Me perco nos teus enigmas, nas tuas charadas, nas tuas rimas sem graças, nas tuas inúmeras intenções fora de hora. Mas se tu quiseres, eu me encontro, mesmo fora do ponto, na rua do porto, na trilha do horto, no teu sorriso torto.
Respiro o cheiro das madeiras da tua colônia, observo teu penteado fora de moda, admiro a camisa de botão que desenha tuas formas, tuas fotos vejo de hora em hora. Mas se tu quiseres, compro um estoque daquele frasco vermelho bordô, espero os teus minutos preciosos no espelho, ajeito a gola branca que insiste em se dobrar, revelo uma por uma sem nunca cansar.
Me engano com tuas mentiras, acho bonito quando tenta me agradar com tuas palavras e tua sinceridade falsa. Me aquece a tua amizade tóxica, tua proteção escondida, teus ciúmes velados, teu gostar tímido demais. Mas se tu quiseres eu acredito em cada letra daquelas mensagens, suspiro profundamente com teus galanteios baratos e aceito sem reclamar teus conselhos de velho chato. Se tu quiseres serei o teu ombro naquelas quintas vazias, teu abraço nas sextas de pura melancolia e solidão, te defendo quando ousarem tocar no teu nome, serei aquela que te impede de estar no chão, juro que não te dou mais motivos pra duvidar do meu gostar, desse jeito indecente e escandaloso. Louco, e como a minha loucura não merece essa tortura de esperar e te lembrar, assim o meu gosto vai te fazer recordar ainda por mil anos dessas linhas sem fim, cheias de vazios imcompletos, do meu amor que é monogâmico e exclusivo, que é todo teu, só teu, que reparto contigo e só contigo.
Mas é só se tu quiseres... me quiseres, hoje, amanhã e depois. Pra que eu tenha, no futuro, sabor... na tua boca, daquele café antigo que nunca se esquece.