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29. Parabéns, você foi promovido

Caloris, reino de Mercúrio

Om sinceramente não sabia o que esperar. Se puxassem um facão e decidissem arrancar um braço e uma orelha, ele acharia normal, acharia coerente, mesmo que em nada tivesse semelhança com a forma daquelas pessoas pensarem. Não seria a primeira vez a se auto sabotar, e o medo de não conseguir fazer isso novamente o afligia. Coisas boas demais sempre vinha com um preço, ele sabia disso.

Então a visão de Zyr com uma caneca enorme na mão soava absurda. A menos que ele decidisse quebrar a caneca na cabeça de Om e usar os pedaços estilhaçados para o furar. Mas não, Zyr não jogou a caneca em Om, apenas tomou água calmamente enquanto os dois sentavam no canto mais afastado da oficina de Juno.

— Se vai me bater, faz logo, odeio a expectativa — Om disse, firme, ou em uma tentativa falha e pouco corajosa de ser firme.

— Você quer que eu te bata?

— Não, mas se você vai, vai rápido pra acabar logo com isso.

Zyr fez uma careta, confuso, e inclinou a cabeça para o lado como quem tentava entender a linha de raciocínio de Om. Sua conclusão foi nula, não tinha como entender, não quando o homem soava delirante.

— Olha, a investigação foi feita pelo governo plutoniano por terem achado ela lá, e concluíram que foi latrocínio. Só que nada foi levado, e eu tava lá, mas fui ser encontrado em Netuno, o que não faz o menor sentido a não ser que alguém tenha me levado — Zyr disse, tomou outro gole da caneca, encarou Om seriamente. — Por que fez isso?

— Ter te levado?

— Também.

— Não importa, já foi.

— Importa pra mim. Um ladrão comum só teria deixado uma criança lá ou teria matado junto para não fazer barulho — Zyr insistiu, tinha a esperança que Om colaborasse uma vez na vida, principalmente em um assunto tão delicado.

Demorou alguns segundos para a resposta vir, não por Om procurar as melhores palavras, mas para se preparar para admitir acontecimentos vergonhosos. Por receio de finalmente levar aquela caneca na cabeça por ter sido imbecil e estúpido.

— Eu devia te levar pra quem encomendou o serviço, mas pelo que jeito que falaram da sua mãe... te fariam ter uma vida miserável — Om começou, e pela primeira vez sentiu confiança de se delatar para alguém, mesmo que o medo ainda pairasse entre os dois. — Se eu te deixasse lá, te levariam pra um abrigo, e acredite em mim, é um lugar miserável também. Eu soube que o Van Astrea já cuidava da outra pentelha que não era dele, talvez fizesse a mesma coisa por você.

— E quem encomendou o serviço?

— Os pais da sua prima. Aquela lá que tá no Controle e é meio raivosa.

Zyr precisou colocar a caneca em cima de qualquer coisa, qualquer superfície, e logo inclinou o corpo para a frente, para apoiar os cotovelos nos joelhos. Ele entregou o rosto com as duas mãos, precisava de alguns segundos para digerir a informação, e além disso, compreender a parte em que sua própria família tinha feito aquilo.

Não era surpreendente, fariam, mas ainda surreal. Zyr não esperava diferente e ainda assim senti a agonia crescer em seu peito, sentia o peso em suas costas aumentar, e a incredulidade tomava de conta de sua cabeça.

— A Maya sabia? — perguntou, ainda com a cabeça baixa e apoiada nas mãos.

— Sabia.

— Merda — o meio netuniano resmungou, levantou a cabeça, passou uma mão pelos cabelos como quem tinha perdido completamente o rumo.

Zyr cobriu a boca com uma mão, balançou a cabeça devagar, encarou Om em um misto de indignação e decepção. Ele sabia dos tios terem feito parte do Controle, serem fanáticos poderia ser tolerável até certo ponto, mas nada justificaria aquilo. Nada justificaria a aversão por sua mãe, principalmente por ele saber qual o exato motivo para isso. Por ser o motivo para isso.

Intolerância seria o menor dos problemas.

— Obrigado — Zyr disse, por fim, e Om não entendeu a razão do rapaz falar aquilo.

— Obrigado?

— Por não ter me deixado lá.

Mesmo que se considerasse alguém miserável, Om não iria querer o mesmo para outra pessoa, não se pudesse evitar, e Zyr não precisava entender isso para agradecer o feito. Levantou, pôs uma mão no ombro de Om, deu dois tapinhas, seria o suficiente. Já não deviam explicações ou justificativas, não precisavam prolongar o assunto desnecessariamente.

O meio netuniano voltou a segurar a caneca, tomou o último gole, e teria voltado até onde Juno e Lian o esperavam se não tivesse ouvido um grito desesperado em sua mente.

[...]

Marduk, reino de Júpiter

Danika tossiu e de sua boca saiu apenas sangue, assim como de seu nariz. Se já estava fraca antes, agora seus ouvidos zumbiam infernalmente e ela sequer conseguia distinguir os vultos à sua frente.

Ela caiu para o lado, desacordada, e o terror fez com que os olhos de Eana assumissem um tom de roxo tão escuro quanto a noite. Não somente a íris, mas todo o globo ocular, e ela não teve tempo de processar a situação ao receber um tiro laranja dourado também vindo da arma do General. A netuniana sentiu o ar fugir de seus pulmões e cambaleou para trás.

— Terminamos aqui — o General disse, ofegante, com a lateral do rosto ensanguentada provavelmente pela queda. Ele cuspiu sangue ao chão, mantendo o olhar rígido nas duas mulheres.

Viktor se desesperou e correu até Danika, temia dela ter alguma fratura na cabeça pela queda, mas esse nem de longe seria o pior cenário. Jonathan se manteve de pé, imóvel, com o olhar perdido em lugar nenhum. Só conseguiu se mexer para o lado, para o centro entre o General e Eana, não havia necessidade de atirar novamente e ele sabia que o General gostaria muito de fazer isso.

O poder de Júpiter igualmente ardia, Eana lembrava bem do embate na prisão, mas vindo daquela arma parecia três vezes pior. O roxo escuro escorreu de seus olhos para ramificações em suas bochechas, e nesse momento qualquer um poderia ver seus caninos maiores à mostra, como se ela quisesse arrancar o pescoço do General no dente. Ela queria.

Jonathan não entendeu ao ver o General arquejar, segurar a arma mais forte e então soltá-la para levar as duas mãos até o pescoço.

— Jonathan, ela tá morrendo! — Viktor gritou, sentado ao chão, segurando o corpo de Danika como se ela pudesse escorrer por entre seus dedos a qualquer momento. — Por favor, aguenta só mais um pouco, a gente precisa...

Precisavam se abaixar, e Viktor encolheu o corpo no susto ao sentir um disparo próximo demais de si mesmo e de uma Danika desacordada. Jonathan também precisou se jogar para o lado ou seria atingido. Olharam para o lado em alerta, e mesmo ao chão, viam Eana com uma mão levantada na direção do General. Ela não precisava moldar uma arma com o poder para parecer mais legal, não precisava inventar outro tipo de disparador, poderia fazer ela mesma, e a cada momento as ramificações escuras se espalhavam por suas bochechas enquanto ela ofegava.

Eana disparou de novo, e o General foi arremessado contra a parede do beco, com os olhos bem abertos e a mão ainda no pescoço como se estivesse sendo enforcado.

Você termina aqui — Eana praticamente rosnou, disparou novamente para mantê-lo ali, e bastou três passos rápido para chegar até o General e erguer novamente a mão, erguendo ele do chão apenas com o poder.

Só então Viktor e Jonathan puderam perceber o círculo espinhoso ao redor do pescoço do General. Brilhante, obscuro, cada vez mais estreito enquanto a ruiva pressionava o General contra a parede por aquele ponto.

— Eana, espera! — Jonathan tentou intervir, mas antes de dar um passo para a frente, ela moveu o outro braço na direção dele e moldou uma lâmina bastante afiada que por pouco não encostou no pescoço do Tenente. — Não faz isso.

Ela não o olhou, apenas inclinou o rosto enquanto encarava o General com o olhar de quem queria caçar. O ar faltava para o homem, e ela manteve a pressão em seu pescoço tanto com o colar espinhoso quanto com sua mão à distância. Jonathan não teve escolha senão apontar o equipamento para Eana, e só então ela virou o rosto para o encarar.

— Sério, não faz — Jonathan pediu, seriamente, com o equipamento carregado ainda com o poder arroxeado. — Se já caem em cima de você agora, imagina se...

— Imagina se o que? — ela perguntou, ríspida, chorosa, e apertou ainda mais o pescoço do General, mas não o suficiente para ele desmaiar.

— Não vai ter lei ou reino que te proteja se você matar o General — Jonathan explicou, respirou fundo, e dessa vez largou o equipamento ao chão em sinal de paz. Levantou as mãos para mostrar que estava desarmado, mas não ousou dar um passo para a frente.

Não parecia um problema tão grande, não quando a raiva tinha dominado completamente os sentidos dela. Jonathan podia ver fios brilhantes entre as ramificações escuras dos olhos de Eana, e sequer conseguia discernir se eram lágrimas, poder interno ou só os olhos espalhando a manifestação física do tipo de habilidade dela. Eana voltou a encarar o General, e afrouxou a pressão no pescoço minimamente, ainda o mantendo erguido.

— Mate essa aberração, Tenente, agora! — o General ordenou, com a voz fraca e em meio a uma tosse.

Eana riu, realmente bem humorada, enquanto sentia as lágrimas descendo por suas bochechas manchadas. Então o riso se tornou cínico, nervoso, desesperado. Ela voltou a apertar o pescoço dele com ainda mais força. Sentia o corpo fraquejar, sabia que não teria muito tempo até desmaiar também.

— Me diz, Jonathan, quem assume o cargo dele quando ele morrer? — Eana perguntou, com os olhos fixos no olhar irado do General.

Jonathan franziu a testa, sem entender o sentido da pergunta, e odiava a resposta ainda mais.

— Eu.

Ela riu novamente, de maneira seca, sem humor, cansada, e deixou o General cair ao chão sem pressão alguma no pescoço, mas com o círculo espinhoso ainda em volta de sua cabeça. Eana virou o corpo para o lado, forçou um sorriso simpático e abriu os braços como se fosse dar um abraço em alguém por dois segundos.

Parabéns, você acaba de ser promovido — ela disse, e então abaixou apenas um braço enquanto o sorriso sumia completamente de seu rosto. Escutaram em seguida o som de alguém se afogando no próprio sangue, o som de ossos quebrando enquanto a cabeça do General pendia de uma maneira não natural para o lado. — Agora você quem decide se vai atrás de mim ou não.

Não tinha como ele simplesmente remendar um pescoço quebrado e virado ao contrário, muito menos conseguiria ajeitar esse pescoço com a pele e músculos cortados e completamente fora do lugar. Jonathan quis vomitar, e Viktor também ao ver a cena.

Viktor talvez estivesse anestesiado demais com o horror em ver Danika desacordada e sangrando, com o tórax roxo em uma hemorragia interna de nível tão alto que nem ele sabia como proceder. Ver o pescoço do General lhe causaria pesadelo, mas ver Danika morrendo aos poucos em seu colo conseguia ser pior. O coração de Viktor estava confuso se batia mais rápido ou se parava de vez.

Enquanto o de Jonathan parecia bastante tendencioso a simplesmente parar, mas precisou olhar para o outro lado ao escutar o grito de Viktor chamando por seu nome.

— Por favor, aguenta — ele escutou o pedido choroso de Eana, também se aproximando de Danika enquanto cambaleava um pouco. Ela caiu de joelhos no chão, e balançou o corpo da loira como se ela pudesse responder.

— Eu não sei se... — Viktor começou, engoliu em seco, não queria terminar aquela frase. — Se ela...

— Precisam sair daqui — Jonathan disse, atônito, com uma dor de cabeça tão forte que seus olhos pesavam. Aquilo devia ser um pesadelo, no mínimo, não queria ser o responsável por lidar com toda a bagunça criada em menos de meia hora.

— A Danika tá morrendo, o que eu faço?! — Eana gritou, para ninguém em específico, e tanto Viktor quanto Jonathan não entenderam. Não precisavam entender, não era assunto deles.

"O QUE?!" Eana escutou o grito de Zyr e Nikolai em sua cabeça, ao mesmo tempo, e pode respirar aliviada por uma fração de segundo até sentir as lágrimas dificultando sua visão.

Aquilo não podia acontecer de novo, simplesmente não podia.

"Eana, calma, como assim a Danika tá morrendo?" Zyr perguntou, visivelmente nervoso.

— O General tinha uma... uma coisa que rouba nossos poderes, eu acho, não sei, e ela levou... — ela respirava fundo, fraca, sentindo realmente estar prestes a desmaiar como efeito do tiro que havia levado. — Ela levou dois.

Falando em voz alta, soava insana. Talvez tivesse perdido de vez a sanidade, igualmente não seria um problema. Sentia as mãos trêmulas, suava frio, seus olhos pesavam em um sono que definitivamente não deveria ter. Eana precisou segurar em Viktor para não tombar para o lado.

"Primeiro vê qual a gravidade do..." Zyr começou, mas sua fala foi interrompida por Nikolai que pensou mais alto.

"Quem mais tá aí?" Nikolai inquiriu.

— Viktor e Jonathan — Eana disse, depois suspirou demoradamente enquanto coçava os olhos. Ela sabia que Jonathan estava a um passo de pessoalmente dar um segundo tiro nela.

— Os outros soldados já estão na rua, não dá pra deixar elas aqui quando chegarem — Viktor disse, exasperado, e precisou chutar o calcanhar de Jonathan para chamar sua atenção. — Jonathan!

Se Eana tinha as mãos trêmulas, Viktor tinha se tornado o tremelique em pessoa. Sentia o corpo inteiro tremer em medo, adrenalina e horror. E o horror se tornou pior ao sentir o peso de Eana em seu ombro. Ela desmaiou e Viktor precisou segurar as duas para que não tombasse diretamente no concreto do chão.

Jonathan olhou para Viktor, olhou para as duas desmaiadas, olhou para o General retorcido, quis gritar. E gritou. Não tão alto, mas o suficiente para colocar para fora o estresse acumulado.

— Mantém elas vivas, vou mandar eles pro outro lado e volto pra te ajudar — Jonathan disse, rapidamente, e pegou um dos equipamentos do chão antes de dar uma última olhada nos três que ficariam.

Mantém elas vivas. Daqui a pouco Viktor estaria igualmente desmaiado, e isso se tornava uma realidade palpável a cada vez que olhava para o roxo crescente e o sangue derramado em seu colo. Colocou dois dedos no pescoço de Eana, ainda tinha pulso, mas não sentiu pulso algum ao colocar os dedos no pescoço de Danika. Negava-se a segurar um cadáver, ela não poderia morrer ali, não ainda.

Mas Viktor não tinha a mínima noção do que fazer, levar até o hospital não seria o suficiente, não tinha tempo o suficiente.

"Se ela parou de me responder então você ainda pode" Viktor ouviu, e tomou um susto pela voz repentina em sua cabeça. Seus olhos vidrados nos ferimentos de Danika o faziam odiar a si mesmo por ter deixado chegar àquele ponto, e sua cabeça agora dolorida o fazia pensar ter enlouquecido de vez. "Não precisa responder, mas saiba de uma coisa, se qualquer uma das duas morrer, a culpa é inteiramente sua"

"Isso não é a melhor coisa a se falar agora" uma segunda voz disse, e Viktor não só tremia quanto sentia o sangue gelar e esquentar de maneira completamente sem controle.

"Mas é verdade"

"Claro que é, mas não é a melhor coisa"

"Tô pouco me fodendo, e Viktor, saiba de outra coisa, eu vou fazer sua vida um inferno se eu precisar ficar de luto hoje porque você é uma Vênus incompetente que não sabe salvar nem a amiguinha de infância"

Incompetente. Talvez ele fosse não só uma reencarnação incompetente, mas um soldado incompetente por ter deixado chegar até ali. Um amigo incompetente por não só ter mandado Danika para a prisão, mas por literalmente ter a vida dela se dissipando como fumaça. Uma pessoa incompetente por ver o pior acontecer e simplesmente deixar.

A angústia em seu peito só crescia, e o calor vindo de dentro de seus braço também. Viktor tinha estudado sobre aquilo, sobre gatilhos que despertavam cada um dos deuses. Mas nada disso vinha à sua mente agora, absolutamente nada. Viktor sequer conseguia pensar enquanto seu corpo tremia e se sentia cada vez mais inútil.

Forçou as mãos contra o corpo de Danika, queria que qualquer coisa acontecesse, qualquer luzinha, mas nada veio. Jonathan tinha ido ganhar tempo, e logo ele voltaria e todo o tempo ganho seria jogado no lixo. Viktor sentiu a primeira, a segunda e a décima lágrima descer pelo rosto.

— Me desculpa, só me desculpa — Viktor pediu, e abraçou o corpo de Danika com força. Ele fungou uma vez, apertou mais forte, deixou que as lágrimas continuassem a fluir.

Não tinha desistido, mas já não sabia se teria alguma utilidade. Talvez merecesse o inferno prometido por Nikolai, talvez nem fosse necessário, pois perder a mesma pessoa duas vezes era o cúmulo da burrice. E nas palavras do netuniano, incompetência.

Só então Viktor notou das próprias mãos brilharem em um tom alaranjado, e se fosse chutar, seus olhos igualmente. Não totalmente laranja, mas tendendo ao vermelho de maneira sutil. Ele sequer tinha ideia do que aquilo significava.

— Eu não sei se vai escutar... — Viktor começou, mantendo as mãos brilhantes em Danika, mesmo que ainda tremesse como um pinscher. — Mas o que eu faço quando elas... brilham?

Sentiu-se louco por falar com o vento, não fazia ideia se conseguiria realmente falar com outros, mas tentou seu máximo para focar nas vozes de Nikolai e Zyr enquanto encarava o rosto machucado das duas em seu colo.

"Usa"

"Coloca em cima da ferida maior, e se concentra pra aumentar o brilho" Zyr esclareceu, e Viktor precisou levantar novamente a blusa rasgada de Danika o suficiente para ele ver o imenso roxo de coágulo formado abaixo da pele. "Imagine que dentro de você tem uma chama rosada perto do seu coração, e essa chama te dá esse poder. A chama passa pelos seus braços e flui pelos seus dedos até chegar na ferida. Se o brilho aumentar, é porque deu certo"

Viktor respirou fundo novamente, fechou os olhos por dois segundos e tentou. Não fazia ideia de que chama era essa, mas tentou imaginar mesmo assim, e a sensação quente e aliviadora de sentir algo se mover em seus braços o fez respirar com leveza. Seus dedos esquentaram, seu coração bateu mais devagar e ritmado, Viktor ainda sentia as lágrimas descendo enquanto seus dedos faziam o trabalho.

Até notar uma expiração mais forte vinda de Danika, ainda desacordada, e só então Viktor se permitiu sorrir. Soltou o tronco dela, puxo-a para um abraço apertado, manteve os dedos brilhantes enquanto a segurava e só a soltou ao ouvir os passos de Jonathan se aproximando.

— Tá, a gente tem uns cinco minutos pra... porra é essa, Viktor? — Jonathan perguntou, confuso, maravilhado, enquanto encarava as mãos cintilantes do Major.

— Eu não sei, eu acho que... eu não sei — Viktor admitiu, e indicou para Jonathan segurar Danika. Não tinha como explicar o que não sabia, e não tentaria falar uma mentira e enganar a si mesmo. Só não sabia, mas sabia que precisavam sair dali e talvez Viktor tivesse ideia de onde ir com tanta urgência. — Leva a Danika, presta atenção se ela continua respirando.

— Levar pra onde? — Jonathan perguntou, preocupado, já abaixando o corpo para segurar em um dos braços da loira.

— Pra Lágrima, eu acho que podem ajudar por hoje — Viktor respondeu, fungou uma vez e limpou o rosto com as costas da mão direita. Ele virou o corpo para segurar Eana, e por suas mãos ainda brilharem, tocou a barriga dela na esperança de amenizar qualquer efeito vindo daquele maldito equipamento.

Uma onda de choque percorreu o corpo de Viktor ao impulsionar o próprio poder em Eana e se sentiu arrepiar até o último fio de cabelo do corpo. Pelo menos ela respirava, isso já era muito em comparação com Danika.

Os dois levantaram com elas no colo, e olharam para trás apenas uma vez para se certificar do General não estar exposto. Jonathan tinha arrastado o corpo do homem até atrás de duas lixeiras, assim não ficaria visível, ainda mais pela noite. Voltaria para resolver o assunto assim que Viktor e as duas estivessem em um lugar menos arriscado.

Ter mandado os outros soldados para longe ajudaria, mas logo a vizinhança denunciaria a baderna no beco, e logo os soldados viriam, independente das ordens.

Seguiram pelas ruas laterais até os fundos do Lágrima, Jonathan não entendeu a razão de primeira, afinal no que uma casa de shows poderia ajudar? Então lembrou que a dona do lugar sempre acobertou outra daquelas pessoas, e Jonathan tinha certeza de que Enyo sabia de tudo, mesmo com Frida sabendo ou não. De um jeito ou de outro, a curiosidade das pessoas em saber o que tinha acontecido na rua foi um ponto positivo, podia só passar reto e desviar de multidões até chegar aonde queriam.

Aquilo tudo daria uma dor de cabeça ainda maior, Jonathan sabia, e Viktor ignorava completamente de propósito. Estava mais preocupado em levar as duas até a Lágrima, assim como precisava esconder as próprias mãos que ainda brilhavam e ele não sabia como parar.

Ao chegarem à porta dos funcionários do Lágrima, Viktor bateu em uma em específico que não era a entrada principal, mas sim uma alternativa, e privativa. Todos os funcionários tinham alojamentos próprios, e Viktor sabia exatamente quem era o dono daquele.

Bateu três vezes até ouvir barulho vindo de dentro, e ainda bem que Eana pesava pouco, Viktor se sentia segurando uma pena. Ao lado dele, Jonathan quem precisou forçar bastante os braços para conseguir manter Danika no colo enquanto esperava.

Um rapaz de feições saturnianas abriu a porta, e tomou um susto primeiro por Viktor estar ali, segundo por trazer alguém no colo, terceiro por Jonathan igualmente ter ido tanto até ali quanto por ter alguém no colo também. O rapaz alternou o olhar entre os dois, alarmado e confuso.

— Naghi, a gente precisa de um canto pra ficar — Viktor disse, apressado, e Naghi apenas concordou com a cabeça ao ver os ferimentos mais expostos das duas, um nariz e boca ensanguentados era exposto o suficiente.

— Tá bom, entra — Naghi disse, ainda confuso, e levantou bem as sobrancelhas ao ver Jonathan oferecendo Danika a ele. — O que é isso?

— Eu não posso ficar, então ajuda ele aí — Jonathan disse, certificando-se de que Naghi segurou Danika com firmeza, do contrário deixaria ela cair e isso seria a última coisa que poderia acontecer.

— Aonde vai? — Viktor perguntou, e logo colocou Eana deitada na cama de Naghi como se fosse a sua própria. Naghi também colocaria Danika ali, mas toda a situação ainda o assustava.

— Dar um jeito no General, jogar em uma vala, levar pra casa, tacar fogo, eu sei lá, mas não posso deixar ele atrás da lixeira até amanhã — Jonathan disse, passou uma mão na testa, e viu o olhar alarmado de Naghi direcionado a ele. — Eu sei, isso é horrível.

— Eu poderia perguntar o motivo dele estar atrás de uma lixeira, mas sinceramente eu não quero saber. — Naghi colocava Danika com cuidado ao lado de Eana, felizmente a cama era grande o suficiente para caber as duas e quem sabe mais uma, mas odiou que agora seu lençol ficaria imundo de sabe-se lá o que elas andaram rolando para estarem tão pegajosas. Fora a parte das mãos de Viktor brilharem incessantemente, isso também entraria pra lista de esquisitices daquele momento.

— Toma cuidado — Viktor pediu, preocupado, e Jonathan apenas assentiu.

Fecharam a porta em seguida, sem a presença de Jonathan, e Viktor alternou o olhar entre as duas e Naghi, completamente exausto, com o coração batendo rápido e a face de quem precisava de uma vida inteira de férias para se recuperar. Ele sentiu a mão de Naghi em seu ombro, preocupado, e pôs uma mão por cima da dele em agradecimento.

— Primeiro de tudo, tudo bem? — Naghi perguntou, calmo, apertando levemente o ombro de Viktor. O mais baixo assentiu, silenciosamente. — Segundo, por que diabos veio aqui brilhando e com duas pessoas desacordadas?

— Evitar que elas morram — Viktor disse, baixo, e virou o rosto para encarar Naghi diretamente. — Eu sei que precisa falar pra Enyo que estamos aqui, mas pode deixar que eu falo com ela.

Naghi não pareceu completamente convencido, mas era um começo, e Viktor aparentava tão ruim quanto elas. Não fisicamente, mas a face exausta chegava a ser similar.

Já imaginando que seria tomado como louco, e sem qualquer costume de fazer aquilo ou noção de como seria menor pior, Viktor decidiu sentar na ponta da cama para monitorar os batimentos cardíacos e a respiração das duas.

— Elas tão respirando, se quiserem saber — Viktor disse, e evitou de olhar para Naghi para não precisar ver a careta confusa. Pensou em Nikolai e Zyr, e torceu para o pensamento chegar até os dois.

"Obrigado, avisa quando acordarem" Zyr disse, e Viktor levou um susto, mesmo que já esperasse.

"Ótimo, pelo visto não é tão inútil assim" Nikolai disse, e Viktor respirou fundo.

[...]

Caelus, reino de Urano

Nikolai queria ter deitado e dormido, estava com sua roupinha do sono e com o lençol afastado quando Eana praticamente berrou em sua cabeça, e só conseguiu parar de andar de um lado para o outro ao ter uma notícia minimamente boa vinda de Viktor. Ele nunca esperou que todos os deuses fossem excepcionalmente inteligentes, mas também não iria ficar satisfeito se tivessem a proatividade de uma porta em resolver conflitos.

Até Om conseguia resolver. Não solucionar, mas resolver, embora as resoluções de Om sempre acabassem piores do que quando começou.

Saber que Eana continuava respirando era bom, mas não o suficiente por muito tempo, e Nikolai saiu do próprio quarto na mansão apenas com a roupa de dormir e com o celular na mão enquanto sabia muito bem que levaria um xingamento gratuito. As gravações de pessoas soltando luz pelas mãos já rodavam pelo continente, parecia uma bagunça, mas ele se divertia com a facilidade que Eana alternava entre as armas criadas. Sempre adorou o martelo.

Mas também pode ver nas gravações o equipamento citado por ela, e visto com qualidade tão baixa de um celular ruim, mal podia reconhecer o objeto.

Nikolai bateu na porta de Psique. Poderia ter só avisado mentalmente, mas infelizmente isso não era assunto para falar tão de longe, nem seria somente com ela. Ao longe, no corredor, ele conseguia discernir a figura de Cairbre andando em sua direção, e ao lado da porta de Psique, Frida já tinha aberto a porta e também tinha um celular em mãos, com o mesmo vídeo em repetição. Ele tinha dado um belo susto nas duas ao pedir que saíssem do quarto para um encontro noturno, mas que antes olhassem os próprios celulares.

— O que porra você quer? — Psique resmungou, ao abrir a porta. Pela face dela, já deveria ter dormido, mal conseguia abrir os olhos. Ela coçou o olho esquerdo com uma mão, bocejando em seguida.

— Te dar mais razão pra odiar a Danika enquanto eu continuo achando ela incrível — Nikolai disse, e entregou o celular para Psique ver o vídeo.

A menina pouco entendeu, e pegou o celular para assistir. Mal dava pra reconhecer as figuras envolvidas se fossem depender só da qualidade do vídeo, mas ela reconhecia as auras. Laranja e roxo seriam reconhecíveis até demais, e pior que isso, via a mesma coloração das auras delas saindo da ponta do equipamento.

Por dormir cedo, Psique sequer tinha noção da situação, e ao olhar para Nikolai, percebeu os olhares aflitos tanto de Cairbre quanto de Frida.

— Vamos direto ao ponto, e não finja que não viu nada disso porque eu sei que você vê — Cairbre disse, e olhou diretamente para Frida como quem dava um ultimato. — Não tem imagem de como isso terminou, mas essa merda tem a cor da Eana. Não é parecido, é igual.

— Tem alguma possibilidade de terem drenado ela enquanto tava com vocês? — Nikolai perguntou, e pegou o celular de volta.

— Eu sabia que isso ia dar ruim, eu avisei! — Psique disse, já mais desperta e com as mãos na cabeça. — Toda vez que essa indigente se mete no meio, a Eana toma no cu junto.

— Claro que tem, as algemas sempre drenam o poder pra ela não conseguir usar, mas eu não tinha ideia que conseguiriam estocar o poder drenado! — Cairbre disse, tentando ao máximo não gritar no meio do corredor.

— Espera, eu usei aquela porcaria, eles podem ter drenado o meu? — Frida perguntou, com os olhos bem abertos que a esse ponto já brilhavam em um verde azulado fraco.

— O seu, o meu, da Danika, devem ter até do Viktor, eu não faço ideia, nunca me diziam sobre essas coisas. — Cairbre cruzou os braços, franziu os lábios, e olhou para cada um dos três. — Deram alguma notícia? Tentei falar com as duas e não responderam.

— Estão desacordadas — Nikolai disse, e percebeu o olhar das três praticamente o fuzilando. Ele sabia mais, como sempre, e agora provavelmente apanharia caso não falasse o resto. — A Eana gritou na minha cabeça dizendo que a Danika tava morrendo, que ela tinha levado dois tiros do que quer que essa merda seja, e depois apagou também.

Ela morreu!? — Psique perguntou, alarmada.

— Viktor disse que não, ele e o Tenente tavam lá e...

— E dá pra falar com esse Viktor? — Psique insistiu, Nikolai apenas assentiu com um movimento da cabeça.

— E cadê o General? — Cairbre interrompeu, temendo a resposta.

— Não faço ideia, ela só falou deles dois antes de apagar. — Nikolai moveu os ombros, aquilo já estava além de seus conhecimentos.

— Então não só tiram coisas da gente, usam isso pra matar os outros, muito bom! — Frida ironizou, com a face no limite entre a seriedade e o pânico. Passou as mãos pelos cabelos esverdeados e totalmente bagunçados, aquilo parecia só piorar. — Não dá pra perguntar sobre nada disso pros que vieram, duvido que respondam.

— Eu aposto que usariam isso contra a gente — Nikolai disse.

— Usariam, se tem uma coisa que dá pra confiar nos que vieram pra cá é que um tem ranço, a outra deve odiar só o Nikolai por ele ser um porre, e a outra usaria qualquer um aqui como cobaia pra experimentação — Psique disse, movendo uma mão ao falar e estreitando os olhos para demonstrar sua irritação. Estar de pijama só tornava a cena engraçadinha, mas nenhum tinha o humor bom o suficiente para isso, não no momento. — Eu odeio dizer isso, mas elas duas são as mais fortes, a gente tá fodido.

— Nossa, isso ajudou muito, valeu — Nikolai disse, irônico, com as mãos na cintura.

— Qual a chance de ter uma coisa dessas por aqui? — Frida perguntou, automaticamente acionando um alerta vermelho na mente dos outros três. — Quer dizer, seria imbecilidade usar contra qualquer um de nós quatro, mas não impede que tentem. Se prendem uma pessoa só pela suspeita, o que fariam com pessoas assumidamente poderosas e logo no reino que já perdeu metade do território por conta disso?

Cairbre riu, de nervoso. Ficava difícil de saber se era um riso ou um choro, e ela esfregou os dois olhos como quem queria arrancar os globos oculares do rosto, assim como as orelhas, e depois disso ficar completamente alheia ao mundo exterior. Não podia acontecer uma catástrofe ali, não de novo, e ela sabia muito bem que se um fosse ferido, os outros se defenderiam, e com certeza alguém iria direto para o túmulo.

— Ué, surtou de vez? — Psique perguntou, fazendo uma careta.

— Ninguém vai julgar se a resposta for "sim" — Frida completou.

— Somos quatro pessoas em roupas de dormir discutindo no meio do corredor enquanto tem duas de nós morrendo, além do fato de que podem ter trazido a mesma coisa que quase matou essas duas pra cá, logo onde tem gente demais que poderia servir de alvo — Cairbre explicou, mais para si mesma do que para os outros, como se quisesse convencer a si mesma da situação. — E a gente vai ter que manter eles aqui. Se a coisa ficar feia por lá, vão pedir todos de volta.

— Quer motivo maior que esse infeliz irritando e soando suspeito o tempo inteiro? — Frida perguntou, e indicou Nikolai com um movimento da cabeça.

— Sim, tem que ser maior. — Cairbre moveu a cabeça em um aceno positivo. — Vou ligar pro Jonathan de manhã e perguntar o que aconteceu.

— Quem é Jonathan mesmo? — Psique perguntou, com os olhos estreitos, olhando para Nikolai para ele responder.

— Só o Tenente, nada demais — Nikolai disse, movendo os ombros como se fosse uma informação ordinária.

Psique abriu bem os olhos, e se esteve com sono no início da conversa, já não existia. Ela abriu a boca, franziu o rosto, indignada, e colocou as duas mãos na cabeça apenas para as afastar e manter o olhar confuso sobre Cairbre.

— Só alguém que trabalha pra eles! — Psique concluiu.

— E de patente alta, eu não convivi muito com ele, mas não acho uma boa ideia envolver alguém de dentro nisso — Frida disse, de braços cruzados e encostando o corpo na parede ao lado da porta de Psique.

— Dá pra confiar nele — Cairbre insistiu, falando devagar, para frisar bem. Ela esperava estar falando a verdade, e não conseguia ver possibilidade de Jonathan decidir fazer o contrário. — E enquanto isso a gente vê se trouxeram alguma dessas coisas pra cá.

— Se você não conhece, então é coisa nova — Nikolai disse, revirando os olhos. Balançou a cabeça, riu de forma seca, talvez tivesse uma ideia de quem era o responsável. — Talvez seja coisa do Lian.

— O sequestrado? — Frida perguntou, confusa.

— O assalariado, tá recebendo bem mais agora do que recebia antes — Nikolai corrigiu, levantando um dedo ao falar.

Frida ergueu uma sobrancelha e deu de ombros, pouco fazia diferença para ela. Por fim, os quatro suspiraram pesado, pouco podiam realmente ajudar estando ali, e ainda teriam que prestar atenção na bendita mancha. Ou poderiam usar a mancha como forma de manter aquelas pessoas ali, mas isso incluía um risco bem além do limite de cada um simplesmente por ser desconhecido.

— Amanhã a gente vê isso, mas agora me diz, esse Viktor consegue escutar bem? — Psique perguntou, com as mãos na cintura e encarando Nikolai. — Quero notícia da minha irmã.

— Provavelmente sim, tenta aí, vai terminar de tiltar o cara rapidinho. — Nikolai deu de ombros e ergueu as sobrancelhas.

— O Viktor é decente, só lembra disso — Cairbre pediu, visivelmente preocupada. Poderia associar Psique perturbando Viktor facilmente a como Caitriona perturbava qualquer um, e para ela, ele não merecia isso. Mas nem todos tinham o mesmo conhecimento. — Também vou falar com ele.

— Vão é fazer festinha na cabeça do cara, isso vai ser ótimo — Frida disse, ironicamente, e embora Cairbre concordasse, Psique não ligava. Perturbaria sim até saber que Eana saiu viva, e diferente da maioria, não se importaria em receber notícias ruins de Danika.

Mesmo que a maioria não fosse conseguir dormir por aquela noite, preferiram voltar cada um para seu respectivo quarto. Se fossem vistos juntos em um horário tão avançado geraria suspeitas. Claro, pessoas conversando à noite não seria um problema, mas pessoas poderosas reunidas trariam burburinhos e suspeitas indesejadas, principalmente por sempre exagerarem em toda notícia possível sobre qualquer um deles.

[...]

Caloris, reino de Mercúrio

Felizmente todos já estavam na oficina enquanto Zyr tentava explicar para Viktor como tudo funcionava, e só depois de receber uma boa notícia, explicou para os outros a situação. Notícias podiam ser rápidas, mas a fofoca em primeira mão sempre ganharia velocidade.

E ele explicou tudo, todos ouviram em silêncio, apenas para no final todos os olhares recaírem sobre o responsável por aquela desagradável surpresa. Lian tinha os olhos bem abertos e o medo novamente estampado em sua face, mas também o entendimento de que não somente tinha feito merda, e sim esqueceu completamente da existência daquele objeto.

— Rapaz, mas você... — Om começou, e foi interrompido.

— Lian, presta atenção, como assim você não... — Zyr tentou, e também foi interrompido.

— Mas que porra é essa Lian!? — Juno gritou, interrompendo os outros dois enquanto batia uma mão sobre o tampo da mesa. Lian tremeu, a mesa tremeu, até os copos em cima da mesa tremeram, e só então Juno percebeu que alguém estava usando a sua caneca favorita. — Quem bebeu nisso aqui? Quem foi?

— Fui eu — Zyr se acusou, já colocando uma mão na testa por aquilo começar a desandar tão rápido.

— Eu te dei uma pra usar, era só sua, pegou a minha pra quê?

— Sem querer eu quebrei a do Lian e dei a minha pra ele, ele disse que ninguém tava usando essa aí.

Eu tava usando! É meu xodó... — Juno fez uma voz dramática, uma face totalmente chorosa, e então bufou para retomar a face séria e indignada pelo começo da conversa. Ela encarou Zyr com os olhos estreitos e desconfiados. — Pode ficar, mas ainda é minha.

— Tá, mas volta aqui — Zyr pediu, apontando Lian com um movimento da mão, só torcia para o rapaz não chorar ou isso só pioraria. — E aí?

— Eu... eu... — Lian engoliu em seco, sempre mantendo uma mão segurando no pelo de Blizz, e isso já começava a surtir pouco efeito. — Eu não fiz uma arma que rouba poder de vocês.

— E então o que era aquilo? Você reconhece? — Zyr continuou, e apontou para a tela retangular e grande em cima da mesa com a imagem do início do embate em Marduk.

Lian voltou a engolir em seco, inclinou o corpo para a frente e puxou a tela, receoso. A imagem era horrível, mas ele infelizmente conseguia discernir e reconhecer o objeto nas mãos tanto do General quanto de outros dois homens enquanto cercavam Danika e Eana. Droga, aquilo nem deveria estar ali.

— Reconheço.

— E foi você que fez? — Juno perguntou, seriamente, com uma mão ainda apoiada na mesa.

— Foi.

— Puta que pariu, Lian! — Juno gritou, de novo, e esfregou as bochechas com as mãos enquanto andava de um lado para o outro sem acreditar. — Então você fez!

— Mas não era pra isso! — Lian tentou se defender, de nada valeria a esse ponto.

— Chega, já deu, a cada minuto que esse paspalho respira surge uma coisa nova que dá pra matar a gente — Om disse, com as mãos nos cabelos, e isso só adiantou para ficar ainda mais descabelado. — Será que dá pra parar com isso?

— E então você fez pra que? — Juno perguntou, ainda exaltada, mas dessa vez deu a volta na mesa e ficou ao lado de Lian, encarando-o tão de perto que não daria espaço para ele sequer pensar em chorar.

— Era pra... pra... — Ele deu uma pausa, precisava respirar e colocar os pensamentos no lugar. Fechou as mãos com força, ainda olhando para a imagem de baixa qualidade. — Era um jeito de renovar a energia do núcleo do meu reino, porque era pra absorver e amplificar, e assim a gente fez uma bomba geradora pra sempre renovar a energia do núcleo e evitar que apague de novo que nem já aconteceu.

— E o núcleo tem a mesma potência que a gente, massa, legal, perfeito! — Juno comentou, dramaticamente, mas preocupada de maneira genuína.

— Não era pra machucar vocês! — Lian contestou, com a testa franzida de maneira chorosa. — Eu nem... eu nem sabia que dava pra fazer isso.

— E como isso foi parar nas mãos deles? — Om perguntou, com as sobrancelhas erguidas.

— Deve ter ido junto do resto da carga e...

— Mais alguém sabe como destruir essas coisas? — Zyr o interrompeu, seriamente.

— Minha irmã e o Jay.

Juno grunhiu, aquilo seria tranquilo enquanto se mantivesse longe de Mercúrio, mas causaria um estrago grande o suficiente para ela precisar intervir eventualmente. Juno queria só um dia quieto, um diazinho, para sentar e focar em qualquer porcaria útil que encontrasse. Sentia saudade dos dias em que sua maior preocupação era evitar que uma bomba explodisse no subsolo do reino.

— Vocês são os inteligentes aqui, eu sei, mas e se... — Om começou a falar, e recebeu três pares de olhos completamente diferentes o encarando. Cansaço, indignação e desespero, um para cada, e ele continou a falar mesmo assim. — E se usar isso pra tirar o poder lá de cima? Eu não entendo uma vírgula do que vocês falam quando começam com a porcaria tecnológica, mas se isso aí suga, pode sugar radiação, né?

Os três se entreolharam, principalmente Juno e Lian, os dois mais entendidos do assunto. Não parecia impossível, o surreal mesmo era Om ter dado a ideia. Em teoria, ele estava certo, mas na prática, não era daquele jeito. Ainda assim o conceito era bom, útil, e Juno poderia testar em pequena escala.

— Se alguém morrer, a gente esfola o Lian. Até lá, bora focar aqui e na ideia que o Om deu — Juno disse, batendo com uma mão na mesa, mas sem força. Ela virou o corpo e encarou Zyr, apontou um dedo na altura do peito dele e franziu a testa para passar seriedade enquanto o rapaz apenas endireitou a coluna e manteve a atenção nela, com os olhos bem abertos. — E você tá me devendo minha caneca.

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