"Alô, alô, minhas criaturas da noite! Quem tá aí comigo hoje? Hein? Tá todo mundo seco em casa, enquanto eu tô aqui encharcado igual um rato de esgoto. Pois é, eu tomei uma PUTA de uma chuva agora à tarde, mas quem liga, né? Vida de radialista não é mole! KOFF-KOFF-KOFF! Ah, porra! Essa tosse tá uma desgraça. Parece que tenho um demônio esfregando areia nos meus pulmões. Que inferno!"

Ele tosse mais alto, bate na mesa e xinga com raiva.

"Caralho, viu? Se vocês tão achando que minha voz tá estranha hoje, é porque tá mesmo. Tô pior que a biscate da avó de vocês com aqueles Derbys azuis enfiados no cu. Mas tudo bem, né? O show TEM que continuar! E, se você não gosta, foda-se! Ah, desculpa, desculpa... Rrrrrghh! KOFF! Tô meio irritado hoje. Vamos ao que interessa, meus amores." Começa, limpando a garganta com um som seco.

"Hoje temos uma previsão do tempo muito especial pra vocês. Sabe aquela bosta caindo aí fora? Forte, irritante, cheia de graça? Pois bem, ela trouxe um bônus hoje. Além das gotas geladas que molham até o que não deve, temos... cordas! Isso mesmo, cordas! Finas, negras, descendo do céu como se Deus tivesse cagado uns barbantes e jogado pra gente brincar. KOFF-KOFF! Merda de garganta!"

A coisa ri de maneira exagerada, quase histérica, mas logo a voz retorna, ainda mais sombria.

"Eu vi umas crianças correndo pra brincar na chuva. Que coisa linda, né? A inocência delas! Aquele brilho nos olhos... até encostarem nas cordas. E aí, meus caros ouvintes, tudo desandou. As cordas começaram a ENROLAR nelas. Primeiro nos bracinhos, depois nas pernocas... e, quando chegou no pescoço... CRACK! Foi o som mais delicioso que já ouvi. E sabe o que aconteceu? Os pequenos levantaram. Como marionetes. Que cena linda, viu? Anda aqui, tropeça ali, cabeça torta, olhinhos mortos. Deu vontade de aplaudir!"

"Kchhhhr! Grrrkkk! Filho de uma puta dessa tosse! Tô quase arrancando minha garganta com a mão. Mas, enfim... voltando ao assunto. Lá estavam elas, as marionetes, dançando pela rua. Ah, mas aí vieram os heróis da vizinhança! Alguns adultos viram a cena e saíram correndo com tesouras e facas, prontos pra salvar o dia. Que coisa fofa, não é? Mas..."

 A coisa suspira, exagerada.

"assim que cortaram uma dessas cordas, a criança gritou. E não foi qualquer grito. Era o tipo de som que faz até o inferno parar pra escutar. Um grito cheio de dor... e as cordas? As desgraçadas sangraram! Sabe o que é isso? Uma CORDA sangrando! Um verdadeiro espetáculo!"

A Voz bate novamente na mesa, sua risada ecoando pela transmissão, mas logo vira um resmungo irritado.

"Tá olhando pra mim assim por quê, hein? Hein? Que foi, desgraça? Vai desligar o rádio agora? Vai se esconder dentro da buceta arrombada da sua mãe? Ah, me desculpa... Desculpa aí, gente. Tô só brincando com vocês. KOFF-KOFF-KOFF! Aaargh, porra!" Ele suspira, voltando ao tom sarcástico que você conhece bem.

"Bom, então é isso. Se começar a chover essas cordas aí onde você tá... aproveita! Vai lá, toca nelas, brinca um pouquinho, vê o que acontece. Quem sabe você não vira o próximo boneco de corda da vizinhança, hein? É, quem sabe... KOFF! PUTA QUE PARIU, tô indo nessa antes que essa merda de tosse me mande pro caixão antes das cordas."

O som da chuva aumenta, seguido de um clique seco, e a transmissão termina com o barulho do trovão ao fundo.