Gesso não combina com vestidos de festas. Acho que a única coisa que realmente combina são pijamas e auto piedade. Mas, mamãe e papai decidiram que este ano precisavam comemorar de uma maneira especial o aniversário de casamento. Eu não pude argumentar porque vinte anos é realmente um marco neste mundo em que os divórcios são diários.

Mas, precisava comemorar com um culto na igreja em que se casaram? Precisava chamar todo mundo que a gente conhece, inclusive ela? Eles sabem muito bem que não estamos nos falando, então tenho certeza que esperam que ao chama-la a gente se acerte.

Não vou negar, ainda sinto saudades todos os dias. Ao cruzar nos corredores da escola, sempre sinto aquele impulso de ir até ela, tão natural quanto abrir os olhos de manhã. Mas, aí eu me lembro que nós não somos mais assim.

Passar um tempo com Thaís me fez perceber que eu posso sim ter outras amigas. A gente até se diverte ao falar sobre livros e séries. Nós somos mais parecidas do que posso descrever, com gostos tão iguais que não sei porque demoramos tanto tempo para conversar de fato.

Acho que passei tanto tempo vivendo em função de uma amizade que se tornou algo ruim. Essa pareceria que devia ser saudável, me transformou em uma pessoa com um único porto seguro e, quando ela me abandonou, eu afundei na solidão.

Não vou deixar isso acontecer de novo. E vou vestir esse vestido estúpido, porque se tem uma coisa que eu aprendi é que as amizades para qual damos mais importância podem passar, mas a família é um laço inquebrável. 

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