Capítulo 5
Jeordana foi me puxando enquanto escondíamos em uma das casas. Apontou para a cabana do tio Jurandir, vimos Marie sair bem furiosa e foi indo para a floresta.
– Vamos. – me puxou de novo.
Com cuidado, nós fomos seguindo Marie de longe. Mas cada vez ela vai bem longe da aldeia. Quase desmaiei de cansaço até que Marie parou ao lado de um rio.
– Agora precisamos ficar bem quietas. – sussurrou Jeordana – Não queremos estragar o clima.
– Clima?!
– Shh… – tapou minha boca.
– Marie. – um grito veio quando apareceu uma garota indígena, pele meio escuro, cabelos morenos bem longos, vestindo shorts curto e uma blusa vermelha, e tem desenhos nas pernas dela.
– Você voltou. – gritou dando um abraço na Marie – Fiquei preocupada.
– Quantas vezes preciso falar pra não se preocupar comigo. – suspirou Marie e tocou no rosto da indígena – Eu voltei.
– E não imaginar o tamanho da minha felicidade cada vez que te vejo.
– Poxa, pare de falar coisas bobas.
– Você que é boba. – a indígena sorriu, segurou o rosto da Marie e…
Beijou os lábios dela.
– O QUÊ?! – quis me matar na hora quando soltei um grito de choque.
– Quem está aí? – rosnou Marie bem furiosa.
– Calma. – disse Jeordana, e fiquei cheia de vergonha me escondendo atrás dela – Somos nós.
– Suas…
– Yara – Jeordana acenou – Há quanto tempo.
– Por que estão aqui? – perguntou Marie com rosnado.
– Nossa, é assim que fala com sua amiga de infância e a sua irmã gêmea?
– Irmã gêmea?! – disse Yara com choque e olhou pra mim – Não acredito, você deve ser a Érica.
Rapidamente ela se aproximou de mim e me abraçou de surpresa.
– Finalmente estou te conhecendo, se parece mesmo com a Marie. – disse Yara bem alegre – Ela sempre fala de você.
– Ela fala?! – perguntei chocada.
– Sim, principalmente quando fala…
– Yara. – Marie soltou um grito forte e nos assustou.
– Desculpe, amor. – disse Yara, meio triste.
– Tadinha dela. – Jeordana cruzou os braços – Não precisa ser grossa com a sua namorada.
– Não se mete. – Marie rosnou.
– Sua mal agradecida, Cristina e eu cuidamos bem da Yara enquanto ela ficava tristinha e morrendo de saudade da namorada sumida.
– Por acaso quer que eu arrebente sua cara?
– Amor. – implorou Yara – Por favor, não briguem.
– Como alguém tão doce namorar essa cobra peluda grossa?
– Chega, eu vou…
De repente ouvi passos se aproximando bem rápido.
– Tem alguém vindo. – alertei.
Jeordana ficou alerta e Marie ficou perto da Yara, fiquei olhando para o local onde o som estava vindo. No meio das árvores apareceu um Humanimal Canino Pastor Belga na sua forma animal humano, ajoelhou no chão e foi respirando muitas vezes.
– Daniel. – gritei.
– Érica. – levantou rápido e me abraçou – Graças a Deus, você está bem.
Se afastou e foi tocando meus abraços.
– Eles te machucaram?
– Calma, estou bem.
– Mas vi sua casa e está um caos, fiquei te procurando à noite toda.
– Estou bem, mas meu pai…
– Olha só, por que nunca me contou que tem uma namorada? – ouvi a voz da Jeordana.
– Você… – Daniel rosnou e me colocou atrás dele.
– Nossa, pra que essa raiva? – Jeordana riu e foi se aproximando.
– Fique longe de nós. – Daniel gritou.
– Daniel… – tentei chamá-lo.
– Que grosso, não pode falar assim com alguém da sua família.
Alguém da família?!
– Calada, minha única família é o grupo do Chefe.
– Que triste falar assim da sua…
De repente ouvimos um uivo bem alto e de longe.
– Droga, ele está me chamando. – Jeordana suspirou e sorriu – Preciso ir, até mais.
Foi embora e Daniel ficou aliviado.
– Vem, vamos embora. – Daniel agarrou meu pulso.
– Ir para onde? – perguntei.
– A boate do Chefe, é claro.
– Não, tenho que voltar para a aldeia.
– Que aldeia?!
– Isso, vai embora com ele. – Marie disse bem grossa – Afinal, você é mais uma cidadã do que alguém na floresta.
– O quê?! – Daniel ficou em choque – Duas Éricas?!
– Não me compare com sua namoradinha.
– Ei, não fale assim da Érica. – Daniel mostrou os punhos.
– Quer mesmo brigar comigo?
– Amor, não brigue. – Yara ficou na frente da Marie.
– Amor?! – Daniel riu.
Marie rosnou e estava se transformando.
“Parem.”
Sábio apareceu em cima de uma onça-pintada, e surgiram mais sete onças-pintadas.
“Rainha dos Felinos está chamando vocês.”
– Droga. – resmungou Marie.
– Precisamos ir. – falei por Daniel.
– Não vamos ao lugar nenhum.
As três onças-pintadas rosnaram para ele e tive que ficar bem perto dele para não causar problemas.
– Amor… – Yara ficou quieta quando Marie saiu sem se despedir.
– Érica – me abraçou e sorriu – A gente se vê, quero te conhecer mais.
– Ok.
***
Daniel ficou bem desconfortável enquanto andava ao meu lado, encarando a Marie como se fosse um cachorro pronto para atacar.
– Daniel… – o chamei – Você conhece a Jeordana?
– Não sei quem está falando. – respondeu bem grosso.
– Não mente para mim.
– Então você é o cachorrinho da cidade que a Jeordana tanto fala. – Marie comentou.
– Fale na minha cara. – Daniel rosnou.
– O que está acontecendo? – tio Jurandir nos recebeu na entrada da aldeia, e disse com surpresa – Daniel?!
– Meu tio até te conhece?!
– Rei Jurandir é seu tio?! – Daniel ficou bem surpreso.
– Agora me conte a verdade. – gritei por Daniel.
– Depois. – Vó Clarisse apareceu e disse bem séria – Marie e Érica, venham comigo.
Marie resmungou e a seguiu, assim como eu que as segui de longe. Ela nos levou até uma cabana vazia.
Respirou fundo e falou:
– Os gatos de rua acharam o local onde está o pai de vocês.
– O pai dela. – Marie comentou.
– Sério?! – fiquei bem ansiosa – Onde ele está?
– Está escondido e preso no acampamento dos mineiros. – falou bem séria – E não é só isso, os homens são só cidadãos. Mas eles têm uma influência forte de energia maligna como se fossem…
– Sombrios. – Marie cruzou os braços – Então eles já reagiram.
– Reagiram?! – perguntei – Como assim?
– Os homens que atacaram sua casa, os olhos deles estavam vermelhos e chorando sangue?
Assenti devagar.
– Eles estão agindo mais rápido do que o normal. – disse Marie.
– Então, qual o plano para resgatar meu pai? – perguntei.
– Jurandir já está planejando, e recomendo que fique fora disso.
– Não, eu tenho que resgatá-lo.
– Mas você é uma idiota mesmo. – Marie suspirou – Está na cara que é uma armadilha para que a filhinha resgatar o papai já que minha mãe está desaparecida.
– E você não vai fazer nada? – perguntei – Ele é…
– Eu já falei. – Marie levantou – Eu não tenho um pai, nem importo o que vai acontecer com aquele humano.
– Então é igualzinha a nossa mãe, uma ser sem sentimentos. – rosnei e levantei – Eu mesmo vou resgatar meu pai.
Antes de reagir, senti três socos fortes na minha coluna e cai no chão. Assustei quando não senti minhas pernas.
– Não vai a lugar nenhum. – disse minha vó me encarando – Lisa.
Apareceu uma mulher ruiva e se curvou.
– Prendê-a na cabana e a vigie.
A mulher assentiu e me carregou com cuidado.
– Precisamos conversar. – foi que ouvi a vó Clarisse dizer pra Marie antes de sair da cabana.
– Me solte. – fui falando, mas a mulher ficou quieta e me carregando.
– Ei, o que fizeram com ela? – gritou Daniel, e correu pra me salvar – Solte-na.
Mas ele foi jogado para bem longe quando uma Humanimal Gata transformada o empurrou bem forte.
– Nossa, não treinou nada mesmo. – a Humanimal Gata voltou na forma humana, revelado uma mulher adulta de meia idade.
– Sua… – Daniel rosnou bem furioso, e gritou quando a mulher pisou em uma das mãos dele.
– Já falei para não rosnar pra mim. – a mulher o levantou – Nunca rosne para alguém da sua família.
– Você não é da minha família. – Daniel resmungou.
– Não te culpo, afinal é culpa do idiota do seu pai.
– Já falei que não tenho pai, seu gata chata. – quase deu um grande grito quando a mulher socou no estômago dele.
– Os jovens de hoje não tem respeito mesmo. – suspirou e ela olhou pra mim – Você o conhece?
– Sim, ele é meu amigo. – falei.
– Eita, quando ele descobrir. – a mulher riu.
A mulher me segurou com uma mão enquanto fazia sinais com a outra mão.
– Tudo bem, Lisa. – a Humanimal Gata segurou os braços do Daniel – Melhor ficar quieto.
As duas nos levaram numa cabana pequena. A mulher ruiva me colocou no chão com cuidado, a outra mulher não foi delicada com o Daniel.
– Fiquem quietos. – foi embora com a mulher ruiva, mas pelo cheiro sei que estão vigiando a entrada.
– Íaça. – Daniel rosnou e levantou – Quando eu…
– Que tal me contar o que está acontecendo. – gritei – Parece que todos da aldeia te conhecem muito bem.
Daniel me encarou e ficou quieto por um tempo.
– Não é da sua conta.
– Você também não. – gritei forte – Hoje descobri que tenho tios, primos, um avô e até uma avó. Uma parte da minha família que nunca soube que existia, nem meu pai me contou sobre eles.
Senti minhas lágrimas saindo.
– Já estou cansada de tantos segredos, esperava que você fosse meu amigo de verdade.
Daniel se aproximou de mim e limpou as lágrimas no meu rosto.
– Droga, de tantas pessoas pelo mundo. – me olhou feio – Por que tinha que ser a neta da Rainha dos Felinas?
Deu longo suspiro.
– Espero que não seja a filha da… – parou de falar e me encarou – Maldição, claro que é filha dela.
– Daniel… – chamei atenção dele – O que está acontecendo?
Daniel sentou e disse com voz de raiva:
– Humanimais da aldeia me conhecem por causa do meu pai. – cruzei os braços – Só isso posso falar.
– Seu pai…?! – perguntei – Ele é dessa aldeia?
– Não. – rosnou – Ele é meio que é vizinho deles, e ele tem amigos e parentes aqui.
– Então a mulher…
– Íaça. – disse com mais raiva – Ela só é esposa do tio do meu pai. Mesmo assim ela ainda age como se eu fosse parente de sangue dela.
Então ele também tem parentes aqui.
– E a Jeordana?
– Não quero falar mais nada. – com muita raiva – Principalmente nada sobre aquela loba.
– Droga, segredos e mais segredos. – resmunguei e olhei para minhas pernas paralisadas – Eu já estou…
Soltei um grito forte como se fosse um rugido:
– Cansada de SEGREDOS.
Senti um tipo de forte aumentando pelo meu corpo e assumi minha forma animal humana. Vi minhas pernas cheias de escamas brancas com listras pretas e…
Consegui senti-las e se mexendo de novo.
– Érica… – Daniel gaguejou – Seus olhos… Estão brilhando.
Do nada senti uma forte dor de cabeça e vi imagens estranhas na mente.
Uma floresta completamente branca.
Uma mão humana e sombria espalhando fumaça preta.
Uma tigresa branca ferida e rugindo.
E…
– Papai.
Vi meu pai preso dentro numa gaiola e os olhos dele ficaram vermelhos.
– Não. – rugi bem alto.
Cristina (Humanimal Híbrida - Leoa/Onça-Pintada)
– Vó Clarisse. – entrei na cabana onde a encontrei conversando com Marie – Me chamou?
– Marie, tem certeza que não sabe onde está sua mãe? – Vó Clarisse perguntou bem séria.
– Já falei que não. – Marie suspirou.
– Cristina. – vovó me chamou – Mande uma mensagem para seu tio César, e pra sua tia Ellie.
Fiquei sem palavras.
Isso significa que…
– Tem certeza, é bem sério assim? – perguntei – Porque sabe que a tia Ellie…
– É sério. – disse bem firme – A última vez que senti esse pressentimento… Foi quando a Caninana invadiu a floresta.
Nossa, está mais séria que nunca.
– Por que eu? – perguntei.
– Seu pai não pode saber ainda, e saber que ele não ia querer que os irmãos dele se envolvam nisso.
Verdade, principalmente com a tia Ellie.
– Tudo bem…
Do nada senti uma dor de cabeça tão forte que ajoelhei no chão, e ouvi uma voz feminina misturada com uma voz masculina.
“Me impedem.”
A dor de cabeça passou e vi Marie ajoelhada.
– O que aconteceu? – vovó perguntou preocupada.
– Eu não sei. – falei.
– É ele… – Marie disse com uma masculina – Ele está…
Ouvimos um rugido bem alto e corremos pra ver. No outro lado da aldeia vimos um enorme tigre branco saindo da cabana e rugindo.
Esse tigre é diferente.
É três vezes maior do que um tigre normal, e no lugar de pelos, ele tem escamas brancas com listras pretas.
Como se fosse pele de cobra.
– Érica. – vimos Daniel indo na frente do tigre – Me escute…
O tigre rugiu e deu uma patada que jogou Daniel para longe.
– Esse tigre é… – gaguejei.
– Ele finalmente se manifestou. – Marie sorriu e a voz masculina voltou – Que decepção.
Marie assumiu sua forma de anaconda peludo completo. Ela gritou e se rastejou em direção ao tigre, parou na frente dele e os dois se encaram.
– Não acredito que está facilmente sendo controlado. – disse a voz masculina na anaconda – Não sei se ficou com raiva ou alegre.
– Você… – disse duas vozes diferentes vindo do tigre.
Rapidamente anaconda deu um golpe de cauda na cara do tigre, tão forte que ele caiu no chão.
– Agora sim finalmente posso te matar.
– Se você me matar, vai morrer também. – tigre levantou e rosnou – Esqueceu o que ela fez conosco?
Anaconda o encarou e disse com risada:
– Claro que sei, precisava ver sua cara. – depois aproximou sua cara no rosto do tigre – Mas é melhor você não esquecer o que vai acontecer quando eu conseguir os meus poderes de volta.
– Você realmente não mudou nada.
O tigre rosnou e depois foi embora correndo até sair da aldeia.
– Daniel. – Íaça foi onde estava Daniel, vi um ferimento de garra no ombro esquerdo dela – Você está bem?
– Érica… – Daniel se levantou e assumiu sua forma de cachorro belga humano, e correu seguindo o tigre.
– Onde ele vai? – perguntei.
– Ela foi salvar o humano. – disse anaconda com a voz da Marie – Não quero fazer isso, mas minha alma animal quer que eu a siga.
Vó Clarisse suspirou.
– Vai na frente, vou mandar guerreiros para te ajudar.
– Não precisar. – disse antes de se rastejar.
– Cristina. – Vó Clarisse me chamou – Vamos atrás delas e fazer de tudo para que Érica e Marie não lutam uma contra a outra.
– Eu também vou. – Clay Júnior apareceu com suas asas de morcego e olhou para mim – Você também ouviu, não é?
O quê?
– Vamos. – Vó Clarisse tirou a blusa e assumiu sua forma tigresa completa.
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