhor amiga transar com seu chefe, afinal, os dois eram adultos, mas não era com aquilo que queria terminar sua noite.
— Bruno... Você poderia trancar os banheiros para mim? — Ela perguntou. O homem encarou a jovem com os olhos leitosos. Analu tirou um molho de chaves tilintantes de dentro do avental e balançou em frente ao rosto do chefe. — Os banheiros... — Repetiu.
— Ah, sim... — Pegou as chaves e, vagarosamente, deu meia volta e não disse mais nada, desaparecendo escada acima, com o olhar de Leth em suas costas.
Ana Lúcia balançou a cabeça negativamente, apoiando-a em suas mãos e Leth não conseguiu segurar a risada.
— Está rindo da minha cara por quê, rapariga? — Ralhou, cruzando os braços.
— Você desconfortável é engraçado.
— Que ótima amiga... — Zombou Ana Lúcia. — Você não tinha que terminar de me contar alguma coisa?
— Eu vim aqui justamente para que você me desse uma luz. — Leth piscou e seus lábios se contraíram. A expressão de Analu amoleceu.
— Você sabe que eu tenho a opinião de que qualquer oportunidade é válida. Mas sei que você é capaz de xingar um repórter em rede nacional se ele enfiar uma câmera na sua cara. — Lethicia encarou a bancada e a descrição aconteceu em sua mente, como em um filme. Sua carreira estaria acabada, destroçada em um buraco fétido, mas conseguiu ouvir as gargalhadas de Analu, jogada no sofá de sua casa, com a mãe de Leth indignada e pedindo para repetir o que aconteceu.
— Eu vou pensar, ver o que minha mãe acha e remoer um pouco a situação. Me compra um donut? — A amiga abriu o expositor devagar e colocou o donut de morango em um prato forrado com um guardanapo. Era o preferido de Leth. — Não precisa de todo esse cuidado, mulher! Guardanapo, pratinho...
— Estou fazendo tudo certinho, amaciando seu querido "amigo"... — Ela fez aspas com os dedos. —... para que ele me dê folga sexta agora. Tenho um teste de elenco e talvez consiga me inscrever depois em um curso que dê DRT. Mas isso tudo é durante meu expediente... — Leth não conseguiu definir qual resposta seria melhor e acabou com a boca entreaberta.. — Eu podia só faltar, mas desconta do salário.
— Recomendo pegar gripe imaginária e não vir sexta, o pior que pode acontecer é seu chefe virar garçom. — Ela apoiou a cabeça em uma das mãos. Pegou o donut e mordeu um pedaço bem grande.
— Eu gosto do meu emprego, ele paga minhas contas e me ajuda a não entrar na Estatística Anual de Atores Desempregados que não Tiveram Chance na Televisão.
— O nome dessa estatística é Crescimento Anual de Youtubers e Blogueiros. — Leth não duvidava que a gargalhada que Analu deixou escapar tivesse ecoado pela praça. Ela mesma quase cuspiu sem querer o recheio do donut. — Tem teste de elenco para o quê?
— Figurante de um comercial, mas é de uma marca importante e eu vou ter falas! — Analu balançou as mãos, animada como uma criança. Sabia que era uma boa oportunidade, tanto de visibilidade quanto de complementar sua renda e não estava disposta a perder. — Eu dou meu jeitinho, só preciso fazer algumas ligações para alguns contatos! Agora, seus problemas são maiores...
Ana Lúcia abriu a portinhola que separava o interior do bar do resto da cafeteria e se sentou em um dos bancos altos, tirando o avental e cruzando as coxas grossas. Jogou os cabelos para o lado e o gesto fez o coração de Leth se aquecer. O sorriso de Analu acalmava um ponto no fundo da alma da moça...
— Eu vou ficar bem, fica tranquila. Esse não é o problema que está me preocupando mais... — A moça tirou a bolsa da bancada de mármore e a apoiou no colo, enrolando uma mecha de cabelo e a colocando atrás da orelha. Analu franziu as sobrancelhas e toda a calma em seu rosto se dissipou. As manchas nas mãos de Leth estavam amareladas por conta da luminária, quando segurou a caixinha com o teste de gravidez, trêmula. A amiga tampou a boca. — Fiz de manhã, assim que bati meu ponto... Estou atrasada em duas semanas e completamente apavorada!
— Deu positivo?
— Ainda não sei, guardei na caixinha sem ver. Eu sei que minha menstruação aparece quando quer, mas esse fantasma está me perseguindo o dia inteiro. — Analu tomou a caixa das mãos da amiga. As duas se encararam por um momento silencioso até que Ana Lúcia tirou o teste de dentro da caixa.
— Quer mesmo saber? — A jovem questionou, escondendo-o contra o peito.
— Não Ana Lúcia, eu quero passar nove meses e ver se nasce uma criança de mim, se não nascer a gente sai para comemorar, se nascer você me ajuda a comprar fraudas!
A tensão no ar impediu a jovem de rir, mas não de revirar os olhos. A moça mordeu o donut com força, o olhar preso no guardanapo engordurado. Analu verificou o teste, estreitando os olhos e sem dizer nada, tomou um gole comprido do café, terminando a bebida. Encarou a expressão desesperada de Leth, contornada pela luz amarela e baixa. Coçou a raiz do cabelo e mordeu os lábios. Então, o entregou nas mãos da amiga.
Lethicia virou o tapa mais forte de toda a sua vida, que estalou alto no braço nu de Analu, quando seu olhar encontrou o teste de gravidez negativo e a amiga começou a rir de maneira histérica.
— Ai, ai, ai, desculpa, desculpa! — Gritou, rindo alto e quase caiu do banco.
—Você não me assusta assim, eu tenho 25 anos, não estou pronta para ter um filho Analu! — Lethicia cruzou os braços, sentindo seu corpo amolecer com a descarga de adrenalina. O coração batia rápido dentro do peito.
— Se acalma. — Os cabelos da moça caiam sobre os olhos, contornando de maneira exemplar o rosto sério. A mais nova levou a mão ao rosto de Lethicia, tirando os fios mais rebeldes. — Faz um exame de laboratório para ter total certeza e assim que eu me tornar multimilionária com a carreira de atriz, vamos comemorar em Paris, sei lá!
Leth concordou veementemente, o alívio percorrendo seus nervos com uma descarga de endorfina deliciosa. Não estava grávida, ou ao menos a possibilidade havia diminuído a pouco menos de 10%! Terminou o donut.
— A gente poderia ir para Paris, eu te pago a passagem... — Pensou alto.
— Férias na Cidade Luz sem fotógrafos colocando nos jornais que eu tomei um café em uma padaria qualquer? Qual a graça disso?! — Sem permitir que Leth respondesse, continuou, sorrindo para a amiga: — Vou fechar as portas e ver onde demônios o Bruno se enfiou. Me espera?
— Espero.
E a acompanhou com o olhar quando Analu desapareceu estoque adentro.
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Leth buscou apressada as chaves na bolsa, afastando os óculos de Sol, os lenços e o celular. Colocou um pequeno objeto de plástico oval, que funcionava como chave eletrônica, contra o sensor do portão e o abriu, acompanhada de um rangido metálico. Já dentro do elevador, a moça aproximou o rosto do espelho e encarou seu reflexo, esboçando um sorriso. Seu rosto parecia iluminado, um brilho de saúde invadia o olhar, antes doente de preocupação. Ainda tinha batom na boca e as olheiras se tornaram menos profundas. O relógio ainda não havia completado 00:00.
Leth batucou os saltos no chão de azulejos e abriu a porta de madeira branca e moderna. Antes mesmo de entrar, conseguiu sentir o aroma de incenso, escapando pelas frestas. Capim limão e rosas. Uma das tantas marcas de Ivana Castro.
Entrou e trancou a porta novamente, o frescor do apartamento envolvendo o corpo cansado. Leth deixou a bolsa sobre o aparador e a esqueceu.
— Oi filha!
— Boa noite. — Leth cumprimentou Ivana com um beijo, passando os braços pelo corpo da mulher de 43 anos, dando um forte abraço.
Ivana Castro sorriu. Um dos sorrisos mais lindos de todo o mundo, na opinião de Lethicia, contornado por grossos lábios em tom castanho. Tinha o rosto esbelto e comprido, o nariz largo e os olhos pequenos tão escuros quanto a noite, cheios de cílios. Sua pele era mais retinta do que a da filha, ostentando um brilho sobrenatural. As manchas no rosto, não tinham qualquer relação com vitiligo e sim, com acne durante a adolescência. Ela tinha rugas densas, deixando com a aparência mais velha do que a personalidade demonstrava e seu corpo, marcado por alguma flacidez, era alto. Leth havia herdado a altura e a aparência esbelta, ainda que Ivana fosse uma mulher gorda agora, se destacando da filha. De todas as formas, sua mãe era estupidamente bonita.
Lethicia não tardou em contar tudo o que Joana disse à mãe, detalhe por detalhe, enquanto Ivana a servia de um copo de suco, ansiando por ajuda.
— Se quiser uma opinião, você deve aceitar. Tem toda a capacidade de seguir com esse processo e vencer, sem nenhum erro.
A moça sorveu um gole longo, deixando que a sensação de alívio e frescor se espalhasse pela garganta. Só então, disse:
— Analu disse algo parecido. Eu vou aceitar, querendo ou não... Só de pensar no que aquela menina sofreu, todas as barbaridades, eu me arrepio. Ela não tem culpa de levar o sobrenome Bithencöurth.
Leth colocou o copo na pia e se recostou contra a bancada. Ivana, deu o impulso e sentou-se sobre a pedra escura e lisa da bancada, cruzando as pernas.
— Você fez o teste? — Perguntou.
— Fiz. Deu negativo. — Lethicia esboçou um sorriso e a mãe lhe lançou um olhar preocupado. — Fica tranquila, vou confirmar e já tirar isso do meu caminho. — Leth abriu a geladeira e puxou um vinho tinto. Da primeira gaveta ao lado, a moça tirou um saca rolha prateado e se adiantou. — Quer uma taça?
— Não, obrigada. — Agradeceu Ivana, o olhar faiscando. — Eu já estava de saída, vou dançar um pouco hoje. Não me espere acordada, tudo bem?
Só então Lethicia reparou em como sua mãe estava vestida. Ivana usava um vestido colado no corpo, um palmo acima do joelho e com um decote canoa, em um tom de azul escuro. Nos pés a sandália anabela de salto preta, aumentava a imponência da mulher. Tinha um único colar sobre o peito, um pequeno baobá preso à corrente de ouro, nas orelhas, brincos compridos que pesavam nos ombros.
— Está linda. — A moça disse e limpou os cantos do batom borrado da mãe.
— Eu sei. Puxei você, Lê.
Com um beijo na maçã do rosto, Ivana se despediu. Seus saltos fizeram um barulho abafado pelo chão, quando correu para guardar o celular na pequena bolsa de festa e a transpassou no corpo. Abriu a porta e desapareceu.
Ivana Castro sempre foi assim, desde que Leth se entendia por gente. Uma mãe solo brincalhona, sorridente e ativa, que a amou de todas as formas e demonstrou dia após dia, a criando sem a ajuda de ninguém e com aquele sorriso cativante sempre nos lábios. Há pouco menos de sete anos, quando Leth conheceu Analu, Ivana começara a sair para dançar na noite anterior à sua folga, deixando as duas adolescentes sozinhas em casa. A moça a incentivava a se divertir. Com apenas 43 de idade, ela tinha uma vida inteira pela frente e uma vitalidade invejável à jovens de vinte.
Lethicia encheu uma taça de vinho e deixou a garrafa na geladeira. Levou a taça até a mesinha de centro e sentou no sofá, relaxando o corpo entre as almofadas como se esperasse por isso a anos. Com prazer, tirou os sapatos e colocou os pés sobre o acolchoado, apoiando a cabeça no encosto.
— Google, ligue a playlist noite estrelada. — Disse em inglês, à assistente do google home. — Aumente o volume para trinta e desligue as luzes altas, deixe só o abajur três.
A casa respondeu ao pedido e o abajur de chão alto ao lado do sofá acendeu, deixando o apartamento à meia luz. Sua playlist começou a tocar e a moça respirou fundo, sentindo a tensão se esvair pouco a pouco. Bebeu um gole.
Ela deixou que seu olhar se perdesse na vista de São Paulo. No Centro Cultural da Vergueiro, na avenida onde as luzes traseiras dos carros faziam um tapete vermelho mesmo tarde da noite, nas árvores e prédios que impediam que visse o horizonte... E nas estrelas, que mesmo tão pouco presentes sob a luz, estão ali desde muito antes dela.
Antes do mundo ser mundo, antes mesmo da Terra esfriar o suficiente para que pudesse existir vida.
Lethicia se permitiu um momento para se perder, enquanto planejava o futuro e mergulhava no vinho. Esquecer de si mesma, sem saber que seu passado estava próximo de a reencontrar, uma assombração, um fantasma.
Como as estrelas, que se escondiam atrás das luzes, mas sempre estiveram lá, em algum lugar do universo.
[NOTAS]
Oii mis milhos pra pipoca! Tudo bom com vocês! Espero que sim!
Esses primeiros capítulos, são feitos para introduzir vocês ao mundo comum da nossa protagonista e a outres personagens, como por exemplo a Analu, a Ivana! O que acharam delas? Confesso que a Analu é a amiga que eu queria ter kakakka E a Ivana, é uma incógnita na minha mente, amo e odeio ela em momentos diferentes! Além disso, conseguiram ver um pouco mais da personalidade de Leth em diferentes momentos da vida dela.
Deixem suas opiniões e teorias nos comentários e não se esqueçam de apertar beeeem forte, na estrelinha, que me ajuda demais! Até domingo que vem, dessa vez, de verdade"
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