Érica (Humanimal Híbrida - Tigresa/Anaconda)

Continuamos seguindo o tigre de fogo enquanto Marie ficou na nossa frente, eu fiquei olhando para a floresta e os animais espíritos. Um macaco-prego feito de terra me encarou e foi pulando nos galhos, e vi um coelhinho feito de flores.

“Opa, um belo coelhinho.”, disse Ben, alma cachorro do Daniel.

– Melhor não tentar machucá-los ou irritá-los. – disse Lin, em cima da cabeça do Daniel – Eles são bem sérios e unidos quando tem algo errado.

Pelo que notei os elementares herbívoros estão se afastando da Marie, e se aproximam um pouco de mim.

– Ai. – Daniel se afastou gritando – Senti um choque do nada.

– Parece que ela nos sentiu. – disse Marie – Érica e eu vamos, vocês ficam aqui.

– Eu não vou… – Daniel caiu no chão quando deu mais passo pra frente.

– Melhor ficar quieto. – Marie avisou – Não vai querer irritá-la.

– Dessa vez melhor ouvi-lá. – disse Lin – Vamos ficar aqui.

– Está tudo bem. – falei séria por Daniel e segui a Marie.

O tigre de fogo nos levou até uma árvore bem grande preta e branca partida ao meio.

– Kida. – Marie gritou – Kida, sei que está aqui.

Nada, está tudo em silêncio.

– Estamos com um problema, me escute dessa vez.

Senti meus pelos arrepiando e um cheiro que fez coração bater rápido.

“É ela…”, ouvi a voz da minha alma animal na minha mente.

“Anik?!”, ao meu lado surgiu uma animal espírito, uma tigresa branca meio grande.

Ela me encarou com seus olhos azuis e se afastou com uma voz confusa:

“Marie, você está com o cheiro do Anik.”

– Eu estou aqui. – Marie levantou a mão.

A tigresa se afastou e falou rapidamente:

“Como…”

“São duas…”

“Quem é ela?”

– O nome dela é Érica. – Marie me apresentou – Ela é como eu.

“Não acredito, Liadan criou duas, ela deixou claro que criou só você.”, rosnou encarando a Marie.

– Melhor perguntar pra ela, não para mim. – depois perguntou bem séria – Por falar nela, você a viu recentemente?

“Liadan?!”

“Não, ela não me visita há luas.”

– Então nem você… – Marie cruzou os braços – Bem, estamos com problemas piores e precisamos da sua ajuda.

“Ajuda?!”, rosnou bem forte.

“Assim como você quase destruiu parte da floresta da última vez que tentei te ajudar?!”

– Eu já pedi desculpas e minha mãe salvou a tempo.

“Sim, assumiu a culpa só para você não ser julgada.”

“Mas você realmente é uma mal agradecida e estaria completamente morta se a Liadan não te protegesse tanto. Olhe que avisei pra ela não ficar te protegendo já que você...”

– Pare de reclamar, sua tigresa velhota. – Marie gritou – Não preciso de seu sermão chato e nem faz ideia do que minha mãe está fazendo.

“Olhe a boca, pelo menos deveria seguir o exemplo das minhas filhas e da sua mãe.”

– Lá vamos nós de novo. – deu longo suspirou – Já falei que não sou Clarisse, Agatha, e minha mãe me deixou claro pra eu ser eu mesma.

“Outro erro que ela cometeu.”

– Não fale assim dela.

“Olhe você, se faz de durona forte quando na verdade é uma teimosa fraca que não consegue nada sem sua mãe.”

– Sua… – Marie rosnou – E você não passa de uma ex-sagrada que nem conseguiu salvar sua própria espécie. Ficou escondida enquanto eles sofriam pela maldição, e não fez nada quando sua filha…

Rapidamente a tigresa branca pulou pra cima dela e segurou os ombros da Marie…

“Sua monstra maldita.”

– Parem. – gritei forte com a voz do Anik – Parem com isso.

A tigresa branca ficou ímovel e olhou pra mim. Marie aproveitou quando um soco na cara da tigresa.

– Tome essa… – ergueu a cauda.

– Chega. – fiquei na frente da tigresa e segurando a cauda da Marie.

– Nossa, finalmente está se manifestando, Anik. – Marie riu com uma voz masculina.

– Se acalme, e não pense em machucar minha fêmea. – minha boca se mexeu sozinha.

“Anik, é você mesmo.”, disse Kida, com tristeza.

“Sua alma…”

– Digamos que estou um pouco diferente. – tentei falar, mas Anik assumiu as falas usando minha boca.

– E isso é obra da sua netinha. – disse Marie com a voz masculina outra vez – A poderosa Sagrada Tigresa Branca estragou completamente nossas almas e nem consigo controlar essa garota irritante.

– Vamos deixar isso pra depois. – ajoelhei na frente da Kida – Caim voltou.

“Não…”, a tigresa branca sentou no chão e gaguejou bem assustada.

“Isso é impossível, a alma dele deveria estar destruída.”

– É verdade. – a voz fez Marie levantar a mão – Tentamos lutar contra ele, mas a humana desse tigre atrapalhou tudo.

– Não culpe a Érica, aquele maldito usou o pai dela como refém.

– Mas será culpa dela quando ele destruir tudo, isso porque essa humana fraca deixou ele fugir e agindo como uma criança chorona.

– Já falei pra não falar mal dela. 

– Quer terminar o que começamos? – a voz masculina riu – Dessa vez deixe a chorona de fora do controle, ela é fraca demais.

– Chega. – finalmente assumi o controle do meu corpo e gritei quando agarrei meus cabelos – Parem com isso, parem com isso, parem com isso…

Senti o toquei da pata da tigresa branca no meu joelho. Ela lambeu meu rosto e encostou a cabeça dela no meu peito.

“Está tudo bem, minha bisneta.”

– Bisneta? – perguntei confusa.

“Clarisse e Agatha são minhas filhas, sua mãe é minha neta, então você é minha bisneta.”

– Eu…

“Está tudo bem, Anik está tentando acalmar sua mente.”

– Você conhece o Anik?

“Se eu conheço?!”, a tigresa branca riu.

“Anik é meu companheiro.”

– O quê?! 

“É uma longa história, mas agora precisamos falar bem séria sobre Caim.”

– Exatamente. – Marie voltou a falar com a voz dela – Por isso estamos aqui, precisamos da Garra dos Espíritos completa.

“Tem razão, só isso vai destruir a alma dele de uma vez por todas.”

– Sei que a mamãe entregou a parte dela para os Sagrados, você é a única que sabe onde está a outra metade. – Marie a encarou – Já que o pegou quando usou uma Humanimal Tigresa para destruir o Caim no tempo antigo. Depois que ele foi derrotado, você separou a garra dos espíritos e guardou a outra metade em segredo.

“Isso é verdade, eles só selaria a garra para não cair em mãos erradas, mas não pode sela-lo por está incompleto.”

– Onde está a metade? – perguntou Marie – Vamos juntar a Garra dos Espíritos e destruirei Caim completamente.

– Nós vamos. – falei séria – E salvaremos o mundo todo, a humanidade e até o mundo espiritual.

Kida ficou quieta e disse com alegria:

“Meus ancestrais, não queria que a Marie usasse a garra, mas deixarei já que lutaram contra Caim, e as irmãs ajudaram uma a outra.”

– Ela não é minha irmã. – Marie resmungou – Fale logo onde está a metade.

“Tudo bem.”, se levantou e disse bem séria:

“Eu o escondi num único lugar onde até os Sagrados são proibidos de entrar.”

– Meus ancestrais. – Marie agarrou os cabelos dela e gritou alto – A metade está no Tempo Proibido, o que deu na sua cabeça?

“Tive que agir rápido, é o único lugar que pensei.”

– O que é esse Tempo Proibido? – perguntei.

“É o tempo que ninguém pode entrar, nem os Sagrados.”

“O Futuro.”

– O futuro?! – perguntei meio em choque – O futuro-futuro mesmo?

– Meus ancestrais, agora nos complicou mesmo. – Marie resmungou – Ir no futuro é proibido, como pode?

“Eu só fui no futuro duas vezes, e já sabia que eu deixaria de ser uma Sagrada, então tive que pelo menos esconder a metade da garra.”

– Espere, Sagrados podem viajar no tempo? – perguntei.

“Podem.”

– Então por que não no futuro?

“Porque por causa de um certo alguém…”, encarou Marie bem furiosa.

“Ele viu o futuro e tentou mudar o acontecimento no passado, por isso surgiu muitas catástrofes, principalmente envolveu os meus Humanimais Tigres nisso e olhe o que aconteceu.”

– Ai, você não quer esquecer mesmo. – Marie suspirou com uma voz masculina – Confesso que tentei acabar com a raça de vocês, mas claro que suas filhas e os filhotes delas deixaram claro que é melhor eu desistir, então não precisa se preocupar e já desisti do plano.

“Mandou sua filha tentar matar minhas filhas e sua companheira quase matou meus netos.”, rosnou bem furiosa.

– Qual é, foram elas que quiseram enquanto eu estava ocupado tentando matar seu companheiro durante mais de mil anos, não dei nem um sinal para elas fazerem isso, então a culpa não é minha.

“Ora, eu vou te matar.”

– E vai me matar como? – a voz masculina riu na boca da Marie – Se eu estou no corpo da sua bisneta?

Kida rosnou bem furiosa e se preparou para atacar.

– Chega. – entrei no meio deles – Agora temos um inimigo bem pior pra lidar, então o que acham de uma trégua e esquecer um pouco do passado um do outro, por favor?

– Ela está certa, precisamos derrotar Caim, se não todos não estaremos mortos. – Anik falou através da minha boca e disse pra Kida – Não se preocupe, eu ficarei bem.

Kida parou de rosnar e suspirou.

“Tudo bem.”

– Anaconda, sei que ainda não acertamos nossas contas. – disse bem sério para Marie – Mas pelo bem de todo nosso mundo, eu peço sua… Sua ajuda.

– O poderoso tigre branco quer minha ajuda, agora sim estamos no apocalipse. – riu como louco – Foi mal, mas não vou gostar te ajuda sem nenhuma troca, principalmente se você não for morto.

– Você prefere lidar com o caos que o Caim vai trazer?

– Olhe, eu também quero acabar com aquele humano maldito. – depois deu logo sorriso – Então essa é a minha condição, se conseguirmos juntos derrotar o Caim, eu vou querer ser livre completamente e tentarei acabar com você.

– Você falou antes pra esquecer o passado.

– Mas nunca vou esquecer o que você me capturou e fiquei preso por muito tempo enquanto minha companheira e minha filha morreram tentando me libertar. – disse bem bravo – Minha fúria nunca sumirá até eu conseguir te destruir.

– Então vai ser assim, quando derrotamos o Caim. – Anik deu uma pausa – Vamos finalmente terminar nossa luta, e um de nós sairá vivo.

“Anik…”, Kida ficou quieta quando Anik olhou para ela.

– Agora sim eu gostei. – Anaconda sorriu – Tudo bem, juro pela minha alma que te ajudarei só até derrotar o Caim.

– Eu juro pela minha alma que quando conseguimos derrotar o Caim, você será livre e terminará de uma vez por todas a nossa luta. – disse com calma – Agora deixe a Marie no controle.

– Que chato. – depois Marie disse com a voz dela – Como ele é irritante, que saco.

– Isso porque você não passou mais de mil anos preso com ele. – Anik olhou para a Kida – Foi bom te ver e espero te ver outra vez, minha bela companheira.

Ele me deixou assumi o cotrole do meu corpo e senti uma forte tortura.

– Então vamos logo para as três cachoeiras espiturais. – disse Marie.

“Espere, é melhor vocês pegarem a primeira metade que estão com os Sagrados, assim ele te guiará para outra metade no futuro.”

– Está falando para arriscar nossas almas para pegar a metade que está com os Sagrados?! – Marie deu um longo sorriso – Isso vai ser divertido pra mim.

Clay Júnior (Humanimal Híbrido - Morcego/Rei Leão)

Mas que saco.

Eu odeio lidar com esse trabalho, mas…

– Desculpe, nossos aprendizes estão ocupados e você não estava fazendo nada. – disse Sasha enquanto foi pulando de galho a galho.

– Eu estava ocupado. – resmunguei.

– Deitado no chão e reclamando não é esta ocupado. – disse Ash, correndo ao meu lado.

– Ninguém te perguntou, cachorrinho.

– Repete o que disse. – rosnou.

– Calados. – Melody gritou e se curvou – Eles estão perto.

Nos abaixamos e de longe vimos três homens segurando tochas e queimando as árvores.

– São Sombrios ou Cidadãos? – perguntou Sasha, ao lado da Melody.

– São Amaldiçoados. – falei e respirei fundo – Eles são recentes.

– Ash, Júnior e eu cuidamos dos homens. – disse Melody – Sasha, chame alguém perto para apagar o fogo.

– Sim, amor. – Sasha beijou na bochecha da Melody antes de ir.

– Vamos. – disfarçou a vergonha e assumiu sua cara bem séria.

Melody foi na frente enquanto Ash e eu nos escondemos e vendo de perto a Melody se aproximando dos homens e disse com sua voz de sereia:

– Ora, o que estão fazendo?

– Mas que bela. – um dos homens ficou bobo, do nada ele gritou de dor e ajoelhou. Seus olhos ficaram mais vermelhos e chorando sangue quando ele riu e pegou uma arma – Melhor não usar seus truques, sereia.

– Agora. – gritou Melody e jogou rapidamente sua faca que acertou na cabeça do homem com a arma.

Os outros dois homens pegaram as tochas e tentaram atacá-la até que Ash, na sua forma lobo gigante, os empurrou e fez eles largarem as tochas.

Ouvi um barulho à distância e vi que tem um quatro homem escondido nas árvores e está segurando um rifle. Assumi minha forma leão-morcego humano e dei um forte rugido, tão forte que derrubou o homem com rifle.

Mas antes ele deu um tiro depois que recebeu o rugido e a bala acertou uma das pernas de atrás do Ash. 

Ele uivou de dor e caiu no chão, os homens com tochas quase foram pra cima do Ash até que Melody acertou suas facas no ponto vital na nuca deles. Rapidamente fui no quatro homem com rifle e de perto vi que não era um Amaldiçoado, é só um cidadão comum.

– Mon… – gaguejou de medo – Monstros.

Rosnei e ergui um dos meus braços para atacá-lo.

– Pare. – fui impedido pela minha vó que apareceu do nada e agarrou meu braço, me encarou séria – Não o mate.

Respirei fundo e voltei à minha forma humano. A vó Clarisse assumiu sua forma tigresa humana e encarou o homem para ele treme de medo e ficou com mais medo quando ela quebrou o rifle só com um pé.

– Lisa, prende-o. – apareceu uma mulher ruiva, Humanimal Raposa, e prendeu o homem com suas cordas e cobriu os olhos dele com um lenço preto.

– Ai, minha perna. – gritou Ash, quando voltou na sua forma humano.

– Vamos te ajuda. – Sasha foi ao lado dele e o levantou com ajuda da Íaça, uma Humanimal Gata que mora na aldeia.

– Ai… – Ash me encarou furioso – Junior…

– Deveria me agradecer por ele não acertar sua cabeça. – comentei.

– Mas deveria ter nos avisado que tinha outro homem escondido. – disse Melody e me encarou bem brava – Sorte que você não receberá uma punição porque você não é membro da aldeia e nem do nosso grupo, mas na próxima vez que queria fazer isso, faz quando você está sozinho.

– Chega, vamos voltar para a aldeia. – disse vó Clarisse – Os Humanimais Marinhos cuidaram do fogo.

Lisa levou o homem preso enquanto os outros foram embora e me encarando furiosos.

– Está tudo bem? – perguntou vó Clarisse.

– Estou bem. – falei sério e já fui andando.

Já estou acostumado com esses olhares desde da primeira vez que visitei a aldeia, a maioria das pessoas da aldeia me encaram com um pouco de raiva porque eu sou o filho de um Humanimal Morcego que foi isolado porque engravidou a filha mais nova do antigo líder.

E ficaram com mais raiva porque um herdeiro leão queria um casamento com a filha mais nova do Raoni, naquela época a aldeia estava com muita fome e sede e o pai do herdeiro prometeu que daria muita comida e água limpa. Mas por causa do meu pai e a gravidez da minha mãe, o herdeiro e o pai dele não quiseram mais o casamento e foram embora para não ajudá-los mais.

Meu pai foi isolado, mesmo assim minha mãe conseguiu fugir com ele para morar numa cidade bem longe da floresta.

Eu fui criado pelos meus pais e os meus bisavós, tive uma boa infância com o carinho da minha mãe e o meu pai brincava comigo nos dias de folga dele. Meu bisavô morreu quando eu era pequeno e a bisavó foi ajudando minha mãe até que teve que ficar mais tempo na cama por causa da dor nas pernas.

Agora minha mãe está cuidando da bisavó enquanto meu pai trabalha como policial na cidade. Quando minha alma animal se manifestou completamente, fui forçado a ir para a Amazônia para treinar na floresta por um tempo.

Meus tios, minhas primas e minha avó são as únicas pessoas da aldeia que gostam de ficar perto de mim. Vô Raoni não é muito meu fã porque meu comportamento é igual ao do meu pai, mas minha avó disse que no fundo ele gosta de mim.

Mas a minha outra avó, Jasiri, é um pesadelo. Ela fica me criticando do meu comportamento e me dá uma bronca toda vez que eu faço algo que ela não aprova, como naquela vez que gritei com as meninas que ficavam tentando se aproximar de mim por causa da minha aparência.

“É culpa da sua mãe que você tem essa aparência de príncipe bonitão.”

É o que ela mais gosta de falar.

Droga, eu queria mais que eu fosse um cidadão comum do que o primeiro Humanimal Híbrido do mundo, e o pior…

Chegando à aldeia, as pessoas estavam agitadas, mais as crianças e as mulheres ao redor da casa do tio Jurandir.

– O que está acontecendo? – vó Clarisse perguntou uma das crianças.

– O bebê vai nascer.

Vó Clarisse correu em direção da casa do tio Jurandir.

Com essa agitação significa que o bebê da tia Sofia está nascendo, e claro que muitos estão ansiosos para que dessa vez nasça um menino.

Até eu espero que nasça um menino.

Porque na verdade, minha parte leão…

É alma rei leão.

Como tio Jurandir deixou de ser um rei leão e virou um Humanimal Onça-Pintada, ele só é líder pela aprovação da alma do primeiro líder da floresta.

Ele não vai ao conselho do leão para me proteger, porque os outros reis leões vão forçá-lo para que eu me torne o herdeiro dele por direito. Mas ele prometeu para mim e para minha mãe que eu teria uma vida de acordo com a minha vontade e liberdade.

Os outros reis leões só prometeram que me deixaram em paz se eu não causar confusão, e principalmente eles deixaram claro para que tio Jurandir tenha um filho que será herdeiro.

Mas se nasce mais uma menina, tia Sofia não terá mais condições de ter mais filhos. Os reis leões vão descobrir e então eu serei forçado para ser o herdeiro leão e assumir o lugar do meu tio.

Claro que não quero ser herdeiro e nem ser rei leão, minha vida é na cidade com meus pais e ser completamente livre. Por isso que sou mal-humor de propósito com as pessoas da aldeia para que eles não queiram que eu seja o futuro líder deles.

Um choro de bebê silenciou completamente todo mundo.

Por um tempo a Lucinda chamou o tio Jurandir e entraram na cabana, as pessoas ficaram paradas e em silêncio até que tio Jurandir apareceu segurando um bebê nos braços e gritou bem alto:

– É um menino.

Todos gritaram de alegria e pularam como loucos.

Que bom, significa que ele poderá ser o verdadeiro herdeiro. Espero que isso faça os outros Reis Leões me deixarem em paz.

– Júnior. – ouvi Gabriel sentando ao meu lado – Tudo bem?

– Cai fora. – resmunguei.

– Nossa, não posso nem dizer um oi para você? – riu – Somos primos.

– Sei o que quer, ainda é um não.

– Nem falei nada.

– Quer que eu faça parte do seu grupinho, já falei que tenho um lugar na cidade.

– Puxa, você seria um bom guerreiro. – depois ficou quieto – Mas não é isso, é sobre o sonho com a tia Liadan.

Fiquei sem ar e o encarei.

– Pela sua cara, vejo que ela também apareceu no seu sonho. – disse bem sério.

Não é só isso, semana passada eu estava no Paraná na casa dos meus pais até que recebi o sonho que a tia Liadan falou comigo na sua forma tigresa branca completa e disse só uma frase:

“Vai à floresta, você vai entender.”

Quando cheguei, Cristina disse que recebeu o mesmo sonho, mas para ela a tia Liadan disse para ir para uma casa ao lado de um lago, onde encontramos a Érica.

– O que a tia Liadan disse para você? – perguntei.

– Sabia. – suspirou e respondeu – Para eu vir para a floresta com o meu pai, até o Luiz recebeu a tia Liadan no sonho dele e disse…

– O quê?

Me encarou bem sério:

– Para lutamos todos nós juntos quando ouvimos o rugido.

O rugido?!

– Júnior. – ouvi grito da Cristina e foi correndo a minha direção.

– O que foi? – perguntei.

Cristina parou e apontou para outro lado onde vimos Rocket, um dos guerreiros veteranos  da aldeia, carregando três malas.

E atrás dele vimos um casal se aproximando, e fiquei em choque porque os reconheci.

– Pai… – gritei – Mãe.