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I - O Trem Enfeitiçado, A Fuga e O Estranho Resgate


A neve abriu espaço para a chuva após três longas horas de viagem. A paisagem mudou tão drasticamente e em tão pouco tempo, que a selva de pedra que antes dominava o horizonte, agora abria espaço para uma escura e extensa floresta de pinheiros. Uma grande névoa limitava a visão adiante, mas o pouco que se permitia ver, revelava a ponte de ferro suspensa sobre um terreno montanhoso, repleto de árvores altas ornando a queda e, até perder de vista, um enorme lago de águas turvas e escuras.

A falta de um aquecedor se mostrava presente, mas apesar de velho, aquele antigo trem ainda aclamava seu refinado conforto. Possuía espaço para malas acima dos assentos, almofadas e uma pequena bancada de madeira presa abaixo da grande janela límpida. As cortinas e o carpete eram de um belo tom de verde-escuro. Havia candelabros com velas elétricas em cada corredor e pinturas renascentistas em seu teto. Toda a beleza da enorme locomotiva se intensificava com a aura misteriosa do lugar, como se um sonho antigo tivesse sido pincelado naquelas paredes.

O pequeno escape no teto da cabine transmitia uma música suave, o toque de um piano e uma melodia um pouco familiar. De certa forma, respirei aliviada. Eu finalmente me via livre dos pesadelos que antes me rondavam.

Desde a morte da minha mãe, dois anos atrás, toda a minha vida havia se transformado num completo caos. O trabalho era cansativo e enfadonho. Tanto, que todos os dias me fazia repensar minhas escolhas de vida até ali. Talvez eu tivesse conseguido algo melhor se tivesse tido mais tempo, mas minha situação me pressionava a permanecer na estaca zero.

Não que fosse um lugar de todo ruim, mas certamente não me tratavam como merecia. O salário era pequeno, os clientes arrogantes e o trabalho infindável. Eu não só era obrigada a trabalhar mais de 10 horas naquele estabelecimento, como também fazia a maior parte das tarefas, mesmo que as mesmas não fizessem parte do meu cargo de atendente. E o salário? O equivalente a um salário comum para um emprego de meio-período sem nenhum curso valioso. Sem uma faculdade e os estudos incompletos e desconhecendo o restante do mundo além daquela cidade, eu não encontrava outra solução senão equilibrar minhas contas e vida com base naquele simples serviço.

E em meio à todos os encalços do expediente, ainda haviam as preocupações. Dívidas, necessidades básicas e o constante desejo de que uma raspadinha de um milhão salvasse a minha vida daquele tormento infindável. Mas eu possuía um objetivo. Quero dizer, antes de ter que abandonar tudo para trás.

Trabalhar até o ponto de que nunca teria que chegar perto de um rascunho de currículo novamente e viver confortavelmente sem me preocupar com dinheiro não era uma má ideia. Uma vida longe de festas e lugares lotados, limites bem estabelecidos e trabalho duro eram tudo o que eu precisava para curar minhas feridas internas.

A morte da minha mãe... mudou completamente minha visão de mundo.

E eu estava tão, tão perto de conseguir me reestabelecer e viver em paz mesmo que naquele apartamento medíocre. Mas um imbecil atrapalhara meus planos completamente.

— Eu precisava do dinheiro! Você sabe que eu não pegaria suas economias se não fosse uma emergência. Disse que vou te pagar assim que eu receber — lembro-me de tê-lo ouvido prometer com alguma lamúria.

— Não é sobre pagar ou não, Erik! Eu precisava daquele dinheiro! Você sabe por quantos meses eu juntei, tudo o que deixei de comprar pra conseguir chegar àquele montante, e você simplesmente o pegou sem me avisar pra pagar uma dívida de jogo que você mesmo fez! — recordei minha resposta com clareza.

Eu o odiava. Com todas as minhas forças, eu odiava aquele homem; e me arrependia profundamente do dia em que, aparentemente, me escolhera como namorada sem nem mesmo um pedido decente. Pensando mais claramente, jamais conseguiria entender como havia aceitado uma situação daquelas.

Erik costumava ser diferente, pelo menos no início, alguns meses antes daquele fatídico dia. Era carinhoso, bonito, sagaz e aparentemente estável. Fôra um tipo de alicerce depois que minha mãe se foi, mas logo se mostrou como a "bola de demolição" que destruiria meus planos e os jogaria num abismo sem volta. Eu tinha dívidas a pagar e agora não tinha mais uma forma de fazê-lo. E acima de tudo, não tinha mais ninguém.

Desde aquele dia, não respondi nenhuma das mensagens dele nem seus telefonemas. Ignorava suas visitas de madrugada bêbado e cada recado que tentava passar para mim por meio dos vizinhos. Era irritante, vergonhoso e precisava acabar.

Eu teria posto um fim definitivo a todo o problema com Erik, mas pouco depois, sem que eu tivesse como impedir, os cobradores determinaram o fim do meu prazo. O aluguel, as contas de água, luz, gás e qualquer outra necessidade que havia ficado como dívida nas mãos dos cobradores rapidamente se tornaram um espinho na carne graças à falta que aquele dinheiro que tanto lutei para guardar fazia.

Erik desapareceu por completo assim que os cobradores começaram a se mostrar mais persuasivos, pedindo favores, pequenos serviços e usando de ameaças para arrancar seus pagamentos de mim, como quer que fosse.

E por essa razão, decidi que era hora de seguir a orientação de minha mãe. Antes de morrer, naquela rua fria e vazia, me dissera palavras que eu jamais esqueceria. "Siga o caminho do coelho, e terá paz".

Não havia sentido naquelas palavras e por isso não as tomei com a seriedade que mereciam inicialmente. Quem sabe, minha vida teria um rumo melhor se eu a tivesse obedecido de prontidão.

Mas agora, ali estava eu: num trem rumo ao desconhecido, sem fazer uma mínima ideia do que encontraria a seguir, carregando comigo o pouco que consegui colocar dentro de uma mala velha. Suas últimas palavras foram gastas de forma precisa. Segundo ela, eu deveria pegar o trem na antiga estação da cidade e apresentar a passagem ao homem que deveria recebê-la. E quando me fosse anunciada a última parada, ali eu desceria e seguiria o caminho do coelho.

O que quer que isso significasse.

Tive que sair mais cedo do que o planejado, abruptamente, após ouvir um dos cobradores se aproximar da porta. Escapei por pouco pela janela que dava para as escadas de metal na lateral do apartamento e corri pelo beco entre os prédios agarrada à minha mala. Por sorte, alcancei a estação sem demora. O trem logo deveria chegar, segundo o horário de funcionamento descrito na minha passagem. Esta, em completo preto e branco, sem destino ou cronograma impressos.

Ao primeiro momento, me subiu um frio na barriga que quase me fez desistir, mas então refleti inerte na plataforma vazia. Logo eu não teria que me preocupar com o trabalho ou com as dívidas no dia seguinte, e muito menos com Erik roubando minhas economias bem debaixo do meu nariz. Meus cobradores não teriam onde me procurar, nem a quem perguntar. Eu teria sumido do mapa completamente em tão pouco tempo e tudo em que queria pensar era naquele novo recomeço.

Apesar disso, ainda que os novos ares enchessem meus pulmões, a dúvida continuava a me perseguir. Eu sequer imaginava o que poderia encontrar, nem para onde aquele trem me levaria. "A última parada" parecia ser um lugar muito distante e, até onde me restava conhecimento, aquela estação já havia sido desativada há muitos anos. Só me restava confiar e ter esperança, ou aquele sentimento de que tudo era em vão e que meu mundo voltaria a ruir em segundos me afogaria sem aviso prévio.

Fugir não parecia a melhor opção, mas era a única entre tantas que me manteria a salvo; que me daria uma nova chance.

Os pensamentos tornavam minha mente enevoada. Massageei o ombro na tentativa de me livrar um pouco da tensão.

Eu mal tinha tido tempo de me arrumar adequadamente. Peguei a primeira calça que vi, uma blusa que - possivelmente - estava limpa e os vesti na pressa com medo de que o cobrador resolvesse arrombar minha porta em pura fúria. Meu cabelo estava um caos e mal pude terminar de amarrá-lo. O trem não se tardou a surgir de uma curva saída do arvoredo à distância.

Agora, eu respirava mais suavemente sem a fadiga irritante que havia me acompanhado desde então. Retirei meu casaco observando a paisagem passando com velocidade, deixei-o de lado por um instante, arrumei minha blusa por dentro da calça e decidi deixar aquelas memórias para trás. A música agora era outra, um pouco mais pomposa, quase como uma valsa de baile. Abaixei-me para amarrar um dos cadarços do coturno que coloquei às pressas - felizmente os pares estavam próximos um do outro - e apertei o laço. Quando me levantei, a música parou.

E, de repente, silêncio.

Tudo se tornou quieto; a música, o trem, o ferro que rangia abaixo.

Os sons da locomotiva se calaram como num zumbido ínfimo, quase imperceptível.

Um arrepio me tomou a espinha, subindo devagar, como um leve toque na pele, demorando-se em cada vértebra, cada ponto, prendendo minha respiração com uma dor aguda, rápida.

O trem voltou a zunir com um estampido de metal súbito. Estávamos nos aproximando de um túnel.

Aquela sensação havia desaparecido assim que alcançou a última vértebra, sussurrando um sinal, agarrando-se a algo naquele ponto, e então se tornando dormente. O extenso túnel veio com uma tempestade de sons em controvérsia ao silêncio ensurdecedor de antes.

Massageando meu pescoço aos poucos novamente, percebendo aquela dormência se afastando, observei a cabine. A música havia voltado a tocar, o trem a emitir seus ruídos, e a ponte a ranger contra o atrito deste. A paisagem ainda era a mesma, mas pude ver uma montanha surgir à frente, até que adentramos as sombras do túnel abaixo dela.

Respirei aos poucos, murmurando contra aquela dor que sumira. Em plenos vinte anos e eu já ostentava mais dores que meu antigo chefe, um homem na casa dos cinquenta com vício em fumar e duas cirurgias cardiovasculares.

Dei um salto quando percebi, talvez tarde demais, que naquela escuridão que tomara a locomotiva havia dois olhos à minha frente, brilhando, felinos, esperando pelo momento de se revelar.

Um homem estava confortavelmente sentado no assento à minha frente, recostado próximo à janela, sem tirar os vibrantes olhos verdes de mim. Seu olhar perfurou o meu assim que encontrou minhas íris castanhas. Um tremor me subiu até a boca do estômago com a aparição repentina, me fazendo questionar se era um homem ou uma assombração elaborada pelo estresse. Desde as unhas das mãos até o último fio de minha alma, eu sentia aquele homem me revirar de dentro para fora, como se procurasse algo específico.

— Estive aguardando por sua chegada — sibilou o homem melodicamente. — Está um pouquinho atrasada, se contarmos desde o momento que soube que viria, mas isso não importa tanto assim se agora está aqui.

Permaneci em silêncio, me abstendo de responder por tempo o suficiente para que ele se sentisse desconfortável, mas para minha surpresa, isso não aconteceu. Ele apenas se limitou a sorrir.

Saímos do túnel tão rápido quanto entramos, e só então percebi que não havia nada de sobrenatural naquele homem, senão a forma como ele esbanjava grande riqueza e elegância.

Correntes se interligavam ora ou outra em seu peito e abdômen. O chapéu repousado por sobre o assento e uma perna dobrada por cima da outra. Possuía um relógio de bolso prateado que rodopiava no ar como uma mania corriqueira e abotoaduras em perfeita prata - ou talvez ouro branco. Seus cabelos eram como um carvalho em coloração, e seus olhos como sua bela folhagem em perfeita harmonia.

O contraste entre nós dois era surpreendentemente estranho. Eu era uma mulher comum de cabelos loiros, olhos castanhos e mania de ser mais expressiva com meu rosto do que as situações requeriam. Não havia nada em mim que me fizesse achar que poderia ter algo haver com ele.

Num ato cordial, retirou a luva de veludo preto de uma das mãos e a estendeu para mim. Observei o ato antes de decidir o que fazer, pois não parecia um aperto de mão qualquer.

Suas mãos eram como raízes, e seus dedos eram longos. E a curvatura em que estavam... pousei minha mão sobre a sua, atenta a cada movimento, sem saber como sairia da cabine com mais velocidade que ele se precisasse fugir.

Com um movimento suave, levou minha mão aos lábios e ali depositou um pequeno beijo, logo após encostando a testa no mesmo local.

O echarpe que descia por seus ombros em tons de preto e detalhes prateados seguiu o movimento do corpo, fazendo as correntes tilintarem. Aqueles arabescos prateados ao fim de sua echarpe me diziam para usar todos os bons modos que minha mãe me dera.

Sua elegância era tamanha, que até seus sapatos possuíam texturas negras e uma fivela esbanjando sua obsessão pelo metal precioso. Um luxuriante broche de cervo cravado no terno firmava o requinte que dele esvaía.

— Não há necessidade de ficar envergonhada — ele sorriu ao dizer.

— Não estou — respondi, recolhendo minha mão. — Só... não acho que te conheço.

Observei-o um pouco mais enquanto ajustava-se no assento confortavelmente, trocando a perna e a cruzando sobre a outra.

Seu rosto era afilado, magro e simétrico. A barba por fazer não diminuía em nada sua polidez. "Casaco num tom escuro de turmalina verde, sobre um terno com detalhes pretos e prateados", listei categoricamente, "eu poderia pagar meses de aluguel com qualquer uma dessas peças, com certeza".

Ele me observava da mesma maneira, demorando-se em minhas feições. Sua aura era impetuosa e seu perfume era único, como uma manhã úmida de inverno; o toque de sereno necessário, percebi. Toda aquela postura de poder me influenciava a ficar calada, mais do que eu mesma esperava ficar. Se eu queria mesmo ignorá-lo, deveria parar de encarar.

— Finalmente tive a oportunidade de vê-la novamente, senhorita Lúcia. Está bem longe de casa, sabia?

Engoli em seco, me sentando corretamente, ainda distanciada da janela, com um medo quase irracional, mas agora, determinada a abrir a boca. Nunca foi do meu feitio gaguejar ou agir como uma covarde, por isso me esforcei para responder sem devaneios:

— Desculpe, eu não sei quem é você — iniciei com um nó na garganta, lembrando-o que para mim não passava de um estranho. — Por acaso já nos vimos antes?

O sorriso dele acompanhou as rugas ao aumentar consideravelmente, como se tivesse reencontrado um bem precioso depois de muito tempo.

— Já faz muitos anos, Lúcia. Não deve se lembrar de mim, mas isso não me ofende. Era muito pequena para guardar alguma lembrança lógica daquele tempo.

Ele sabia o meu nome, de fato. O que não seria difícil de obter, já que minha mala possuía um adesivo com meu nome escrito nele. Não era impossível vê-lo, ainda que pequeno. Eu o havia colado ali ainda quando criança, quando minha mãe comprara adesivos na loja de bugigangas perto de casa. E eu não era mais uma criança, então não cairia em seus truques. Ele podia não estar bem intencionado.

— Me desculpe, mas você deve estar me confundindo com outra pessoa — quanto tempo demoraria para que eu criasse coragem de chamá-lo de lunático? Estava disposta a descobrir.

Ele se aproximou um pouco se inclinando para frente. Parecia despreocupadamente ameaçador.

— Jamais me permitiria esquecer o rosto de sua mãe. Você é idêntica à ela. Em tudo. Os olhos tão preciosos, os cabelos acetinados, a pele de pêssego — ele sacudiu a cabeça esbanjando um sorriso mais terno que o anterior. — Você é tudo o que seus pais sempre sonharam.

— Meus pais? — perguntei cautelosa. — Os conheceu? Ambos? — reconheci a mentira tão rápido que quase me decidi que aquele era o momento certo para xingá-lo de algo estúpido.

— Tão bem quanto cada folha de cada árvore dessa floresta.

Louco. Ele era completamente louco.

"De que hospital psiquiátrico você fugiu?", era o que eu queria perguntar, mas no lugar disso, simplesmente arrisquei num tom condescendente:

— Então, vai me dizer que sabe porque estou aqui?

Fitei seus olhos verdes sem recuar. O máximo que eu sabia, não passava da passagem de trem e de sua orientação estranha sobre a velha estação da cidade e o caminho a seguir.

— Isso só sua mãe saberia responder, para ser sincero, mas possuo uma vaga ideia. Ela era uma mulher muito inteligente e amava enigmas tanto quanto histórias fantasiosas, isso eu posso dizer.

O que ele havia falado até então fazia jus à versão que eu conhecia de minha mãe, mas essa versão não incluía um estranho de palavras sedosas.

O assunto se perdeu, tão rápido quanto quando surgiu. Eu estava diante de alguém que conhecera meus pais? Meu pai já não existia mais há muito tempo, o que tornava sua afirmação vaga. E se minha mãe realmente o conhecera em vida, como poderia não ter me contado sobre ele, sendo um homem tão... diferente do usual? Todas as histórias de contos de fadas que me contava envolviam pessoas estranhas, mas não era real. Nenhuma delas era real, eram apenas histórias que ela inventava para me fazer dormir.

Ou, talvez, eu simplesmente estivesse diante de um maluco que não tinha nada mais para fazer?

Estava apostando tanto na última opção que poderia adquirir uma nova dívida só de pensar.

— Se está aqui, Lúcia — iniciou ele, mais uma vez. —, deve esquecer tudo o que sabia sobre sua mãe e se agarrar ao que não se permitiu acreditar. Existe muito mais do que você sequer imagina e isso com certeza inclui coisas que até eu mesmo não posso imaginar. Contudo, se sua mãe a enviou para cá, por qualquer motivo que tenha tido para fazer isso, sei que precisará de mim tanto quanto ela precisou.

Não pude deixar de sentir uma queimação tomar meu rosto. Era o que acontecia quando algo que estava fora do meu controle me irritava. Ele falava tão casualmente, tão certo de si, tão... confiante em suas palavras. Senti a necessidade de atacá-lo, de qualquer forma que fosse.

— Minha mãe está morta.

Ele ficou em silêncio.

O rosto se tornou enevoado; uma feição de choque inesperada.

— Sua mãe... se fora? — indagou ele, como se sentisse a perda tanto quanto eu. Sua atuação era demasiadamente perturbadora.

— Sim. Ela se foi — respondi, os olhos se tornando marejados. — e não havia nenhum amigo para ajudá-la enquanto partia sozinha, no frio e com medo. Então, não acho cabível que o senhor continue com esse teatro.

— Você está fugindo, ou se encontrando? — indagou, subitamente.

— Não é da sua conta. — respondi enquanto limpava os olhos.

Desde a morte dela, eu não havia chorado novamente nenhuma vez sequer. Não me permitia. Eu devia ser forte para sobreviver sozinha, não estava mais com ela, não tinha mais a proteção sempre tão presente.

Ela morreu no frio, praticamente sozinha, nos piores segundos, nas mais distantes memórias, com tantas palavras a serem ditas presas na garganta. Trocou seus últimos momentos por um simples pedido. Um que eu custava a compreender e temia nunca conseguir.

— Tanto quanto lamento a perda de minha família, lamento a sua. A minha. A de todos que conheciam e amavam sua mãe. — inclinou-se numa reverência polida.

O observei enquanto o fazia, levantando a cabeça após alguns segundos. Pude jurar que vi seus olhos lacrimejarem. E por isso, me perguntei se devia lhe dar uma chance e tentar ouvir o que tinha a dizer, por mais inexplicável que pudesse ser.

— Não sabia da morte dela?

— De certo que não — ele voltava à forma normal, altivo mais uma vez. — vim aconselhá-la, como me foi pedido que fizesse quando chegasse a hora, mas não esperava que sua mãe tivesse partido quando ela chegasse.

Em seus olhos agora surgia uma faísca de esperança que antes não existia.

— Não vou obrigá-la a seguir meu conselho— adiantou-se ele —, mas peço que ao menos o leve em conta. Seria um pecado da minha parte não fazer o que está ao meu alcance.

Naquele momento, senti como se eu e aquele homem tivéssemos muito a conversar, e aquela sensação de grandiosidade que havia nele voltou a me alcançar, agora como uma brisa suave. De alguma forma, me senti uma igual, mas incomum; quebrada e prestes a ser reconstruída ao mesmo tempo. O individualismo original daquele estranho criava, sim, uma aura influente em torno de si mesmo, mas ainda assim, nos mantinha próximos o suficiente para que conseguíssemos nos conectar. Ele poderia estar ali para trazer o azar, mas talvez - apenas talvez - também fosse a chance de obter minha verdejante bênção. Um estranho novo futuro.

— Quem é você?

Quem sou eu? — ele sorriu mais uma vez, como se conversasse com uma criança. — Eu sou o Tempo, Lúcia. "Aquele que demora a se tardar", o Tendeiro Amaldiçoado, o Cervo. Aquela coisinha que parece tão ínfima em certos momentos, e tão especial em outros. Todo ser humano me conhece de uma forma diferente, mas sua mãe me conhecia muito mais profundamente do que qualquer outro ser. Ela dizia que existiam muitos nomes para mim, mas sendo a uma personificação fiel, existe um que a cativava particularmente...

Ele se aproximou lentamente. O trem entrou num novo túnel. Seus olhos iluminaram o ambiente em um intenso tom de verde e, de repente, algo estranho preencheu o ar opressivamente, libertando uma esmagadora autoridade. Um sussurro tão alto quanto mil vozes.

— Eu sou Killius, o Tendeiro.

Foi como se o tempo tivesse acelerado e depois voltado para trás, fazendo com que o enorme lago fosse perdido de vista e as árvores se movessem ainda mais velozmente. O apito do trem soou. Estávamos saindo do túnel mais uma vez.

Indo em direção à uma descida, tudo ao redor voltou ao normal. Não pude deixar de me segurar nos cantos do assento e do encosto da janela. Me sentia revigorada, mas assustadoramente confusa de repente. Enquanto ele, simplesmente se ajeitou em seu assento novamente dando de ombros e tomando seu chapéu de cima do estofado. Finalizou sua sentença com uma frase despojada de decoro, num tom mais casual:

— E também aquele a quem a justiça deve explicações no final do mês.

Ele era uma criação do próprio tempo, envolto numa nebulosa de poder e abundância intransmissíveis. E mesmo assim parecia gostar de fazer piadas em momentos sérios. O tipo de cara estranho que acaba rindo num velório, porque uma das vozes da sua cabeça lhe contou uma piada. Eu só não sabia disso ainda.

Observei aqueles olhos voltarem ao normal vagarosamente, tomando aquele poder para si novamente.

Ele... ele era diferente de tudo o que eu já havia visto na vida.

— Esta é a última parada — completou. — As coisas mudaram. Por esse motivo, assim que este trem se aquietar, você fará o seguinte: irá seguir o caminho da serpente, mas se distanciará dele quando se aproximar do lago que existe dentro da clareira. Você logo o verá. Após fazer isso, andará no escuro por alguns minutos — pousou seus olhos sobre os meus, como quem tenta acalmar uma fera desacordada. — Não tenha medo, eu estarei com você e não te abandonarei daqui em diante. Isso é uma promessa.

A chuva diminuía gradativamente, molhando as últimas samambaias da floresta, mas sem deixar que suas nuvens se dispersassem. Não era um pedido comum. Sua última frase soara como uma condição.

— E assim, — continuou ele. — seguindo na trilha sem se desviar, chegará em seu destino. Saberá assim que o vir — colocando seu chapéu sobre os cabelos castanhos levemente desajeitados e ajeitando sua echarpe ao se levantar, finalizou. — Porém, não deve, jamais, nunca, nenhuma vez sequer... diminuir seu passo em meio à escuridão. Ele pode não ter misericórdia de você.

Assentindo em rendição, o vi sair pela porta principal da cabine com um grande sorriso esboçado no rosto, ouvindo-o falar pela última vez:

— Se estiver em perigo, ou precisar de ajuda, basta chamar pelo meu nome. Eu sempre lhe ouvirei, coelhinha.

-

Em poucos minutos eu já estava parada, inerte, na plataforma de madeira velha e acinzentada. Não havia cobertura, nem pilares, tampouco parafusos o suficiente para mantê-la de pé. Mas o que realmente me chamava atenção - além do lago que ainda podia ser visto, ao longe - eram as três árvores à minha frente: as três possuíam um entalhe em seus cascos, sendo o primeiro em formato de coelho, de forma sutil; a segunda era uma serpente peçonhenta de escamas bem detalhadas; e a terceira era uma coruja cujas asas estavam abertas em triunfo. Naquele instante, eu finalmente assimilei as palavras do estranho homem. Assim como as da minha mãe.

Minha mãe tinha o fabuloso costume de dizer sempre as mesmas palavras antes de apagar as luzes e me dar um beijo de boa noite: "Siga o caminho do Coelho". Ela sempre alternava entre uma metáfora e outra, mas sempre trazia o mesmo significado, por mais que eu não conseguisse decifrar. Ela disse as mesmas palavras antes de morrer em meus braços naquela rua deserta.

Agora, eu havia achado um verdadeiro caminho a seguir e não poderia me dar ao luxo de perder a oportunidade de obedecer minha mãe pela última vez para ouvir os conselhos duvidosos de um viajante que dizia conhecê-la.

Prossegui com a boa intuição e segui a trilha da árvore do coelho. Não seria o medo de escuro que me faria parar. Eu iria encontrar o que quer que eu tivesse que encontrar, e depois... bom, depois o ser humano costuma inventar um motivo novo para continuar, um novo objetivo, uma razão. Era o que eu faria. Mas o tempo tem formas estranhas de brincar com seus usuários; jogos alucinantes, buscas sem rumo, passatempos em mares revoltos. A imaginação é ilimitada.

Não haviam problemas no percurso, mesmo que vez ou outra minha nuca se arrepiasse um pouco, como se estivesse sendo observada a todo instante. A noite continuava a cair sem se tardar rapidamente como um véu que cobria a floresta. Estava escuro, tenebroso e tudo o que eu conseguia pensar era em voltar para trás. Era como se houvesse uma presença ali. Minha pele arrepiada me dizia o que eu não queria ouvir: "realmente há". Uma enorme e apavorante aura que rondava toda a floresta, tão poderosa quanto à do viajante. Tão assustadora quanto.

Enquanto caminhava, pensava nas palavras daquele homem; na forma como se curvara em respeito à memória de minha mãe; na maneira como dizia conhecê-la; no olhar esperançoso que pousava em mim a cada instante de silêncio.

Os sons do arvoredo pareciam se intensificar e o frio começava a se tornar mais tortuoso. Aquela atmosfera carregada também aumentava em picos de obscuridade. A luz da magra lua não ajudava em nada, visto que os pinheiros eram tantos, que não permitiam sua passagem.

Eu estava completamente perdida e amedrontada. Isolada.

Todo aquele ar estranho me fazia arrepiar de formas que eu nem sabia que eram possíveis. Ele revirava meu estômago em puro receio e ânsia. Tudo o que eu sentia era pura inquietação, as coisas não pareciam melhorar em quesito algum. O percurso começava a me preocupar, surgiam muitas pedras e raízes no caminho, dificultando ainda mais a caminhada no quase completo escuro. Mais uma vez, um silêncio aterrador me envolveu. Aquele, notei, era diferente.

As árvores mantinham o farfalhar de suas folhas, e o chão enlameado abaixo de mim continuava a emitir sonidos grotescos. Mas a floresta... a floresta havia se calado perante aquela presença que se aproximava, cada vez mais perto em meio à escuridão da mata. Aquela presença que antes me seguia, parecia ter se fragmentado em inúmeras outras, como os cacos de uma taça quebrada. Nas histórias que minha mãe contava quando eu era pequena, cenas de suspense e medo me encantavam. A ansiedade de não saber o que esperar, de não ter ideia do que os personagens poderiam fazer para contornar aquela situação; cada frase cuidadosamente orquestrada por mamãe parecia um livro aberto e vivo. E naquele momento, lembrei-me de uma cena em particular que sempre me fazia arrepiar dos pés à cabeça: "E na floresta onde nenhum outro ser ousava emitir som, rosnados baixos quebraram a paz do breu. Ele não ousou abrir a boca, sequer respirar, enquanto aquilo estivesse ali."

Comecei a correr - talvez já tarde demais para isso. Estava escuro demais para ter cuidado com passos em falso. Eu podia sentir no mais profundo da minha alma que aquele podia ser o meu fim se eu não corresse o suficiente, e uma morte terrível era inegável. Foi então que percebi: aquelas criaturas continuavam a me perseguir, mas não atacavam. Pareciam estar brincando comigo, sua nova presa, como se estivessem se alimentando do meu pavor, deliciando-se com a respiração ofegante deixada para trás.

Até que minhas pernas começaram a doer e a minha respiração se tornou tão descompassada que seria impossível continuar por muito mais tempo. Os rosnados se aproximavam cada vez mais, brincando, salivando com a cena lamentável.

Tropecei em uma raiz seca.

Meu joelhos se chocaram contra a lama.

Eu estava praticamente entregue em meio às folhas caídas, apenas esperando que me alcançasse. Segurei o joelho lesionado e pedi aos céus, para alguém, para qualquer um que pudesse ouvir minhas súplicas, para que enviasse uma salvação para mim, porque na situação que eu me encontrava, não havia saída senão por um milagre.

Tentei lembrar-me do nome do viajante.

Tentei, sem sucesso, ainda pensando em formas de me livrar daquela situação.

O medo me deixava irracional e quase sem voz. Se ele era mesmo aquele a quem a justiça devia explicações, ele logo teria que ouvir dela que eu estava morta e que eu não era merecedora de uma morte daquelas.

Touché, senhora Justiça.

Mas alguém parecia ter me ouvido, pois, de alguma forma, uma luz surgiu alguns metros à minha frente. Me retorci e estiquei meu braço pedindo por ajuda.

Fui prontamente acuada. Aquelas presenças medonhas haviam finalmente desaparecido.

O homem que me ajudou possuía uma tocha em suas mãos, a luz que eu vira se aproximar. Eu estava à salvo. Do frio, da fome, da morte. Respirei aliviada por um segundo. Contudo, o que eu não sabia, era que aquele puxão que me dera não era para me ajudar a levantar, e sim para me arrastar pela mata.

Minhas pernas continuavam a doer e eu me queixava do joelho ralado, mas ele não parecia ouvir. Passei a me debater. Ora ou outra dava olhava para trás a fim de fitar meu rosto enquanto continuava a me puxar rudemente. Estava me ignorando. Eu não conseguia ver sua face, mas começava a entender que suas intenções não eram tão boas quanto pensei inicialmente.

Era como se a vida estivesse me testando num joguinho maquiavélico, vendo as curvas que eu faria para sobreviver. Talvez só quisesse testar minha sanidade. Se não fosse pelo crescente desespero, eu me juntaria a ela para descobrir o resultado daquele teste.

— Cale-se! — berrou ele, após mais alguns gritos pedindo para que me soltasse. O forte hálito próximo ao meu rosto quando me puxou para mais perto.

Meus pedidos de socorro também não tiveram sucesso, nada nem ninguém iria me ouvir. E se ouvisse, se disporia a ajudar?

Quando nos aproximamos do que parecia ser uma cabana de caça, abrindo uma espessa porta de madeira, arrastou-me por mais alguns metros até que me jogou numa espécie de prisão. Lembrava fielmente um estábulo.

Com o baque, me senti atordoada demais para levantar e arriscar uma fuga. Minha cabeça doía enquanto meu joelho começava a sangrar em meio à sujeira da lama. Ele se afastou, deixou-me no escuro e desapareceu com a luz após trancar a porta.

Meu joelho doía, meu peito parecia prestes a explodir e um medo que eu jamais sentira antes tomava conta do meu corpo. O que aquele homem faria comigo não conseguia chegar ao cerne de meus pensamentos. Me recusava a imaginar, a ponderar, a descobrir. Respirar doía. O ar frio da noite entrava pela estreita janela.

Sentada na pedra fria, podia ver a lua apontar entre as nuvens.

Durante as primeiras horas, esperei que voltasse, com o medo ainda latejando sob minha pele. Ele teria que voltar em algum momento. Não dera indício algum do porque teria me trancafiado daquela forma, e eu não havia dado motivo para aquilo. Pelo menos eu achava que não. Logo, descobri que aquela espera demoraria mais do que imaginei.

Os minutos se tornaram horas, as horas em dias, os dias em semanas...

O homem que me jogara ali, simplesmente arremessava o vasilhame por debaixo da porta e não se importava com a quantidade que cairia no chão ou não. Eu só comia uma refeição por dia.

Depois do dia em que me prendera, não havia dito mais nenhuma palavra. Um pouco de água, um cobertor velho, um vestido surrado e um balde. Aqueles eram meus novos pertences.

E quando as noites se tornaram ainda mais frias e tortuosas, passei a suplicar novamente. Com mais afinco, buscando uma ligação, uma oportunidade ou uma chance de sair dali.

Eu tinha pesadelos constantemente. Via minha mãe jogada naquela estrada nevada, o sangue manchando o branco, o corpo já quase sem vida e perdendo a consciência; via nossa antiga casa, o pequeno jardim que minha mãe cultivava, a horta em que me deixava brincar com a terra, as enormes mãos de alguém me rodopiando no gazebo; via meu pai, sobretudo, sempre ocultado. Eu não me lembrava dele, havia partido muito antes que eu sequer tivesse chance de gravar seu rosto o suficiente para que não se esvaísse com o tempo. E quando ladrões invadiram nossa casa pouco tempo depois, levaram cada centavo que ele deixara para minha mãe. Me lembro de minha mãe a contar sobre sua promessa, a última antes de ir embora: que retornaria para nós duas, que resolveria seus problemas e que voltaria.

Por muito tempo, como uma criança inocente que mantém a chama de uma esperança simplória viva, esperei por seu retorno. Todas as noites, fitava a janela aguardando que sua figura surgisse do meio da escuridão, mas isso nunca aconteceu. E toda vez que aquele lampejo de memória me atingia, eu me lembrava de seus cabelos pretos, a testa encostada na da minha mãe. O último beijo de adeus.

Nunca entendi como minha memória tão infantil e inédita mantivera aquela lembrança ali por tanto tempo, mas a cada vez que ela me atingia, não conseguia conter o vazio no peito.

Nos últimos dias, aquilo havia se tornado um ciclo sem fim. E foi assim também, quando no 27° dia, no tardar da noite, pude ouvir um diálogo entre meu carcereiro e uma mulher. A movimentação repentina me fez despertar num pulo.

— Não está tentando ganhar mérito com mentiras, não é? Creio que já conheça a reputação de seu Lorde — indagou a voz mais velha, com um tom de desconfiança e ameaça.

— É claro que não, minha senhora. Eu não seria tão ousado em tomar uma decisão tão tola. — o homem que me arrastara até ali e que me mantivera naquelas condições durante tantos dias, agora parecia só mais um covarde. Me arrependi, por um ínfimo momento, de não ter o atacado com o balde.

Emitindo um pequeno som com a garganta, a mulher afastou-se dele. Prossegui ouvindo os passos, fingindo estar no mais profundo sono sob as folhagens que ele me arrumara algumas semanas antes.

— Então, — iniciou ela. — essa é a garota?

— Se olhar bem nos detalhes, é quase idêntica — sustentou ele, gaguejando.

— Não é a própria perfeição, mas creio que será útil por algum tempo. Sabe se foi educada devidamente?

— Infelizmente, minha senhora, não tenho essa informação. A encontrei no meio da mata, sozinha. Não acho que tenha família.

— Muito bem.

De súbito, força sobreveio sobre mim. A senhora - que não devia ter mais de cinquenta - apenas observava com desdém enquanto o homem me arrastava para fora do cômodo à força. O nariz empinado e o olhar altivo demonstravam que pouco se importava com a situação à sua frente. Franzia mais as rugas a cada expressão de desgosto esboçada. Eu a encarava nos olhos na tentativa de incitar alguma dó ou pena, mas meus esforços se mostraram em vão.

Aquele homem me machucava ao apertar suas ásperas mãos contra minha pele. A força usada era tamanha, que todo lugar em que tocava, avermelhava-se quase que imediatamente. Meus gritos não adiantariam, mas eu sequer tinha forças para lutar de qualquer maneira. Todos aqueles dias em cárcere enfraqueceram meu corpo e mente, me deixando à beira de um colapso.

Todas as vezes em que vomitei, que supliquei por minha libertação, que pedi uma refeição digna de um ser humano... o silêncio era brutal. Repulsivo.

No entanto, pouco depois que fui liberta de suas mãos, fui empurrada para dentro de uma carruagem preta, com um brasão antigo. A mulher, após se sentar à minha frente e entregar um saco cheio do que pareciam ser moedas para o homem, fez um leve aceno de cabeça. O cocheiro atiçou os cavalos e começamos a nos afastar da cabana de caça.

Meu peito subia e descia, alimentado pelo medo do desconhecido. Minhas entranhas se reviraram, mas se recusaram a forçar o vômito vazio naquele chão aveludado.

As árvores começaram a passar cada vez mais rápido na medida em que ganhávamos velocidade. E aos poucos, meus sentidos voltaram a mim. Aquele sentimento de liberdade que achei sentir num primeiro momento, logo mostrou sua verdadeira faceta. Eu estava longe, muito mais longe do que esperava chegar. Longe demais até para que algo à minha volta fizesse sentido. Mas pela primeira vez depois de muito tempo, senti a breve presença de minha mãe.

Aonde quer que eu estivesse, estava de acordo com o que ela desejara para o meu futuro. Só me restava saber se eu estava preparada para isso.

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