8. Vulnerabilidade
Gatilhos: rejeição familiar, preconceito, homofobia, choro, vulnerabilidade emocional, relacionamento conflituoso.
✨🌟💫
Seja meu amigo. Me segure, me envolva, me desvende. Eu sou pequena, estou carente, me aqueça e me respire – Breathe Me (Sia).
Depois que Namjoon saiu para procurar Seokjin, Hoseok assumiu a responsabilidade de ligar para Yoongi, enquanto os outros começaram a arrumar o espaço. Jeon foi o único que decidiu ir atrás do chefe, pois todos sabiam que aquilo ainda poderia terminar mal, e as consequências não seriam nada fáceis de contornar.
Chanyeol já havia se retirado, determinado a avaliar a extensão do estrago que os dois haviam deixado para trás.
— Acha que eles vão conseguir se entender algum dia? — Taehyung perguntou com uma ponta de temor, enquanto observava Hoseok, que apenas deu de ombros, claramente sem saber o que responder.
— Droga, Yoongi... — murmurou, tirando o celular do ouvido e desligando a chamada com um suspiro frustrado. — Ele não atende.
— Talvez ele estivesse indo pra casa — Taehyung tentou confortá-lo, pousando uma mão em seu ombro e oferecendo um sorriso calmo. — Vamos vê-lo em breve, baby, não se preocupe tanto.
Hoseok apenas suspirou, assentindo. Apesar de ser o mais inquieto entre eles, Taehyung sabia como aliviar suas preocupações, mesmo que fosse com um pequeno gesto de carinho.
Enquanto isso, Namjoon e Jungkook seguiam para o escritório do Kim. Assim que entraram no recinto, o loiro acendeu as luzes e foi direto para a mesa de bebidas. Seu cansaço era palpável; lidar com o temperamento de Seokjin estava drenando suas forças.
— Não acha que é tarde demais para beber? — Jungkook questionou, observando o amigo dar de ombros com indiferença. — Você deveria voltar para casa e cuidar da Tzuyu.
Sem esperar resposta, ele tirou o copo de uísque da mão do outro e bebeu o líquido com naturalidade, ignorando o olhar irritado de Namjoon.
— Quer me contar o que foi aquilo no corredor? — Jungkook perguntou casualmente, ainda saboreando a bebida. — Vou acabar dormindo no sofá, preciso de algo para me distrair.
Namjoon estreitou os olhos.
— O que houve entre você e o Jimin? — devolveu a pergunta, apenas para ver o Jeon fazer uma careta e desviar do assunto. — Está bem, eu e o Seokjin temos um passado.
— Grande novidade — Jungkook revirou os olhos com sarcasmo. — É óbvio que ninguém odeia outra pessoa sem motivo.
Namjoon respirou fundo antes de admitir:
— Depois que a mãe da Tzuyu foi embora e deixou minha filha para trás, eu e Seokjin começamos a nos envolver. Nos dávamos bem, ele era incrível com a Tzuyu... fazia de tudo para vê-la feliz.
— E o que deu errado? — Jungkook perguntou, seu tom mais sério agora.
— A fama — balançou a cabeça, um sorriso amargo nos lábios. — Começamos a discordar sobre muitas coisas. Ele não aceitava minha amizade com Gwen, e parecia que tudo ao nosso redor estava desmoronando. Então o Yoongi sofreu aquele acidente com o Taehyung, a Tzuyu ficou doente, eu me envolvi naquele escândalo com aquela cantora... E Seokjin? Ele estava ocupado demais para me ajudar. Escolheu priorizar a carreira e desapareceu. Nem uma ligação. Nem uma mensagem.
Jungkook assobiou baixo, absorvendo a confissão.
— Isso é pesado.
Namjoon assentiu, perdido em pensamentos. A mudança em sua carreira havia sido uma consequência direta daquele turbilhão. Ele parou de compor, se afastou da mídia, e, quando percebeu, precisava se reinventar. Assim surgiu o "Estrelas em Ascensão", um projeto que ele se dedicou a construir para trazer o melhor de cada participante — e, ironicamente, Gwen foi seu maior suporte.
— E sobre Seokjin e Gwen? Você sabe por que eles se odeiam? — Jungkook perguntou, intrigado.
— Isso é mais antigo do que eu — Namjoon respondeu com um suspiro profundo, mas antes que pudesse dizer mais, a porta se abriu lentamente, revelando Jimin. Ele parecia hesitante, como se não quisesse atrapalhar.
— Desculpem interromper, mas estamos prontos para ir embora — disse baixinho, mantendo os olhos longe do marido. — Jeon, estou indo.
A tensão no ar era palpável. Namjoon observou o silêncio pesado caindo entre os dois.
— Pode me esperar? — o moreno perguntou com um tom ressentido, e o marido apenas assentiu, despedindo-se do chefe antes de sair pela porta.
Namjoon observou Jungkook por alguns segundos. O mais novo parecia prestes a desabar, os olhos levemente brilhando com o peso de algo não dito.
— Vai se resolver com o seu marido. Eu vou pra casa — levantou-se, pousando a mão no ombro do amigo num gesto de apoio. — Por favor, se resolvam. Jimin é assustador quando está irritado, e a equipe toda está reclamando.
Jungkook bufou, rolando os olhos com impaciência enquanto se levantava.
— Tudo sobra pra mim — resmungou com ironia. — Se o Jimin está de mau humor, é culpa do Jungkook que não transa com ele. Se o Jimin está triste, é culpa do Jungkook que não dá carinho. Vão todos à merda.
Namjoon não conseguiu segurar uma risada discreta, enquanto o Jeon saía da sala com um bico evidente nos lábios. Quando chegou ao corredor, encontrou Jimin ao final dele, conversando com Taemin. A visão despertou uma irritação automática no moreno, e seu bico, já grande, ficou ainda mais pronunciado.
Sem dizer uma palavra, Jungkook passou direto, fingindo não notar a presença do marido. O loiro suspirou, encerrando a conversa com Taemin antes de seguir para o estacionamento.
Quando ambos entraram no carro, o clima parecia ainda mais pesado. Jimin colocou sua mochila no banco de trás e deu partida no veículo, o olhar fixo na estrada à frente. Jungkook, por outro lado, cruzou os braços e desviou o olhar para a janela, perdido em seus próprios pensamentos. Seu silêncio era quase ensurdecedor, e o bico em seus lábios persistia como uma denúncia de seu desconforto.
Chegar em casa não trouxe qualquer alívio. O jantar foi um processo tenso, com ambos evitando olhar diretamente um para o outro. As palavras pareciam presas em suas gargantas, o orgulho erguendo muros que nenhum deles estava disposto a derrubar.
Mais tarde, Jungkook pegou seu travesseiro, decidido a dormir em outro lugar. Contudo, a voz soando o deteve antes que ele alcançasse a porta.
— Aonde você pensa que vai? — perguntou, sua voz carregada de irritação contida.
— Vou dormir longe de você — o moreno respondeu sem olhar para trás, mas o tom inseguro em sua voz traiu sua determinação.
Na noite anterior, ele havia feito a mesma coisa, indo para o sofá depois que Jimin adormecera. Mas, na manhã seguinte, percebeu que o marido estava ainda mais bravo do que antes, o que só tornava a situação atual ainda mais complicada.
— Você não vai a lugar nenhum! — declarou com firmeza, batendo a mão no colchão com força. — Você é a porra do meu marido. E nós não dormimos separados só porque brigamos. Volta pra cama.
— Eu não quero — respondeu, embora sua voz não soasse tão convicta quanto gostaria.
— Ah, você não quer? — o loiro soltou uma risada incrédula, cruzando os braços. O olhar que lançou ao marido estava carregado de exasperação, mas também de algo mais profundo — algo que misturava frustração e mágoa. — É sério isso, Jungkook?
O silêncio que se seguiu era denso o suficiente para cortar. Ambos sabiam que havia mais em jogo ali do que uma simples noite mal dormida. Era sobre tudo que haviam acumulado, as palavras não ditas, os sentimentos sufocados e os desencontros que pareciam crescer a cada dia.
Jungkook sabia bem o quanto Jimin detestava quando se afastavam após uma briga. Para o loiro, casados não dormiam separados, nem mesmo quando estavam furiosos um com o outro. Essa era uma das regras não ditas que sustentavam o relacionamento deles.
— Eu não vou repetir — se sentou na cama, ajeitando o cobertor sobre si com movimentos firmes. — Se não quiser um divórcio, volte para a porcaria da cama agora.
A ameaça, ainda que velada, carregava um peso difícil de ignorar. Jungkook não respondeu. Em vez disso, bufou baixinho e atendeu ao pedido, arrastando os pés em direção à cama. Ele jogou seu travesseiro no lugar de forma quase teatral e deitou-se, virando-se imediatamente de costas para Jimin, os ombros tensos e a postura claramente defensiva.
O loiro observou aquele gesto, mas decidiu ignorá-lo. Ele apenas suspirou, fechando os olhos com força enquanto tentava conter a frustração. A falta de comunicação entre eles estava sufocante, um abismo crescendo a cada palavra não dita.
Quando ele ouviu o barulho do colchão se comprimindo e sentiu a cama se mexer, abriu os olhos rapidamente, apenas para ver Jungkook se levantando.
— Aonde você vai, Jungkook? — sua voz saiu mais cansada do que firme, traindo a mágoa que começava a se infiltrar.
— Ao banheiro, Jimin. Quer me acompanhar e segurar o meu pau também? — respondeu, a irritação evidente em sua voz, enquanto se virava para encará-lo.
O outro revirou os olhos, ferido pelo sarcasmo, mas se recusou a responder. Ele lhe deu as costas e fechou os olhos novamente, optando por fingir que não havia escutado tamanha estupidez.
Quando Jungkook retornou ao quarto, o silêncio já havia se tornado opressor. Ele se deitou ao lado do marido, soltando um suspiro pesado. Mas, no meio daquele silêncio, o som contido de fungadas capturou sua atenção. Ele conhecia bem aquele som.
Jimin estava chorando.
O coração dele apertou imediatamente. Ele sabia que era o responsável por toda aquela tensão. Sabia que havia sido insensível quando o assunto era tão delicado para o outro. Eles não tinham resolvido a briga, não tinham sequer conversado sobre o que precisava ser dito, e agora, a dor que ele tinha causado estava ali, tão palpável quanto o ar carregado ao redor deles.
Sem dizer nada, se moveu lentamente, aproximando-se do marido. Sua mão hesitou por um segundo antes de se pousar no braço de Jimin. Então, ele o abraçou por trás, colando seu peito às costas do loiro em um gesto que era tanto de arrependimento quanto de busca por conforto.
Jimin não reagiu de imediato. Seu corpo permaneceu tenso, mas ele não o afastou. Aquilo já era algo. Jungkook apertou o abraço, enterrando o rosto na curva do pescoço cheiroso, respirando fundo.
— Me perdoa, amor. Eu não queria que ficasse magoado — sussurrou próximo ao ouvido do loiro, deixando beijos suaves na nuca antes de se acomodar melhor. Ele sabia que não havia palavras mágicas para aliviar a dor que causara, mas com seu toque esperava transmitir o arrependimento que sentia.
O menor permaneceu em silêncio, mas não conseguiu evitar que uma lágrima solitária escorresse por seu rosto. Ele não estava pronto para perdoar Jungkook completamente, mas naquele momento, o calor do abraço e a sinceridade no tom do marido eram suficientes para que ele permanecesse ali, tentando acreditar que as coisas poderiam, de alguma forma, melhorar.
No entanto, seu choro aumentou. No instante seguinte, ele se virou, agarrando com força a blusa do pijama do moreno e enterrando o rosto em seu peito, como se quisesse desaparecer naquele abraço.
— Me perdoa, vida — a voz de Jungkook estava trêmula, carregada de culpa. Ele acariciava as costas de Jimin com delicadeza, enquanto depositava beijos no topo da cabeça do marido. — Eu deveria estar ao seu lado, apoiando você, e não pressionando para que faça algo que te machuca.
Jimin soluçou, levantando o rosto para encará-lo. Seus olhos estavam vermelhos, marejados, mas ainda transbordavam vulnerabilidade.
— Eles me botaram para fora de casa, Jungkook — confessou, sua voz quebrada pela emoção. As palavras saíram como um grito silencioso, carregando anos de mágoa e ressentimento. — Me disseram que não podiam criar um "viadinho" como eu. Eu era só uma criança, Goo, só seis anos. E já tinha que lidar com isso. Tudo porque gostava de me vestir com roupas femininas.
O coração de Jungkook apertou como se estivesse sendo esmagado. Ele limpou as lágrimas do outro com os dedos, sua expressão cheia de empatia.
— Eu sinto muito, amor — a voz dele era firme, mas doce. — Não tem nada de errado em um garoto gostar de roupas de menina. Você era apenas uma criança, e ninguém deveria ter te machucado desse jeito.
Jimin suspirou, deixando uma nova lágrima escorrer antes de continuar:
— Minha avó foi a única que me acolheu de verdade, me amou como eu era. Ela me criou com todo o amor que podia, mas... eu nunca esqueci que meus próprios pais me abandonaram porque eu sou gay. E agora... agora eles querem contato comigo? Por quê?
Jungkook não tinha uma resposta. Ele segurou o rosto do marido com cuidado, como se temesse que qualquer movimento brusco pudesse quebrá-lo ainda mais.
— Eu não sei, Ji. Mas você não tem curiosidade de descobrir?
— Não, eu não tenho — respondeu, com uma mistura de dor e irritação na voz. Ele se afastou levemente, cruzando os braços. — E eu agradeceria se você também não tivesse.
O moreno percebeu o tom defensivo, reconhecendo que Jimin usava aquilo como uma barreira para evitar mais sofrimento. Ele decidiu não insistir.
— Certo, então. Não vamos ter curiosidade, e vamos apenas deletar aquela mensagem, o que acha? — sugeriu com um sorriso mínimo, tentando aliviar o peso da conversa.
O loiro concordou com um leve aceno de cabeça, mas nenhum dos dois se moveu para pegar o celular ou pensar no assunto novamente. Permaneceram ali, aninhados, compartilhando o silêncio que parecia mais reconfortante do que qualquer palavra poderia ser.
— E vê se não me deixa dormir sozinho na próxima briga — murmurou, sua voz baixa, mas carregada de um tom meio emburrado.
Jungkook riu suavemente e respondeu com igual suavidade:
— Só se você prometer que vai parar de conversar com aquele tal de Taemin.
— Você é tão ciumento, Jungkook.
— Não sou ciumento, apenas cuidadoso — ele fez uma pausa, inclinando o rosto para observar o marido. — Você entenderia se visse o jeito que ele olha para você.
Jimin franziu o cenho, claramente confuso:
— Como ele me olha?
— Como se fosse te devorar — Jungkook fez uma careta, seu tom de voz misturando humor e desconforto. — Eu não ligo que você tenha amigos, Ji. Não é isso. Só não gosto quando eles te olham como se você fosse um pedaço de carne.
— Certo, vou tomar cuidado — Jimin respondeu, assentindo com um pequeno sorriso, antes de receber um selinho carinhoso.
Pouco depois, os dois fecharam os olhos, ainda abraçados. O calor um do outro parecia aliviar todas as tensões.
Era assim que eles se resolviam, no fim das contas. E, mesmo em meio a todas as brigas e dificuldades, não havia como negar que se amavam profundamente.
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