Emergências
...
10:00
...
Nathaly's P.O.V. 💜
Guilherme simplesmente saiu e me deixou aqui... do nada? Que estranho. Bom, não quero ficar chorando pelos cantos por coisas que eu não posso mudar. Olho para o calendário e vejo que estamos... na quinta-feira!?
Que porra é essa? Eu estava voltando da aula na segunda! Como já é quinta? Será que eu estava em coma? Por que é a única explicação plausível. Espera... eu lembrei de algo. Eu... não caí da escada. Alguém me puxou lá pra dentro. Alguém me puxou para dentro daquela despensa desgraçada! Preciso saber mais sobre isso quando Guinho voltar.
Quer saber? Dane-se, vou é assistir meus desenhos.
Começo uma série infantil qualquer que eu assistia quando criança e estava prestes a fechar os olhos, porém uma alma entra no quarto e atrapalha meus planos de resolver meus problemas da melhor forma possível: dormindo.
— Voltei, Nathy... — Parecia mais cabisbaixo do que quando saiu, seus olhos estão levemente avermelhados. — Meu Amigãozão?
— Preconceito? — Me levantei rapidamente.
— Não, claro que não. — Ele sorri fraco. Eu cruzo os braços.
— Por que você mentiu pra mim? — Digo com calma.
— O que? — Pergunta ele. Ah, não se faça de desentendido agora!
— Por que caralhos você mentiu pra mim? Eu não caí da escada! Por que você escondeu isso de mim? Porra, Guilherme! Não posso confiar em você?
— C-claro que pode, Nathy! — Ele, num impulso, tenta vir em minha direção, mas eu sinalizo para que fique onde está.
— Será? Pessoas mentirosas não são confiáveis. — Digo com ar de deboche. Ele me olha raivoso.
— Está dizendo que eu sou mentiroso? — Indaga com indignação.
— E que não é confiável! — Completo seu pensamento.
— Você não pode tirar conclusões precipitadas assim! — Articula com os braços indicando para que eu agisse com calma, mas era tarde demais, eu já havia perdido a cabeça.
— Eu tiro as conclusões que eu acredito estarem corretas! E minhas conclusões dizem que você é apenas um idiota que eu conheci na faculdade e que mente sobre coisas que eu deveria ter o direito de saber! Você agiu de maneira egoísta! E eu detesto pessoas egoístas.
Ele me olha assustado e seus olhos começam a lacrimejar. Meu Deus... já é a segunda pessoa que eu magoo assim. Talvez, eu não devesse ficar perto das pessoas.
— Você tem noção do que está falando? Por que fala tanta coisa sem pensar!? Se acha que eu não sou confiável e que sou egoísta, o que você ainda está fazendo aqui? Não devia estar aqui se não quer ficar perto de pessoas como eu!
Ele está me expulsando?
Tudo bem, se é isso que você quer... ando em direção a porta e saio, mas ele vem atrás de mim e segura meu braço. Suas lágrimas jorram de seus olhos sem parar.
—Nathy, espera, desculpa! Eu não devia ter falado de você daquele jeito, eu mesmo falei coisas sem pensar e...
— Me solta. — Afasto sua mão brutalmente. — Foi bom você ter dito isso, agora sei que não posso confiar em ninguém, nem em você, Guilherme. — Me afasto dele lentamente, talvez seja um pouco cruel, mas não importa. Vou comprar algo para comer, minha barriga dói como se eu estivesse em jejum por três dias.
Saio sem olhar para trás.
...
10:20
...
Guilherme's P.O.V. 💚
As pessoas ao meu redor me dizem que não sou confiável. Devo acreditar nelas?
Meus olhos ardem, estou sentado na minha cama e com a cabeça baixa. Me sinto ainda pior quando a porta se abre e uma voz feminina cobre a acústica do quarto.
— O que foi que eu disse pra você? — Silêncio. — Disse que recorreria a mim e não aos outros, você mudou os papéis e olha no que deu. Disse que apenas eu podia ajudar, mas não quis contar com a minha ajuda... buscou em pessoas distintas e olha só no que deu.
— Veio até aqui só pra me dar sermão? — Pergunto.
— Não, vim pra dizer que era pra você ter me escutado. Mas tudo bem.
— Me ajuda... — Sussurro, envergonhado.
— Como? — Pergunta ela.
— Me ajuda, por favor. — Levanto o rosto e deixo minhas lágrimas a mostra. Meus sentimentos estão transbordando e eu não consigo mais controlá-los.
— Ah, então, agora que não tem opções você recorre a mim? — Diz ela com um amigável sorriso.
— Ok! Eu estava errado! Desculpa! — Digo em voz alta.
— Tudo bem... Guilherme, olha para mim. — Faço como ela pede. — Reconheça os erros do passado, saiba como pedir perdão. Descubra segredos entocados e antigos para que tudo seja resolvido. Revele a todos a verdade e não esconda um mínimo detalhe. Não tenha medo das possíveis reações e tudo se resolverá.
— Mais enigmas? — Choramingo.
— É tudo que posso revelar no momento. Boa sorte. — Ela sai.
Reconheça os erros do passado... tudo bem. Sei o que fazer de verdade agora.
...
10:40
...
O que devo fazer primeiro? Me reconciliar com Nathaly e contar a verdade? Abrir o jogo com Gustavo? Fazer com que Rafael me perdoe? Todas são opções difíceis. Estou andando por aí a bastante tempo pensando em qual decisão tomar. Ok, vamos apostar na mais difícil. Espero que não ter medo das reações deixe com que tudo se resolva mesmo.
Vou ao refeitório, ela tem jeito de quem resolve os problemas dormindo ou comendo, e como não queria permanecer no mesmo ambiente que o meu, claro que viria pra cá.
Vejo ela sentada numa mesa qualquer do refeitório e vou ao seu encontro devagar.
— Ér... Nathy? — Ela não vira o rosto e sei porque não olha para mim. — Nathy, podemos conversar?
— Nada do que você tem a dizer que me interessa. — Diz, ainda com a cabeça baixa.
— Na verdade tudo que eu tenho a dizer te interessa, você mesmo disse que devia ter o direito de saber... por favor, me escuta. — Murmuro. Ela me olha com a cara mais fechada que parede de concreto e não diz absolutamente nada. Parecia que o refeitório estava vazio, não via mais ninguém além dela.
— Seja direto. — Diz. Eu quase pulo de alegria, mas me contenho.
— Bom, naquele dia, quando eu disse que você havia caído da escada... — Fui interrompido.
— Quando mentiu para mim.
— É. — Não estou com paciência para lidar com birras, se ela não quiser mesmo me ouvir, ou continuar me interrompendo, eu vou embora. — Na verdade alguém havia... — Aconteceu de novo.
— Me puxado pra dentro de uma despensa. Sim, eu lembro dessa parte...
Fico em silêncio. Não quero mais falar, pensando bem, acho que deveria ter falado com outra pessoa primeiro. Eu iria me desculpar e deixar ela com mais raiva ainda, porém ela se mostra concentrada em lembrar dos acontecidos. Quanto mais tempo passa, mais ela parece lembrar. Suas expressões mudam constantemente, primeiro para confusa, depois corada, e por último desacreditada. É, ela havia lembrado.
— Por que escondeu tanta coisa de mim!? — Pergunta, sua voz trêmula me passa a sensação de que ela desabaria em choro nos meus braços daqui a um tempo. Os olhos arregalados.
— Eu quero te contar a história desde o início, mas temos que ir a algum lugar onde possamos conversar a sós.
Ela assente preocupada e fomos a biblioteca.
— Olá!? — Pergunto, para ter a certeza de que estamos sozinhos.
Ninguém responde. Nathaly permanece em silêncio. As estantes extremamente altas estão organizadas e os livros não estão misturados, os de tese infantil estão ao fundo da enorme sala, e nós nos encontramos na frente da sessão dos livros de terror e de romance, à esquerda, é um misto dos dois. Ela se vira para mim, implorando com os olhos para que eu começasse a falar.
— A dois anos atrás... — Ela observa atenta ao que eu tinha a dizer. Senta numa cadeira ali perto e eu olho para o chão. O medo da reação dela veio em peso, mas não podia voltar atrás agora. — eu namorei o Rafael. Éramos um casal divertido e juntos, superamos vários desafios como quando a mãe dele havia vencido a diabetes... — Não seguro minhas lágrimas. — ou quando o irmãozinho dele havia tirado o gesso do braço esquerdo. Mas teve um dia... dia 28 de junho de 2032 que eu fiz merda. Depois de passarmos a tarde toda maratonando filmes, eu tive a brilhante ideia de preparar uma torta de maçã, mas... mas...
Não consigo concluir minha frase, droga. Eu me sinto um ser humano horrível, talvez o pior que já andou nesse planeta.
— Mas?... — Ela quer que eu conclua, está atentamente a escuta e para minha sorte, ainda não esfregou na minha cara que a culpa é minha... ainda.
— Mas, eu não sabia que não podia colocar recipientes de metal no microondas.
— Por que no microondas? — Pergunta, indignada.
— Por que foi uma receita maluca que eu encontrei na internet. — Ela bate na própria testa.
— Depois a autista sou eu, né? — Rimos juntos. Só ela mesmo. — Continua.
— O microondas explodiu. A casa inteira foi incendiada. Eu tentei salvar a mãe dele e tentei avisar sobre o Gabe, mas... foi tudo em vão. Agora os dois estão mortos e a culpa é toda minha. Ele disse que me faria sofrer, assim como eu fiz com ele. Por isso ele fez tudo que fez, mas não pensei que iria tão longe ao ponto de abusar de alguém, ainda mais de você Nathy.
— Então, tudo que aconteceu, foi "supostamente" sua culpa? — Eu sabia, eu sabia que ela viria com essa conversa para cima de mim. Agora, ela vai me culpar e a única solução aqui, vai ser me jogar de algum lugar alto e fingir que eu estou voando antes de atingir o chão. Droga. Se ela não me ouvir, ninguém mais ouve.
— Sim, e eu entendo se acha que é mesmo. E, outra, ele capturou meus pais. E... os seus também, por isso não o denunciei. Antes de ser preso, mataria todos eles.
Ela se assusta, mas logo volta a conectar pensamentos internos e provavelmente pensar em uma solução.
— Eu vivo com isso me assombrando desde que ele jogou a aliança que usávamos no chã... — Ela me abraçou... um abraço sincero e afetuoso.
— Shhh... Para de falar um pouquinho. Vamos resolver toda essa confusão, está bem? Eu vou te ajudar.
Estou feliz demais!!! Nos abraçamos mais uma vez. Enquanto me arrastava para o pátio, me perguntou com quem eu me resolveria primeiro. Gustavo, com certeza. Vou me preparar mentalmente para conversar com Rafael, mais tarde.
Chegamos ao dormitório dos dois e abrimos a porta devagar. Os dois estavam dormindo? Parece que a Nathy não é a única que resolve os problemas assim. Me afasto, sinalizando para que Nathy o acordasse.
Nathy então, o balança devagar e ele abre os olhos inchados e avermelhados lentamente.
— Hum... Espertinha? — Ele então, rapidamente percebe a situação e se senta, tentando melhorar a aparência de seu rosto. — Quer dizer... Nathaly.
Ela se aproxima dele lentamente e então o abraça. Ele me olha surpreso mas quando ela começa a falar, retribui o abraço e deixa as lágrimas escorrerem junto a um sorriso desengonçado.
— Desculpa! Desculpa por tudo que eu disse para você! Eu não lembrava de nada e estava nervosa! Eu falei muita coisa sem pensar Ggukie, muita coisa mesmo! Desculpa! Você foi o meu primeiro amor e eu não quero mais ninguém além de você! Desculpa Ggukie! Desculpa!
Ela chora junto a ele, os olhos inchados dele devem arder bastante, imagino, mas ele parece não se importar.
— Eu desculpo você, espertinha, não se preocupa! Eu amo você, e não vou medir esforços para te desculpar. Relaxa.
— Desculpa Gustavo. — Digo.
— Não se preocupa Guilherme. Tá tudo bem.
Eles ficam abraçados por um bom tempo e iniciam um beijo longo e apaixonado. É evidente como compartilham de emoções tão intensas a partir de um simples beijo. Eu me sinto feliz pelos dois, mas agora, está na hora de resolver o meu problema.
Agora que prestei mais atenção, tem uma caixa preta ao seu lado. Vou ao seu encontro e com certo receio, tiro de lá duas caixinhas de 90 comprimidos de melatonina, remédios para dormir. Estão lacrados. Eu o chacoalho lentamente, mas ele não parece ter facilidade em respirar. Coloco meus dedos em seu pescoço para checar sua pulsação.
Está fraca.
Será que tem algo a ver com esses remédios? Mas estão lacrados! Então qual a explicação? Olho ao redor e de longe, encontro uma caixinha de melatonina no lixo... vazia. Gustavo e Nathaly me olham preocupados. Rafael abre os olhos lentamente.
— O que você está fazendo aqui? — Pergunta Rafael.
— Para quê tantos remédios? Você nunca sofreu de insônia ou algo do tip...
— Por que desde que você acabou com a minha vida, eu não consigo dormir! E quando consigo, tenho pesadelos! Ai... — Ele põe a mão na cabeça, sinalizando dor.
— Rafael, você está bem? O que está sentido? — Pergunto, tentando ajudar, mas parece que ele não me quer por perto.
— Sai de cima, Guilherme! Já não basta as dores constantes de cabeça e você ainda vem me importunar com perguntas de falsa preocupação? Faça-me um favor!
Ele me olha raivoso e eu me afasto. Ele rapidamente corre até o banheiro e começa a vomitar. Eu vou ao seu encontro e tento o confortar, alisando suas costas e segurando sua franja loura e úmida. Ele está suando muito. Gustavo e Nathaly, não sabem o que fazer. Depois de um tempo, sentado no chão do banheiro, ele começa a falar involuntariamente.
— Eu sei que o que fiz passou dos limites, desculpa Nathaly. Desculpa Gustavo.
Ele volta a vomitar e eu o conforto de novo. Ele sai do banheiro com as mãos tremendo e pega um copo de água do lado da sua cama. Ele parecia desnorteado, meu coração estava em frangalhos com tudo aquilo.
— A única coisa... que eu queria, era uma vida com você Guilherme. Mas você estragou tudo. — Ele abre outra caixinha de remédios e vira na boca sem o mínimo de cuidado.
— Rafael! — Grita Nathaly. — Você está maluco!?
— Não! — Digo quando ele desaba em meus braços, deixando o copo de água se quebrar. A boca cheia de comprimidos brancos e os olhos lacrimejando. — Preciso de ajuda para levar ele para a emergência!!!
________________________________________________________________________________
Miau
:P
(Sim, essa história se passa em 2034. E, não, os carros não voam)
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro