Querida Alice, nove meses sem você. Seu Gustavo ainda não está bem, mas estou mais tranquila. Ele tem feito algumas visitas ao trabalho e em alguns momentos ele já consegue esboçar um sorriso débil. Eu só quero que ele sobreviva a isso, então talvez eu consiga fazer o mesmo.

Mas não sou tão nobre, você sabe disso. Hoje quando fui visita-lo ele pediu ajuda para organizar suas coisas. Foi assim que roubei seus diários.

Eu sei que o justo seria dividir com ele, mas não sei se posso fazer isso ainda. Não sei se seria uma boa ideia para ele agora ter acesso ao que você pensou e sentiu todos esses anos. Talvez quando ele conseguir sorrir genuinamente eu divida esse pedaço de memória que você nos deixou.

Mas, no fim, isso é uma coisa nossa. Mesmo que eu também não esteja preparada para ler, eu sei que você confiaria em mim para guardar essas suas palavras.

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