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Magia Do Natal

Natal. Que época linda, não é? Enfeites natalinos, homens velhos fantasiados de bom velhinho para animar a criançada, presentes e, como qualquer bom brasileiro que se preze, um belo churrasco.

O dia começou caótico na minha casa, antes mesmo do galo pensar em cantar — é cantar que se diz? — minha mãe, Jéssica, já está de pé com um brega estourando no caixa de som. Meu pai, Marcos, já está na preparação da churrasqueira, você sabe, vendo se o carvão que a gente comprou no começo no natal passado ainda serve, preparando os espetinhos, checando se está tudo okay. Daquele jeitão, entende? E eu, como um bom primogênito que sou, fico deitado até meu irmão surgir e me arrancar do conforto da cama e do abraço macio do lençol.

— Feliz natal! — Hyunjin grita, histérico, me puxando pelos braços para levantar da cama. — Meu Deus! — Grita mais uma vez, por cima das vozes dos cantores da Banda Torpedo. — Veste alguma coisa! — Hyunjin vira de costas quando me levanto, e adendo, não estou pelado, apenas de cuequinha - do homem aranha, a propósito. — Imagina se mainha te vê desse jeito, que horror! Você não tem vergonha?

— Primeiro — Pego a primeira bermuda que vejo ao lado da cama, por cima da cadeira da escrivaninha. Meu quarto é minúsculo, então tudo é bem apertado, apenas uma cama de solteiro, um guarda roupa e minha mesa de estudos. Nada mais. Ah, e as paredes são azuis, da época em que eu ainda era criança, então é um azul bem desbotado. — Mainha me pariu, ela sabe o que tem no meio das minhas pernas, tá ligado? — Visto a roupa e meu irmão finalmente me olha, com nojo e julgamento, mas não é nada fora do comum. — E também, ainda é de manhã, imbecil, que feliz natal o que.

Empurro Hyunjin pro lado apenas para passar por ele, e ele me segue dizendo ofensas sobre minha falta de pudor e que eu deveria respeitar a única mulher da casa. E antes que todos comecem a me julgar também, entenda, eu não ando pelado pela casa, só durmo pelado, sacou? É bem mais normal do que vocês imaginam. Independente, o dia segue normal, Banda Torpedo é mudado para Banda Tarraxinha e de repente estamos todos na garagem dando os toques finais para o almoço. Tem arroz na mesa, macarrão, um pouco de feijão para os anêmicos da família — eu e uns primos —, além de frango assado, as carnes do churrasco e frutas. Como meus avós e alguns tios vão vir à noite, a sobremesa da ceia é com eles, então por enquanto temos só isso.

Tudo flui normalmente até às dezoito horas, quando a turma começa a chegar. Meu primo Jisung é o primeiro a chegar com os pais, então minha primeira reação ao ver aquela aberração de cabelos azuis é correr e dar um abraço nele. Jisung mora em outra cidade mais no interiorzão, então raramente o vejo. Só não digo que ele é meu preferido porque existe Jeongin, o mais novo, mais bonito, mais educado, fofo e camarada. Por aquele garoto eu taco fogo em igreja, beijo homem casada e roubo banco pelado. Mas também amo Jisung, então nos abraçamos por tempo suficiente que é considerado confortável, e então reparo nas tatuagens, na lupa entre os fios azuis chamativos e as roupas pretas.

— Meu Deus! — Exclamo, assustando o menino que está parado na minha frente. — Seis meses sem te ver e você virou noia? — Digamos que se estivéssemos num desenho animado, teria lágrimas formando ao redor dos meus olhos, lágrimas ultra realista, que iria totalmente contra o fato que somos personagens de um desenho animado, mas é a vida real, então no máximo estou perplexo, olhos esbugalhados e boca exageradamente aberta.

— E você tá cada dia mais viado.

— Cala a boca! — Tampo a boca desse larápio antes que algum familiar escute. — Twink maldito, tá fumando maconha, porra?

— Óbvio que não, eu asmático, como vou fumar? — Jisung me afasta um pouco, e talvez eu grude nele de novo, sou um pouco carente de afeto físico. Nisso, vamos andando até a mesa posta na garagem. — Ué, por que o Hyunnie tá careca? — Ele indaga assim que senta, olhando para Hyunjin perto da churrasqueira com nosso pai.

— Sei lá. — Balanço os ombros. — Ele decidiu que quer começar o ano diferente, e também, ele tá num lance mais alternativo, sabe? Quer tentar uns estilos, aí cortou o cabelo, pintou e agora tá parecendo o Eminem asiático.

— Jesus. — Jisung balança a cabeça em um falso julgamento. — Tá estiloso, me amarrei. E você, já contou pra eles?

— Sobre o que? — Pergunto, me servindo de um pouco de arroz, macarrão e tudo que couber no meu prato.

— Sobre aquela pessoa.

— Óbvio que não. — Quase me engasgo quando ele é citado. Meu coração acelera e checo se alguém próximo está ouvindo, mas minha mãe está ocupada conversando com a irmã, meu pai tá na churrasqueira com Hyunjin e meu tio está brincando com nossa cachorrinha Berry, então me aproximo de Jisung apenas para falar. — Mas ele vai vir mais tarde, acho que tá na hora de apresentar ele e…. você sabe, me assumir.

— Vou tá aqui com você, mano. — Nos batemos as mãos num high five estilo Xande e Guizo, nossos personagens preferidos de Ordem Paranormal, e volto a comer em silêncio.

Pensei muito antes de tomar a decisão, antes que achem que sou impulso. E não posso mais esconder isso, é quem eu sou, minha família tem o direito de conhecer quem eu sou de verdade, entende? Foram anos para conseguir aceitar que talvez meus pais fiquem sem netos do seu primogênito — porque não pretendo ter filhos, apesar de saber que existem homens que podem engravidar —, e que talvez agora eles me vejam de forma diferente. Não sei o que pensar depois que tudo vier à tona, será que eles vão me odiar? Vão ter nojo de mim? Torço que o espírito natalino os faça relevar que o filho deles é gay.

Continuo comendo meu almoço quieto, trocando uma ou duas palavras com Jisung ao decorrer. Ele me tagarela sobre sua mudança drástica de estilo, diz que tá meio “Hyunjin das ideias” e quis tentar algo diferente, por isso a tatuagem no ombro, a lupa colorida no topo da cabeça, o piercing na orelha e as roupas pretas, mas sem drogas, afirma várias vezes. Também comenta sobre os amigos que fez no colégio e coisas que, me desculpem, parei de ouvir no exato momento que Cláudia passou pelo portão de entrada. Cláudia, para vocês que não conhecem, é minha tia, uma mulher baixinha com longos cabelos pretos cacheados e muito — mas MUITO — religiosa. Falei, né? Sou brasileiro, meio australiano, meio alguma coisa lá da Ásia, mas ainda tem sangue brasileiro no meu… sangue? Enfim, tenho tias crentes, como normalmente teria em qualquer família brasileira. Porém, Cláudia é o cão, com todo respeito ao cão ofendido nessa frase, mas ela realmente não é flor que se cheire.

E infelizmente, ela é mãe de Jeongin. Meu moranguinho do nordeste passa junto a ela, com seus lindos cabelos ruivos herdados do pai e com aquela carinha de neném. Levanto no mesmo instante e corro até ele, quase saltitante, e o abraço com força o suficiente para escutar uma costela estalar e ele arfar no meu ouvido. Jeongin é um pouco maior, está no auge dos quinze anos, mas ainda o levanto do chão com facilidade — academia, né? Sabe como é —, fazendo com que ele comece a rir.

— Priminho! — Grito animado enquanto Silvanno Sales canta “Mentes Tão Bem” lá do caixa de som. — Que saudade!

— A gente se vê todo dia no colégio, tongo. — O coloco no chão e ele endireita a roupa.

— Sai pra lá, agora é minha vez! — Jisung me empurra para lado com a agressividade de uma muriçoca e abraça Jeongin pela cintura, rodopiando com o garoto como se ele fosse uma boneca de pano.

A cena é linda, eles girando e jeongin rindo agarrado em Hannie como se a vida dependesse disso. Lindo. Porém, tudo que é belo é estragado por causa da velhice, então a maldita, digo, a mãe do meu primo aparece no meu campo de visão. Cláudia chega pela lateral e para do meu lado, cruza os braços e lança olhares desgostosos para Jisung. E eu sei exatamente o que ela está pensando. Ela é uma mulher muito conservadora, uma vibe meio “Mulheres com Bolsonaro” entende? Tipo, sei que a igreja a priva de muitas coisas, mas isso não quer dizer que você possa colocar a SUA religião acima do respeito pelas pessoas, saca? Então, sabendo que levaria um rajadão, ela não diz nada, apenas observa com muito desdém Jisung.

Penso em como ela vai reagir com a chegada dele mais tarde, o que ela vai dizer ao descobrir que eu sou gay, e que o filho dela vai todos os dias para o colégio com um viadinho. Fico um pouco inseguro, porém, tento não deixar muito na cara que quero desistir para não preocupar Jeongin e Jisung, que me conhecem muito bem, tipo, MUITO mesmo. Voltamos para a mesa e comemos, conversamos e Silvanno Sales cantou todo seu repertório daquelas playlists antigonas que o pessoal faz no YouTube.

Às vinte horas toda minha família tinha chegado, vovó Márcia, uma senhorinha muito simpática, vovô Lúcio, que me ensinou a andar de bicicleta na época que eu ia pro sítio dele. Além de tios e tias, poucos, mas o suficiente para lotar a garagem minúscula da nossa casa e deixar o ambiente um forno. Escapo desse simulado de escape room familiar e fico na frente de casa. A rua onde moro é tranquila, vejo luzes piscando nas casas vizinhas, hora ou outra passa alguém muito bem vestido indo para a pracinha alguns quilômetros daqui, cachorros de rua lutam por pedaços de carne jogadas por alguns vizinhos muito simpáticos e muriçocas tentam chupar meu sangue enquanto me encolho em ansiedade e dor de estômago. O celular no bolso da minha bermuda toca e a mensagem dele brilha na tela. “Estou chegando”. Duas palavras é o suficiente para me fazer quase ter uma síncope, porém, como um homem muito macho e corajoso que sou, me mantenho pleno esperando meu princeso.

E então, lá longe, no início da rua à minha esquerda, ele surge de bermudinha jeans que com mais quatro reais comprava uma calça, camisa regata branca e o boné pra trás. Meu Deus, acho que vou desmaiar. Seu cabelo é ondulado como o meu, porém mais cheio e rebelde, então é adorável como ele parece um trombadinha com os cabelos mais encaracolados que já vi na vida. Ele vem na minha direção com as mãos nos bolsos e sinceramente? Quero beijá-lo até minha boca ficar inchada. Ele é menor que eu, pouco, mas o suficiente para conseguir passar os braços por cima dos seus ombros sem problema nenhum, o que me facilita em abraçá-lo, e eu adoro isso. Adoro como ele é pequeno, adoro seus músculos, adoro o jeito que ele é educado, adoro como ele sorri por qualquer bobagem que eu digo e adoro que ele seja meu namorado.

Meu namorado. Isso me enche de felicidade e medo, mas a palavra é tão boa de dizer. Meu namorado me abraça primeiro antes que eu tome iniciativa, ele fica na pontinha dos pés e me faz abaixar até conseguir me enlaçar pelos ombros, ele cheira a Malbec, e okay, todo mundo sabe que é cheiro de homem que não presta, mas meu princeso foi o homem que Deus criou como pedido de desculpa pelos vários outros que não prestam. Quero me embriagar no cheiro delicioso da curva do pescoço dele, quero sumir dentro do abraço dele e não voltar pra festa lá dentro, mas decidimos que era a hora de contar para todo mundo que estamos namorando, então, depois de abraçá-lo, nos afastamos com sorrisos envergonhados e eu luto internamente para não beijá-lo.

— Oi. — Ele diz baixinho, olhando diretamente nos meus olhos. — Como tá lá dentro?

— Chato, não quero voltar. — Admito, a voz manhosa e as sobrancelhas caídas. Quero ir pra casa dele, quero me esconder no quarto dele, quero que ele me abrace até que esse medo dentro de mim suma, mas não digo. Ele já diz que sou dramático demais, não quero dar mais motivos.

— Vai ficar tudo bem. — Changbin coloca uma mechinha de cabelo atrás da minha orelha, acariciando o brinco de argolinha que ele me deu no dia do nosso primeiro mesversário de namoro. — Como quer fazer isso?

— Não pensei nessa parte. — Fico tentado a segurar na mão dele, é tão pequena e gordinha. Quero entrelaçar nossos dedos, mas não faço nada. — Mas não vou fazer besteira, prometo.

— Você nunca faz besteira. — Ele segura nos meus braços e aperta de levinho, como um incentivo silencioso. — Vamos lá.

— Vamos.

Volto, desta vez com ele, para a garagem e agora Priscila Senna toca no caixa de som, um pouco mais baixo que antes, mas ainda está lá. Acompanho Changbin até a mesa onde meus primos estão, Jisung é o primeiro a levantar e vir na minha direção antes que eu chegue até eles.

— Então é você — Esquisito como sempre, Jisung aponta para Changbin. — o cara que comeu o meu priminho!

— Jisung!? — Jeongin chega no exato momento que esse doente fala. — Cadê seus modos? — Ele dá uma cotovelada na lateral do corpo de Jisung, muito devagar, e olha para Changbin que está coradinho. — Oi, sou Jeongin, primo do Chris. — Innie estende a mão com um sorriso de tirar o fôlego, e Changbin aperta, ainda envergonhado.

— Changbin. — Diz, meio aéreo pelo que acabou de acontecer. — Amigo… dele? — Ele me lança um olhar duvidoso e eu quero bater no Jisung.

— Não precisa disso tudo, sabemos que você é o namorado dele. — Jisung diz, passando o braço por cima dos ombros de Jeongin e sorrindo com aquela lupa azul ridícula no rosto.

— Eles foram os primeiros que contei sobre a gente. — Digo, para tirar dúvidas de uma vez. Changbin balança a cabeça, um pouco mais à vontade com os meninos. Isso me deixa aliviado, não sei se nosso namoro estava autorizado a ser contado a terceiros antes do meu grande chá revelação de sexualidade, mas não consigo esconder as coisas dos meus primos, eles são tipo, meus confidentes, conto absolutamente tudo pra eles.

É tranquilizador ver que Changbin não ficou chateado com isso, então me animo um pouco. Apresente ele a alguns familiares curiosos, e logicamente, aos meus pais. Minha mãe o cumprimenta com um abraço apertado, bem típico dela, e já o leva até a mesinha com carnes já prontas e farofa. Os olhos do meu amado brilham pela comida e ele enche o pratinho de plástico descartável com várias asinhas, toscanas e bananinhas. Meu pai é do tipo de homem meio desconfiado, então quando apresento Changbin a ele, ele me olha com aquele olhar, como se soubesse de todos os meus segredos — e talvez saiba, não sei. Mas logo cumprimenta Changbin, e — graças a Deus — desta vez ninguém o leva de mim, então puxo o menino até a sala.

— É quase meia noite. — Digo, a ansiedade crescendo no peito. — Você acha que falo antes ou depois? — Faço com que Changbin me acompanhe até o banheiro, preciso urgentemente lavar o rosto ou vou desmaiar. Ele para no batente da porta com os braços cruzados, me observando de um jeito tão atraente que por meio segundo esqueço que estou na casa dos meus pais e só quero puxá-lo para dentro do banheiro comigo.

— Não sei, amor. — Nunca vou me acostumar com ele me chamando desse jeito, às vezes acho que é tudo minha imaginação. Um homem desses é meu namorado? Puff, impossível. Mas ele é, há mais ou menos cinco meses, e nossa, talvez eu tenha alguma sorte na vida. Ele continua me olhando, todo concentradinho e parecendo igualmente preocupado, e eu acho que estou babando. — Estamos juntos nessa, tá? Igual foi com meus pais. — Conhecer meus sogros foi uma loucura agradável, eles já sabiam da bissexualidade do Bin, igual sabiam que ele tinha um namorado. Fiquei todo nervoso à toa.

Porém, com meus pais era diferente. Eles não sabiam de nada, tenho medo que tratem ele mal, que falem coisa ruins, principalmente porque todos da minha família estão aqui hoje. Acho que exagerei, talvez a oportunidade certa fosse em outro momento. Quero desistir e me trancar no quarto com ele, quero que ninguém o machuque, mas ele continua lá, parado na minha frente com aquele olhar preocupado e confiante, as íris negras mais lindas que já vi na vida, então acho que consigo. Foi ele quem me incentivou, ele quem disse que estaria tudo bem que fosse hoje e não em outro dia. Estufo o peito em confiança quando me ergo e quero puxá-lo para um beijo, mas novamente me controlo.

— Você consegue. — Após essa fala, de repente, Changbin entra no banheiro me empurrando para dentro, fecha a porta atrás dele e segura a maçaneta. Ele me beija, ou talvez era pra ser só um selinho, mas eu o quero tanto que não consigo controlar. Eu o empurro na direção da porta e aperto com força nossos corpos contra a madeira. Changbin geme baixinho no meio da nossa bagunça e acho que vou enlouquecer. Ele nós para, ou força que eu me coloque de volta nos eixos, e esconde o rosto no meu pescoço, me abraçando todo molinho. — Você… consegue, tá? — Acho que consigo qualquer coisa agora.

Saio de lá com ele do meu lado, prontíssimo para batalhar contra Zeus e o mundo. Quando piso na garagem, vários “Feliz Natal” são ditos ao mesmo tempo. Meia noite. Minha família se abraça em comemoração, indo de lá para cá com o nítido entusiasmo de bêbado. Meus tios correm até meu pai, que se abraçam perto da churrasqueira, minha mãe vai até meus avós e os beija no rosto em felicidade. Jeongin e Jisung estão grudados, com taças cheias de coca cola e sorrisos animados no rosto. Tia Cláudia vem na minha direção, às bochechas vermelhas pelo vinho — que ela diz não beber, mas todos sabemos que ela é a que mais bebe no recinto — e os braços abertos, ela me abraça pela cintura e Changbin ao meu lado ri da situação constrangedora.

— Feliz natal, sobrinho! — Ela exclama em plenos pulmões, mesmo que não tenha necessidade. Tô literalmente perto dela, mais perto do que gostaria, que fique claro. — Jéssica, vem abraçar seu filho, mulher! — Ela acena pra minha mãe, que ri sem graça pelo jeito espalhafatoso dela. — E ai, hein? Quando vai arranjar uma namorada? — Ah, tava demorando. Agora quem está sorrindo sem graça sou eu, olhando pra essa mulher bêbada agarrada na minha cintura. Changbin do meu lado ri um pouco mais, escondendo a boca atrás das mãos. Quero morrer e levar essa mulherzinha pro inferno comigo.

— Clau-

— Tia Cláudia, mocinho! — Ela me interrompe. Uma pálpebra treme pela ousadia dela, mas me controlo. Jisung e Jeongin também estão rindo, o que me deixa ainda mais puto. Na verdade, todos estão rindo, até mesmo o tio Sungjin, marido dela.

Inferno. — Deixo escapar entre os dentes, mas tento deixar claro que ela escute. — Tenho algo a dizer, pessoal. — Afasta ela de mim com a maior educação possível. Olho para Changbin e ele me dá uma piscadela, um pequeno incentivo. Seguro na mão dele porque realmente acho que vou vomitar, e encaro todos meus familiares, mãe, pai, tios e tias, meus primos bocós e todos estão me olhando de volta, curiosos e confusos. Tento focar apenas nos meus pais, que se entreolham sem dizer nada. Engulo o nervosismo e limpo a garganta. — Eu sou gay. — Declaro com a pouca confiança que existe em mim, talvez eu tenha falado um pouco baixo, mas ainda fui claro.

Nada. Nada aconteceu nos próximos vinte segundos, nenhum apedrejamento, nenhum xingamento, nada. Silêncio se ergue acima de nossas cabeças como balões vazios de pensamento, como no desenho animado.

— E… — Volto a dizer, meio confuso pela reação. — ele é meu namorado. — Aponto igual um idiota pro garoto que está segurando na minha mão. Changbin dá um tchauzinho com a mão livre, para tentar quebrar o clima, mas ninguém reage.

— NOSSA! — Jisung grita, assustando todos nós. — E essa carne hein, tio Marcos? Tá queimando os salsichão aí, hein. — Meu pai olha para as carnes e depois volta pra mim. Jisung se encolhe mais para perto de Jeongin quando percebe que não conseguiu quebrar o gelo como gostaria.

— Garoto — Meu pai olha para Changbin. — sabe mexer na churrasqueira? — Changbin me olha antes de acenar pro meu pai, dizendo que sim. — Então vem. — Ele hesita antes de ir, mas vai calado. O som que estava baixinho aumenta de repente, e perto dos caixas de som vejo minha mãe colocando Zezo no talo. Como se tivesse sido pausado no tempo, eu observo meus tios voltarem a beber, minha tia Cláudia me olha de cima a baixo mas não diz nada e meus avós apenas sorriem pra mim. Não entendo nada, fico lá parado no meio da garagem como um idiota, sem saber o que fazer. Acho que desaprendi a andar.

Minha mãe pega na minha mão e me leva para dentro, até a cozinha. Ela abre a geladeira e tira algumas latinhas de cerveja, e sem pestanejar, começo a ajudá-la a carregar para fora.

— Filho — Ela me para antes que estejamos de volta na confusão lá na garagem. — Meio que já sabíamos, por isso a reação, e também, Changbin parece um garoto legal. Só reze que seu pai seja bonzinho ele, sabe que quando se fala em churrasco, Marcos leva bem a sério. — Ela sorri e sai, levando algumas latinhas nas mãos.

Volto pra garagem meio segundo depois, perplexo e meio travadão. Deixo as cervejas na mesa onde meus avós estão sentados, e eles apenas me olham com carinho, como sempre fazem. Nada parece diferente. Olho para Changbin perto da churrasqueira com meu pai, os dois parecem estar conversando muito animados sobre coisas de churrasqueira, meu pai sorri e o toca no ombro com muita empolgação. Uma empolgação que ele só tem quando finalmente acha alguém para ouvir suas lorotas sobre corte de carne e pontos. Continuo perambulando pelo local como um zumbi com fome, passando entre meus tios e tias, que conversavam e riem de algo que, pelo que vejo, não sou eu.

Talvez o natal seja realmente mágico como dizem.

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