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17. Oi, mãe, eu apareci na TV

Kahne, reino de Marte

Diferente do ar da manhã, o ar noturno do reino de Marte era mais frio. Não gelado ou refrescante, apenas mais frio em comparação com o calor abafado das horas ensolaradas. E ainda assim, não ventava, isso diferia de forma violenta do clima de Netuno o qual Eana estava acostumada, com ventos frios constantes e a umidade bem mais alta.

Ao mesmo tempo, o tempo parado soava como uma brisa praiana para Danika, acostumada com o literal isolamento por tanto tempo. E pior que isso, soava como liberdade demais a qual não estava acostumada. Ver pessoas, andar entre objetos, precisar correr mais rápido no sinal para não ser atropelada, isso tudo soava como uma memória tão distante a ponto de agora ser simplesmente surreal.

Mais de uma vez a loira teve que ser puxada por encarar demais uma placa, um camelô, ou até mesmo alguém simplesmente existindo no meio da rua. Situações banais, mas há tanto tempo não vistas por ela que se tornavam únicas e especiais. Danika nunca foi de prestar atenção na rua ou nesses detalhes, mas algo dentro de si implorava para que ela observasse por mais tempo, como um receio de ser privada novamente de presenciar a mais pura e ordinária vida cotidiana.

No fim das contas, Eana tinha razão, acharam o restaurante na esquina da casa de Kallisto, e os letreiros em cores fortes jamais deixariam o lugar passar despercebido. Não era grande, mas isso não impedia de ter um investimento decente na fachada ou na propaganda.

Mesas foram espalhadas ao redor de um pequeno caminhão enfeitado onde provavelmente faziam a comida, e o cheiro preencheu o nariz das duas antes mesmo de adentrarem o espaço das mesas. Seus estômagos doeram na mesma hora, precisavam de qualquer alimento o mais rápido possível ou acabariam digerindo a si mesmas.

Danika ainda achava esquisito que Eana usasse óculos escuros mesmo de noite, até lembrar do pequeno detalhe de seus olhos. Algumas pessoas certamente prestariam atenção nos óculos, e tudo que a ruiva disse foi "qualquer coisa digo que fiz cirurgia no olho e preciso me preservar". A desculpa claramente não funcionaria, mas logo a preocupação com isso foi embora ao verem um cardápio recheado de opções.

— Só uma coisa... eu não tenho dinheiro — Danika comentou, colocando as mãos nos bolsos como se procurasse a própria carteira. Mas ela não tinha carteira, sequer estava com os próprios documentos, e não é como se recebesse um salário enquanto estava confinada em sua cela.

— Eu também não, por isso peguei do Nikolai — Eana comentou, sem tirar os olhos do cardápio. Ela sabia que Danika ainda a encarava, dessa vez surpresa. — Usei o meu cartão lá em Marduk, se usasse de novo era capaz de virem até aqui. O Nikolai não vai nem dar falta, vai tá mais preocupado com o óculos sumido dele.

Ela apontou para os óculos escuros no próprio rosto, indicando daqueles serem os de Nikolai com uma tranquilidade de quem já havia feito o mesmo pelo menos dez vezes. Quem sabe mais.

— Você não tinha o seu?

— Sim, mas o dele sempre fica mais bonito.

— Inacreditável.

Danika bufou, revirou os olhos, e voltou a prestar atenção no cardápio. Considerava ambos os óculos ridículos por si só, um aspecto luxuoso demais para serem levados a sério. Ou talvez luxuoso demais para os parâmetros dela que se contentaria com um comprado em um camelô.

— Posso ajudar? — Ouviram a voz da atendente logo a frente, simpática, ou quem sabe fingindo simpatia por ser obrigada a tratar bem todos os clientes. — O que vão querer?

— Opa, querida, número 9, com muita maionese e o adicional de milho e batata palha — Eana disse, prontamente, e logo encarou Danika como se esperasse dela também dizer. — E você? Diz aí.

— Número três, mas sem pimenta. — Danika apontou no cardápio o número dito.

— Podem esperar na mesa, levo pra vocês — a atendente confirmou.

Ter alguém para trazer a comida soava como outro luxo que Danika estava completamente desacostumada. Porém ao olhar para o lado, a figura de Eana tinha sumido. O breve susto a fez cessar qualquer pensamento de estranheza, temendo a parte que ainda estava sem dinheiro e definitivamente não gostaria de lavar os pratos para conseguir ir embora.

Danika só conseguiu respirar aliviada ao ver a ruiva com um braço levantado, sentada em uma mesa afastada do centro do espaço. Melhor que isso, uma com bancos acolchoados e encostos para as costas igualmente macios. Certamente no centro do espaço não conseguiriam uma mesa daquela, e apesar do susto, Danika ficou contente em poder sentar com mais conforto.

— Não some assim, filha da puta — Danika resmungou, com a face bastante séria enquanto sentava no banco acolchoado à frente de Eana.

— Se eu não viesse correndo, outra pessoa ia pegar. — Eana fez uma careta ao falar, e apoiou os cotovelos em cima da mesa. — Devia ter avisado, foi mal.

A loira apenas suspirou mais forte, balançando a cabeça como quem iria relevar aquilo em nome da própria paz e tranquilidade. Sentia-se deslocada o suficiente, não queria acrescentar mais um motivo para parecer desconfortável. Danika olhou para os lados algumas vezes, sem saber exatamente o motivo, talvez ela mesma quem mais se estranhasse.

— É estranho? — Eana perguntou, chamando a atenção de Danika novamente.

— O que?

— Sair em público depois de tanto tempo.

Palavras não seriam o suficiente para descrever o quanto Danika quis afirmar, o quanto quis gritar que sim, mas fazer isso só a faria soar como uma maluca.

— Pra caralho — admitiu, tentando manter a cabeça no lugar a atenção somente no espaço daquela mesa.

— Como se todo mundo estivesse olhando pra você e te vigiando o tempo todo? — Eana continuou, e Danika apesar de ter franzido a testa, assentiu. — Te entendo.

Não que isso melhorasse a sensação, mas trazia o ligeiro conforto de ao menos partilhar com alguém. Danika não esperava que alguém entendesse, mas não negaria a surpresa em ter pelo menos sua angústia reconhecida. Quase virou o rosto para olhar ao redor novamente, mas se conteve, quanto mais olhasse mais criaria paranoias e isso seria completamente indigesto.

Quem sabe poderia achar algo na mesa para se distrair, mesmo que fosse fazer um barquinho de guardanapo, se é que ainda sabia fazer isso..

— Qual é a da tatuagem de estrela? — Eana mais uma vez quebrou o silêncio, e embora Danika quisesse rir da incapacidade da ruiva de ficar calada, parcialmente agradecia. Não teria que procurar por muito tempo com que se distrair, a resposta para sua busca era bem óbvia.

A loira levou uma mão até a lateral raspada de sua cabeça, sabia o ponto exato onde tocar, bem em cima da estrela fina e maior. Danika riu pelo nariz, não tão de bom humor, mas um riso anasalado nostálgico.

— Apelido antigo.

— De quem?

— Não tá querendo saber demais não? — Danika esboçou uma careta indignada, mas não realmente ofendida.

— Só acho engraçado que você tem toda essa pose de "sou forte, vou quebrar a tua cara com o meu mindinho" — Eana engrossou a voz ao falar, imitando Danika, e abrindo um pouco os braços para demonstrar força. — Mas tem três coisinhas brilhantes tatuadas na cabeça. Qual era o apelido? Estrelinha?

Danika apenas ergueu as sobrancelhas, deixou os ombros caírem e encarou Eana com uma incredulidade palpável. Já era absurda demais a pergunta, a encenação conseguiu ser ridícula, e a suposição do apelido incrivelmente certeira. Aquilo não acabaria bem. Danika tinha apenas um pensamento rodando por sua cabeça naquele momento: dê dinheiro, mas não dê intimidade. E via em Eana a perfeita pessoa que se desse o mínimo de liberdade, faria se tornar um pesadelo por ser quase impossível de afastar novamente.

— Esquece o assunto, princesa — Danika cortou o rumo da conversa, ou melhor, tentou cortar.

— Tá me confundindo com a Cairbre? — Eana ergueu uma sobrancelha, contorcendo levemente os lábios de forma dramática.

— Até onde eu sabia, o seu nome ainda constava na lista de herdeiros da coroa de Júpiter, portanto, princesa — Danika explicou, e pela careta de Eana, sabia que estava indo pelo rumo certo para sua pequena e inútil vingança pela pergunta da tatuagem.

— Não tiraram por burrice, eu nem falo com essa gente direito — Eana reclamou, exagerando ainda mais na careta.

— Aí já não é problema meu.

— Qual é, estrelinha, tudo isso pra não responder quem te chamava assim? — Nesse momento, Eana abaixou os óculos até a altura do nariz, encarando Danika por cima das lentes com uma seriedade teatral nos olhos fendados.

Talvez Danika quisesse fazer jus à encenação e quebrar a cara de Eana com o mindinho, mas não faria isso, não quando tinha os olhos igualmente estreitos e a encarava como se estivessem em uma competição de quem cederia primeiro.

— Você é irritante pra caralho — Danika concluiu, praticamente imitando o olhar sério de Eana.

— E você fica ainda mais atraente quando faz esse bico de insatisfação — Eana comentou, e em um segundo sua expressão mudou da seriedade para o humor, esboçando um sorriso sem separar os lábios enquanto Danika fechava ainda mais a cara.

— Vá se foder.

— Não seja covarde e faça isso você mesma.

Por pouco, Danika não sente o queixo praticamente cair com a ousadia vinda da netuniana. Ao invés disso, passaram três segundos encarando a face da outra, e em seguida Danika riu. Aquilo era simplesmente inacreditável. Talvez surreal demais para sequer levar a sério, e ao ver uma risada divertida vinda da ruiva, colocou uma mão na testa como quem realmente gostaria de desafiar Eana para uma segunda rodada e ver quem ganharia.

— Te demitiram foi do circo? — Danika perguntou, ainda com um traço de humor, mesmo minúsculo.

— Você não olhou pros lados como um cachorro desconfiado esse tempo todo, então considero progresso — Eana disse, movendo os ombros como quem dizia "de nada". — Não precisa me levar tão a sério.

— Dificilmente levaria.

— Assim me ofende, estrelinha.

— Não, não ofende. — Danika negou com a cabeça, um leve tom de cinismo passou por sua voz enquanto continuava a encarar a ruiva.

Como ela mesma tinha dito, não tinha como levar a sério, ainda mais com a face divertida explícita. Uma coisa era certa, Danika realmente não tinha desviado o olhar da ruiva, e aquilo ao mesmo tempo incomodava e aliviava seu coração. Incomodava por aumentar ainda mais o ego de Eana, aliviava por realmente sentir o coração menos apertado por estar ali, a sensação de ser vigiada imensamente menor.

Erguer uma sobrancelha foi involuntário, e continuar olhando diretamente para os olhos fendados por cima dos óculos foi involuntário. Como em uma competição de quem conseguia ofender a outra só com o olhar ou a expressão facial.

Felizmente, não durou muito, foram interrompidas ao colocarem uma bandeja em cima da mesa. O cheiro novamente encheu seus narizes e ao invés de sentirem o estômago doer, o sentiram reclamar, ansiar para receber aquela comida.

A primeira a dar uma enorme mordida foi Eana, mastigando com as bochechas tão cheias quanto a de um esquilo. Danika também deu uma enorme mordida, mas demorou mais a mastigar, franzindo a testa levemente. Então deu a segunda, e dessa vez foi explícita a careta da loira.

— Tudo bem aí? — Eana perguntou.

— Tranquilo — Danika disse, baixo, e pegou o copo da bebida que vinha acompanhando seu pedido para tomar um longo gole.

Para quem estava com fome, Danika demorou a dar a terceira mordida, e quando a fez, foi bem mais devagar que as duas primeiras.

— Você tá vermelha e não é de vergonha, tá tudo bem mesmo? — Eana insistiu, e Danika discutiu consigo mesma se deveria falar algo ou não.

— É só a pimenta...

— Você pediu sem.

— Eu sei, mas veio mesmo assim, é besteira.

— Óbvio que não, você tem o direito de pedir outro. — Ao falar, Eana viu os olhos de Danika se abrirem ao máximo, como se a loira quisesse muito evitar aquilo.

— Não! Não vou dar mais esse trabalho pro...

— Ah, vai sim — a ruiva a interrompeu, já levantando o corpo e batendo com uma mão na mesa sem muita força. Ela puxou o sanduíche da mão de Danika com pouca delicadeza. — Em nome da minha mãe, você tá muito vermelha.

— Onde você pensa que vai? — Danika perguntou, já tomando novamente outro longo gole para tentar aliviar a garganta.

— Pedir outro pra você.

Danika não teve tempo de intervir ou reclamar, Eana já tinha coberto os olhos com os óculos novamente e caminhava em passos rápidos até o balcão. Aquilo só podia ser um pesadelo, não deviam chamar atenção assim, e reclamar de um pedido errado com certeza seria chamativo o suficiente.

Nem deviam estar ali, e agora era capaz de Eana abrir a boca demais e reconhecerem os dentes ou acabarem vendo os olhos dela. Pior que isso, se tivesse uma patrulha militar por aquela área ou qualquer pessoa relacionada direta ou indiretamente, seriam delatadas e isso atrapalharia até mesmo os outros. Danika quis muito poder evaporar, mas ao invés disso, seguiu Eana até o balcão pronta para pedir desculpa por qualquer absurdo que a ruiva tivesse dito.

— Com licença, ela pediu sem pimenta e veio a pimenteira inteira dentro, será que tem como trocar? — Eana chamou a atenção da atendente, e Danika não sabia se deveria intervir ou não, era capaz da ruiva arrumar outra discussão, mas dessa vez entre ela e a loira.

— Realmente não precisava disso... — Danika tentou, e recebeu um olhar irado vindo de Eana. Mesmo com os óculos escuros, ela via perfeitamente o dourado da íris da mulher. — Não precisava.

— Precisava sim.

— Podemos trocar sim, não tem problema — a atendente comentou, e recolheu o embrulho nas mãos de Eana.

No segundo seguinte, Eana encarou Danika com as sobrancelhas erguidas em um claro "viu como deu certo?". Ela cruzou os braços e continuou de cara fechada, já Danika tinha os olhos estreitos como quem ainda assim achava que não tinha necessidade, conseguiria comer tudo. Uma mentira, obviamente, não aguentaria uma quarta mordida, só não queria fazer confusão por isso.

A discussão silenciosa perdurou o tempo em que a atendente demorou para trocar o pedido. Danika ainda convencida de que aquilo era completamente desnecessário enquanto Eana a encarava de queixo erguido e com a certeza de estar certa. Pelo menos era um estabelecimento decente, trocaria o pedido.

A atendente trouxe novamente o pedido, e dessa vez Eana indicou para Danika verificar se estava tudo certo. Aproveitaria e pagaria logo tudo no cartão de Nikolai, assim poderiam comer e ir embora sem precisar voltar no balcão.

Enquanto terminava de pagar, e com Danika mais preocupada em comer o sanduíche correto, Eana olhou ao redor por um instante em busca de algo para se entreter. Antes dela realmente achar algo, seus olhos curiosos pararam na televisão ao lado do balcão,e ela inclinou levemente o rosto ao ouvir as palavras da apresentadora.

"Boa noite a todos os nossos ouvintes, sou Aleksy der Baum, e é com muito entusiasmo que venho anunciar uma pequena mudança na nossa programação. Eu sei, a cobertura dos jogos olímpicos de Saturno é animadora, e os bastidores do Centenário da Rainha igualmente, mas hoje eu venho intermediar um recado especial de pessoas inusitadas que me deram a honra de os introduzir em nossos meios televisivos. Agora vou deixar vocês com nossos convidados, aproveitem!"

No segundo seguinte, já não era Aleksy aparecendo na tela e sim as faces de Nikolai e Zyr. Eana abriu os olhos a ponto de quase os deixar cair pra fora do rosto, e se tivesse comendo algo, teria engasgado com toda certeza.

Ela sabia exatamente o que iam fazer ali, e bastou receber novamente o cartão para agradecer muito rápido e ir procurar Danika. Precisavam sair dali o quanto antes ou não conseguiriam voltar de jeito nenhum.

[...]

Marduk, reino de Júpiter

Maya deveria ter ficado em casa, seu corpo implorava por isso, mas seu breve cochilo de duas horas já bastou para que ela colocasse a mente no lugar, ou ao menos tentasse colocar. Tudo bem, sua relação com o primo nunca foi das melhores, mas aquilo complicava ainda mais. Sua família tinha sido destruída por pessoas poderosas, e mesmo que Maya quisesse muito remendar o que restava, não conseguiria fazer isso quando a única pessoal na qual ela conseguiria remendar algo igualmente era uma pessoa poderosa. Talvez a pior delas.

Se fosse um pesadelo seria menor pior que isso, e ainda assim, teria que tomar alguma decisão futura mesmo estando fora do caso. E ao invés de continuar na investigação quando tudo parecia escalonar absurdamente, tinha sido jogada para vigiar uma festa. Ela entendia, estava emocionalmente comprometida, mas ainda sentia como se precisasse ajudar os que restaram, mesmo que na informalidade.

Talvez levasse esporro de Jorani por voltar à base tão tarde da noite, mas tinha um bom motivo, saiu para comprar a janta e como a base era tão perto, não custava nada passar por ali e quem sabe saber como tudo estava indo. Claro, duas ou três horas não fariam diferença normalmente, mas no caso deles, em duas ou três horas tudo poderia mudar drasticamente.

Com a sacola do mercadinho em mãos e trajando roupas civis, Maya adentrou a base tranquilamente, e teria seguido até a sala de reunião do grupo de não tivesse visto Jorani antes conversando com um rapaz de cabelos na altura dos ombros e um bigode mal feito. Devia ser Miguel, Maya lembrava vagamente dele do dia em que todos precisaram participar dos interrogatórios.

— O que acha de eu ir lá e conversar com ela, fazer uma amizade e tal, assim ela deve ficar menos na defensiva — Miguel comentou, movendo bastante as mãos enquanto falava.

— Não é má ideia, mas duvido que seja rápido assim — Jorani disse, passando uma mão pelo queixo enquanto pensava nas opções mais viáveis. — Chame ela para dar um passeio aqui fora.

— Passeio?

— Sim, ver as instalações que temos, leve até o refeitório e chame alguém simpático para conversar. — Jorani olhou ao redor, ainda com a mão no queixo e a testa franzida, até bater com o olho em alguém e imediatamente sua expressão mudou. Ergueu as sobrancelhas, tirou a mão do queixo, sorriu como se tivesse acabado de achar um pote de ouro. — Maya!

Miguel não entendeu de primeira, até virar o rosto para o lado e dar de cara com a plutoniana igualmente confusa com a animação de Jorani.

— ... eu? — Maya perguntou, inclinando um pouco o corpo para o lado como quem estava completamente alheia à situação. Realmente estava.

— Você mesma. O Jonathan te mataria se te visse, aqui, mas felizmente, ele foi pra casa ou era capaz de processarem ele por abandono de uma criança. — Jorani segurou nos ombros de Maya enquanto falava, e a empurrou levemente para andar em direção de Miguel. — Preciso de alguém simpático para convencer a senhorita Selistaz a colaborar, e você é perfeita.

— O que te faz pensar que eu sou a melhor pessoa pra isso? O Viktor não tá aqui? — Maya questionou, fazendo uma careta.

— Com aquela cara roxa e olheiras de quem não dorme há uma semana, ele faria era espantar a coitada ao invés de convencer. Com roupa civil, essa trancinha no cabelo e cara de quem tirou algumas horas de sono, você é perfeita pro que eu quero — Jorani explicou, e Maya ergueu ainda mais as sobrancelhas ao olhar para a saturniana. — Maya, Miguel. Miguel, Maya. O Miguel é meu novo assistente e vai me ajudar com a Selistaz enquanto eu preciso focar nos outros que deram uma surra em vocês.

— E aí. — Miguel ergueu uma mão em um breve aceno, Maya fez o mesmo, ambos com uma face quase cômica em comparação com a energia de Jorani.

— E o que você quer que eu faça? — Maya questionou, cruzando os braços na frente do corpo como quem ainda tentava encaixar todas as informações.

— Só fale com ela. Creio eu que ela sequer despertou os poderes, mas seria bom convencê-la de que não somos monstros de sete cabeças, e caso ela desperte, não teríamos mais uma dor de cabeça para lidar. Miguel, vá buscar ela e depois vá para o refeitório, vamos esperar vocês lá.

— Sim, senhora — Miguel respondeu, prontamente.

Maya até poderia achar engraçada a forma de Miguel se portar se não estivesse ainda confusa com o que deveria fazer. Conversar amigavelmente? Ela? Não que fosse um troglodita como algumas pessoas do time, mas a parte diplomática nunca foi seu forte. Infelizmente, a parte diplomática era trabalho de Cairbre e de Viktor, e ambos não estavam nas melhores condições. Em último caso, Jonathan lidaria com isso, mas qualquer um tinha o bom senso de saber que Jonathan precisava de ao menos uma semana de sono profundo para recuperar as forças. Os outros também precisavam, mas os outros não continuariam lidando com aquela porcaria toda pelo próximo mês, Jonathan sim.

— Algum avanço? — Maya perguntou, enquanto caminhavam até o refeitório principal.

— Vamos começar amanhã, é burrice tentar algo enquanto os alvos ainda estão em movimento. Pra variar, o Jonathan é quem sabe onde estão os rastreadores e ele se recusou a dizer até que tivesse tirado o sono da beleza dele — Jorani falou a última parte com uma dramaticidade cômica, passando a mão pelo cabelo como uma diva ou como em um comercial para produtos capilares. — Apesar da minha agonia, é melhor assim.

— E o reconhecimento facial? Conseguiu com algum dos outros?

— Não, teríamos que acessar os arquivos de Netuno, e o General nos proibiu disso até termos certeza do que eles sabem ou não. Foi uma surpresa e tanto saber do seu priminho.

— Foi uma surpresa pra mim também — Maya admitiu, encolhendo os ombros brevemente.

— Em outras circunstâncias, teria sido legal se você pudesse convencer ele a trabalhar com a gente.

— Aí você presume que eu seja muito boa em convencer pessoas, não é a realidade — Maya negou com a cabeça, e Jorani riu baixo. Eram péssimas em convencer alguém, tinham plena noção disso.

Ao chegarem ao refeitório, felizmente poucos soldados estavam presentes. Puderam reconhecer Viktor em uma das mesas, dessa vez realmente com um alimento à sua frente ao invés de outro copo de café, e ele foi o primeiro a acenar para as duas se aproximarem. Realmente ele não seria o mais adequado, a mancha roxa na lateral de sua face já começava a ficar esverdeada, isso assustaria qualquer um que não soubesse do ocorrido.

Três cadeiras depois dele, Jab também estava sentado, e completamente focado em sua refeição, embora sua face denunciasse que sua cabeça estava em outro assunto que não fosse a comida.

— Gostei da maquiagem nova — Maya comentou, de bom humor, ao chegar mais perto. Viktor se permitiu rir pelo nariz.

— Assim como eu adorei seu enfeite. — Viktor apontou para o próprio nariz para indicar de qual enfeite específico ele falava. Gostando ou não, Maya ainda usava um adesivo por cima do nariz recém quebrado.

— É bom que os dois ficam combinando — Jorani comentou, e sentou ao lado de Viktor, tomando a liberdade para furtar uma das batatas grelhadas do prato dele, como sempre.

— Seu braço tá melhor? — Viktor perguntou, dessa vez olhando diretamente para Jorani.

— Bastante. Esses dias de molho por aqui me fizeram bem, deveria fazer o mesmo. Como tá a perna? — Jorani movimentou o ombro do braço anteriormente lesionado, demonstrando de estar tudo sob controle.

— Melhor que a minha cara, com certeza. Nunca fui tão feliz em ficar com os relatórios de novo — Viktor admitiu, levando uma garfada de comida até a boca.

Maya riu com o comentário, assim como Jorani. Para alguns, ir a campo era um alívio. Para outros, um pesadelo. E considerando a última semana, seria coerente se qualquer um deles quisesse ficar com trabalhos de escritório por um bom tempo. Infelizmente, nem todos tinham essa capacidade.

Deixaram Viktor comer sem roubar outra batata grelhada dele, e embora tivessem chamado Jab para se aproximar, ele se negou, como sempre. Não poderiam dizer que não tentaram.

Enquanto esperavam Miguel e Frida, Maya se manteve ocupada assistindo o noticiário noturno, Jorani mexia no próprio celular, e Viktor terminava de comer antes de voltar para os relatórios. O silêncio era confortável entre eles, cada um entretido de forma diferente, até que Maya cutucou Jorani apressadamente.

— Aumenta o volume.

— O que?

Olha! — Maya apontou para a televisão, e ali estavam duas faces bastante familiares para ela e para os outros dois homens presentes.

A exaltação de Maya certamente chamou a atenção dos outros, e seria humildade dizer que todos empalideceram ao ver o rosto de Nikolai e de Zyr no canal aberto e em horário nobre.

"— Olá a todos. Oi, mãe. Boa noite, eu sei que devem estar se perguntando 'Mas o que é isso? O que esses dois estão fazendo na hora do meu jornal? A novela vai já começar', mas a resposta é simples, meus caros, estamos aqui meramente cumprindo nosso dever cívico — Nikolai começou, e a face presunçosa dele fez o sangue de Maya ferver. — A propósito, me chamo Nikolai, e este belo senhor ao meu lado é o Zyriak. Somos de Netuno, e somos o Sol e a Lua. Se não acreditarem, podem perguntar ao Grupo de Controle, eles já nos conhecem e podem confirmar.

A tela atrás dos dois tinha uma imagem simples de um sol e uma lua minguante, e logo foi trocada para outra imagem, esta apenas contendo textos da constituição.

— De acordo com o artigo número dois da Lei de Controle, todo cidadão de bem deve denunciar possíveis ameaças à segurança pública — Zyr continuou, calmamente, e de alguma forma os olhos dele e de Nikolai pareciam brilhar diferente, mais acentuados, mesmo quando utilizavam uma câmera de celular deitada. — E o artigo número três também diz que denúncias de abusos de poder são bem-vindos, e também viemos fazer isso aqui.

— Para quem não sabe, ou sabe pouco, aqui vai uma confissão. Invadimos o Complexo Prisional, vandalizamos instalações públicas, tudo para tirar nossa querida de lá. — A tela mudou novamente, e dessa vez mostrou uma imagem de Eana. Ela parecia ter acabado de acordar e sorria de forma meio torta enquanto fazia um V com os dedos. Nikolai sabia que ela os mataria por ter colocado uma foto tão feia, mas era bonitinha o suficiente para ganhar o coração do público. Por cima da foto, tinham colocado algumas imagens brilhantes e que se mexiam. — Condenaram ela por algo de décadas atrás sem ao menos um julgamento, jogaram a coitada numa cela sem dó nem piedade, e qual foi o crime dela? Luto e desespero por ver a própria tia morrer? Atire a primeira pedra quem não ficou triste quando um parente morreu, eu os desafio.

Mais uma mudança na tela, e dessa vez apareceu uma foto de Om mostrando o dedo do meio para quem quer que tivesse ido tirar aquela foto, e junto dele, mais imagens que se mexiam e um bonequinho segurando as barras de uma cela.

— Mas lá também estava esse senhor, Om Prakash, Plutão, mas todos já o conhecem, também o tiramos de lá pois a insalubridade era alta demais. Cá entre nós, seu almoxarifado fede a mofo, aquilo é preocupante — Nikolai continuou, fazendo uma careta para dar ênfase em seu ponto. A tela mudou novamente, dessa vez para uma foto de Cairbre na praia e com várias imagens de caranguejos se mexendo ao lado. — Cairbre Branwen, Urano, todos já conhecem também, mas adivinhem? Ela trabalhou com o Controle todos esses anos e na primeira oportunidade fizeram o quê? Isso mesmo. Está presa. Que bela retribuição.

— Mas isso não é novidade para ninguém, eles prendem e executam quem bem entendem como sempre, então vamos para as novidades — Zyr continuou, em um tom bem menos presunçoso que o de Nikolai. A imagem mudou novamente, e dessa vez mostrou a foto de Danika, claramente de mau humor, e ao lado dela uma imagem dançante de uma lamparina. — Apresento a vocês, Júpiter. Ou melhor, Danika Annistyn, ex integrante do controle e presa há uma década sem ao menos ter o nome exposto. O que foi isso gente? Vergonha de ter uma funcionária de vocês que nem a gente? Isso magoa."

A esse ponto, o refeitório estava repleto de soldados curiosos, receosos e completamente irritados com aquela exposição. Ninguém conseguia tirar os olhos da tela, e se antes tinham menos de dez, agora já se reuniam mais de vinte soldados completamente vidrados na televisão e em casa imagem brilhante e dançante apresentada na tela.

"— Muitos nos ajudaram a invadir aquele lugar, e bom, me considero um ativista ferrenho na defesa dos bons tratamentos para com pessoas, e por isso seria absurdo deixar a Danika ou o Om naquele lugar insalubre. O controle deve estar desesperado para saber os nomes de quem eles não conheciam, então como cidadãos de bem, vamos ajudar — Nikolai continuou, e a tela mudou, dessa vez para uma foto de Juno com uma colher na boca e a bochecha cheia de comida, claramente querendo jogar aquele prato na cabeça de quem tirou a foto. Junto dela, tinham bombinhas se mexendo e algumas fumaças com uma carinha feliz. — Essa é Juno, ela é Mercúrio, vou agradecer a ela também por emprestar o celular para gravar isso aqui. Já viram a qualidade dos celulares mercurianos? É divina!

— E o próximo é o senhor Eike Grimshaw — Zyr continuou, a tela mudou para uma foto de Eike claramente engasgando com água, e ao lado uma gotinha sorridente dançante. Mesmo que estivessem levando a sério, tanto Zyr quanto Nikolai riram sutilmente. Talvez pela foto, ou talvez pela cara feia de Eike que estava logo atrás da câmera. — Ele é um deus menor, Aretusa, da prole de Urano. E falando em prole de Urano, temos uma segunda, a senhorita Frida Selistaz. — Outra mudança de tela, dessa vez para uma foto de Frida em uma de suas apresentações, e igualmente com a gotinha feliz e dançante ao lado. — Umbriel. É realmente curioso que duas crias de Urano tenham aparecido, eu pelo menos achei muito legal.

A foto mudou, dessa vez para uma de Psique dormindo agarrada em um bonequinho de pelúcia, como um pequeno e adorável anjinho. Ao redor da foto, brilhinhos e carinhas fofas enfeitavam aquela página do arquivo como se fosse uma apresentação para uma aula infantil.

— Fofa, né? Eu acho ela uma graça — Nikolai comentou, soltando uma risada divertida enquanto colocava as mãos nos bolsos e encarava a imagem projetada atrás de si. — Psique Van Astrea, e sim, você ouviu direito, exatamente o sobrenome da pessoa mais temida de todo o nosso continente. Essa coisinha fofa e pequena é Caronte, e a título de curiosidade, eu digo a você, caro soldado do controle que atirou e estilhaçou a perna dela, ela está bem! Quem não deve estar é você já que agora todos sabem que estilhaçar pernas alheias é uma especialidade do Controle. Imagina se isso pega na cabeça de alguém, cara? Que desleixo."

Se antes o clima no refeitório já estava pesado, agora se tornou completamente esmagador. Ao olhar para um lado, Maya viu que Frida realmente tinha aceitado ir até ali, mas estava tão pálida quanto qualquer um ao assistir, mesmo de longe, toda aquela informação sendo cuspida na cara de todos. Ao olhar para o outro lado, conseguia ver Jab tão rígido quanto uma pedra ao encarar a tela. Além do barulho das vozes na TV, só conseguiam escutar as respirações tensas e pesadas de todos os presentes.

"— Agora é a hora que devem estar se perguntando, 'mas o número não fecha, não está faltando algum deus nessa lista?', faltam vários. — Zyr gesticulou com uma mão ao falar, e soltou um suspiro cansado, mantendo os olhos diretamente para a câmera. — Conseguimos identificar várias pessoas ao longo do anos com seres divinos dentro da própria alma, mas nem todos despertam os poderes, e muitos nem vão. Uma pessoa que não tem os poderes despertos merece ser presa e julgada como as outras? Isso é realmente justo? A prisão da Frida é coerente com o que a lei permite? Já que ela precisaria apresentar um risco para a sociedade e sinceramente, até hoje o maior risco que ela apresentou foi à minha conta bancária porque eu sempre quis todas as gravações oficiais das apresentações.

— E nisso vamos acrescentar dois nomes aqui, como participações especiais e particularmente intrigantes. — Nikolai dessa vez sorriu como quem estava prestes a caminhar na frente de uma explosão, a foto mudou novamente, e dessa vez mostrava Viktor, em uma foto consideravelmente antiga onde estavam ele, Cairbre, Jonathan e Danika juntos no que parecia um parque de diversões. Em cima da foto, haviam manchas vermelhas como se Viktor estivesse corado e uma auréola de ramos floridos. — Viktor Bellerose, o Major do Grupo de Controle, é nossa amada Vênus. Uma gracinha que logo ele tenha colocado Júpiter na cadeia, mitologicamente engraçado.

— E por último, escolhemos essa meramente por todos terem conhecido essa pessoa na geração passada. — Zyr pôs uma mão no peito como se sentisse muito, como se aquilo fosse um pesar emocional enorme, e a foto mudou de Viktor para a de uma venusiana simpática. Ou melhor, para a foto que Eana tinha tirado juntamente com Frida, Khalil e Ghada no dia do restaurante. Haviam várias setas apontando para Ghada, para dar ênfase, já que as outras duas mulheres já tinham sido explanadas anteriormente. — Lembram de Mnemosine? Pois então, ela está entre nós novamente, mas agora seu nome é Ghada Amin, irmã de um soldado do controle. Se não acreditam podem testar aquele equipamento barulhento nela, aposto como vai apitar também.

A tela mudou novamente, pela última vez, com várias imagens dançantes e um agradecimento escrito em uma letra fofinha.

— Poderíamos passar horas falando de outros, mas nosso horário está acabando e eu não quero interromper a novela. — Nikolai falava baixo, teatralmente sussurrando, e logo ajeitou a postura, mesmo que sua face parecesse bem mais animada. — Uma boa noite a todos, beijos iluminados do Sol e da Lua."

Então a transmissão foi cortada para os comerciais antes da novela de horário mais avançado, e o silêncio sepulcral do refeitório se tornou um fardo grande demais para qualquer um carregar. Principalmente para Viktor.

Maya lançou um olhar assustado para ele, diferente de mais da metade dos soldados, estes olhavam para o Major com nojo, com raiva. Viktor não conseguia se mexer, não conseguia tirar os olhos da tela, não por choque, mas por não precisar olhar para saber que tipo de olhares recebia.

O assustado de Maya, o curioso de Jorani, o irado de Jab, fora todos os outros que certamente o abominavam por sentar ali como se nada estivesse acontecendo. Ele não fazia ideia.

[...]

Kahne, reino de Marte

— E... cortou, transmissão encerrada — Juno anunciou, erguendo o polegar da mão como sinal positivo para os dois na frente do projetor de imagens.

Zyr e Nikolai se entreolharam como se conversassem silenciosamente. Um suspiro, dos suspiros, franziram os lábios no mesmo instante como se fossem espelhados, certamente uma conversa que não partilhariam com os outros.

— Vocês não deviam ter me colocado — Psique comentou, de braços cruzados e uma face bem menos feliz.

— Seu pai já vai comer meu cu com farinha de um jeito ou de outro — Nikolai respondeu, movendo os ombros como quem já tinha aceitado um triste fim. Talvez desse tempo de escrever uma poesia intitulada "O triste e glorioso fim de Nikolai Konstantinov", pegaria bem e daria a ele uma fama legal por um tempo, em alguns anos até poderia ser considerado um clássico.

— Pior que isso, ele vai vir aqui — Eana disse, com a testa franzida e visivelmente incomodada.

Ao lado dela, Danika não conseguia realmente compreender o temor implícito naquelas palavras, e nem teria muito tempo para pensar nisso, já que agora sua face tinha sido exposta e certamente sua avó tinha visto aquilo. Ver a foto dela mesma com aqueles três tanto tempo antes a fez remoer o sentimento ruim que nutriu por anos, e isso deu um nó em seu estômago.

— Eu vou perder meu emprego — Eike resmungou, com as duas mãos sobre a testa. — Eu tô muito fodido, eu vou perder meu emprego, perder meu ficante, e ainda...

— Olha pelo lado bom, vão te respeitar agora — Juno comentou, interrompendo a fala de Eike e franzindo apenas um lado do rosto. — Lá em casa isso tudo é sinal de festa, devem estar achando divertidíssimo de assistir.

— Mas aqui é sinal de desgraça, de desonra, de um alvo pintado no meio da sua cara — Eike retrucou, respirando mais forte, ainda com as mãos na cabeça.

— Nada que já não fosse antes, eles teriam tentado reconhecer todos vocês de qualquer jeito — Danika interviu, falando como se fosse uma constatação óbvia.

Os dez segundos de silêncio entre todos foi o mais barulhento possível, como se os olhos de cada um pudessem gritar com todo o fôlego possível. Até aquele momento, apenas Lian, Om e Kallisto se mantiveram quietos. Tinham feito questão de absolutamente todos estarem presentes para assistir, assim todos teriam noção do que foi feito e do que viria a seguir, mas a realidade é que poucos entendiam o que realmente aconteceria depois.

— E agora? — Om perguntou, ele olhava diretamente para Nikolai, evitando a todo custo olhar para Zyr ou qualquer outro netuniano.

— Assim que o Nephele aparecer, der o esporro que vai dar e dizer que tá todo mundo aqui de castigo por quebrar a confiança dele, eu vou ajudar a Juno com a maldição de Mercúrio, mas antes disso eu quero falar com você, pode ser? — E para a surpresa de Om, foi Zyr quem respondeu. No meio onde crescera, Om entendia como "falar" levar uma bela surra a ponto de desmaiar de dor, e talvez o temor disso tenha ficado bastante explícito em seus olhos. — Civilizadamente, como gente.

— Você não quer me desmembrar ou nada assim? — Om perguntou, fazendo uma careta.

— Sinceramente eu não sei o que eu quero, mas não vou desmembrar ninguém, que horror. — Zyr imitou a careta, indignado a incrédulo pela proposta.

— Uma ajudinha lá ia ser legal, pode vir se quiser, Mercúrio é um lugar seguro pra gente como a gente — Juno explicou, movendo os ombros ao oferecer.

— Mas não vão ficar caçando vocês ainda mais depois daquilo? — Lian perguntou, baixo, e apontou para o projetor e para o celular ainda apoiado em um tripé improvisado.

— Não vão — Kallisto respondeu, e a essa altura, ela tinha entendido perfeitamente como proceder dali pra frente. Tinha recebido um pedido de Juno mais cedo para ao menos dar uma força na volta para casa, e como uma apreciadora de saber tudo em primeira mão, Kallisto não negou. — Ajudo vocês a chegarem em Mercúrio, não vai ser difícil, eles vão estar ocupados com outras coisas.

Parte do grupo entendeu, parte não, e alguns sequer queriam entender quando a preocupação maior era outra. Nem ao menos queriam sair do lugar confortável que tinham achado para ver a apresentação tão enfeitada, ali parecia mais seguro que sair mundo afora e lidar com as responsabilidades.

— Estamos fodidos, mas vamos lidar com as nossas próprias merdas em paz — Nikolai explicou, o ar cansado tomou conta de seu tom de voz subitamente. — O Controle vai estar ocupado demais se matando pra conseguirem vir atrás da gente.

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