Capítulo Treze
Pedro Alves:
Me controlei com dificuldade para não puxar Connor em minha direção e beijá-lo ali mesmo. Seu olhar, embora sério, tinha um brilho que eu não conseguia ignorar. Cada fibra do meu ser gritava para que eu rompesse a distância entre nós, mas eu permaneci imóvel, tentando me manter sob controle. Connor me chamou novamente, mas as palavras dele se perderam no ar. Meu coração estava batendo rápido demais, e tudo ao meu redor parecia um borrão.
Ele se levantou com uma graça natural que sempre me deixava admirado e se despediu. O silêncio encheu o escritório quando ele saiu, e eu fiquei ali, parado por alguns segundos, até que a porta foi aberta de repente com um estrondo.
— Como foi a conversa com o Connor? — Minha mãe perguntou, entrando com uma energia vibrante. — Cuidamos do seu irmão, e o coloquei de castigo.
Eu estremeci ao pensar nos castigos da minha mãe. Por trás de seus vestidos floridos e do sorriso gentil, ela era capaz de aplicar punições assustadoramente eficazes, algo que mesmo os mais corajosos temiam. Eu sabia que, por mais doce que parecesse por fora, ela tinha um jeito implacável de lidar com quem errava com ela.
— Ainda acho que foi muito leve com o Vincezo — disse Agnes, aparecendo com sua típica atitude impetuosa. Ela se sentou ao lado da minha mãe, e ambas trocaram olhares cúmplices. — Minha amiga está ficando mole com a idade, parece.
— Estou apenas tentando ver se o plano idiota de Vincezo teve algum efeito — minha mãe replicou com um suspiro impaciente, estalando a língua. — Queria que Pedro tivesse mais iniciativa, mas Vincezo estragou tudo ao levar Samuel para fora em vez de preparar algo aqui na mansão.
Elas balançaram as cabeças, claramente ansiosas para saber o que tinha se desenrolado entre mim e Connor. Era quase surreal perceber o quanto a minha vida romântica tinha se tornado um assunto eufórico para essas senhoras. A cada segundo, ficava mais evidente que não era apenas curiosidade; era como se elas estivessem assistindo a um drama de suas novelas favoritas.
— Onde está o pai? — perguntei, tentando desviar o foco por um momento.
— Ele está de olho no seu irmão, para garantir que Vincezo não tente escapar do castigo — respondeu minha mãe com uma risadinha. — E também está resolvendo alguns negócios ao telefone. Mas isso não importa agora. Conte o que aconteceu com o Connor. Pelo jeito que descreve, parece que foi algo bem... educado e cheio de classe.
Suspirei, tentando não demonstrar o turbilhão de emoções que ainda pulsava dentro de mim. — Ele me intimou a levá-lo para um encontro. Só ele vai decidir o lugar.
As duas assentiram calmamente, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.
— Então já se prepare para amanhã — disse Agnes com um sorriso travesso. — E, por favor, lembre-se de controlar sua cara de nojo sempre que alguém demonstrar um gesto de carinho. Você tem que aprender a disfarçar melhor.
Eu podia sentir meu rosto ficando rígido ao ouvir isso. Agnes, é claro, notou, e aproveitou a oportunidade para fazer um sermão completo sobre como casais felizes se comportam, descrevendo situações melosas que me faziam revirar o estômago.
— Está vendo? Você está aprendendo! — disse ela, batendo palmas enquanto ria. — Finalmente está começando a agir como um ser humano e não como um robô.
Minha mãe, claro, também começou a rir.
— A cada palavra sua é um insulto — murmurei, tentando manter a compostura.
— Querido, sejamos honestos — minha mãe disse com um olhar pensativo. — Você realmente não é muito bom em demonstrar qualquer coisa que não seja raiva ou desgosto. É um milagre que duas pessoas tenham se apaixonado por você.
— Concordo plenamente! — disse Agnes, balançando a cabeça em aprovação. — Connor e Samuel devem ser dois santos por conseguirem gostar de uma estátua como você.
Revirei os olhos, e as duas riram ainda mais alto, deixando claro que o assunto seria recorrente. Fiquei mais um tempo com elas, ouvindo suas provocações e conselhos, até que decidi que era hora de ir para cama. No fundo, estava ansioso para fugir daquela atmosfera, mas principalmente para me afastar dos olhares intrometidos que me perseguiam a cada movimento.
Caminhei pelos longos corredores da mansão. O silêncio da noite fazia ecoar cada passo, e as paredes, decoradas com obras de arte antigas e tapestries douradas, tornavam o ambiente mais imponente. A grandiosidade do lugar sempre parecia pesar sobre mim, lembrando-me da responsabilidade que carregava. O aroma sutil de cedro e lavanda preenchia o ar, enquanto luzes baixas iluminavam suavemente os móveis luxuosos e os lustres de cristal.
Quando entrei no meu quarto, me joguei na cama, mas os pensamentos de Connor não saíam da minha cabeça. Sua presença mexia comigo de uma forma que eu não conseguia explicar. Havia algo na forma como ele me olhava, na maneira como sua voz soava firme e, ao mesmo tempo, suave. Algo dentro de mim queria desesperadamente que ele se aproximasse, que ele me entendesse. Talvez amanhã, no encontro, eu pudesse deixar que as coisas seguissem seu curso natural. Talvez, só talvez, a química entre nós fosse inevitável.
Fechei os olhos, tentando afastar os pensamentos, mas logo me vi mergulhado em um sonho que parecia mais real do que qualquer coisa. Eu estava em um jardim vasto, o mesmo jardim nos fundos da mansão, mas algo nele estava diferente. As flores, normalmente organizadas e delicadas, cresciam selvagens, como se tivessem uma vida própria, criando um caminho perfumado que se estendia diante de mim.
No meio desse cenário, Connor estava lá, de pé, esperando por mim. Ele vestia algo diferente, mais casual, mas ainda assim, a confiança dele transparecia, como se ele sempre soubesse exatamente o que dizer e fazer. Seus olhos estavam fixos nos meus, brilhando com uma intensidade que me fez esquecer onde estava.
Eu caminhei até ele, cada passo parecendo mais leve, como se flutuasse. Não havia pressa, só o desejo crescente de estar ao lado dele. Quando finalmente cheguei perto, ele me estendeu a mão, e o toque de seus dedos na minha pele enviou um arrepio pela minha espinha.
— Estava esperando por você — disse ele, sua voz suave, mas com uma certeza inabalável.
— Eu sei — murmurei, sem realmente saber o que responder.
O jardim ao nosso redor parecia desaparecer à medida que o foco se tornava apenas nós dois. Connor deu um passo mais perto, e tudo ao nosso redor pareceu ficar em silêncio, como se o tempo tivesse parado. Podia ouvir minha própria respiração acelerada, sentir o calor dele tão perto de mim. Sua mão subiu devagar até o meu rosto, e ele o segurou com tanta delicadeza que por um momento eu pensei que estivesse sonhando — e de fato estava, mas aquilo parecia tão incrivelmente real.
— Você não precisa se segurar tanto — ele murmurou, e sua voz era como um sussurro que preenchia cada canto da minha mente. — Eu estou aqui.
Ele se aproximou mais, e meus olhos fecharam quase que automaticamente. Seus lábios encontraram os meus de uma forma suave, como uma promessa que finalmente se realizava. O beijo começou calmo, mas a intensidade logo cresceu, e eu me perdi completamente naquela sensação. O mundo ao nosso redor deixou de existir; eram apenas os lábios dele nos meus, e a onda de calor que percorria meu corpo. Era como se tudo o que eu quisesse, tudo o que eu precisasse, estivesse ali, naquele momento.
Quando nos afastamos, Connor me olhava com aquele sorriso suave que eu nunca consegui decifrar completamente.
— Pedro, eu... — ele começou, mas antes que pudesse continuar, o som distante de passos no jardim me trouxe de volta à realidade do sonho.
Virei-me, e lá estava minha mãe, surgindo entre as flores, com Agnes logo atrás, rindo.
— O que vocês acham que estão fazendo? — minha mãe perguntou, mas o tom dela era quase brincalhão, algo que eu raramente via.
Connor riu baixo e segurou minha mão com mais firmeza.
— Parece que não conseguimos fugir nem nos sonhos, hein? — ele brincou, e eu apenas balancei a cabeça, sem saber o que responder.
No instante seguinte, acordei com um sobressalto, meu coração batendo forte no peito. A realidade começou a se assentar lentamente enquanto eu olhava ao redor do quarto escuro, tentando processar o que tinha acabado de acontecer.
Era apenas um sonho... mas a sensação de estar com Connor, de beijá-lo e sentir aquela conexão, ainda pairava sobre mim como um eco. Passei a mão pelos cabelos, tentando me acalmar, mas sabia que esse desejo, essa química entre nós, estava longe de ser apenas imaginação. Era algo real, algo que só crescia a cada momento.
Virei-me na cama, observando o teto enquanto uma sensação agridoce me envolvia. Amanhã, no encontro, eu não sabia o que esperar, mas sabia que não conseguiria mais ignorar o que estava entre nós.
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Na manhã seguinte, acordei com o som insistente de batidas na porta. Antes que eu pudesse reagir, Samuel a abriu e, em um segundo, já estava pulando em cima de mim com sua energia infinita.
— Pai, como foi a conversa com o tio Connor? — perguntou de imediato, sem sequer me dar tempo para processar o que estava acontecendo.
— Bom dia pra você também — murmurei, abrindo os olhos lentamente, ainda meio atordoado pelo sono. Os olhos de Samuel brilhavam com curiosidade, e eu sabia que ele não ia me deixar em paz tão cedo.
— Me diga, o que vocês conversaram? Ele vai casar com você e vocês vão ser felizes para sempre, né? — Samuel continuou, agitado, como se já estivesse planejando nosso final feliz. Eu o olhei, finalmente acordando completamente. — O tio Vincezo disse que isso vai acontecer porque você está... na seca há muito tempo e que nem vai esperar mais para... molhar o bico — completou, com uma expressão inocente.
Meu coração deu um pulo. **Vincezo... maldito.**
— Não escuta nada do que o seu tio diz! — resmunguei, sentando-me na cama. — E a minha conversa com o Connor é coisa de adulto, nada com que você precise se preocupar.
Samuel, no entanto, não parecia convencido. Ele se levantou na cama e ficou de pé, encarando-me diretamente nos olhos, como se estivesse exigindo a verdade.
— Já sou adulto o suficiente para entender o que conversaram — disse, tentando parecer sério, mas sua carinha ainda carregava aquele toque infantil que me fazia sorrir. — Lembre-se, pai, eu estou me tornando o seu maior apoio, e não um obstáculo para conquistar o coração do tio Connor. Nesse momento, sou seu maior aliado.
Não pude conter uma risada ao ouvir a autoconfiança dele. Meu filho estava usando uma tática tão inesperada e absurda para tentar arrancar alguma informação que quase cedi por um segundo.
— Você está realmente ficando igual aos seus tios e avós — respondi, dando de ombros. — Mas ainda assim, não vai conseguir me fazer falar nada. Vai ter que esperar, como todo mundo.
A expressão de Samuel se transformou em uma careta emburrada, cruzando os braços de forma teatral. Sabia que ele ia tentar algo, sempre tentava.
— Agora é hora de cuidar da minha higiene, e você também, porque eu sei muito bem que ainda não escovou os dentes — falei, tentando mudar o foco da conversa.
— Não vou fazer nada até você me contar sobre a conversa com o tio Connor — retrucou, teimoso.
Suspirei, mas sorri. Levantei-me e o peguei no colo de repente, começando a fazer cócegas em sua barriga. Ele imediatamente começou a rir, suas risadas enchendo o quarto com aquela alegria contagiante que eu amava.
— Você nunca vai conseguir tirar essa informação de mim! — provoquei, continuando com as cócegas enquanto o levava até o banheiro. — Vamos, escovar os dentes agora, meu filhotinho.
Ele finalmente cedeu quando o coloquei no chão do banheiro. Samuel pegou a escova de dentes com um sorriso e começou a escovação, enquanto eu o acompanhava, rindo por dentro do quanto ele se parecia comigo quando tinha aquela idade. A cada dia, eu sentia que nossa conexão só ficava mais forte, assim como nos velhos tempos, quando ele era mais jovem. Connor, de alguma forma, também tinha ajudado nisso, mesmo sem perceber.
Samuel ainda tentava, vez ou outra, puxar o assunto da conversa com Connor. Ele ameaçou até mesmo pedir diretamente a Connor para saber o que tínhamos falado.
— Ele prometeu que não vai te dizer nada, então pode desistir de perguntar para ele — falei com firmeza, vendo sua expressão pensativa. — Só precisa ser paciente, e uma hora eu vou te contar.
— Você promete que vai fazer de tudo para dar certo com ele? — Samuel perguntou, com uma seriedade surpreendente para sua idade.
— Vou tentar o meu máximo — respondi, meu coração amolecendo diante de sua preocupação. — Mas do meu jeito. E, para isso, vou precisar da sua ajuda.
Seus olhos brilharam ao ouvir isso, e ele começou a pular no lugar, animado.
— O que eu preciso fazer?
— Quero que mantenha seus avós e o tio Vincezo longe de mim e do Connor hoje à noite. E sempre que Connor vier para sairmos juntos, você tem que garantir que eles fiquem bem longe — disse, sentindo que estava me metendo em uma missão complicada, mas confiante de que Samuel poderia ser o meu aliado perfeito.
Ele balançou a cabeça vigorosamente, os olhos ainda brilhando de excitação.
— Isso será uma missão só minha? — perguntou, já se vendo como um agente secreto em uma missão especial.
— Sim, essa missão é só sua, e mais ninguém pode ajudar — falei, tentando conter o riso.
Samuel abriu um sorriso enorme, o tipo de sorriso que só uma criança determinada poderia dar. Ele correu até mim e me abraçou pela cintura, com uma empolgação que me aqueceu o coração.
— Pode contar comigo! — disse ele, animado, e eu baguncei seu cabelo com carinho.
Ao olhar para ele, percebi o quanto Samuel estava crescendo, tanto física quanto emocionalmente. A ideia de tê-lo como meu pequeno aliado nessa jornada inesperada com Connor fez meu coração se encher de amor e gratidão. Mesmo nos momentos mais complicados, saber que tinha meu filho ao meu lado tornava tudo um pouco mais fácil.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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