Estações - Um conto sobre o Mundo
Todos sabem que o mundo mudou. Porém, não fazem ideia do quanto... Mas eu sei. Sei porque minha tatatataravó contou para minha tatataravó, que contou para minha... Bem, acho que já deu para entender. E agora conto para você...
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Há muito tempo, viviam entre os seres humanos duas entidades mágicas importantíssimas para o funcionamento do mundo, que controlavam o clima da Terra: o Verão e a Inverno. Ainda que opostos e cuidando sempre de partes diferentes do globo, os dois seres eram muito próximos e, sempre que possível, encontravam-se.
Ele era extremamente irritado, mas, ao mesmo tempo, compassivo e caloroso. Ela era impiedosa, mas paciente e reservada. Ele era, para ela, o que faltava em sua essência, assim como ela era para ele o complemento de sua alma.
Não podendo ser diferente, da sincera amizade entre Verão e Inverno um grande e verdadeiro amor surgiu. Construído pouco a pouco com base na harmonia e parceria dos dois, o relacionamento do casal era um exemplo admirado por todos.
Foram tempos felizes para Verão e Inverno que, para além do clima no mundo, preocupavam-se com a construção de sua nova família. Junto deles, celebrando cada momento, estavam os seres humanos de toda a Terra que, puros de alma e coração, vibravam de alegria ao acompanharem de perto o amor dos dois florescer.
Na noite mais longa do ano, após algum tempo de namoro daquele jovem casal, Verão decidiu pedir Inverno em casamento. Para ela, o acontecimento foi tão feliz que o eternizou no calendário dos seres humanos como sendo o dia do Solstício de Inverno, em que o Sol brilha pouco e a Lua reina, lembrando-a do momento em que o amor de sua vida decidiu convidá-la a viver a seu lado para todo o sempre.
Após o sim da moça, os preparativos foram intensos e, alguns meses depois, o casamento enfim aconteceu. Este dia, por sua vez, foi o mais feliz da vida de Verão! E, coincidência ou não, permaneceu o Sol no céu por mais tempo naquela data. Envolto por tanta luz e amor, inspirado na ideia de sua companheira, o rapaz decidiu também eternizar o dia como o Solstício de Verão, em que os raios solares brilham por mais tempo, lembrando-o do calor de felicidade que sentiu em seu casamento.
A festa foi enorme e todo o mundo participou! Flocos de neve e raios de Sol dançavam juntos, assim como os noivos e todos os seres humanos. Houve comida à vontade, música para todos os gostos, muitas risadas e conversas animadas. Dizem que o casal passeou pelos quatro cantos do mundo naquele mesmo dia para receber os cumprimentos de todos aqueles que tanto torceram por seu amor! E, claro, junto com as saudações, uma única pergunta reinou na boca de quase todos os que os abraçavam: "e os filhos?".
O sorriso que Verão e Inverno abriam ao escutar tal questão valia como resposta e o caminhar dos acontecimentos comprovou isso: três meses após o casamento, a notícia tão aguardada se espalhou. A família aumentaria! Inverno estava grávida.
Mais uma vez, os seres humanos vibraram de alegria pelo casal e, junto com os dois, acompanharam de perto os nove meses que transcorreram até a data do nascimento. Os pais de primeira viagem não podiam estar mais nervosos! Inverno temia por seu bebê e Verão temia pelos dois, esposa e filho. Não conseguiam se imaginar enfrentando uma perda, seja ela qual fosse! Mas estavam tão angustiados que quase podiam jurar já terem perdido um dos dois.
O medo estava embasado no mais puro e lindo amor. Não eram capazes de imaginar a vida sem um ou outro e, no fim, não precisariam. Isso porque, em um dia de equilíbrio perfeito entre o dia e a noite, enfim o bebê nasceu: lindo, saudável, cheio de vida e luz. Era uma menina, ao qual deram o nome de Primavera.
Mais uma vez, Verão e Inverno voltaram ao calendário humano e eternizaram a data em que o amor dos dois foi tão grande que se materializou em forma de uma menininha, chamando o dia de Equinócio de Primavera.
A medida que crescia, a filha de Verão e Inverno demonstrava trazer em si mais do pai que da mãe, embora tivesse em sua essência traços dos dois. Não demorou muito e Primavera também mostrou sua habilidade de cuidar do clima da Terra e, por ser mais próxima ao pai, saía com ele pelo globo espalhando flores e alegria por onde passavam. Calorosa e compassiva como Verão, mas paciente como Inverno, desabrochava os botões de flores um a um, apenas pelo gosto de vislumbrar o encantamento do milagre da vida vez após vez. E os seres humanos, maravilhados pelas habilidades da menina, faziam festas em sua homenagem, aguardando sua chegada.
Felizes com a família que construíram, Verão e Inverno continuavam passeando pelo mundo para espalhar a luz de seu amor e, mal sua filha completava quatro anos, uma nova pergunta começou a soar recorrente entre seus amigos humanos: "e o segundo filho?".
Não tinham pressa para a chegada de uma nova criança, mas ninguém manda no destino, então, meses depois, era anunciada novamente a notícia tão aguardada: a família aumentaria! Inverno estava grávida. E, mais uma vez, todos comemoravam ao ver o amor dos dois gerar mais um fruto.
O medo cresceu novamente entre os pais, dessa vez com razão. A gestação foi delicada, cheia de riscos, e nos últimos meses Inverno se recolheu para garantir que tudo ficasse bem para ela e o bebê.
Neste meio tempo, a popularidade de Primavera crescia ainda mais, o que enchia os pais de orgulho. Ainda que ansiosa pela chegada de seu irmão e temerosa pela vida de sua mãe, a menina não deixava de espalhar a beleza das flores pelos quatro cantos do globo para semear a esperança e lembrar a todos de que a vida sempre vence.
Enfim, mais uma vez, o dia e a noite entraram em equilíbrio perfeito e o segundo filho de Verão e Inverno nasceu: um menino. No instante em que o bebê chorou pela primeira vez, tanta energia se espalhou pela Terra que todas as flores semeadas por Primavera viraram frutos, anunciando que, agora sim, a família estava completa e em harmonia.
Em meio às lágrimas de felicidade, o casal eternizou a data no calendário dos humanos, chamando-a Equinócio de Outono. E esse foi o nome dado ao segundo e último filho de Verão e Inverno: Outono.
Parecendo-se mais com a mãe, o rapaz era reservado e impiedoso, mas caloroso como Verão. Dedicava-se a transformar em frutos o máximo de flores criadas por sua irmã, espalhando alimento e vida por todo o mundo.
Por se completarem, os filhos do casal ganhavam cada vez mais popularidade e, ano após ano, encantavam e ganhavam os corações dos seres humanos. Eram a harmonia perfeita personificada, o que não podia ser diferente, visto que nasceram do mais puro e sincero amor.
Um dia, porém, algo aconteceu entre os humanos e sua essência nunca mais foi a mesma. Dizem que o responsável por essa mudança foi um certo andarilho, mas essa é uma outra história... O que importa para nós é que o carinho que os seres humanos nutriam pela família mudou e deixou de ser simples e desinteressado.
Passaram a entender os benefícios e malefícios que cada entidade mágica proporcionava e, diante disso, sorrateiramente tomaram uma decisão: dariam fim à vida de Verão e Inverno para aproveitarem apenas as maravilhas proporcionadas pela harmonia de seus filhos.
Quando descobriram as intenções dos seres humanos, a família fugiu para um dos cantos mais remotos do mundo e, usando uma magia muito forte e antiga que apenas Inverno conhecia, abriram um portal no céu e entraram em uma dimensão sobre-humana. Sofreram muito pela traição de seus amigos e, por algum tempo, deixaram de cuidar do clima na Terra.
Foram tempos difíceis, sombrios, de miséria e fome para os seres humanos, porém, um dia, algo novamente aconteceu e a essência deles tornou a mudar, agora para melhor. E dizem que foi graças a uma descendente do tal andarilho, mas essa é outra história...
O que nos interessa é que Verão, Inverno, Primavera e Outono sentiram a mudança ocorrida na alma humana e decidiram voltar a abençoá-los com seus dons. Como prova disso, Inverno criou um fenômeno lindo que acontece no local do globo em que passaram à dimensão sobre-humana: a aurora boreal. Ela marca e renova o contato da família com a Terra, fazendo-a continuar cuidando do clima no mundo mesmo que não habitem mais entre os seres humanos.
Os quatro, porém, aguardam ansiosos o momento em que seus antigos amigos voltarão a ter o coração puro o bastante para entender que todas as estações são necessárias, sendo apenas fases que, juntas, trazem a harmonia necessária à vida na Terra. Quando os seres humanos puderem entender que todas têm seus benefícios e malefícios e que isso é que representa o equilíbrio da vida, Verão, Inverno, Primavera e Outono poderão voltar e, com alegria, celebrar e espalhar novamente seu amor no mundo.
Fim
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Esse conto sobre o mundo chegou ao fim, mas gostaria de conhecer outro? Acesse meu perfil e conheça A Promessa! Aguardo vocês ;)
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