Mentiras Convincentes
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18:50
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Guilherme's P.O.V. 💚
Eu estou voltando para meu dormitório lentamente. A cada passo dado, palavras e frases diferentes ecoam na minha cabeça. Minha lenta caminhada lembra um zumbi, vagando por aí à procura de vítimas. Aquela garota esquisita foi embora antes que eu percebesse, e consequentemente, não vi por qual rumo resolveu seguir, mas agora que sei sua identidade, gostaria de procurá-la para esclarecer sobre suas palavras direcionadas em enigmas.
Não estou com cabeça para resolvê-los.
— "Sou o pesadelo ao qual você vai recorrer". — Repito a única frase que me lembro. — Sorte minha de ter gravado essa aula.
Continuo caminhando lentamente, até me encontrar em frente ao dormitório compartilhado. Entro devagar, com medo de fazer barulho caso meus amigos estivessem dormindo. Fecho lentamente a porta e a tranco. Vi Gustavo abraçado com Nathaly, estão dormindo na minha cama, parece confortável... queria eu dormir assim com alguém. Estou feliz que, aparentemente, Nathaly não sofreu com mais complicações, estava preocupado com ela... ainda estou.
— Onde eu vou dormir agora? — Olho em volta e me jogo na cama de Nathaly. — Ou é aqui, ou é o chão.
Depois de finalmente relaxar num banho quente que me proporcionou uma considerável dose de endorfina, me cubro com uma fina coberta e coloco meus fones de ouvido. Uma longa aula = uma longa gravação. Sendo assim, pulo para o final e seleciono a primeira frase que a menina armada havia me falado.
"Você quer saber quem eu sou?... Sou o pesadelo que você nunca vai conseguir esquecer. E o preço por não cooperar será a sua total destruição." Pauso.
— Preço por não cooperar... vejamos. Depois disso, ela disse que errou em ter imposto medo, talvez se referindo à arma. Então ela não queria ter me assustado, mas... por que? — Sussurro. Pego-me pensando que talvez ela não seja uma inimiga, mas é claro que ainda é suspeita de ser. — O que teria acontecido caso eu tivesse cooperado?... — Depois de uma pausa dramática, dou continuidade à gravação.
"Ok, pode mesmo ser um pesadelo, mas o medo não vai me controlar agora. Darei tudo de mim para proteger meus amigos!" Pauso novamente.
— Ah, não acredito que disse isso. — Bato na minha própria testa e dou continuidade.
"Sou o pesadelo ao qual você vai recorrer, eu sei como está a situação e apenas eu posso te ajudar. Não posso revelar como, pois isso iria contra as diretrizes. Te assustei, e impus medo, erro meu, admito. Mas apenas o meu poder sobre os responsáveis pelo caos causado aqui, pode dar os resultados esperados. Se você realmente quer ajudar Nathaly, lembre-se: às vezes, o maior poder está em manter o silêncio. E não se esqueça, por trás das sombras, a verdade pode ser mais reveladora e brutal do que você imagina." Pauso e penso por um instante... converto o áudio para texto, onde fica melhor para analisar.
Não preciso abrir a boca para tirar minhas conclusões.
Parte por parte. "Sou o pesadelo ao qual você vai recorrer". Eu vou recorrer? Será que quis dizer que vou procurar sua ajuda? Enfim, "eu sei como está a situação e apenas eu posso te ajudar". Isso pode significar que, talvez, terei de negar ajuda de outras pessoas... "Não posso revelar como, pois isso iria contra as diretrizes". Também não sei ao certo o que significa essa frase. De que diretrizes aquela maluca estaria falando? "Mas apenas o meu poder sobre os responsáveis pelo caos causado aqui, pode dar os resultados esperados." Apenas o meu poder... será que ela é um ser sobrenatural e o estresse está me deixando maluco? Não, improvável. Deve ser poder exercido sobre outras pessoas, não poderes mágicos. Para de viajar, Guilherme. "Se você realmente quer ajudar Nathaly, lembre-se: às vezes, o maior poder está em manter o silêncio." Deve ser um pedido para que eu não diga nada do que sei. Sobre o Rafael estar com os pais dela e sobre a garota esquisita que a conhece sem que eu tivesse falado dela. Mas, porque seria um problema falar?
Na verdade, essa última faz todo o sentido. Caso eu fale para ela, ela vai ficar ainda mais deprimida e pode acabar enlouquecendo, afinal, nunca se sabe o que esperar de alguém que se apaixona em menos de uma semana e fica como ela ficou. E se eu contar ao Gustavo ele vai atrás de Rafael, pode morrer, ou matar os pais de Nathaly e os meus. Droga.
Vou para a última frase da gravação.
"E não se esqueça, por trás das sombras, a verdade pode ser mais reveladora e brutal do que você imagina." Então é um alerta. Não posso mesmo falar. Ou pode ser uma armadilha que impeça providências justas e que pode acabar nos atrasando. Não ao certo no que acreditar.
Os dois se mexem na cama ao meu lado. Estão em perfeita sincronia e em um sono profundo. Ainda não acredito que estão sentenciados a estarem separados, qualquer um que olhe para a relação dos dois, diz que estão namorando a tempos e tempos. Após encontrarem outra posição confortável, eles voltam a ceder completamente a sonolência. Eu deixo o celular carregando, guardo os fones de ouvido e me deixo levar pelo peso das minhas pálpebras, que me adormecem ligeiramente.
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Quinta-feira
05:10
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Nathaly's P.O.V. 💜
Acordo com o barulho de algum despertador, deve ser o do Guinho. Meu corpo está quente e tem alguém com sono pesado que não acorda de jeito nenhum ao meu lado, me assusto, mas não dou muita importância, deve ser um amigo do Guinho. Vejo Guinho desligando o despertador e se levantando depois de espreguiçar por um bom tempo.
— Hum... bom dia... — Digo me espreguiçando na cama. Me sento devagar e vejo Guilherme com um triste sorriso.
— Bom dia Nathy, que bom que você está bem. — Responde meio cabisbaixo. Parece que tem algo o incomodando.
— Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa? — Pergunto ainda sentada.
Ele não me responde. Se dirige ao banheiro e fecha a porta. Me estico mais uma vez, parece que dormi por uma eternidade. Meus braços estão dormentes, meu tronco, meu rosto e minha cabeça doem. Minhas pernas ardem de leve. Como se eu tivesse me queimado, mas eu mal cheguei perto de algum perigo relacionado ao fogo... ou será que sim? Meu corpo está enfaixado. Como assim? Isso são cortes? O que aconteceu comigo!? Vejo Guinho sair do banheiro e logo me volto a perguntar:
— Guinho! O que aconteceu comigo? Por que eu estou enfaixada desse jeito!? — Me levanto com muita dificuldade.
Guilherme paralisa e fica bastante sério. Sua cara se fecha e parece pensar em algo provavelmente muito importante e decisivo.
— Você não lembra de nada? — Pergunta ele. Seu olhar preocupado está me deixando bastante confusa.
— Lembrar do que!? Eu não estou entendendo nada! — Aumento meu tom. — E quem é esse do meu lado? Espera... é o moleque do xadrez?
Tiro a franja da frente de seu rosto e comprovo minhas hipóteses, mas o que ele está fazendo aqui!? Guilherme parece se assustar ainda mais. Minha cabeça dói e me sinto tonta, minhas pernas perderam a força e Guinho me segura e me senta de volta na cama.
— Beleza, me diz uma coisa... qual é a última coisa que você se lembra? — Indaga Guilherme enquanto segura meus ombros, que pesam como se eu tivesse carregando uma pedra em cada um deles.
— Lembro que tive aula... — Guilherme se assuta de novo. —, o que foi hein?
— N-nada, pode continuar, não vou mais te interromper.
— Tive aula... depois saí da sala as 19... depois... não lembro o que aconteceu depois.
Guilherme pensa por longo período de tempo, tempo esse que me deixa ansiosa a cada segundo que se passa. Será que ele está escondendo alguma coisa?
— Você caiu da escada perto de uma despensa quando estava voltando da aula.
Me assusto consideravelmente. Como foi que fiquei desse jeito após cair de uma escada!? Devo ter apanhado de cada um de seus degraus e pelo visto, não tiveram dó alguma.
— E o que diacho eu fui fazer lá em cima?
— Ninguém sabe, você estava sozinha... você esbarrou nele — Apontou para o corpo do belo rapaz que estava dormindo profundamente atrás de mim. Ah, deve ser por isso que está aqui, mas não justifica ter dormido comigo! —, e ele te levou até a enfermaria, se voluntariou a cuidar de você e tudo mais.
— E aí, eu dormi com ele? — Apontei para o homem, ainda virada de costas para ele.
— Essa é a sua maior preocupação!? — Ele põe as mãos na cabeça e respira fundo. — Olha, tenho aula daqui a pouco, então, caso você não queira dormir com ele, pula pra sua cama, mas fique sabendo que ele é uma pessoa muito boa, então, não fará nada com você, fique tranquila. — Guinho volta para o banheiro e depois de um tempo eu escuto o chuveiro sendo ligado. Não sabia qual a minha grade horária, mas sabia que minha organização respeitava meu sono, então, deito-me na cama ao lado do moleque do xadrez e fecho meus olhos. Logo adormeço pensando em como acabei daquele jeito.
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07:20
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— Bom dia, espertinha. — Diz alguém enquanto sinto meu corpo ser chacoalhado de leve. Abro meus olhos lentamente e vejo aquele menino que me subestimou no xadrez. Empatei com esse idiota! E por que raios ele está me chamando de espertinha?
— Bom dia, só se for pra você. — Retruco me levantando e indo à minha cama.
— Ué. Pra onde você vai? — Pergunta ele. Eu por acaso devo satisfação pra ele e não sei disso?
— Se me permite, vou voltar a dormir, estou me sentindo tão cansada que a sensação é a mesma de quando passei quatro dias em claro. — Me deito na minha cama e me cubro ligeiramente. Percebo que ele me olha confuso. Coça os cabelos lindos e bagunçados e preguiçosamente se levanta.
Ele coloca os sapatos e veste um casaco que estava em cima das cobertas, provavelmente era dele, então não questionei. Se aproxima de mim e... beija minha testa!?
— Bons sonhos, espertinha. É bom que você descanse mesmo. — Ele iria sair, porém eu o impeço.
— Ou!? Quem te deu o direito de me beijar assim!? — Digo me sentando na cama. — E que apelido é esse? Nós mal nos conhecemos!
Ele parece assustado, seu semblante confuso é contagiante, mas nada compreensível. Me sinto estranha. Tenho a impressão de não ter tanta certeza do que estou falando.
— Mas... — Começa, meio sem jeito. — mas nós... como... — Mal estava sendo capaz de formular uma frase. Estava praticamente paralisado e isso estava confundindo meus pensamentos que diziam que eu estava certa, ou parcialmente certa.
— Nós o que? Você me deu minhas flores favoritas? Nos beijamos antes? Eu caí em cima de você igual cena de dorama? Transamos num local onde não deveríamos? Cozinhamos juntos? Fizemos uma jura de amor? Dormimos juntos? Tirando esse último... que não sei como foi acontecer, nada disso nós fizemos, então, não tenho nada a ver com você. Me faz um favor? Me chame pelo meu nome, não me beije, não me toque e finja que eu não existo! — Meu olhar de raiva pareceu atravessar seu corpo. Ele estava com olhos arregalados e parecia não acreditar nas minhas palavras.
Ele não disse nada. Não se moveu. Quando seus olhos começaram a lacrimejar e a primeira lágrima involuntária escorreu suavemente pelo seu rosto, foi que me toquei do que havia dito. Me senti confusa, mal nos conhecemos e ele chora por isso?
— D-desculpa, eu não devia ter falado dessa forma... espera! — Tento.
Ele saiu rapidamente, a porta se fechou num estrondo ensurdecedor e me senti sozinha. Mas isso não está certo... não temos nenhuma lembrança juntos a não ser aquela partida de xadrez, então, porque ele estaria assim? Meu corpo quase obedece a um impulso de seguir ele, mas minha consciência se lembra de que não temos nada a ver um com o outro.
Por que ele reagiu assim?
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08:50
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— Voltei. — Diz Guinho entrando no quarto e fechando a porta atrás de si.
— Guilherme. — Digo parada à sua frente e com os braços cruzados.
— O que foi? — Deixa a mochila em cima de sua cama e olha seriamente pra mim.
— Me fala a verdade, o que eu tenho a ver com aquele moleque do xadrez? Por que falei coisas que talvez não deveria? Me fala Guinho, eu preciso saber!
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Miau sjhdhsdhhdj
Chorem. TuT
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