Parte 5 - 6
O estranhamento que Yuka me promoveu acabou quando terminei minha busca, mas outro sentimento veio no lugar, e muito mais forte que o primeiro. A vontade em ampará-la cresceu após aquele primeiro abraço.
Acalmou-se e se afastou de mim. Pela sua reação de surpresa ao olhar novamente para meu rosto, pareceu não tê-lo reconhecido de primeira. Agora via que eu era aquele funcionário do hotel cuja pronúncia saiu errada. Ela não falou nada, apenas lançou um sorriso misturado com um agradecimento nos olhos brilhantes, que logo tornaram-se cansados.
O olhar sonolento não era o único sintoma, mas também a mão que começou a tocar levemente a barriga. Eu não era especialista na saúde feminina, mas sabia que, desde o hotel, ela não estava bem.
De repente ela ficou pálida, quando procurou meu apoio com a mão que foi na barriga. Peguei sua mochila e passei meu braço sobre suas costas e ela sobre meu pescoço.
"To my home", falei lentamente, iniciando os passos para calçada.
Ela levantou a cabeça e respondeu balançando-a, forçadamente agitada, negando.
Ao olhar para seus olhos, sentia que temia, mas ainda não sabia o quê. O porquê dela ter fugido.
"I've read your blog... I know you, Matsui Yuka..."
Depois de minha fala, soltou-se do meu corpo, ainda mais assustada. As vibrações negativas do olhar ainda vinham a mim, e eu a entendia espontaneamente, sem a necessidade de qualquer som sair de seus finos lábios.
A segurei quando ela novamente fraquejou.
"Don't try walk alone..." E finalmente continuamos até a calçada. "You are running away... I... I want to protect you..."
"Protect... Protect...", ela repetiu lentamente, não tentando entender a palavra, mas contemplando-a.
E ao sinalizar positivamente com desânimo, como se não tivesse opção, um sorriso veio até meu rosto... Não aquele sorriso forçado e caridoso do mendigo, mas um de alegria com sombra de esperança. Esperança eufórica de que não precisarei entregá-la a quem a procura, que moraremos juntos, nos casaremos, formaremos família... De que ela será sempre minha, que nunca mais voltará para a tela de um computador, numa imagem imóvel com sorriso falso de idol.
"Meu Deus... como é diferente saber que se ama... Como é diferente apaixonar-se verdadeiramente...", foi o que eu pensei ao terminarmos de descer as escadas.
E a tal alegria eufórica unida à inexperiência que eu tinha na situação obrigou-me a dizê-la o que sentia. Mas eu não disse, pois minha falta de coragem usou como desculpa o momento inapropriado. Somente encarei seus cabelos desgrenhados que cobriam parte do triste rosto.
Tal sentimento naqueles pequenos e intensos olhos foi colocando um fim à felicidade de minha expressão. Não tinha o direito de sentir-me feliz ao vê-la assim.
Recoloquei seu capuz e, enquanto apertava aquele corpinho ao meu, olhava no horizonte à procura de uma drogaria. Vi uma em alguns metros, entramos e comprei um remédio para dor com os trocados do bolso errado. Ela tomou ali mesmo, com rosto amargo.
Eu não morava muito longe da Sé. Custava por volta de 30 minutos.
Com sorte, achei um ônibus quase vazio e nos sentamos em bancos altos. Nos primeiros minutos de viagem, ela tentava rebater o sono que insistia. Olhava para a lua, mas entristecia-se em automático.
Aquela bola de luz estava tão simbólica... Sua fase minguante que mostra a mesma parte clara e escura...
O olhar de Yuka se derretia em lágrimas quando o virou pra mim, mas logo o limpou, abaixando a cabeça.
"Kozoku?", falei quase em sussurro, torcendo para tal erro alegrá-la.
Ela riu, variando o olhar para o meu e para baixo, o que apressou seu rosto a secar da tristeza.
"Kazoku", e a voz de correção veio com a mesma leveza e simpatia que no hotel.
*
Hoje sei parte do porquê dela ter aceitado o pedido de um estranho para "protegê-la", mas ali eu se quer me questionava sobre isso. Na primeira noite de sono dela em casa eu também nem aprofundava o pensamento na sua fuga e em quem a procurava. Não agi de maneira inteligente na sua estreia ali.
Você que lê pode pôr em dúvida a veracidade desta história se firmando numa indagação, tipo: "Como o protagonista não se preocupou com as autoridades, já que ela está sendo procurada?"
De fato, não me preocupei com isso. Não porque sabia que seria uma burocracia encontrarem uma garota japonesa específica num país que tem a maior população nipônica fora do Japão (isso se soubessem que ele veio pra este país), mas porque queria somente admirá-la. Não estava com uma evidente alegria, já que ela fazia persistir a tristeza no rosto. Este tinha um sentimento cuja definição totalmente satisfatória é impossível, com as palavras "algo me prende à ela" resumindo parcialmente o que estava em mim.
Minha casa de três cômodos já pareceu mais quieta e de aroma neutro. Não que Yuka fosse barulhenta, mas é que suas andadas do meu quarto, que a emprestei, cruzando a sala (meu novo quarto) até a cozinha ou ao banheiro deram ao meu lar mais... vida.
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