Parte 3 - 6
As sinfonias sumiam por completo de minha audição. Cada hora que se passava, menos restava do que engolir. Minha mente preservava um silêncio nos lábios mordidos e suspiros.
Naquele vazio de orquestras regido pela Yuka, a existência de outros olhares e falsos sorrisos em meu paladar se escurecia. A garota que afundava em solo de concreto meus desejos sumia com os fingidos nutrientes das outras e tomava-os para si, tornando-os reais.
A fuga também aparecia no peso que minha consciência tinha. Na ação, por ela tomada, que começava a arder em mim. A dor que vinha da responsabilidade que eu adquiri, em minha busca vazia, precisava de um remédio.
De onde deveriam vir imagens plastificadas e prazerosas, vinham suposições pesadas da fragilidade que aparentava existir em Yuka. De seus pais, parentes... De seus motivos para ter surgido naquele hotel com seu disfarce fracassado. Com aquela cara amassada, mas sincera. Com aqueles barulhos chorosos, mas sinceros. Com sua voz baixa, sua altura, seu jeito... E com aquele sorriso, que escondia com tanta destreza os demônios que queriam sair. Que escondiam sua sinceridade. Que escondiam um profundo e caótico oceano com uma suave maré.
Eu não pensava no porquê de ter chegado naquilo. De ter me envolvido. No porquê de eu ter mergulhado naquele oceano. De eu ter um desejo pulsante de correr até ela e perfurar cada camada de sua vida, até destruir suas inquebráveis ostras e me maravilhar com suas pérolas. No porquê de eu querer beijar até o último centímetro de sua boca. De sugar milimetricamente sua inocência. De apagar seu fútil sorriso. E de esquecer de vez da imagem pura que aqueles rostos sempre produziram na minha mente.
Eu sempre ignorei parte da minha fraqueza. De meu problema psicossocial. Minha timidez e meu medo. E Yuka me fazia querer engrandecer isso, com seu forte e profundo, mas simples, olhar.
A causa do meu desejo é seu mistério. Então eu pensava se deveria ou não acabar com a causa. Pensava se queria descobrir mais sobre ela, ao mesmo tempo que extinguiria o desejo. Se eu deveria pensar somente em mim. Se eu deveria ignorar o claro e silencioso pedido de ajuda de Yuka, com seus pais a sua procura. Eu precisava decidir.
*
Tive que voltar naquele hotel. Tinha que falar com ela, nem que fosse com meu inglês enrolado, pois não conseguia tirá-la da cabeça. Minha vida pacata e sem grandes burocracias e problemas começava a terminar. E a tal complexidade que eu pedia internamente apareceu quando eu não a encontrei naquele quarto. O número da perfeição. 7.
Ela tinha saído do hotel. "Eu demorei demais", pensei. O não tão singular fato de uma hóspede ter fechado a conta despertou mais ainda minha curiosidade e aguçou meu desejo de supri-la. E forçou meu desejo de decifrá-la. De saber o porquê de sua aparente fuga. Sentia tudo inerente ao desaparecimento, menos vontade de informar sua família ou alguma autoridade que ela esteve lá.
As sinfonias ficavam mais agitadas na minha mente. Os nutrientes da doçura de Yuka estavam mais ativos. A música e o doce... ambos criavam um calor infernal em meu pensamento. Este calor precisava se acalmar, para que eu seguisse meu desejo sem barrá-lo. Para que eu planejasse como chegaria até ela sem entregá-la. Eu precisava pensar.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro