Novas(os) leitoras(es), bem-vindas(os).

Estio foi agraciado com o convite da editora Sonho de Livro para ser publicado (estou rindo à toa) e foi lançado como e-book em setembro. Contudo, ele acaba de entrar em pré-venda do formato FÍSICO!!!! Sim, você poderão tê-lo na prateleira (yeeaahhh!!!!)

Desta forma, Estio está aqui no Wattpad apenas como degustação, para que vocês sintam um pouco da história, vejam se gostam da minha escrita e, caso se interessem, possam comprar cientes do produto que estão adquirindo. 

DIGITAL: Você encontra Estio completo (35 capítulos + epílogo) no formato digital, no Amazon: https://goo.gl/JjzzWA

FÍSICO: Você encontra ESTIO completo (35 capítulos + epílogo de Estio + prólogo do livro "Intempéries" - A tempestade depois do Estio) no formato FÍSICO via site da editora: www.editorasonhodelivro.com ou pelo whatsapp  37 991251495  /  71 993004421

Não deixem de conhecê-lo.  Beijo imenso!

Zona rural do Paraná, 1892.

Triana

Poucas coisas são tão prazerosas quanto deitar em uma grama verde e úmida do orvalho, sentindo o sol da tarde cobrir seu corpo. O calor dos raios sobre a pele, o arrepio de um vento frio e a sensação da terra sólida sob as mãos. O prazer e a segurança apoderando-se de seu corpo.

Já era tarde e o sol começava a esfriar. Ela poderia ficar ali até que não houvesse mais luz e tudo fosse sombra, inclusive ela mesma. Mas o vento frio regelava a pele aveludada e alva de seu rosto. Um rosto quase infantil, de maçãs proeminentes, sobrancelhas bem delineadas e negras, com lábios carnudos sob um nariz audacioso.

Os olhos verdes tomaram certa transparência ao encontrar a luz direta do sol, e então, ela os fechou novamente, deliciando-se com a brisa que anunciava uma noite fria. Quisera que a noite a tomasse para si e a levasse para longe de todo o desgosto que havia em sua vida.

Triana recebeu este nome por causa dos três sinais simétricos em seu ombro direito. "As três Anas", disse sua mãe, ao olhar a pequena criança que chegara de surpresa. Seu irmão gêmeo, Breno, nascera quase quinze minutos antes dela e, de fato, eram bastante parecidos fisicamente — apenas fisicamente. Enquanto Triana apresentava um temperamento arredio, Breno brilhava radiante, tal qual o sol. Com seu gênio fácil, parecia encantar a tudo e a todos. Mas o amor não via essas diferenças e as duas metades eram quase dependentes uma da outra.

— Nana... — Breno chegou correndo e ofegou, ao aproximar-se do descampado onde Triana estava deitada. — A mãe está pedindo sua ajuda para o jantar. Senhor Giuseppe vem cear conosco.

Triana sentou e abraçou os joelhos sem olhar para o irmão. Não era como se não gostasse do senhor Giuseppe, pelo contrário. Tratava-se de um homem simpático, porém, sua presença significava que ela teria que ficar mais tempo na sala de jantar e sofrer mais constrangimentos com os comentários de seu pai, muitas vezes inconvenientes, sobre como precisava ganhar mais mercado para as suas uvas e de como sua vida era miserável e amaldiçoada.

— Será que consigo jantar e ser acometida por uma violenta e surpreendente dor de cabeça? – ironizou, erguendo e estreitando os olhos, ao fitar o irmão contra a luz do sol que ainda restava no céu.

Breno sorriu, expondo uma dentição perfeita entre os lábios corados.

— Acho que nenhuma síncope irá livrá-la de fazer sala aos senhores hoje. Papai está especialmente resmungão e sua dor de cabeça logo se transformaria no assunto principal da noite. "Olha esta menina! Só vive doente, apática. Ela é toda estranha, diferente" — disse, numa voz esganiçada e divertida, imitando, satiricamente, a voz do pai.

Esse tipo de comentário já não lhe doía tanto, pensou Triana. Depois de tantos anos ouvindo-o reclamar do quanto ela era desajeitada, desinteressada, desajustada e tudo que é "dês", acostumara-se a ser o estorvo do pai e o seu principal assunto, quando se tratava de reclamar da vida.

Ao saber que Isabel engravidara pela segunda vez, quatro anos após dar à luz seu pequeno Otelo, teve-se a certeza de que seria mais um varão. Com a chegada dos gêmeos, Jesus Marcussi não reclamou pela vinda de uma menina, mas também ficara de todo feliz, pois teria que, futuramente, destiná-la um dote. Contudo, Jesus aguardou, pacientemente, a chegada de mais "filhos homens", de mais braços para trabalhar, de mais dedos para contar as moedas que deveriam cobrir as despesas de uma "filha mulher".

Com o passar dos anos, e com a incapacidade de sua esposa para engravidar novamente, Jesus foi criando, pouco a pouco, aversão à pequena Triana. Então, passou a atribuir-lhe culpa quanto a qualquer desgosto em sua vida — fosse uma lavoura fracassada, uma geada ou um negócio mal feito. Para tudo, ele dizia: "É no que resulta colocar filhas no mundo. Agora tenho que trabalhar dobrado para o dote".

Sem mais delongas, Triana limpou as mãos na saia e acompanhou o irmão, rogando a Deus que o jantar fosse rápido e que ela conseguisse passar despercebida nesta noite.