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Capítulo 1

    Estava na sala lendo um livro quando  uma coisinha de cabelos castanhos e olhos puxados pulou no meu colo.

- O que a mocinha faz acordada? - Ela coçou os olhinhos e bocejou.

- Não quero que esse dia acabe, porque quando acordar amanhã não vai mais ser meu aniversário. - A posicionei em meu colo de forma que pudesse olhar em seus olhos.

- Querida, podemos tomar um sorvete bem grande amanhã, o que acha? - Seu rosto se iluminou e Elena deu um grande sorriso.

- Com chantilly? - Dei uma gargalhada

- Com muito chantilly, agora vá para a cama mocinha. - Ela me deu um beijo no rosto e correu para a cama.

- Te amo mamá - Ela gritou do quarto

- Te amo mais - Gritei de volta

Depois de um tempo fui para o quarto de Elena e ela já estava dormindo, dei um beijo em sua testa e arrumei seu lençol, eu amava tanto aquela garotinha que parecia que meu coração batia fora do peito sempre que a olhava. Segui para o meu quarto e coloquei o polaroide que tinha tirado em uma agenda com todos os aniversários da Elena, suspirei e lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto.

- Queria que estivesse aqui. - Toquei meu colar e abracei a agenda

- Hoje nossa menininha faz 10 anos, dá pra acreditar? Parece que foi ontem que ela não me deixava dormir porque queria mamar a noite inteira, ela se parece tanto com você. - Dei uma risada e olhei a foto de Elena com um balão de 10 anos atrás, ela tinha os olhos de Andi, os mesmos olhinhos puxados e também a mesma teimosia.

- Sinto tanto a sua falta, amor. A verdade é que faz tanto tempo, mas ainda dói tanto. - Enxugei minhas lágrimas que agora caíam sem parar.

                            💘💘💘

Era o primeiro dia de aula e fiquei encarregada de mostrar aos alunos a escola, mas estava de saco cheio de tudo aquela manhã, que minha mãe resolveu me ligar para me perturbar logo cedo, minha cabeça estava explodindo e a única coisa que eu queria era não ter que lidar com a minha família.

- Essa aqui é a sala de música onde o sonho de vocês se tornam realidade ou seus maiores pesadelos.

Todos pareciam vislumbrados com a sala e eu amava ver seus rostos ficando iluminados. Um barulho de bateria ecoa na sala, como se algo tivesse caído.

- Quebrou, pagou.

A novata levantou as mãos em sinal de rendição, ela é tão bonita, seus olhos puxados e seu cabelo, seu corpo parecia ter sido esculpido.

- Qual o seu nome? - Perguntei para a novata, ela apontou pra si mesma e eu concordei.

- Andrea ou Andi se preferir - Ela sorriu e algo em mim se contorceu, nossa ela era TÃO bonita.

- Bom Andrea, seja mais cuidadosa. - Pisquei para ela e estava saindo da sala quando lembrei do último aviso. - Já ia esquecendo novatos, amanhã começam as inscrições para a audição. Boa sorte, acreditem vocês vão precisar.

Saí da sala e a única coisa que precisava era minha cama e um remédio para dor de cabeça, mas como parece que o universo resolveu me jogar uma onda carmica sinistra escuto Sebas ou seboso, como chamo ele nos meus pensamentos, me chamar.

- Emília, querida, como você está? - Meus olhos reviraram, eu o odiava.

- O que você quer? - Minha voz era pura irritação, precisava deitar.

- Nossa, desde quando você ficou tão estressadinha? Saudades de quando você era fogo puro. - Suas mãos se aproximaram da minha cintura e senti que poderia vomitar a qualquer momento.

- Não encosta em mim, seu merda. NUNCA mais encoste em mim. - Minha voz estava alterada e senti um nó se formar em minha garganta, mas eu não iria chorar na frente dele.

- você anda tão chata, queria dizer que adorei sua bunda nesse vestido, adoro as bundas das brasileiras. - Ele sussurrou a última parte em meu ouvido e senti que iria vomitar ali mesmo, eu o odiava tanto. Senti lágrimas descerem pelos meus olhos e minhas mãos ficaram trêmulas, precisava sair dali o quanto antes, mas não tinha forças para me mover, até que sinto um toque suave em meu ombro.

- Desculpe, não queria te incomodar, mas estou meio perdida e não sei como encontrar meu dormitório. Se você não estiver muito ocupada ou se puder me ajudar, mas se não quiser não tem problema eu me viro e por favor me ajuda. - Mesmo de costas reconheci a voz melódica da novata de olhos puxados, ela falava sem respirar e isso fez um sorriso brotar em meu rosto, enxuguei uma lágrima solitária e me virei para ela.

- Qual é o número? - Ela me entregou um papel com o número de seu quarto.

- Está tudo bem? Parece que estava chorando - Sua voz expressava uma preocupação evidente e acho que era a primeira vez em muito tempo que alguém se preocupou em perguntar se eu estava bem.

- Acho que caiu algo no meu olho, mas enfim, vamos? - Ela assentiu e seguimos até seu quarto em silêncio.

- Está entregue princesa. - Ela revirou os olhos com o apelido e ficou ainda mais linda, se é que era possível.

Me virei para ir embora, mas antes que pudesse sair suas mãos tocaram as minhas e senti meu coração errar um compasso.

- Emília, se quiser conversar é bater na porta viu, "acho que algo caiu no meu olho" é a pior desculpa de todos os tempos. - Nós duas rimos e naquele momento desejei que sua mão segurasse a minha pra sempre, mas como era inevitável seus dedos uma hora se desvencilharam dos meus e em meio a sorrisos sem graça e frases como "foi um prazer te conhecer" nos separamos, mas naquele momento senti que a novata de olhos puxados e desespero na voz tinha mudado algo dentro de mim.

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