22. Chamas gélidas
11 anos antes
Marduk, reino de Júpiter
O fluxo de pessoas indo e vindo pelos corredores da base certamente se elevava em dia de ocorrências e dias de saída. Naquele dia em específico, preparavam-se para uma tarefa designada fora do reino de Júpiter, portanto, precisaria do dobro de disciplina para se mostrarem eficientes e necessários.
E mais uma vez, Danika tinha se atrasado para se apresentar ao General. Não dormiu em casa, esqueceu o horário e saiu muito além da hora de entrada de todo soldado. Precisou tomar banho às pressas no alojamento provisório da base, e chegou à área dos armários dos uniformes e equipamentos com o coração na mão.
Não se importava com o esporro que ganharia vindo do General, mas sim com o enchimento de saco por parte de Viktor. Jonathan não ousaria torrar sua paciência, não tão abertamente, e Cairbre não ligava, mas sabia de Viktor certamente a questionar até o último detalhe da noite anterior se tivesse a chance.
Abria o próprio armário com uma mão enquanto com a outra arrumava o cabelo molhado, e logo começou a tirar dali de dentro seu cinto, coldre, o casaco acolchoado e colar de identificação com senha.
De um lado, os armários com itens essenciais. Do outro lado do ambiente, onde guardavam o equipamento que somente o grupo seleto de pessoas treinadas poderiam acessar, o equipamento especial feito especificamente para pessoas divinas.
— Que caralho — ela resmungou, ao perceber do elástico de cabelo romper quando finalmente ela tinha conseguido prender os fios acima da cabeça.
E não havia outro em suas coisas, o que era um absurdo, ela nem tinha tanto cabelo assim para estragar os elásticos tão rápido. Desistiu de procurar nas próprias coisas, pulou dois armários para o lado e abriu o de Cairbre, certamente a ruiva teria alguma sobrando. Danika estava certa, Cairbre tinha pelos menos cinco sobrando.
Fechou o armário da amiga, estava pronta para se dirigir ao salão principal para levar seus esporros diários, ouviu o barulho de ferro caindo ao chão vindo do lado oposto do recinto. Se estava atrasada, ninguém deveria estar ali, e guiada meramente pela curiosidade, decidiu verificar a razão do barulho.
Bastou um passo para o outro lado da sala, percebeu outro soldado ali, um que guardou rapidamente algo dentro de uma mochila. Danika ergueu as sobrancelhas, o soldado ergueu as sobrancelhas, e então ela virou o rosto levemente para o lado como quem dizia "e aí, o que faz aqui?".
— Perdido de novo, Louis? — Danika perguntou, ainda com as sobrancelhas erguidas.
— Repondo material, ordens do General — Louis respondeu, visivelmente nervoso, com a mão firme na mochila como se a qualquer momento o pano pudesse escorrer das mãos dele.
Danika deveria ter achado suspeito, mas naquele momento, só pensava na parte em que se saísse logo, não seria a última a chegar. Se o General tinha ordenado uma reposição, ela não se daria ao trabalho de contestar. Danika assentiu, comprimiu os lábios em um sorriso torto, virou o corpo e seguiu até o próprio armário para fechar e trancar a porta.
Apressou o passo para chegar ao salão, e como ela esperava, o General já tinha começado o discurso usual de como estavam ali para se fazer cumprir a lei, para que a paz e a harmonia fossem mantidas nos reinos. Porém junto dos soldados já conhecidos, ela podia reconhecer novos rostos. Ou melhor, não reconhecia os novos rostos, apenas sabia de serem completos estranhos, provavelmente cadetes em treinamento que foram presenciar o discurso.
A loira ergueu o pescoço para buscar três cabeças em específico, e facilmente as achou. Passou entre os vários outros soldados de menor patente até conseguir chegar ao trio, pouco se importando se achavam ruim alguém interromper a tão importante fala do General. Seria melhor que ela estivesse no meio da multidão, quem sabe isso passaria despercebido e no final ela não precisasse dar explicações.
— Chegou cedo pra amanhã — Jonathan comentou, falsamente sério, mas mantendo a postura o suficiente para não parecer que se dirigia a ela.
— Enfia a indireta no seu... — Danika iria retrucar, mas foi interrompida antes disso.
— Termina essa frase e eu vou esfregar a sua boca com sabão — Viktor disso, ele virou apenas o rosto para encará-la, franzindo a testa em tom repreensivo. — Sua sorte é que os cadetes novos estão aqui, senão era certeza que o General perceberia.
— Não encham o saco, ela tava na casa da ruiva da administração — Cairbre comentou, sem olhar para nenhum dos outros três. Realmente não se importava com o atraso, tampouco com a razão dele. Se Danika tinha chegado antes do final do discurso, tudo estava perfeito. — No lugar dela, eu nem teria vindo.
— É o quê?! — Jonathan exclamou, baixo, e dessa vez se deu o trabalho de virar o rosto indignado e incrédulo para Cairbre.
Todos sabiam do tom dramático de Jonathan, mas ele ainda tinha que manter a pose, principalmente por estar na primeira fileira e bem mais exposto do que qualquer um. Cairbre apenas riu pelo nariz, fez uma careta e balançou a mão indicando para ele ignorar.
— Você não tinha dito que ela nem fazia o seu tipo? — Viktor perguntou, confuso.
— Agora faz. — Danika deu de ombros, Viktor ergueu as sobrancelhas, e ela comprimiu os lábios em um bico de quem dizia "só aceite" — Quem é a galera nova?
Ao indicar os novos cadetes com a cabeça, Danika encarou Viktor à espera da resposta. O homem a encarou por mais cinco segundos, estreitou os olhos e balançou a cabeça enquanto soltava um riso pelo nariz, desacreditado, e ao mesmo tempo não surpreso.
Viktor virou o rosto e encarou os novos cadetes, todos organizados em seis filas de quatro logo ao lado do pequeno palanque onde o General discursava. Até onde sabia, eram novatos realmente, recém alistados para aquela divisão, e por enquanto, permaneceriam apenas em observação da operação feita pela equipe efetiva.
— São os grupos vindos de Vênus e de Marte, provavelmente vamos ter que treinar esse pessoal quando voltarmos de Plutão — Viktor explicou, mantendo os olhos nos rostos venusianos enquanto inclinava o corpo para o lado para falar próximo o suficiente de Danika a ponto de poder sussurrar.
— "Vamos", você nunca faz isso, sempre sobra pra mim e pra esse corno aí — Danika respondeu, indicando Jonathan com um movimento da cabeça. O Tenente sabia exatamente de quem ela tinha falado, e quase ficou quieto.
— Inveja do meu chifre? — Jonathan retrucou, com o rosto novamente virado para a frente, fingindo prestar atenção no discurso.
— Até que acho bonitinho, eu que coloquei — Danika rebateu, ergueu uma sobrancelha mesmo que Jonathan não pudesse ver.
Depois de um longo suspiro, Viktor passou uma mão na própria testa, e ao lado dele, Cairbre revirou os olhos como quem estava ouvindo duas crianças discutindo. Deveria responder e calar a boca dos dois, mas provavelmente não calariam a boca e o efeito desejado por ela teria eficácia reversa. Continuariam falando besteira, mas dessa vez com ela inclusa, e Cairbre não fazia questão de se envolver em uma porcaria daquelas.
— Pena que não colocou direito, não faz nada que preste — Jonathan continuou, e moveu os ombros sutilmente.
— Ah, façam-me o favor, calem a boca — Cairbre interviu, completamente incrédula com a usual infantilidade da dupla. — Qualquer dia eu vou embora, levo o Viktor comigo, e vou deixar vocês dois se matando.
— Qual é, vai me abandonar assim? Depois dos momentos incríveis que tivemos? — Danika perguntou, teatralmente, dramaticamente, e levou uma cotovelada vinda de Viktor. — Ai, porra.
— Se aquietem, em nome de Júpiter — Viktor pediu, com a voz cansada, mas a face bem humorada de quem só não riria naquele momento por não estarem no ambiente apropriado.
Com a mão que estava posicionada atrás do corpo em uma posição respeitosa, Jonathan mostrou o dedo do meio. Não discutiriam para quem ele tinha mandado o gesto, serviria para os três, e em seguida Danika esboçou uma careta azeda direcionada para os dois ao seu lado. Teria até mostrado a língua se Jonathan pudesse ver, ele seria o principal a receber um gesto obsceno de volta.
Dessa vez precisavam realmente prestar atenção, se Viktor ou Jonathan fossem chamados para fazer alguma declaração, sempre seria no final, e nunca sabiam se o General gostaria da fala do Tenente ou do Major, sempre uma grande e horrível surpresa.
— ... e por fim, gostaria da atenção de todos para nossa questão mais evidente, as festividades do reino de Plutão. Nos enviaram denúncias sobre a reencarnação do deus desse reino estar rondando seu líder, e é de suma importância que evitemos maiores tragédias. Vigiar, reportar, defender, esse é nosso glorioso trabalho, e vamos aproveitar que não haverá presença netuniana na região para executarmos com maestria — o General explicou, erguendo um punho e o apertando como demonstração de força, de coragem, como incentivo para todos lutarem e darem o seu melhor. — Para os novos cadetes, se espelhem em nossa honorável equipe. Para a equipe principal, façam o que sabem fazer de melhor.
Cairbre diria que o melhor daquele pessoal era agir como crianças da quinta série em meio a uma guerra de bolas de tinta, além de claramente terem proficiência em acabar com a paciência de qualquer pessoa. Talvez fosse mais correto pedir que apenas executasse suas funções, isso bastaria e não colocaria em jogo a reputação de alguém.
A ruiva via nos novos cadetes os olhos brilhando em encanto, em empolgação por estarem ali, mas não seria ela a tirar esse brilho deles. Assim como via o brilho de encanto, via o ódio e a seriedade de alguns, a determinação em cumprir com suas funções, e querendo ou não, isso a assustava. Estavam contra Plutão, alguém com poderes despertos e claramente contra a ordem e as leis, isso seria o suficiente para justificar a raiva controlada. Como um medo irracional, Cairbre sequer tinha os poderes despertos, e ainda assim temia receber aqueles mesmos olhares como uma pessoa que tem o medo do ventilador de teto cair na própria cabeça. Mesmo o ventilador estando desligado e bem firme na laje.
[...]
O discurso de abertura realmente se resumia a uma formalidade, uma reunião de boas vindas para fermentar os ânimos e receber os novatos. A real reunião, com informações concretas e apenas com as pessoas importantes viria depois.
O Tenente, o Major, outros oito soldados especializados, todos para tratar mais a fundo a questão da missão em Plutão. Além desses, o General vinha com mais uma integrante, uma novata em comparação com a equipe, porém veterana o suficiente para ir a campo. Maya sempre fizera parte do grupo especializado de dentro do reino, não de um maior e diretamente envolvido com o Controle. Aquela era a chance dela se provar útil e ser promovida, além de conhecer bem melhor o próprio reino do que todos os outros soldados.
— Não vai ter equipamento pra todo mundo, eu avisei — Jorani comentou, e como sempre fazia, sempre se juntava à equipe depois dos discursos cerimoniais. Antes disso estava perfeitamente confortável no refeitório ou em seu laboratório, onde estivesse mais silencioso.
Claro, Jorani tinha levado advertências por não comparecer, mas chegou ao ponto do General simplesmente desistir de advertir a mulher. Não valia a pena, tampouco fazia efeito.
— Como não vai? Chegou um carregamento novo hoje! — Jonathan esboçava uma careta indignada, ele pouco aceitava a diferença de números e a incapacidade daquelas pessoas de manter algo em perfeito estado.
— Chegou incompleto, por isso, vai faltar. Alguém vai sem o equipamento especial.
— Isso é um risco.
— E o que você prefere, gênio? Diminuir nosso número? — Jorani ergueu as sobrancelhas, claramente desafiando Jonathan a dar uma resposta lógica e plausível. Uma que ele não tinha, não naquele momento.
— Não cheguei nesse nível, ainda. — Jonathan ergueu o dedo indicador ao falar, dando ênfase em seu ponto. Ele passou as mãos pelos cabelos enquanto encarava Jorani. — Eu fico sem, consigo me virar. A novata de Plutão também pode ficar sem, ela pelo visto gosta muito daquela espadinha.
— Espadinha? — Maya interviu, em clara reclamação pelo tom usado por ele.
— Vareta afiada, tanto faz, você sabe se virar só com ela pelo que vi no seu arquivo. — Jonathan ergueu uma sobrancelha ao falar, claramente com pouca paciência. Porém, não era uma mentira, Maya realmente preferia usar o próprio equipamento, e isso já ajudava a balancear o número de soldados e o número de armas.
Sabia, e muito bem, mas Maya tinha plena noção de ter sido aceita por seu maior conhecimento sobre o reino de Plutão, por suas questões pessoais e por sua família. Suas habilidades podiam chamar atenção, sua disciplina igualmente, mas não seria ignorante de achar desses quesitos terem sido os mais pesados e evidentes.
Por não conhecer tão bem aquela equipe em específico, Maya achou prudente permanecer perto do Tenente e de Jorani, a qual ela não sabia o cargo, mas via que a mulher cuidava diretamente da parte tecnológica do Controle, isso devia valer de algo.
— Todos aqui vão a campo? — Maya perguntou, dessa vez mais próxima de Jorani.
— Não todos. A Branwen fica de fora. — Enquanto citava nomes, Jorani apontava para o respectivo dono do nome. Talvez se falasse os sobrenomes ficasse mais complicado, afinal, quase nenhum dentro daquele grupo em específico se tratava pelo sobrenome quando em trabalho. — Viktor, Jonathan e Danika sempre vão na frente. Você vem comigo e com o Louis, os outros vão ser nossa cobertura.
Maya assentiu, tentando decorar todos os nomes e rostos, levaria um tempo até que aprendesse, mas não devia ser difícil.
[...]
Baal, reino de Plutão
A missão começou oficialmente ao adentrarem os carros blindados do Controle e seguirem em direção à capital do reino de Plutão. Gastaram pelo menos metade do dia no trajeto, já tendo escurecido ao colocarem os pés em solo plutoniano.
As florestas de troncos escuros com cristais minando da madeira e do chão certamente se diferenciavam do eterno outono do reino de Júpiter, a coloração mais fria do ambiente dava um ar macabro ao que antes foi a principal fonte de cristais de poder, e boa parte dos soldados até tentou forçar a própria vista em busca de alguma aberração vinda das entranhas daquele reino.
No máximo viram grandes répteis herbívoros, felizmente. Maya tinha plena noção de que os répteis carnívoros ficavam longe daquela região, sempre se abrigavam mais ao norte, mas não diria isso ao resto do grupo, era engraçado cada vez que achavam ter visto um dos maiores quando na verdade eram apenas menores amontoados e curiosos com o carro blindado.
Não houve cerimônia para a chegada do grupo à capital, estacionaram em uma rua lateral e foram instruídos a seguirem discretamente até o interior da nova residência do líder plutoniano. Gerar alarde e chamar atenção passava longe do intuito do grupo, e embora alguns não se importassem em ser chamativos, precisavam tomar cuidado para não serem notados pela única pessoa a qual queriam manter no escuro.
— Este é o meu pessoal que vai cuidar de sua segurança, Vossa Excelência. — Como em poucos casos, o General fez questão de acompanhar a equipe para apresentá-la, e tinha a voz calma e respeitosa ao se dirigir ao líder plutoniano.
— Bom, bom, espero que esse seu pessoal seja útil, pois é exatamente para o que tiveram dinheiro investido. — Kalidas Zaman, o líder plutoniano, tinha o tom de voz certamente orgulhoso. — Ouvi rumores de que Plutão despertou e que está nas redondezas, e eu não admito que um miserável arruíne o meu dia.
— Nos foi informado de ser um cidadão de seu reino, e juntamente com o que conhecemos, devemos nos atentar para qualquer luminosidade na cor turquesa — o General continuou, mantendo o rosto erguido para os soldados devidamente de pé do outro lado do cômodo.
— Se me permite, senhor, mas Plutão teria algum motivo em específico para querer arruinar o seu dia? — Maya perguntou, levantando uma mão para chamar a atenção do General e do líder plutoniano. Talvez a pergunta fosse ofensiva, e ela teve esse intuito por confiar pouco naquele homem, mas não deveria deixar o intuito tão explícito. — Isso nos ajudaria a nos posicionar melhor.
— É um anarquista imundo como todos aqueles outros. Não se contentou em destruir o reino na vida passada, quer fazer o mesmo nessa — Kalidas respondeu, praticamente cuspindo as palavras, e nisso Maya conseguiria concordar. Porém, na visão dela, Kalidas igualmente destruía o reino, então não eram tão diferentes assim.
O salão do evento tem um andar superior vazado, quero três vigiando o andar superior, outros três as entradas, os soldados restantes vão seguir suas ordens de acordo com o desenrolar da noite. — A ordem foi passada, e o General indicou que Kalidas já poderia seguir o próprio rumo. O plutoniano já conhecia os rostos, saberia quem eram, principalmente por serem tão diferentes dos rostos do reino.
Tirando por Maya, natural de Plutão, nenhum outro o era. Não seria difícil para qualquer um reconhecer os soldados do Controle, destacavam-se fácil demais, e por isso precisariam do dobro do cuidado. Convidados de outros reinos sempre haveriam, mas convidados comuns não portariam armamento ou teriam uma postura tão rígida.
Dessa forma, Maya ficaria com a entrada principal para não levantar suspeitas, enquanto os outros se dividiram entre o andar de cima e as outras entradas. Poderiam ter vestido roupas típicas de Plutão para se misturarem melhor, mas isso os deixaria bastante expostos, então apenas usaram cores semelhantes e estilizadas, todas recomendadas por Maya para não parecer ofensivo ou soar caricato para os plutonianos mais conservadores.
Semelhante às roupas com bastante detalhes dourados, a decoração seguia em florais espirais desde o chão até o teto. O piso central em formato de lótus espelhado fora traçado com uma cor semelhante à de pedras preciosas, enquanto os pilares mais grossos nas extremidades do salão possuíam arabescos curvos em direção do teto, com inúmeras pedras douradas incrustadas nos relevos expostos. Diferia extremamente do lado de fora do edifício, das fachadas de todas as casas civis, da capital por inteiro.
Até mesmo os soldados podiam reconhecer o luxo exacerbado do interior da residência do líder plutoniano, e isso tirou a atenção de parte do grupo momentaneamente. Porém, não poderiam se deixar levar por superfícies e adornos bonitos, precisariam focar.
— Só aquela bandeja que serviram as bebidas vale mais que a minha moto — Danika comentou, já no andar de cima.
Ela, Viktor e Jonathan tinha uma visão melhor do primeiro andar, assim conseguiriam observar todo o salão pelo corredor contínuo. Podiam até andar em círculos, mas isso permitia a cobertura de todas as entradas, assim como do centro do salão. Além disso, conseguiriam vigiar com mais clareza a única pessoa a não usar um rádio por ser a encarregada da socialização direta, Cairbre. Ela certamente odiaria precisar escutar as conversas paralelas e provavelmente estranhas daqueles três.
— Aquela bandeja vale mais que qualquer casa que vimos no caminho até aqui — Viktor disse, baixo, utilizando do ponto de rádio posicionado sempre no ombro direito do uniforme.
— Isso que acontece quando quer mostrar que o reino tá lindo e perfeito com base só na imagem do líder, não enxergam o resto — Jonathan pontuou, mantendo o olhar quase apático no salão abaixo.
— Esse cara é um babaca — Danika disse, franzindo o rosto em uma careta.
— Não devia falar assim dentro da casa dele — Viktor avisou, erguendo as sobrancelhas. — Quebrar o reino e ainda assim ter apoio é o auge da falta de escrúpulo, mas ainda somos de patente menor.
— Viktor — Danika chamou.
— O que?
— Vá tomar no cu.
Puderam ouvir a risada esfolada de Jonathan, mesmo com ele longe tanto de Danika quanto de Viktor. Os três não ficariam juntos, sempre circulando em uma distância semelhante para observarem todo o salão ao mesmo tempo. Do lado oposto de onde Danika estava, ela pode ver Viktor erguer o dedo do meio sutil e discretamente.
Para ela, não importava se tinham a patente menor ou se Kalidas era um líder, era muito claro que enquanto a residência do líder plutoniano exalava mais riqueza que o palácio jupiteriano, a cidade definhar. Viktor podia gostar de manter os modos, mas até ele sabia disso estar errado, só temia por Danika falar alto demais e considerarem uma ofensa.
— Otária — Viktor resmungou, rindo de forma seca pelo nariz.
— Como tá aí embaixo? — Jonathan perguntou, dessa vez abrindo o canal de rádio para englobar os três soldados do andar inferior. Ele poderia muito bem continuar a conversa ali em cima, queria muito, mas com certeza desistiria do trabalho e procuraria a primeira taça para passar o tempo.
— Tudo certo até agora — Louis respondeu.
— Aqui também, embora o cheiro de incenso esteja fazendo meu nariz querer morrer — Jorani disse, seriamente.
— Tranquilo, muita gente importante do reino está aqui — Maya informou, e como pessoa a vigiar a entrada principal, via exatamente cada pessoa a adentrar aquele recinto. Reconhecia cada um, poderia até mesmo perguntar sobre o animalzinho de estimação de outros, mas se limitou a acenar gentilmente a cada nova pessoa a colocar os pés naquele lugar.
Gente importante que provavelmente Cairbre conversaria assim que chegassem ao centro do salão, e contavam com isso para saber se apoiavam plenamente o atual líder ou estariam insatisfeitos o suficiente para ir contra.
Porém, um dos convidados chamou a atenção de Maya por nenhum motivo em específico, apenas chamou. Mais atrás na fila de pessoas com a intenção de entrar no grande salão, ela fixou os olhos em um senhor mais alto, de cabelos abaixo do queixo e com uma expressão parcialmente perdida e parcialmente determinada. Pouco diferia de tantos outros, mas as feições familiares fizeram Maya o encarar por mais tempo do que pretendia, e quanto mais encarava, menos entendia de onde conhecia o plutoniano.
Não poderia reportar alguém por meramente o achar familiar, sequer saberia explicar o motivo, e então Maya decidiu que a paranoia deveria ser direcionada para potenciais perigos, e não para um cidadão plutoniano mais alto e manco.
— Precisa de ajuda, senhor? — ela perguntou, amigavelmente, inclinando o corpo para a frente para se colocar no campo de visão do homem. Maya estendeu uma mão, e recebeu um aceno negativo em resposta.
— Tudo certo, não se preocupe. — O homem sorriu ao falar, e embora Om não fosse das pessoas mais habilidosas na arte do sorriso, conseguiu se sair bem.
Ela assentiu com a cabeça, manteve o sorriso simpático, permitiu que o homem continuasse sua caminhada meio torta até o interior do salão. Não soube explicar como, mas o frio subiu por sua espinha e a fez estremecer, mesmo que levemente.
Vários metros separaram Maya do centro do salão, e embora ainda sentisse aquela sensação insalubre, precisava confiar que os outros integrantes da equipe fossem prestar atenção em cada mínimo detalhe, cada passo dado, cada olhar desviado.
Não teve tempo de trabalhar na confiança, cinco minutos depois Maya pulou de susto ao escutar um grito fino vindo de dentro do salão, e seguido ao grito, as chamas turquesa irromperam salão a fora.
Mas antes disso, o dono das chamas turquesa precisava achar seu alvo favorito e exclusivo, alguém em um local de fácil acesso, já que a megalomania de Kalidas o impulsionava a construir uma cadeira extremamente visível para todos os convidados. Não foi difícil chegar perto, mas antes, Om gostaria muito de provar uma regalia de quem tinha poder monetário para isso. Recostou-se em um dos pilares brilhantes, provavelmente arrancou uma pedrinha ou duas que valeriam uma fortuna, pegou uma taça de champanhe de uma das bandejas para aproveitar o ambiente, e então esperou até todo o líquido descer pela própria garganta.
— Horrível e com gosto de dinheiro — Om resmungou, baixo, e logo quando pôs a taça de volta em outra bandeja, tomou em mãos mais uma taça, cheia.
Podia ser horrível, mas sentia o gosto do privilégio descendo por sua garganta, e pelo nível elevado daquele evento, certamente ele sentiria a cabeça rodar mais cedo por tomar tão rápido. Ou não sentiria nada, ele sequer sabia dizer.
Começou a caminhar entre os convidados enquanto tomava a segunda taça, mais devagar, e por manter sempre o olhar direcionado ao líder plutoniano, não notou ao esbarrar contra uma convidada e por pouco não derruba o resto de champanhe na roupa dela.
— Perdão... por favor, me diga que não se sujou — Om tentou, com a voz mais cavalheiresca possível. Ao olhar com mais calma para a convidada, imediatamente percebeu dela não ser daquele reino, e um sorriso maior se formou em seus lábios. — Uma senhora tão bonita não deveria ter o vestido estragado por alguém como eu.
A mulher o encarou de cima a baixo, e então olhou para a própria roupa para ter certeza de que não tinha se sujado. Felizmente, para ambas as partes, isso não aconteceu.
— Não se preocupe, um vestido sujo seria o menor dos seus problemas caso estragasse minha roupa — Jorani respondeu, igualmente com uma taça em mãos, mantendo a coluna ereta e o olhar erguido firmemente para ele.
Imediatamente, Om endireitou a postura, gostaria muito de estar no mesmo nível dela, embora fosse mais baixa. Ele sentia como se a mulher fosse três vezes maior apenas pelo olhar rígido direcionado a ele.
— Se me permite, eu adoraria ter problemas se eles viessem de você — Om continuou, e no mesmo instante Jorani esboçou uma careta enquanto estreitava os olhos. Ele realmente acreditava de ter sido uma cantada perfeita, mas tinha sido horrível, e Jorani seguia incrédula com a falta de noção.
— Não, você não adoraria, não é masoquista a esse ponto — ela retrucou, virando o corpo para ficar de frente para o centro do salão. Não contava com um nativo puxando assunto, isso não chegava a ser um problema para a missão, era apenas irritante.
Não se dando por vencido, ele se colocou ao lado dela, encostando o corpo de lado no pilar enfeitado, tirando mais uma pedrinha brilhante e a colocando dentro do bolso.
— Eu perguntaria se vem sempre aqui, mas acho que não é daqui. Saturno? Mercúrio? Diretamente do lar dos deuses para ser tão divina? — Om continuou, e nesse momento Jorani engasgou com o gole de champanhe.
Ela tossiu duas vezes, dessa vez encarando Om em um misto de susto, confusão, e ódio pelas palavras dele terem sido perfeitamente escutadas por todos os outros soldados. Louis e Maya não poderiam rir tão abertamente, mas Jorani conseguia ouvir a risada de Jonathan e de Danika sem pudor algum.
Aquela deveria ser uma missão séria, não um parque de diversão para as crianças se divertirem com essa palhaçada. Jorani não se daria ao trabalho de responder, era ridículo demais até mesmo apra receber uma resposta. Afastar-se do pilar e caminhar para o outro lado do salão deveria ser o suficiente para o plutoniano entender dela não ter interesse.
Entender seria uma coisa, aceitar era outra, e já que não tinha conseguido a atenção de Jorani da forma mais galanteadora que conseguiu pensar, voltaria para seu plano original e assim se consagraria a estrela da noite. Tomou todo o resto do champanhe em um gole, colocou a taça em cima de uma mesa qualquer, e então as chamas vieram.
Frias, rápidas, chamas silenciosas e ao mesmo tempo tão assustadoras ao se espalharem como raios de luz em todas as direções, uma bomba flamejante.
Os convidados gritavam e tentavam correr, os soldados em um primeiro momento precisaram se esconder e se abaixar para não serem atingidos, para permanecerem escondidos até terem um plano de contingência, só não esperavam do ataque vir tão rápido e do absoluto nada.
As chamas turquesa subiam pelas paredes como se estivessem vivas, rastejando, impregnando-se em casa ponto brilhante e refletindo o mais puro ciano em todo o salão. Quem as tocava não sentia seu calor, mas sentia seu frio, e Om fez questão de manter a temperatura baixa para não sair suado e imundo. Porém, com o mínimo toque, a onda gelada percorria todo o corpo da pessoa como um calafrio violento e congelante, e então os gritos de horror se tornaram mais fortes.
Om seguia firmemente em direção do líder plutoniano, assim como os soldados foram obrigados a seguir firmemente atrás de Om. O susto veio pela clara tentativa de chamar atenção, e também por ser exatamente o motivo do riso de metade dos soldados quinze segundos antes.
Mas Om não sabia dos soldados, tinha apenas um alvo tão livre e solto quanto seus neurônios quase falhos, e arremessou esferas flamejantes e geladas em direção de Kalidas como se fosse uma bola de vôlei. A primeira esfera atingiu a parede, a segunda o assento luxuoso, e a terceira a perna do líder plutoniano de uma forma que deixou a perna de Kalidas em um ângulo não natural.
O líder plutoniano gritou em desespero, e mesmo com a perna manca, Om andou rapidamente em direção dele. Dessa vez tinha uma faca em mãos, estava prestes a atirá-la diretamente no pescoço de Kalidas quando sentiu um impacto doloroso contra o próprio corpo.
Um chute nas costelas trazia um nível de dor extremo, mesmo não tendo sido o chute mais forte que recebera na vida. Cambaleou para o lado, e acabou soltando a faca para conseguir proteger o próprio tronco. Olhou de relance para sua agressora, e achou um absurdo ter sido exatamente quem ele tinha acabado de flertar.
— Bela entrada — Jorani comentou, com os olhos estreitos.
— Que bom que me notou, me achou estiloso? — Om respondeu, com um riso dolorido nos lábios.
— Se ele se mexer, podem atirar — Jorani falou, aparentemente para ninguém, e então Om percebeu dos três soldados no andar de cima mirando armas com aspecto caríssimo em direção dele.
Pior que isso, a garota da entrada igualmente apontava uma espada, assim como um outro rapaz e uma ruiva aparentemente indefesa tinham armas de fogo em mãos, muito mais discretas em comparação com os três de cima.
Ele estava fodido, sabia disso. Seis contra um, mas ele tinha poderes, aquelas pessoas não, e bastou um suspiro de Om para as chamas serem atraídas em direção de cada um deles como ímãs grudentos. Fogo na face dos soldados, fogo para conseguir se levantar e respirar, Om procurou pela figura do líder plutoniano pelo salão e encontrou apenas a decoração espalhada, resultado de pessoas desesperadas correndo.
Uma pena, a decoração tinha ficado um primor, sempre muito triste quando dinheiro era gasto de forma tão displicente. Pelo menos para Om soava assim, jamais tinha tido sequer o valor de uma bandeja em sua carteira.
Aproveitou o breve momento de desespero dos soldados em serem queimados ao frio para correr. Sua perna manca não ajudava tanto, mas sua velocidade considerável ganhou um bom espaço entre ele e os soldados, pelo menos de início.
— Inferno! — Cairbre resmungou, tentando a todo custo passar as mãos pelos braços e pelas roupas para abafar as chamas frias.
— Aonde ele foi? — Maya perguntou, para ninguém em específico, só então tinha conseguido enxergar devidamente ao redor e não identificava Om em seu raio de visão.
— Cairbre, vai ver se o líder tá inteiro — Jonathan ordenou, apressadamente. DO andar de cima, conseguiam enxergar através das janelas o exterior do edifício, e portanto, viam a mancha turquesa e para onde ela corria. Jonathan sabia que nem todos conseguiriam alcançar Om, e a maioria iria se ferir no processo. — Jorani e Louis fiquem aqui, o resto vem comigo.
Não precisou dizer duas vezes, Danika e Viktor já tinham se apressado para descer as escadas e ir em direção de Om. Foram na frente, como quem sabia a direção, e Maya atrás deles, como quem sabia exatamente onde aquilo iria parar, e melhor, sabia como contornar.
Maya indicou para Jonathan para seguirem outra direção, pela lateral, e ele confiou no conhecimento dela da cidade. Danika e Viktor não se perderiam se apenas seguissem o rastro, mas para dar a volta precisaria de alguém com o mínimo de noção de onde estavam indo.
Atirar seria arriscado, poderiam acertar civis, e só a gritaria de dentro do salão já tinha alarmado pelo menos metade da cidade. Ver dois soldados estrangeiros e armados correndo pelas ruas certamente não ajudaria na comoção.
Tudo seria tranquilo se precisassem só correr, e então a primeira bola de fogo frio veio, Danika precisou se jogar para o lado. A segunda veio, por pouco não atingiu o rosto de Viktor. A terceira explodiu no momento em que tocou o solo, e consequentemente desabou algumas paredes mais próximas do raio da explosão.
— Merda de trabalho — Danika resmungou, e Viktor não poderia discordar.
Continuaram a correr, sempre usando a misa das armas para ter certeza de Om estar perto o suficiente para o alcançar. Danika arriscou atirar mesmo em movimento, e um sorriso surgiu em seus lábios ao notar o pulo exaltado de Om por ter o pé atingido de raspão.
Om a amaldiçoou, tinha passado rente demais à sola de seu sapato, agora sentia o pé arder pela bala ter se alojado ali, próxima de sua pele, queimando pela velocidade de disparo. Não parecia uma bala comum, e isso com certeza o assustou.
O susto o fez jogar rajadas de fogo e luz para trás, sem um alvo certo, e isso dificultou mais a corrida de Danika e Viktor do que se Om mirasse exclusivamente nos dois.
— Cadê vocês?! — Viktor gritou, segurando o rádio para sua voz ser transmitida, e foi a vez dele de tentar mirar. Não queria machucar Om, mas gostaria de pará-lo, só assim evitaria de algum dos outros dar um tiro letal contra o plutoniano.
— Continuem, mais duas ruas e ele tá encurralado — Jonathan avisou, e pelo tom ofegante, também deveria estar correndo para chegar na frente.
— Entrem à direita na torre mais alta, depois à esquerda e pulem por cima das casas mais de baixo — Maya instruiu, e embora não pudessem compreender pela falta de conhecimento de terreno, tentariam seguir.
Danika tentou atirar mais uma vez, e novamente, passou de raspão pela roupa de Om. Se antes ele tinha medo, agora tinha o coração apertado e a imagem de ser pego cada vez mais nítida em sua mente.
Mas os dois perseguidores sumiram, ele pode respirar aliviado, talvez tivessem se perdido. Ou Om queria muito que tivessem se perdido, isso o daria chance de fugir sem outro tiro de raspão o cortando feito uma peneira.
A perna incomodava, tinha corrido rápido demais, por um espaço muito longo, além de seu pé fervilhar como um inferno. Ele jogou uma esfera de fogo gelado contra o próprio pé, a dor foi aliviada momentaneamente, e logo se pôs a continuar sua corrida por entre as várias casas de coloração branca do reino de Plutão.
O alarde inicial do salão se espalhou rápido, mas não tão rápido quanto a pressa dele em se afastar. Detestou aquela gente, tudo teria ocorrido muito bem, estariam livres de um crápula sanguessuga, poderiam colocar outro no lugar dele. Mas não, alguém o interrompeu, e culparia aquela gente caso o reino continuasse indo para o buraco como sempre esteve.
Se fossem apontar o culpado, seria ele. Assassinato ainda constava como crime hediondo e ele seria mandado direto para a vala caso fosse pego, Om sabia disso. Perturbar a ordem sempre foi seu trabalho, e sempre deu certo, ou quase certo, mas ele não tinha soldados aparentemente bem treinados atrás de si daquela forma, essa novidade o deixou completamente frustrado e enojado.
Teria virado outra esquina, se não tivesse recebido outro chute nas costelas, dessa vez vindo de Jonathan.
— Quanta pressa, colega — Jonathan comentou, sério, e Om sorriu de maneira completamente azeda, amaldiçoando também até a décima geração daquele soldado.
Não teve tempo de responder, precisou desviar da lâmina de Maya e por centímetros não teve o braço arrancado de si. Desviou novamente, e de novo, de novo, tornava-se difícil desviar da rapidez com que ela empunhava a lâmina.
As chamas turquesa voltaram, e colaram na pele de Maya como um adesivo horrendo. Ela gemeu em raiva, ainda tentando acertá-lo por um lado enquanto Jonathan tentava pelo outro. Chutas, lâminas, manchas turquesa, os três empenhados em conseguir lutar, domar e fugir.
— Eu conheço você — Maya disse, baixo e entredentes, ao ter a lâmina paralisada pelas chamas grudentas. Ela ainda forçava contra ele, mas mal conseguia movimentar a espada.
— É, faz tempo, mas lembro de você — Om disse, estreitando os olhos ao também reconhecer a garota, mesmo que muitos anos mais velha desde que a observou por meros segundos.
A confirmação pegou Maya completamente desprevenida, e ela afrouxou o braço o suficiente para ser empurrada para trás com extrema força. Jonathan ainda tentou, atingiu Om no rosto, prendeu o pulso do plutoniano com uma das fitas supressoras e se não fosse por outra esfera de chamas geladas diretamente em seu rosto, teria fixado uma fita no outro pulso dele, e assim o imobilizaria.
Om ainda tentou tirar a fita do pulso, mas falhou, e não teria tempo de fazer isso ali antes que o efeito das esferas acabasse e os dois soldados voltassem para prendê-lo. Ir para a prisão várias vezes o fez se acostumar, mas prisões comuns, daquela vez seria inteiramente diferente e Om não sabia se teria regalias ou sequer de sairia vivo. Jonathan o teria prendido, mas Maya o teria matado.
Novamente não conseguiu ir longe, deparou-se com Danika e Viktor na esquina seguinte, e quis xingar todos os deuses possíveis por ter sido encurralado daquele jeito. Precisaria passar por cima de ambos, isso sem levar um tiro vindo da loira, Om definiu isso como seu desafio pessoal.
Mas Danika não queria um desafio, queria encerrar aquela missão, e ao invés de usar a própria arma, jogou o objeto para Viktor segurar enquanto tirava do coldre pistolas menores. Viktor tentou cercar Om, mas precisou se afastar enquanto o plutoniano impulsionava várias rajadas de fogo contra ele e contra Danika.
A pior parte era de Viktor saber que não conseguiria fazer muito, não enquanto Danika avançasse, então sobrava a parte de dar cobertura a ela. Viktor mirou, atirou, acertou propositalmente o chão próximo do pé machucado de Om, fazendo o homem dar pulos para o lado e se desconcentrar enquanto Danika se aproximava, também disparando.
Qualquer um dos dois teria acertado se quisesse, mas não queriam abater Om, queriam apenas parar.
— Dois na esquerda, um na direita, borracha na perna e você entra — Viktor avisou, pelo rádio, e recebeu um suspiro empolgado como resposta.
E assim ele fez. Atirou duas vezes do lado esquerdo de Om, fazendo-o perder o equilíbrio, e então um tiro no chão à direita para desestabilizá-lo. A perna manca do plutoniano não ajudou, o homem tropeçou enquanto tentava impulsionar três esferas chamuscadas em direção de Viktor, e antes da bala de borracha chegar, Om sentiu o queixo chegar muito perto de trincar com o impacto de um soco.
O ar lhe faltou, e ele caiu ao chão em busca de oxigênio para seus pulmões. No segundo seguinte, viu o brilho da arma de plasma completamente carregada apontado para seu rosto. Acima do plasma, a face pouco contente e ao mesmo tempo satisfeita da loira enquanto o encarava como se o analisasse.
Ele tensionou a mão para invocar outra esfera de chamas, e teve o pulso pressionado contra o chão pela bota de Danika.
— Não, não, nem pense nisso ou eu explodo a porra da sua cara — ela disse, rigidamente, e ao mesmo tempo de bom humor.
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