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Sete horas depois

Sete horas depois

— Eu estava ocupada Bliss, já disse que não fui para o penhasco nem para o bar — respondi depois que conectei o meu pen-drive ao peito do androide que era a minha antiga babá e atual empregada.

Eu mal havia saído do banho depois de retornar de minha manhã fora e ela já estava me bombardeando com perguntas e incriminações. Eu não fazia ideia de quem havia entrado com lama nos sapatos, ou quem havia quebrado o pote de biscoitos, ou quem tomou todo o suco de framboesa da geladeira.

Não entendia por que ela ainda me perguntava, sabia que eu não estava interessada naquele assunto e que eu não me importava.

Eu só tinha dois pensamentos em minha cabeça: A janela de meu quarto aberta e como minha garganta escava seca sem o álcool que eu consumia.

Ri com aquele pensamento. Eu era quase uma alcoólatra.

Meu fígado deveria estar apodrecendo.

Minha mãe ficou extremamente aliviada quando eu respondi que não iria sair e que havia começado uma promessa de não consumação de álcool pelos próximos meses.

Eu realmente queria o meu fígado de volta.

Combinei com o Jason que ele apareceria lá pelas nove; ele não estranhou o fato de eu pedir para ele vir pela janela do meu quarto ou que ele não deveria contar para ninguém sobre ele ir para a minha casa.

Isso me fez perguntar sobre a vida social quase inexistente dele, ou ao menos era o que eu pensava até ver algumas pessoas da escola indo visitá-lo na oficina, conversar sobre os encontros deles e quando iriam surfar novamente.

Da última vez que eu fui surfar o mar queria me arrastar com ele, Will havia me salvado, depois disso eu não voltei.

“O azul-esverdeado do mar era surpreendentemente belo algo que não sabia se veria outra vez em sua vida, pois poderia ser a última coisa que veria.”

— Fiquei preocupada quando percebi que você deixou o material escolar em cima de sua cama logo após ter virado o quarto de William de cabeça para baixo — se a sua voz não fosse totalmente mecanizada, eu poderia jurar que ela estará a beira de um colapso.

— Eu não vou me matar — lancei um olhar gélido que ela provavelmente não soube interpretar, pois continuou me encarando com o brilho esverdeado de seu orifício ocular — tenho que estudar, diga aos meus pais que vou jantar em meu quarto hoje.

Ela estava marchando até a porta, passadas curtas e pesadas, não era graciosa, mas era gentil e seus movimentos eram lentos; tinha a mesma forma desde que foi criada e estava envelhecendo, a ferrugem aparecia nas fendas e junções de placas metálicas.

— Obrigada por voltar para nós Elisabeth — ela disse como se o seu coração estivesse sendo entregue naquela fala, quase nenhuma interferência a impediu de completar a frase.

— Eu nunca fui embora — comentei mordendo a borracha de meu lápis e voltando-me a história colonial da América.

— Passamos meses sofrendo com suas atitudes, você foi inconsequente. Que bom que percebeu o que era o mais sensato a se fazer foi deixá-lo ir.

Mal ela sabia que o que eu não fiz foi deixá-lo partir. Eu apenas tentei jogar o que não era importante e limpar a cena, pois eu só deixaria William descansar em paz quando eu soubesse para onde ele havia ido.

Se eu tinha um irmão pecador ou mártir.

— Claro Bliss, daqui a pouco tudo pode voltar ao normal — e amanhã na escola seria outro passo.

Eu só não sabia se conseguiria sobreviver depois de dispensar a companhia dos adolescentes mais influentes e arrogantes de toda a ilha.

Queria a minha vida antiga de volta.

“Você nasceu para ser um mentiroso mau-caráter e eu agradeço por não sermos iguais senão eu iria querer me matar!”

E algum dia, não tarde e não cedo, eu teria que pedir perdão a um cadáver.

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