Parte 2 - 6
Eu não percebi nada de especial naquele encontro. Foi só mais um, entre os vários embaraços sociais que já protagonizei.
Os meus cinco dias restantes de trabalho não registraram muita coisa interessante sobre "Yoko". Somente em dois dias fiquei responsável pelo seu quarto, e poucas vezes a via no corredor respondendo aos meus convencionais balançares de cabeça.
Nas duas visitas ao dormitório, percebi um incômodo quando ela se retirava. Nestas cenas, era impossível saber o que realmente a afligia. As únicas aparências que ela mantinha eram a mão na barriga e aquele sorriso furtivo e falso de idol.
Então, se não há nada demais nos meus dias naquele hotel, você pode indagar o porquê deste que vos escreve resolver narrá-los. E eu respondo: o fiz para mostrar a importância da simplicidade dela em minha vida. O simples que mergulhou profundamente.
Não houve um imediato imergir disso, pois demorei dias para perceber uma mínima influência que ela causara às imagens das garotas orientais. "Yoko" não foi abrindo meus olhos para a futilidade que elas representavam. Seria muito fácil se fosse assim, leitor.
Ela não tirou o doce de minha boca, mas deu nutrientes e profundidade a eles. As imagens paradas me tentaram a conhecê-las. Como se o mistério da garota no hotel (mistério no qual eu não via) fosse influenciando-me por dentro. Como se um pingo de curiosidade sobre sua vida, sua dor, seu choro surgisse e se transportasse para as fotos.
Eu não gostava de pesquisar sobre as garotas, isto para não sentir um sabor desagradável sobre elas e macular a fantasia da inocência na mente. Mas, com as semanas longe de "Yoko", meus pensamentos mostravam o quanto aquele pingo de curiosidade crescia. Tais pensamentos, que me queriam imerso na futilidade, substituíam as sinfonias. Os pianos e violinos viravam pura distração. Eles perdiam espaço em meu paladar.
*
Semanas iam. O tempo fugia com os traços físicos dela. E aproximava-se de mim, mais e mais, o final da fuga daquele desagradável sabor que ficava atrás das imagens.
Quando o silêncio foi posto em meus fones, a paixão foi posta em minha tela. A emoção dos sons sumiu de vez, transformando-se em euforia nas imagens. Os cliques nelas me puxavam para sites e fóruns.
Entre as palavras em inglês, surgiam os sobrenomes na frente dos nomes. Região, tipo sanguíneo, altura, idade... Nada disso me supria. Eram descrições vagas para o que se transformara num oceano dentro de mim.
A euforia daquelas horas perdidas me levou à insatisfação. Assim, com as faltas de criatividade e novidade nas vidas das pueris garotas, eu pesquisei pelo nome da que me forçou a estar naquela condição. Algo, aliás, que eu deveria ter feito desde o início.
Quando digitei "Mitsui Yoko", seus traços físicos voltaram à mente. Das centenas de foto que passaram por minha vista, uma me incomodou. Cliquei nela. Fui redirecionado para seu blog.
Por mais que o penteado e a maquiagem tentassem enganar, eu sabia que era ela. A franja não escondia seu olhar. Sua cara pintada não tirava o sorriso forçado.
Traduzi automaticamente a página. Mesmo com o resultado ruim, entendi o contexto de algumas frases. Aquele nome era uma outra identidade que ela criara. Mitsui Yuka tinha problemas emocionais, mas, nas palavras que eu entendia, ela não deixava o porquê de tais problemas.
Buscando seu nome real, encontrei, em um desses fóruns japoneses, o que minha mente aflita queria. Havia postagens dos pais dela com a foto da filha. Aquela garota triste tinha fugido de casa.
A falsa expressão escondia problemas sérios. Problemas que causaram essa enorme e furtiva coincidência em minha vida.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro