Parte de mim sabia que algo ruim estava para acontecer. Mas eu decidi não deixar de viver por causa do medo. Claro que não consegui controlar minha reação quando eu vi Ricardo. As risadas proporcionadas pela comédia idiota que Gustavo e eu tínhamos acabado de assistir simplesmente travaram na minha garganta. Eu engoli o riso e fiz o meu melhor para não chorar quando vi mais uma vez a materialização do meu maior medo em pessoa. Talvez eu escondesse mais uma vez essa parte aterrorizante da minha vida do Gustavo, mas ele viu meu rosto. Ele soube que algo estava errado.

Por isso, assim que nos afastamos, que senti que estávamos relativamente seguros, contei sobre meu passado, sobre como aquele cara sempre volta. É estranho dizer isso, mas foi um alívio ele acreditar no que contei. A forma como meus pais sempre lidaram com esse assunto, o modo como as pessoas que presenciaram aquele ataque fingiram que nada havia acontecido, mesmo sendo dentro de uma empresa, em horário de expediente, sempre fez parte de mim acreditar que ninguém ficaria ao meu lado. Mas é claro que o Gustavo ficou.

Ele segurou a minha mão quando finalmente fomos a polícia. Claro que eles disseram que não poderiam fazer nada. Eles nunca podem. O que eu sinto é que as leis, as autoridades, só fazem algo quando já é tarde demais.

Por isso fiz a única coisa que podia, liguei para meu pai. Será que vai ser sempre assim? Meses de tranquilidade para então ele reaparecer como se tivesse algum direito de bagunçar a minha vida? Uma rotina de sempre olhar por cima do ombro, de sempre temer caminhar sozinha.

Mas eu vou escolher viver apesar disso. Eu não vou permitir que ele me impeça de rir de filmes bobos, de andar na rua de mãos dadas com meu noivo. Eu vou ter esperanças de que, desta vez, meu pai vai convencê-lo a partir de vez. Eu vou alimentar o sonho de nunca mais vê-lo na minha vida. Eu nem desejo que algo de ruim aconteça com ele. Eu só quero que ele pare de ser o monstro que habita os meus pesadelos quando estou acordada.

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Até segunda <3