[3] Tudo O Que Precisávamos Era Um Pouco De Amor
[Ben]
Os primeiros raios de sol começavam a iluminar o horizonte, que ainda carregava um pouco do brilho tímido das estrelas. O céu agora adquiria cores entre os tons laranja, azul celeste e rosa, e o brilho convidativo para um novo dia parecia vagarosamente ofuscar as estrelas.
Eu interpretei aquilo como um sinal de que seria um ótimo dia para se aproveitar à beira do rio. Estávamos escutando músicas desde que saímos de Seattle horas atrás. Providenciadas por minha adorável irmã, Mack. Muitos normalmente têm relações baseadas em amor e ódio, mas não era assim que a nossa relação se baseava — claro que como em qualquer família, nós tínhamos nossos desentendimentos, mas eles raramente aconteciam.
Mack sempre foi uma garota muito prestativa, atenciosa e bem decidida do que quer. Desde pequena tinha essa atitude de tomar frente em suas decisões ou até mesmo nas decisões de seu grupo, mas ela não impunha suas escolhas sobre seus amigos ou sua família. Assim como eu, ela também acredita que a melhor forma de decidir algo em grupo, é através do diálogo. Acontece que a situação em que estávamos fugia um pouco desta regra.
Nosso amigo Simon, que está sentado ao meu lado no banco do passageiro, tinha acabado de sair de um relacionamento que durou pelo menos uns cinco ou seis anos. Simon, nunca foi do tipo de se abater tão facilmente, e se você um dia conhecê-lo, jamais encontrarão alguém tão dedicado e esforçado quanto ele. E por causa de seu término ele se encontrava tão abatido, seu olhar vagava por algum ponto qualquer através da janela do nosso carro.
Nem mesmo as músicas que Mack tinha escolhido enquanto viajávamos até o Parque National Olympic, estavam sendo suficientes para tirá-lo de seu estado de torpor.
— Vou desligar música, tudo bem? — Simon perguntou em voz baixa, prestes a retirar o telefone de Mack do adaptador do carro. Eu apenas meneei, e logo o carro ficou silencioso.
Talvez o que ele precisasse fosse um pouco de silêncio, mas será que sua cabeça era um local completamente silencioso naquele momento?
Lancei um olhar preocupado em sua direção, mas ele não pareceu notar.
Mack e Sue, uma amiga minha e de Simon da companhia de teatro, estava dormindo ao lado da minha irmã, enquanto eu estava responsável por guiar nosso carro até nosso destino. Meu telefone mostrava que o parque não estava tão distante de onde nos encontrávamos.
Não demorou muito para que pudéssemos ver alguns carros que já estavam parados em uma fila única. Logo em frente estava a entrada, e um patrulheiro confirmava as identidades e reservas feitas pelas famílias que deveriam estar chegando cedo, juntamente conosco.
— Por que paramos? Nós já chegamos? — Mackenzie despertou repentinamente, e olhava confusa para a fila de carros a nossa frente.
— Só aguenta mais um pouco, Mack. A entrada está mais a frente, e logo iremos conversar com o patrulheiro e ele nos indicará nossa vaga — eu disse enquanto lançava um olhar para minha irmã que ainda estava sonolenta, seus olhos estavam semicerrados, e Sue que estava ao seu lado, agora parecia despertar também. Sue olhava de um lado para o outro tentando reconhecer o local em que estávamos, ela anuiu com o que eu dizia, mesmo eu sabendo que ela provavelmente não ouviu uma palavra sequer.
Esperamos por uns quarenta minutos até que enfim chegasse a nossa vez, Simon permanecia cabisbaixo e distante, enquanto minha irmã e Sue continuavam dormindo no banco de trás, eu observava a movimentação dos carros, ouvia o som das folhas na copa das árvores balançando, parecia que aquele realmente seria um dia agradável.
— Nome? —
— Bernard Summers, e comigo estão Mackenzie Summers, Sue Rogers e Simon M. Turner.
— Só um momento — pediu o patrulheiro de pele amadeirada, bigodes fartos, alto e de corpo esguio. Ele tinha idade para ser nosso tio ou algum parente mais velho, mesmo assim não deixava de certa forma ser atraente.
— Encontrei! Bernard Summers, reserva para quatro pessoas, uma noite. Vocês estão no espaço quarenta e cinco. Aqui estão nossos mapas e um guia com nossas regras.
— Muito obrigado, patrulheiro. Tenha um ótimo dia! — eu disse ao agradecer. Adentramos o parque, e enquanto nos distanciávamos eu olhava para o patrulheiro pelo meu retrovisor, a fila de carros atrás da gente também parecia aumentar conforme o tempo passava.
De acordo com o gps, levaríamos alguns bons minutos até encontrarmos nossa vaga, Sue e Mack já estavam acordadas e elas agora conversavam animadas sobre suas experiências acampando — pelo menos elas pareciam muito mais animadas com o fim de semana fora da loucura da cidade, do que a pessoa que realmente aparentava estar necessitando daquele tempo. Mack agora parecia estar mais desperta, ela falava bastante sobre as opções de aventura que o parque tinha disponível para os turistas. O que mais a deixou animada, era o Acampamento Kalaloch, que se encontrava à beira-mar, que já estava contando com diversos trailers estacionados, e turistas preparando-se para um dia quente e agradável na praia e em todas as possibilidades oferecidas pelo parque.
Não demorou muito para que chegássemos ao acampamento beira-mar, o som das ondas rapidamente me deixou com uma sensação de estar em casa, o céu estava começando a limpar e já tinha algumas pessoas tomando banho de mar, não muito distante do estacionamento onde estávamos. Sue e Mack pegaram suas mochilas, enquanto Simon e eu ficamos encarregados de levar as barracas.
Acho que ver um pouco do mar e sentir a energia convidativa do parque tirou algum sorriso do rosto tristonho de Simon, ele parecia um pouco mais receptível ao grupo. Sue logo aproximou-se dele e o envolveu em um abraço, enquanto eles seguiam Mack e eu.
— É bom ver que a natureza ainda é capaz de tirar algum sorriso dessa sua cara feia — Sue provocou Simon. Ele até sorriu um pouco, e murmurou algo que somente eles puderam escutar.
Eu me sentia bem por estar passando aquele tempo com meus amigos e minha irmã, desde que me mudei para o outro lado de Seattle, Mack e eu quase não tínhamos tempo para nos vermos, muito diferente de como as coisas eram antes. Minha irmã também parecia bem animada com o fim de semana, ela parecia não parar de tagarelar sobre as vezes que esteve aqui no parque com seus amigos.
— Acho que poderíamos começar fazendo trilha, pelo trajeto até o Rio Hoh — Mack começou sugerindo, enquanto passávamos por uma placa de madeira, pintada em marrom, que indicava que estávamos prestes a adentrar A Floresta Pluvial do Parque National Olympic. Em seguida, ela desacelerou e se aproximou de Simon dirigindo a última parte de seu comentário para ele — Garanto que vai valer a pena!
— Eu acho que minha única alternativa é confiar em vocês, né? — Simon disse tentando colocar um sorriso amigável em seu rosto.
— Exatamente, ou a gente te deixa aqui no meio do parque para você assustar os turistas com essa sua cara feia — eu por fim disse, provocando-o um pouco mais. Sue e Mack gargalharam com a reação de Simon, que sempre quando alguém o provocava, ele acabava ficando um pouco mais vermelho que o normal para quaisquer outras situações.
As próximas horas não conversamos muito sobre coisas banais, apenas focamos em seguir a trilha que tínhamos a nossa frente. Confesso que fazia tempo que eu tinha vindo até este parque com minha família, e ele continuava tão fascinante quanto as outras vezes em que viemos, quando eu ainda morava com eles e estava começando a entrar na fase adulta da minha vida.
— Vocês sabiam que esta é a única Floresta Pluvial que a gente pode encontrar por aqui? Isso considerando o tipo predominante de ecossistema por aqui, que é o de Floresta Temperada — Mack compartilhou de uma curiosidade que provavelmente ela deve ter escutado em algum lugar. Ela apontava para uma das gigantescas árvores que chamava sua atenção não só pela sua altura, mas por estar coberta por musgos e samambaias.
— Incrível que você continua tão nerd! — Mack me empurrou gentilmente depois de tê-la provocado.
— Alguém claramente vai querer roubar o trabalho daquele patrulheiro que você ficou secando mais cedo — agora foi a vez de Sue provocar não só a mim, mas também a minha irmã.
A trilha era pavimentada, embora estivesse no meio de uma floresta de verdade. Eu sempre achei esse fato tão curioso e engraçado ao mesmo tempo. A luz do sol clareava as áreas onde as copas das enormes árvores não faziam sombras, tornando a experiência da caminhada ainda mais fantástica quanto eu me recordava junto dos pássaros cantavam nos galhos mais altos, os mosquitos que estavam em maior número e igualmente ousados. Os pequenos pontos movendo-se nos grossos troncos, eram esquilos que habilmente escalavam pelas enormes árvores.
Simon, parecia estar bastante fascinado com a beleza do parque, paramos por diversas vezes — para que seu lado turista que tinha despertado assim que ele começou a trilha — pudesse tirar algumas fotos de recordação.
— Uau, Benny! Você conseguiu ficar minúsculo na foto!! — Simon me provocou enquanto eu deixava Sticka Spruce, a enorme conífera para trás, que só de olhar sua extensão, meu pescoço doía e eu sentia que fosse acabar me desequilibrando e caindo para trás. Caminhei até onde ele estava com as meninas para ver como a foto tinha ficado, e elas aguardavam a vez delas de posarem como modelos em frente a enorme árvore.
Levamos algumas horas até chegarmos ao rio que minha irmã tinha mencionado assim que chegamos ao parque, eu já estava completamente suado e meu corpo pedia por um pouco de descanso e diversão na água.
Ali ficamos por algum tempo, a água estava bem gelada no começo, até porque nossos corpos estavam bem quentes e conforme o tempo passava, a temperatura subia consideravelmente. Sue e Mack se tornaram amigas bem rapidamente enquanto tomavam um banho de sol, pareciam até que se conheciam há tempos. Já Simon e eu conversávamos sentados sobre o cascalho, com nossos pés mergulhados na água gélida, sobre a peça que iriamos atuar em alguns meses sob a direção da Amélia, ele ainda tinha um pouco daquele olhar tristonho, mas dava para ver nitidamente que ele estava se esforçando para se distrair e deixar algumas coisas para trás, pelo menos por algumas horas.
...
O dia que passamos fazendo trilha e nadando no rio foi muito cansativo, mas ao mesmo tempo aconchegante. Agora estávamos nos preparando para acender a fogueira no acampamento que montamos, Simon e eu procurávamos alguns gravetos e galhos secos para servir de combustível para a chama. A esta altura, Simon já estava um pouco melhor em comparação quando chegamos ao parque, ele conversava um pouco mais, até fazia algumas piadas uma vez ou outra, parecia que aos poucos ele voltava a recobrar um pouco de si mesmo ou de quem nos lembrávamos que ele era ou é.
— Como está se sentindo? — perguntei assim que percebi que estávamos um pouco mais distantes de Mackie e Sue. Simon demorou um pouco para responder, acredito que talvez ele ainda estivesse processando a pergunta e como deveria respondê-la.
— Sinceramente, perdido. Dói tanto lembrar de Greg, de como tudo terminou. Agora, me sinto tão vazio — Simon me disse em um tom embargado, seus olhos marejavam e eu começava a suspeitar que perguntar sobre como ele se sentia talvez não tivesse sido uma das mais brilhantes ideias.
— Não se culpe, tenho certeza de que você foi um namorado incrível. E é normal ficarmos sem rumo quando um ciclo se encerra. A gente acaba tendo que se habituar a como era antes da pessoa que vivemos por muito tempo, ou simplesmente temos que aprender a como seguir sem ela — eu lhe dizia enquanto eu examinava um graveto que eu tinha encontrado no chão cheio de folhas secas. O outono começava a dar os primeiros indícios de que estava chegando, as folhas que outrora eram tão vivas e verdes, agora começavam a se tornar amareladas e começavam se espalhar pelo chão, formando um tapete natural.
— E como eu deveria fazer isso, Benny? — Simon me perguntou e acredito que aquela deveria ser a mesma pergunta que ele deveria estar se fazendo o tempo todo.
— Talvez este seja um bom momento para se redescobrir, sabe? — Simon por um instante parou e começou a prestar atenção em mim, ou em minhas palavras.
— Já ouvi muito por aí, que muitas vezes acabamos nos distanciando de quem somos quando estamos com alguém. Agora que você não precisa mais demandar tanto do seu tempo para um outro alguém, talvez seria o momento para dedicar seu tempo a si mesmo, tentar se reaproximar do Simon que você é ou que você pode vir a ser. Estamos sempre em constante mudança e tenho certeza de que você deve ter abandonado certas crenças que você tinha antes de conhecer o Greg — Simon pareceu um pouco mais pensativo.
Ficamos em silêncio por algum tempo, mas não era um que talvez ele estivesse ruminando algo sobre o que deveria fazer ou sobre o que deveria ter dado errado em seu namoro. Ele me parecia aos poucos digerir aquelas palavras que acabara de ouvir.
— Faz sentido — Simon disse quebrando o silêncio — Sinto que sacrifiquei tanto de mim para que nossa relação vingasse e que agora parece que foi tudo em vão.
— Te entendo. De certa maneira sempre nos foi ensinado que é nobre fazer sacrifícios em nome do amor, mas acho que ao invés de sacrificarmos coisas que gostaríamos de fazer, perdermos parte de nós, não seria mais interessante alinhar os interesses? — o olhar em seu rosto me pareceu interessante, sua cabeça parecia estar entrando em curto de tanto que seus neurônios pareciam trabalhar em cima daquelas informações que acabara de escutar. — Aí não teria uma situação em que alguém ganha enquanto o outro perde, mas sim uma situação em que ambos os lados saem ganhando, entende?
— Acho que você deveria repensar sua profissão. Talvez trabalhar como terapeuta de casal... — ele me disse de maneira descontraída. Acho que aquela deveria ser a primeira vez que Simon sorrira desde que seu relacionamento com Greg acabara duas semanas atrás.
— Eu não acho que daria certo, sou muito do tipo que acabaria pegando a pessoa pela mão e acabaria colocando-a no caminho que eu achasse certo. Além de que tudo isso é aprendizado das minhas andanças por aí — eu lhe disse enquanto me aproximava e batia gentilmente em seu ombro com o meu.
— Acho que já temos o suficiente — Simon me disse olhando para a pilha de galhos e gravetos secos que tínhamos em nossos braços. Eu assenti e fizemos o caminho de volta para o acampamento, provavelmente Sue e Mackie já deveriam estar chamando os patrulheiros do parque para nos procurar.
Não levou muito tempo para retornarmos até o nosso acampamento, lá as meninas já tinham preparado nossas barracas, e tinham juntado algumas pedras que tinha ali perto para que deixássemos os galhos e gravetos que conseguimos. Simon, os depositou no centro da fogueira que ainda não tínhamos acendido, e foi em direção a barraca que dividiríamos, Sue aproveitou a deixa e se aproximou de mim.
— E aí? Como foi? Ele disse alguma coisa? — claramente ela estava preocupada e curiosa sobre o efeito de nossa pequena operação para animá-lo.
— Ele se sente um pouco vazio após ter se dedicado tanto ao Greg, mas acho que nossa conversa lhe deu muito sobre o que pensar — eu lhe disse, Sue assentiu em silêncio enquanto olhava em direção a barraca em que Greg estava.
Não sei se aquilo que conversamos aliviaria um pouco da dor que ele sentia, mas eu esperava do fundo do meu coração que ele pudesse voltar a ser o mesmo Simon de sempre, ou que ele pudesse ao menos se redescobrir e encontrar a paz com seu novo eu.
Boa noite, gente!!
Como vocês estão?
Eu sinto muitíssimo por ter atrasado a publicação deste capítulo!
Confesso que quando comecei a escrever esse livro, eu foquei muito mais no lado do Alex e isto me fez pensar sobre quem era a persona do Ben. E escrever um capítulo sob a ótica dele, foi bem desafiador, mas estou bem contente com o resultado de todo este trabalho que tive nestas duas últimas semanas.
Espero que da mesma maneira que vocês gostarem do Alex, vocês possam gostar do Ben também.
Me contem nos comentários o que acharam do capítulo!
Sexta-feira eu volto com mais um capítulo !
Obrigado por lerem até aqui!
Um beijão!!
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