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16. Tipos de compromisso

Marduk, reino de Júpiter

"Proteção ou repreensão ditatorial? Defesa da segurança do povo ou uma grande ferida nos direitos daqueles com poderes divinos? Ao que tudo indica, perder o controle da situação dá o direito de ferir a liberdade do outro, e pessoas desesperadas tomam decisões precipitadas e ruins. O silêncio do Grupo de Controle sobre a prisão repentina da senhorita Frida Selistaz trouxe imediatamente questionamentos entre o público de nossa artista, muitos deles que agora acampam na frente da base do Controle em protesto por uma resposta ou pela soltura da artista. Não contentes com a prisão sem justa causa, a princesa uraniana também é mantida em cárcere. Sabemos que reivindicações populares trazem respostas, mas o que será que uma reivindicação da realeza pode trazer? Será esse o incentivo certo para que o Controle cumpra com a transparência que prometeram? Ou será o suficiente para peixes maiores se envolverem na situação e toda essa moral ser dissolvida de vez?"

Mais uma vez, Jonathan viu a assinatura da editora Der Baum ao final da matéria. E mais uma vez, ele não se deu o trabalho de ler toda a matéria. Sabia exatamente a dor de cabeça que aquilo daria, tinha visto aquelas pessoas à frente da base, e por isso precisou sair pelo outro lado para manter o mínimo de paz enquanto voltava para casa. Estava exausto, precisava de uma noite de sono, e só depois teria forças para pensar em qualquer outra coisa.

No dia seguinte, a notícia da prisão invadida tomaria de conta de todos os jornais, ou quem sabe naquele dia mesmo, mas ele sinceramente não queria saber. Seria problema do Jonathan do futuro, e o Jonathan do presente decidiu que desligaria o próprio celular durante aquele resto de noite em nome de sua paz espiritual.

Ao abrir a porta de casa, um sorriso triste se formou em seus lábios. Triste, aliviado, feliz por ver a irmã perfeitamente bem e na companhia da pessoa que sempre cuidava dela quando ele precisava sair. De coração pesado e ao mesmo tempo leve por ver a face tão familiar de Eden. Além das duas, Whiskas estava muito bem deitado em cima da mesa e no máximo levantou a cabeça para o olhar antes de voltar a deitar como o belo preguiçoso que era.

— Meu querido, você chegou — Eden comentou, genuinamente feliz por ver Jonathan ainda respirando, apesar do tom preocupado ter passado por sua voz ao ver a face machucada dele, os cabelos imundos e a roupa claramente puída.

Jonathan! — Charlotte exclamou, mais animada, e foi a primeira a correr para abraçar forte o irmão.

— Ai, se apertar mais forte você vai me esmagar — ele comentou, com o tom de voz divertido e dramático, retribuindo imediatamente o carinho da menina.

— Claro que eu vou, você é fraquinho. — Charlotte franziu a testa, ergueu o queixo e falou com seriedade.

Jonathan a encarou de volta, ergueu uma sobrancelha e bagunçou completamente o cabelo da menina, carinhosamente, e ainda assim cobrindo completamente o rosto dela com os fios. Charlotte riu do ato, ele se permitiu rir pelo nariz, e no segundo seguinte desviou o olhar para uma Eden bastante preocupada.

— Você tá bem, meu filho? — Eden perguntou, levantando uma mão até o rosto dele com cuidado, analisando se o homem tinha algum ferimento mais grave.

— Nem um pouco — Jonathan admitiu, e embora tenha tentado forçar um sorriso, sua face de exaustão falou mais forte.

Ele não precisava mentir, nem tentar fingir, era evidente tanto para Eden quanto para Charlotte a situação, e ambas estavam mais que acostumadas com aquilo, embora desgostassem.

— Charlie, meu bem, vai buscar o que você queria mostrar pro seu irmão enquanto falo com ele rapidinho? — Eden pediu, calmamente, e a menina prontamente obedeceu.

Não deu dois segundos, Jonathan desabou. Os ombros caídos foram imediatos, assim como franziu os lábios como quem sentia os olhos marejados. Ele sentiu um abraço vindo de Eden, e se permitiu apoiar a cabeça no ombro da senhora enquanto aproveitava o abraço. O carinho, o aconchego, o sentimento de ser embalado por um abraço maternal superava qualquer coisa, ou quase qualquer coisa.

Palavras não se faziam necessárias, Jonathan apenas fechou os olhos e respirou fundo, como se tomasse coragem para continuar.

— Vai passar — Eden comentou, sorrindo sutilmente em uma tentativa de animá-lo.

— Obrigado por ficar com ela. — Ele ergueu o olhar, e subitamente se sentiu como se tivesse doze anos de novo e a mulher mais uma vez tinha acabado que limpar uma ferida. A diferença era que o Jonathan de doze anos tinha uma ferida no joelho, o Jonathan do presente tinha pelo menos 10 neurônios a menos e um peso enorme para carregar quando tudo que mais queria era ser carregado ao menos uma vez.

— Sabe que fico com ela quantas vezes for preciso, e você precisa se cuidar, ela sentiu sua falta — a senhora continuou, dessa vez com a voz mais repreensiva, dando um peteleco na testa de Jonathan. — Eu também senti sua falta, meu filho, isso ficou perigoso demais e não quero perder outro de vocês.

Ele engoliu em seco, e prometeu para si mesmo que jamais deixaria a mulher passar por aquela situação de novo. Ou melhor, refez a promessa, e fazia isso sempre que podia pelo enorme respeito por Eden. Jonathan assentiu, não poderia prometer, mas tentaria, daria o melhor de si para ao menos continuar vivo enquanto fosse necessário por ali.

— Eden, aconteceu uma coisa... — ele começou, e percebeu pelo olhar dela que podia falar livremente no momento. — A Danika saiu.

O rosto da mulher empalideceu, e imediatamente seus olhos tomaram um tom melancólico e preocupado. Jonathan manteve o olhar nela, e ela levou uma mão até a boca em choque, em angústia.

— Como isso aconteceu?

— Entraram pra tentar tirar de lá a doida que fez aquele barraco aqui no restaurante, e acho que queriam Plutão como brinde, eu não sei, só sei que no meio de tudo isso conseguiram tirar a Danika de lá e se eu conheço ela, eu sei que vai tentar falar com você — Jonathan continuou, e Eden não poderia discordar de palavra alguma, e esse o detalhe que mais a precupava. — Toma cuidado, provavelmente vão ficar te vigiando.

A senhora passou as mãos pelo rosto, ainda mais preocupada. Não só com a neta, mas com a parte de precisar sustentar a informação de que não sabia de nada disso. Claro que iria querer falar com Danika, mas o risco era alto demais, e para todos os efeitos, Eden era uma senhora enlutada pela neta há anos. Desgostava completamente de praticamente todos que cuidou estarem metidos naquela história, talvez só conseguisse salvar Charlotte de estar envolvida com assuntos divinos e infernais ao mesmo tempo.

— Como ela tá? — Foi o que a mulher conseguiu perguntar, e dessa vez sentou ao lado de Jonathan, sem forças para continuar de pé.

— Melhor do que eu, tá muito mais forte do que eu lembrava, com bem mais raiva, fez um rombo em um muro de quase um metro de pedra maciça...

— Por Júpiter, minha menina... — Eden comentou, interrompendo brevemente a fala de Jonathan.

— Mas é Júpiter mesmo, que deusinho apelão da porra — Jonathan comentou, mais como um desabafo, e conseguiu um riso anasalado vindo da senhora. — Desculpe a palavra.

— Só não fale isso na frente da sua irmã. — Soava até como uma grande piada, visto que ambos sabiam de Charlotte estar escutando tudo da porta do corredor como sempre fazia, e ainda assim, Eden tentaria repreender aquele tipo de palavreado perto da criança. Já bastava a própria neta ter acabado com a boca imunda e Jonathan ter seguido pelo mesmo caminho, mais uma vez tentaria salvar a pequena Charlotte. Eden segurou nos dois lados do rosto dele e depositou um beijo calmo na testa de Jonathan. — Vou tomar cuidado, mas tome também.

— Eu sempre tomo.

— Você é o primeiro a querer fazer algo arriscado, te conheço.

— Claro que não.

— Jonathan — ela o repreendeu, erguendo as sobrancelhas, mesmo ainda com a sombra da preocupação tomando de conta de seus olhos. Claro que o conhecia bem, parecia demais com a própria neta nesse aspecto, e ela poderia dizer que era a característica que mais a fazia perder anos de vida a cada susto vindo dos dois.

Ele não tinha forças para retrucar ou continuar teimando, então apenas assentiu como quem acatava ao pedido, embora não fizesse ideia se iria conseguir cumprir. Contanto que Eden tivesse de coração mais leve, ele estava feliz, e deu um último abraço na mulher antes dela se despedir de Charlotte para ir embora.

A menina realmente tinha escutado tudo, e esperava só o momento de a chamarem para aparecer na sala. Discrição podia não ser seu forte, mas ao menos mantinha a falsa farsa de estar quieta. Os pulinhos de Charlotte para abraçar Eden foram animados, e isso alegrou o coração de Jonathan, ao menos alguém conseguia estar mais feliz naquele momento.

— Vamos fazer o seguinte, eu vou trocar de roupa e enquanto isso você vai montar a barraquinha de lençol — ele sugeriu, e a sugestão foi imediatamente acatada.

Geralmente faziam aquilo na presença de mais duas pessoas que infelizmente não podiam estar presentes, e ainda assim, Charlotte montaria a cabana de lençol do mesmo tamanho de sempre. Ela estaria ocupada o suficiente enquanto Jonathan quase desejava se afogar na água do chuveiro enquanto sentia o coração apertado.

Perdera Danika, e sentia que por mais um pouco o mesmo poderia acontecer com Cairbre, e isso o desesperava imensamente. O pior seria a parte em que ele deveria tomar uma decisão ou tomariam por ele, ou seja, deveria escolher entre ele mesmo decidir algo ruim ou sofrer as consequências da decisão alheia. Geralmente a água corrente aliviada esses pensamentos, mas não dessa vez, a água parecia fazer apenas piorar.

Assim como pioraria sua conta no fim do mês se continuasse com o chuveiro ligado enquanto tentava colocar os pensamentos no lugar. Podia ser isento de alguns impostos por seu trabalho, mas a conta de água ainda vinha torrando seu dinheiro todo mês.

Ao voltar para sala, finalmente com uma roupa limpa e não queimada, Charlotte já tinha organizado a cabana de lençol bem em frente à televisão e com muitas almofadas dentro. Além disso, ela colocou pelo menos três pacotes de salgadinho e uma garrafa de água do lado da cabana, assim evitariam de precisar levantar. Jonathan amava esses pequenos detalhes, não tardou ao se jogar nas almofadas e Charlotte imediatamente deitou junto.

Ele abraçou a irmã como uma criança com seu urso de pelúcia, enterrou o rosto nos cabelos da menina e respirou fundo, ela definitivamente era o único ponto constante em sua vida ultimamente e ele pretendia que continuasse assim. Charlotte não reclamaria do abraço, pelo contrário, e se sentiu exatamente com o urso de pelúcia que gostava de ser.

Entããão... — ela começou, já com o próprio tablet em mãos. — O Viktor e a Cairbre não vêm pra casa hoje?

— Viktor ficou trabalhando, se amanhã de manhã eu chegar lá e ele não tiver saído, arrasto pelo pé. A Cairbre... vai demorar um pouco mais que isso, eu acho. — Jonathan moveu os ombros, mas sem desfazer o abraço.

— Então é bom que você não vai sentir falta dela — Charlotte continuou, animada, e Jonathan ergueu uma sobrancelha em curiosidade com o que a irmã quis dizer. — Tem bonequinho novo dela, e eu quero.

— Charlotte...

— Eu tenho todos os outros, não vou deixar a coleção faltando. Vai ter dela e de Netuno e tão lindas! Quero as duas.

A menina fez um biquinho de choro, olhou para cima como um cachorro chorão pois sabia que Jonathan não negaria. E ele quis muito negar. Ficar lembrando de tudo aquilo até dentro de casa parecia uma grande piada de mau gosto.

— Deixa eu ver isso — ele comentou, e pegou calma e cansadamente o tablet da mão dela.

Para piorar, as duas porcarias vinham na mesma caixa e com mesinhas, arminhas e todo um cenário perfeitamente atrativo. Charlotte poderia ficar feliz com o brinquedo novo, mas ele certamente lembraria do belo tiro tomado naquele dia, e só de olhar para o bonequinho de Cairbre podia sentir o coração apertar.

— Por que fez essa cara triste? Pensei que ia ficar feliz com um bonequinho dela... — Charlotte comentou, mais baixo, dessa vez com um olhar receoso.

Jonathan se desesperou, balançando a cabeça e tentando colocar uma expressão melhor no próprio rosto. Ergueu as sobrancelhas por um segundo, queria afundar completamente naquelas almofadas.

— Eu fico feliz, é só que...

— Se você tiver terminado com ela, eu te expulso de casa — a pequena disse, apontando um dedo na direção do peito de Jonathan. Ele levou uma mão ao peito como se estivesse ofendido, e Charlotte apenas assumiu uma feição mais séria. — Ela me convidou pro aniversário importante no reino dela, e eu já tenho até minha roupa de festa! Tia Eden quem me ajudou a escolher. Se tiver feito isso só porque sua roupa de festa é feia e não queria ir lá passar vergonha, eu...

Charlotte! — ele a interrompeu, dessa vez colocando as mãos nas bochechas dela e as apertando com a palma aberta, o biquinho de peixe que formava daquele jeito era simplesmente adorável, e sempre Charlotte movia os lábios como um peixinho como um costume bem antigo. — Eu compro essas porcarias pra você, mas com uma condição.

— Qual?

— Escolha o filme que vamos ver essa noite e nem um pio sobre minha vida amorosa ou eu dou sumiço na sua roupa de festa.

— Mas isso são duas condições.

Jonathan apenas ergueu as sobrancelhas sugestivamente, como quem não aceitaria discussão, embora estivesse com uma vontade extrema de apenas continuar apertando as bochechas da irmã enquanto ela ainda fazia o biquinho. Ela entendeu perfeitamente o recado, embora fosse descumprir totalmente a própria parte naquele pacto silencioso e completamente unilateral. Já até sabia qual filme queria ver naquela noite, não seria uma escolha difícil.

[...]

Pelo menos não estava amordaçada e acorrentada em um toco de madeira como sempre imaginou que aquele lugar seria. Uma cela limpa, clara, e a falta de algemas convencionais quase convenceram Frida de que estava em um lugar completamente diferente da base do Controle. Mas ainda tinha pulseiras em suas mãos que a impediam completamente de sentir a pulsação latente em suas veias, e isso a preocupava.

Talvez estivesse enlouquecendo aos poucos, a cada segundo a mais naquele lugar, tentava convencer a si mesma de que tudo era um sonho. Não podia estar ali, não tinha razão para estar, e sequer tinham apresentado provas para mantê-la. O único lado ruim era de Frida não ter procurado sobre a lei padroeira daquela gente, portanto sequer sabia os próprios direitos como detenta. Melhor que isso, não precisaria de direitos de detenta caso não fosse uma, e até que demonstrasse algum poder, ela ainda era apenas uma civil comum presa injustamente.

Tentou relembrar cada segundo em que usou aqueles malditos poderes, tinha sido cuidadosa, não tinha como eles saberem assim, não com tanta certeza, e aquele apito infernal deveria ter significado algo.

Ela se mantinha sentada no chão, com os joelhos dobrados e as mãos na cabeça, tentando pensar, tentando acalmar a si mesma, e encarar a parede bege não ajudava muito. Na realidade aquela cor dava agonia, e nem sabia dizer o motivo.

Precisava respirar. Uma, duas, três vezes, algumas mais, respirar tanto para manter seu corpo funcionando quanto para evitar que desmaiasse por nervosismo. Ainda queria crer que era um sonho, um pesadelo, um evento no qual ela jamais gostaria de presenciar e ainda assim a atormentava durante o sono.

Infelizmente, não era um sonho, e ver a porta de cela sendo aberta só confirmou isso ainda mais. Se fosse sonhar com alguém, esse alguém não seria Jorani. Muito menos com a outra figura que vinha atrás dela, a qual Frida sequer conhecia.

— Boa noite — Jorani disse, com um sorriso estampado na face. Ela esperou o rapaz atrás de si entrar para finalmente trancar a porta da cela.

Diferente de outras celas, aquela não tinha separação. Cela para periculosidades baixas, como Jorani chamaria, a segurança era precária, mas servia para o seu propósito. Frida tinha colaborado até ali, não via necessidade de celas mais maciças. "Colaborado". Não tinha congelado seu braço ou atirado plasma em sua cara, isso já ajudava muito.

Frida não respondeu, sequer levantou de onde estava, e Jorani se viu na obrigação de fazer um esforço para a conversa continuar.

— Esse é o cadete Miguel Sanchez, foi promovido a meu assistente, caso queira saber — Jorani continuou, e sentou no que deveria ser o banquinho de refeição de Frida. Ao contrário de Jorani, Miguel se manteve de pé, talvez se esforçando demais para parecer à vontade com aquilo.

— Eu quero ir embora.

— Infelizmente, não é possível. — Jorani moveu os ombros como se desculpasse pelo infortúnio. Frida nunca quis tanto na vida poder rosnar para expressar sua insatisfação com aquele cinismo.

— Eu já disse que não sei nada sobre o garoto sequestrado e sobre nada naquela noite, caramba, o que mais você quer?

— Meu equipamento não estava quebrado, senhorita Selistaz, então isso me leva a crer que está apenas receosa com tudo isso. — Jorani juntou as duas mãos na frente do corpo, como se estivessem tratando de negócios. — Você não tem ficha criminal ou passagem pela polícia, sei que não é um risco, mas entende que temos que nos precaver?

— Não.

— Eis o que vou propor para você, quer acredite que é uma pessoa divina ou não, trabalhe conosco.

— Só pode tá de brincadeira...

— A proposta é séria. E independente do que acha de mim, a realidade é esta, você é um deles, com os poderes despertos ou não, e isso é levado em consideração por aqui. — Jorani manteve o tom firme, sério, profissional, e ao mesmo tempo passava longe de parecer minimamente rude. — Sei que sua área são as artes, mas seria interessante sua participação em nossa equipe.

Frida franziu o rosto, e dessa vez quase realmente imita um rosnado, mesmo que no fim tenha somente feito uma careta ao entortar os lábios e uma lateral do rosto. Aquilo definitivamente era uma brincadeira,

Dessa vez, Frida levantou, apenas para sentar novamente no colchão disponível na cela. Ela inclinou o corpo para a frente e apoiou os cotovelos nos joelhos, juntando as mãos tal qual Jorani.

— E se eu não aceitar?

— Ficará sob observação aqui na base, poderá ir e vir, mas não sair até que tenhamos certeza de que não é uma ameaça. Os dias podem ser solitários.

— Soa como uma ameaça.

— Um aviso de quem não quer nada além de sua sinceridade.

A face tranquila de Jorani igualmente irritava Frida, a uraniana não sabia dizer se a crescente confiança na mulher era verdadeira ou falsa. Provavelmente era falsa, tinha que ser, aquela gente não faria uma oferta dessas sem pelo menos dez intenções implícitas.

— Posso ter um tempo para pensar?

— Fique à vontade, peço para o Miguel vir receber sua resposta pela manhã.

[...]

No início, serviu como calmante. Depois do segundo desenho, Viktor começou a sentir a cabeça pesar. Não pelo trabalho, mas por constantemente relembrar da razão de estar com metade do rosto roxo. Se ele tocasse, doía, e ele tocou pelo menos duas vezes como uma recordação constante de que nada estava bem, e isso elevava seu nível de estresse ao extremo. Nem mesmo os desenhos coloridos e brilhantes de cada deus conseguia desviar sua atenção da preocupação iminente.

Não deveria fazer um relatório de como tinham levado uma surra, mas sim de cada deus que encontraram. Alguns ele viu pessoalmente, outros estava se baseando nos relatos dos colegas de equipe, e torcia para as páginas saírem com a coloração certa na impressora.

No início, Viktor fazia cada relatório em um caderno de folhas sem pauta, mas para agilizar tudo, começou a fazer digitalmente e depois apenas imprimir e colar nas pastas separadas para isso. Nome, descrição física, teorias de como os poderes funcionam, cor da aura luminosa e possíveis usos alternativos de cada habilidade. Tinha estudado cada um dos antigos, e para seu desespero e curiosidade, os novos pareciam possuir habilidades completamente diferentes, ou até mesmo parecidas, mas em um nível bastante elevado.

Viktor se perguntava até onde cada um iria, e pela primeira vez, acrescentou uma página ao arquivo de Júpiter. A ordem foi clara de jamais colocar registros de Danika naqueles arquivos, mas agora já não importava, muitos tinham visto o estrago, e talvez muitos ainda veriam, precisavam saber como se defender.

Colocou o nome de cada um em sua respectiva página e pasta, sempre imprimindo em uma folha deitada, assim poderia dobrar e fazer um caderno com o tamanho da metade da folha. Poderia ter feito isso na própria sala, ou na sala de arquivos, mas preferiu permanecer no escritório maior que usavam para reunião do grupo inteiro. A mesa era maior, a impressora era melhor e a máquina de café sempre permanecia ali. Ele tinha tomado pelo menos cinco copos até ali, e levantou somente para colocar mais café na parte de cima do objeto. Em cinco minutos teria mais cinco copos feitos, talvez fosse o suficiente para a noite, ou para uma taquicardia.

Terminou primeiro os arquivos de Netuno, em seguida os de Júpiter, então deixou os de Mercúrio incompletos, assim como os de Urano. Para aqueles que Viktor não tinha certeza, colocou na pasta intitulada como "alguma coisa", e pôs várias interrogações principalmente no topo da página destinada para o Sol e a Lua.

Em um caderno separado, anotou a parte do sono repentino em todos os soldados, e chegou à conclusão de que aquilo deveria ser de outra pessoa que não fosse o rapaz candidato a ser o Sol. Viktor viu o netuniano desmaiar os guardas, mas aquele desmaio em nada se parecia com o sono profundo e tranquilo dos soldados do andar de cima.

Sua cabeça voltou a pesar, precisava urgentemente do café, e olhou o celular uma vez apenas para ver uma foto enviada do celular de Jonathan. Era Charlotte, e na foto ele pode ver Jonathan dormindo nos travesseiros da cabana de lençol junto do gato enquanto a menina fazia cara de choro e drama. A legenda foi simples, "ele mandou escolher o filme e dormiu antes que eu, é duro ser a responsável da casa".

Por um momento, Viktor esqueceu completamente da cabeça pesada e riu, a face dramática de Charlotte era extremamente semelhante à de Jonathan, e não era de se espantar que o homem dormisse primeiro, foi um dia longo para todos eles. Se estivesse em casa, Viktor também estaria dormindo e com uma bolsa de gelo enfiada no rosto.

Sua atenção foi desviada para a porta do escritório, era uma surpresa ter alguém ali tão tarde, e a surpresa foi ainda maior ao ver Jab passar pela porta carregando duas pastas e outro tablet com acesso direto aos arquivos do servidor geral do Controle. Pelo visto, a surpresa em ver outra pessoa ali não foi só de Viktor, Jab imediatamente parou e o encarou.

— Não sabia que estava aqui... — Jab comentou, visivelmente desconcertado. Esperava estar ali sozinho para continuar com o próprio trabalho.

— Relatório — Viktor comentou, sorrindo sem mostrar os dentes e de maneira quase desgostosa como quem dizia "olha que porcaria" ao apontar para os vários pequenos cadernos já grampeados. — E você? A mesa é grande, pode ficar.

— Preparação para o Centenário — Jab respondeu, sem saber se aceitava ou não a oferta.

Realmente a mesa era grande, por isso tinha escolhido aquele lugar, e Viktor tinha tomado mais da metade da mesa com todos aqueles papéis e cadernos. Jab não entendia realmente o que Viktor fazia ali, por isso questionava a real razão para espalhar tanto os arquivos.

— Preparação?

— Se vou passar pela humilhação de ser um mero guarda civil, pelo menos vou saber o que vou precisar aturar. A família real uraniana é enorme e é um reino com detalhes e complicações demais — Jab comentou, e colocou os dois livros e o tablet na parte livre da mesa.

— É até simples — Viktor riu pelo nariz, e levantou. Sentia o cheiro do café recém preparado e sabia que precisava pegar outro copo. — Tirando o rei, são todas mulheres. A rainha é igual às filhas, e as filhas são iguais à vice-rainha e à filha dela.

— Você acha isso simples?

— Bastante. — Viktor não olhou para Jab enquanto colocava mais café no copo, e em seguida colocou quatro colheres pequenas de açúcar. Virou para encarar o venusiano e tomou um gole antes de continuar. — A rainha Isobel fala muito, é inquieta, e provavelmente vai perguntar se alguém não tem mais nada pra fazer do que encher a paciência dela. A princesa Nialla é igual à Cairbre, mas infinitamente mais quieta. Se ver alguma com o cabelo ligeiramente mais vermelho que das outras, é a vice rainha, ela até veio aqui hoje, mas prefere que todos a chamem pelo nome então não chame de majestade, é Faye. — Viktor tomou outro gole, tanto por realmente precisar do líquido escuro e quente dentro de seu organismo quanto para dar tempo de Jab associar todos os nomes. — E a menor de todas é a Caitriona, é filha da Faye, e eu recomendo não ficar muito perto dela.

— Por que não?

— É uma versão piorada e mais linguaruda da Eana. Ah, sim, evite comentários depreciativos sobre a senhorita Valerian ou sobre o lado destruído da ilha, não gostam muito. — O jupiteriano fez uma breve careta, movendo os ombros devagar enquanto caminhava de volta para a própria cadeira, mas não sentou. — Acho que o básico é isso.

— E se eu tocar nesses assuntos? — Jab franziu a testa ao perguntar.

— Da última vez, a Caitriona executou dois soldados por comentários infelizes sobre as duas primas. — Não se orgulhava de dizer aquilo, tampouco concordava, mas era a realidade e em parte Viktor conseguia entender a motivação. Embora desgostasse de atos violentos, ele teria no máximo desferido um soco naqueles soldados, então não iria julgar os métodos de quem tinha metade da altura dele e pelo menos um quarto da força física. — Ela tinha doze e um purussauro obediente.

Jab piscou os olhos algumas vezes, balançou a cabeça, talvez começasse a sentir falta dos bichos pequenos e inofensivos de seu próprio reino. Tinha deixado seu próprio espíritinho no apartamento a duas quadras da base para não precisar parar a cada corredor por acharem a criatura fofa, e ali estava ele já imaginando como seria estar no reino onde criaturas enormes caminhavam entre pessoas na mesma frequência cotidiana com que os espíritos da natureza caminhavam em Vênus.

— Obrigado — Jab agradeceu, dando um longo suspiro em seguida. Ele encarou Viktor, que tomava mais um gole do copo de café. — E eu queria me desculpar.

— Pelo que?

— Por mais cedo, fui rude, estava estressado... — Jab moveu uma mão ao falar, sem saber ao certo como continuar aquilo. — Estava preocupado com a minha irmã, você tem irmãos? Ela consegue atingir completamente os meus nervos.

— O mais próximo que tenho de um irmão é o Jonathan.

O que? — Jab ergueu as sobrancelhas, verdadeiramente surpreso. — Ele não é seu...

— Namorado? Ficante? — Viktor sugeriu, e dessa vez soltou um riso baixo. Soava engraçado como todos presumiam essas opções sem ao menos o perguntar. — Talvez um pouquinho, talvez não, quem sabe? A mãe dele me acolheu quando precisei, então ele e a Charlotte são os mais próximos de irmãos que tenho.

Nesse momento, Jab sentiu que também precisava de um pouco de café. Mas apenas um copo pequeno, e não um enorme como o de Viktor. Tomou o líquido quente de uma vez, e chegou à conclusão de que não precisava de café em si, mas de algo bem mais forte, e isso seria completamente inapropriado para o ambiente de trabalho.

— Então entende o que senti? Fico preocupado com ela e... — Jab deu uma pausa, balançou a cabeça novamente, apoiou as mãos na mesa. — Preciso voltar para o que ia fazer.

Viktor olhou para o próprio copo, para os papéis em cima da mesa, e então para Jab. Talvez todos tivessem que seguir o exemplo de Jonathan e ir descansar. Talvez não, tinha absoluta certeza, e a face de exaustão mental para todo aquele assunto estava estampada na face de Jab e na dele mesmo. Não teriam um progresso tão bom se continuassem fazendo tanto tão compulsivamente.

O jupiteriano pousou o copo na mesa, respirou fundo, e percebeu que mesmo falando que iria voltar ao trabalho, Jab ainda o encarava como se quisesse saber o que Viktor faria a seguir.

— É comprometido? — Viktor perguntou, e Jab estreitou os olhos.

— Não — Jab respondeu, mesmo sem saber o motivo pelo qual respondeu.

O silêncio entre os dois foi palpável, não incômodo, e prelúdio para que qualquer um tomasse uma ação nem que fosse pegar novamente aquele copo, puxar a cadeira e voltar a encarar os relatórios e as inúmeras páginas documentadas. Ao contrário disso, Viktor não segurou o copo novamente, e a essa altura o mini copo descartável de Jab já estava no lixo.

— Ninguém vai conseguir fazer nada hoje... você me foderia? — Viktor perguntou, mantendo o olhar tranquilo em Jab.

O venusiano abriu bem os olhos, atônito com a pergunta, com o pedido, e definitivamente com talvez a parte de Viktor ser comprometido. Não tinha dado uma resposta concreta antes, não sabia se ele tinha algo com os outros dois colegas de equipe ou não.

— O que?

Viktor suspirou, sabia como venusianos tendiam a ser lentos naquele assunto. Não poderia realmente comparar com os costumes do povo de Júpiter, eram sempre mais desenrolados. Viktor deu a volta na mesa, parou à frente de Jab, e mesmo com o venusiano ainda pasmo e sem responder, Viktor segurou no colarinho da blusa de Jab firmemente, como se ao mesmo tempo o mantivesse perto e arrumasse um pano amassado.

— Eu perguntei se você me foderia. Sim ou não? — Viktor frisou, não desviando a atenção dos olhos de Jab em momento algum, e mantendo a seriedade em sua voz. — Se recusar, volto tranquilamente para os meus relatórios e você para seus livros.

E ele falava sério. Não seria problemático ou vergonhoso receber um não, ainda mais quando era um tiro completamente no escuro. Viktor tinha segurança em suas palavras, como se já tivesse feito aquela pergunta tantas vezes que se acostumou com a sonoridade das palavras, com a tensão da situação, com o olhar de alguém que relutava consigo mesmo se deveria ou não.

O mesmo não poderia ser dito de Jab, para ele não funcionava assim, e a forma descarada que recebeu aquela pergunta definitivamente seria considerada depravação em seu reino. Quem ele queria enganar, gostaria muito de dar uma resposta afirmativa, e a proximidade de Viktor naquele momento só o fez ter mais certeza disso.

Jab inclinou o rosto para a frente e encostou os lábios nos de Viktor com pressa, antes que o jupiteriano se afastasse. A urgência do beijo logo se fez presente, e Viktor subiu as mãos para o pescoço de Jab enquanto o venusiano manteve as mãos firmes no tronco do menor. Juntaram seus corpos o máximo possível entre duas pessoas, e bastaram poucos segundos de puro desejo carnal internalizado para afastarem os livros de Jab e ocuparem o espaço restante da mesa.

[...]

Kahne, reino de Marte

Se fosse uma pessoa em plenas faculdades mentais, teria deitado na cama daquele quarto e simplesmente pegado no sono. Se fosse uma pessoa em plenas faculdades mentais teria ido embora dali no segundo em que colocou os pés naquela casa. Se fosse uma pessoa em plenas faculdades mentais, sequer estaria naquela situação.

Danika quis chorar, mas as lágrimas se recusavam a descer de seus olhos, assim como o sono se recusava a vir. Não conhecia aquelas pessoas, não sabia o que pensar sobre nada. E ao mesmo tempo, pensava sobre tudo. Sobre sua saída daquele inferno, sobre perder dez anos da própria vida confinada no fim do mundo, sobre como estaria sua avó, e em todos os seus planos para afundar a cara de três indivíduos específicos como se fossem bonecos de borracha.

Sentia a cabeça pesar, os olhos úmidos, e ainda assim nem o sono nem as lágrimas davam o ar da graça. Danika se mantinha apoiada na pia do banheiro enquanto encarava o espelho, encarava a si mesma, e de propósito alternava a cor de seus olhos entre o usual azul e o laranja tão vivo quanto seus poderes. E em anos com aquela coisa correndo por suas veias, pela primeira vez conseguia ver os efeitos em si mesma. Era assustador.

Não reconhecia os próprios olhos, e ao mesmo tempo, sentia a familiaridade com aquela força interna como se a possuísse durante toda a vida. Pelo menos não usava o macacão prisional, e assim que o tirou, o queimou por inteiro.

A loira voltou para o quarto no escuro, incrivelmente conseguia enxergar bem, e encarou por alguns segundos as duas outras figuras que foram praticamente obrigadas a dividir o espaço com ela. Mas diferente de Danika, ambas ali tinham dormido muito fácil. Psique encolhida em uma rede baixa como se fosse um casulo, Eana completamente esparramada na ponta da cama de campanha.

Tinha sobrado outra cama de campanha para Danika usar, mas o lugar permanecia intocado, ela não conseguiria deitar e dormir, muito menos com aquela gente tão perto. Ao invés disso, sua atenção foi inteiramente para o aparelho eletrônico disposto em cima da escrivaninha do quarto.

Não sabia de quem era, não se importava realmente. Levantou a tela do aparelho e o ligou, felizmente não precisava de senha para acessar os programas. Precisava colocar a mente no lugar, dez anos era coisa demais para procurar em dez minutos, precisaria começar pelo mais simples.

E sua primeira escolha, foi procurar por si mesma. Sequer tinham fotos suas no arquivo do Controle, apenas seu nome em uma homenagem vazia por seu serviço em capturar Plutão. Ela riu pelo nariz de forma seca, não estava espantada. Nem mesmo suas antigas contas estavam ativas, e pior que isso, aparentemente o time que ela torcia e que jogaria na semana de sua prisão, perdeu.

Então procurou pela farmácia de sua avó, por uma antiga sorveteria que gostava muito, sobre tudo feito pelo Grupo de Controle nos últimos anos, e certamente viu sobre Saturno e sobre a reabertura do Museu, e àquela altura, soube da apresentação e da prisão de Frida, assim como da prisão preventiva de Cairbre.

— Que bela merda — Danika comentou, baixo, soltando o ar pelo nariz de forma cansada.

Abriu o vídeo muito mal gravado da briga de rua entre a Eana e o grupo de controle, e podia dizer que até ficou contente com o quão desbalanceado foi, mesmo sendo uma contra seis. Não ficaria tão feliz, ela sabia muito bem como aqueles tiros de plasma arroxeado ardiam como um inferno a ponto de queimar a pele sem ao menos causar dano, mas ainda assim, achou merecido, e teria assistido por horas daquela gente sendo publicamente humilhada por uma magrela que claramente tinha dado mais atenção aos sanduíches do que para a briga em si.

Passou as mãos pelos braços, sentindo um arrepio profundo.

— O que é isso aí? — Danika escutou uma voz ao seu lado, perto demais, e deu um pequeno salto na cadeira ao virar o rosto e ver Eana tão próxima.

— Que susto, porra — a loira reclamou, e só então notou que a ruiva tinha os olhos quase fechados e a face completamente sonolenta. Os cabelos totalmente bagunçados ajudavam na imagem de alguém que acabou de acordar.

Não era pra menos, parecia estar em um sono bem pesado até cinco minutos antes, e agora apoiava um braço no ombro musculoso de Danika como quem a qualquer momento pudesse só deitar e voltar a dormir. Aparentemente, Eana não parecia pesada, mas Danika não queria ter o trabalho de levar a ruiva para a cama como se fosse uma criança caso ela decidisse só deitar e dormir ali mesmo em seu ombro. Nem mesmo entendeu como sua linha de raciocínio foi parar ali, muito menos quando ponderou que realmente seria fácil carregar a outra.

— A melhor parte é da mesa voando — Eana ainda encarava a tela, sorrindo levemente para um lado como se aquilo fosse uma memória muito boa. Danika não soube dizer se a ruiva estava orgulhosa do feito ou só bêbada de sono. — Tentando se atualizar?

— Não é da sua conta. — Danika moveu o ombro, assim tirando o braço de Eana e a impedindo de continuar se escorando. Respirou fundo, viu que mesmo a ignorância não faria a mulher se afastar, e talvez nem precisasse ser grossa realmente, só não queria se expor tanto. — Foram dez anos.

— Não posso dizer que entendo, mas é ano pra caralho — Eana bocejou uma vez antes de continuar, vagarosamente. Ela ainda sentia a própria alma voltando para o corpo, não podia dizer que estava com a cabeça cem por cento funcionante.

— É, ano pra caralho por um motivo absurdo — Danika resmungou, erguendo as sobrancelhas por um segundo antes de suspirar e voltar a rolar a tela.

— Isso já posso dizer que entendo. — A netuniana deixou os ombros caírem, bocejou mais uma vez, e sentou na mesa ao lado de Danika. Não em outra cadeira ou em outra mesa, mas na mesa onde ela tinha o computador apoiado, e manteve as duas mãos apoiadas nas bordas do móvel. — Por isso acho que ficar procurando coisas complicadas nisso aí sempre vai ver só metade do que realmente aconteceu.

Danika não poderia discordar, tinha encontrado uma quantidade absurda de vários nadas realmente úteis. Ela mesma sabia que existiam vários nadas considerados informação sigilosa e nisso entraria a parte dos vários nadas sem fundamento e tidos como prioridade. Em outras palavras, pessoas omitiam, escondiam e mentiam para fazer toda a situação virar a favor de si mesmo, e ela mesma tinha feito parte disso.

— Qual era a do colar que você ficou dando piti querendo ir buscar? — Danika perguntou, virando o rosto para encarar Eana diretamente.

— Foi o último presente que minha tia me deu antes de... — ela não continuou, não imediatamente. Subitamente, o sono pareceu ter ido embora, e Eana moveu os ombros como quem não sabia as palavras mais adequadas para colocar a situação. — Antes que eu arruinasse tudo. É a lembrança que eu tinha dela. Ela tem fotos, bonequinhos, documentos e até estátua por ter sido muito importante, mas nada disso é pessoal. Mas não vou te julgar caso pense que nem eles, muita gente pensa.

— E você não se incomoda? — A incredulidade na voz de Danika foi explícita, e Eana apenas franziu a testa como se não entendesse o real sentido da pergunta. — Só deixa falarem como bem querem?

— No que adiantaria me incomodar?

— Eu costumava pensar igual, costumava apoiar isso tudo, e na chance que tiveram de me colocar em uma cela por ser desse jeito, me colocaram. — A loira coçou a lateral do rosto por um momento, e sua indignação veio até mesmo em seu suspiro cansado. — O ponto é que se deixar fazerem o que quiserem, colocam uma coleira em você. No momento que você não aceita a coleira, te odeiam e mostram os covardes que são.

Ali Eana pode ver a mágoa misturada com a raiva nos olhos de Danika, que por um momento se tornaram alaranjados e brilhantes, logo voltando à normalidade. Não discordaria, mas talvez não tivesse força o suficiente para peitar quem já estava controlando a situação há tanto tempo. Poderia ser bom ganhar um pouco de dignidade, mas ter um momento de paz também valia muito.

Demoraram mais tempo do que pretendiam encarando os olhos da outra, não de forma ofensiva, mas acompanhado de um silêncio bastante confortável e reconfortante, acolhedor. O traço de dureza ainda se fazia presente em ambas, mas já não pretendiam cair no soco com a outra, isso era um progresso enorme.

— Quer sair pra comer? — Eana perguntou, erguendo uma sobrancelha ao continuar olhando para a loira.

— Ficou doida?

— Relaxa, não tô te chamando porque te achei bonita, só não quero comer com essa galera toda aqui e pelo visto você muito menos já que nem dormiu — Eana moveu os ombros, dando um pulinho para descer da mesa. — Tem um restaurante ali na esquina, deve tá aberto.

Danika demorou alguns segundos para raciocinar direito, ou ao menos para entender que realmente era um convite para sair daquela casa e isso ela jamais negaria. Era gente demais, brilhos demais, e ter que encarar aquela luminosidade toda maltratava seus olhos de maneira absurda.

— Espera, então você me acha bonita? — A loira não levantou, apenas virou o corpo para trás para encarar a ruiva que já procurava alguma coisa dentro da própria mochila.

— Óbvio que sim, quem não acharia? — Eana comentou como se fosse a informação mais óbvia do mundo, porém não encarou Danika de volta ao falar, parecia bem concentrada em achar o que queria dentro da bolsa. Ela abriu um sorriso satisfeito ao achar um bonequinho de pelúcia e dois papéis que Danika não entendeu a funcionalidade, mas estava surpresa demais com a declaração da netuniana para conseguir perguntar sobre isso. — Ótimo, assim não vão brigar muito comigo. Agora veste alguma coisa aí que vou só pedir pro Eike entregar isso aqui pra mim.

[...]

Usualmente, ele seria a pessoa a reclamar de quem passava horas encarando o celular, mas naquele momento, era a única forma de Zyr se entreter enquanto se balançava na rede da varanda do último andar da casa de Kallisto. Usualmente, ele não gostaria de ficar afastado, mas sabia que precisava disso.

Nunca tinha realmente pensado sobre o assunto, soube desde pequeno o destino que a mãe teve e tentou não afundar os próprios pensamentos na questão ou acabaria ficando maluco. Exatamente por nunca ter pensado, não sabia o que fazer quando a verdade foi lhe jogada bem no meio da face.

— Eu deveria ficar possesso? Descer e tirar isso a limpo? Ou sei lá, só ficar na minha — Zyr comentou, baixo, ainda olhando para tela do celular enquanto balançava a rede com uma perna apoiada no guarda-corpo da sacada.

"Matar ou torturar ele não vai trazer sua mãe de volta" ele escutou a voz da última Lua na própria cabeça, e embora ela permanecesse em silêncio por longas horas, ou até dias, Zyr agradecia por ela responder quando ele realmente precisava de uma companhia, mesmo que não soubesse disso.

— Tá, mas e depois? Se ele for ficar mais tempo por aqui, vou ter que ver ele mais do que eu gostaria.

"Não acha estranho que ninguém sabia o que aconteceu com a Saanvi?"

— Como assim?

"O Nephele nunca soube, nenhuma investigação deu resultado, a polícia plutoniana também não, mas a Maya sabia exatamente quem fez? É estranho demais"

— Falando desse jeito... — Zyr parou de balançar a rede, franziu a testa e respirou fundo. Desligou a tela do celular e olhou para cima, para o céu já escuro e estrelado. — Por que ela saberia uma coisa dessas e nunca falou?

"Medo de se comprometer, não lembra quando você tentou falar com os pais dela e ela só ficou quieta enquanto diziam aqueles absurdos? No lugar dela, eu também ficaria quieta, eles nunca foram os mais tolerantes com sua mãe ou com você"

— Você conheceu eles?

"Uma vez, não recomendaria a ninguém"

Zyr passou as mãos pelo rosto e pelos cabelos, querendo e não querendo que aquele chute fizesse sentido. Falaria com Om, isso era certo, mas depois, no dia seguinte talvez, quando estivesse o mais tranquilo se é que isso era possível. Provavelmente era trouxa de desejar que Maya não tivesse ligação direta com aquilo, mas não queria complicar ainda mais a relação conturbada que tinham. Odiava conturbação com qualquer pessoa.

Precisou voltar a balançar a rede com a perna, só assim para sentir uma brisa leve. O tempo parado e seco do reino de Marte com certeza afetada seu nariz e sua sensação térmica, e por isso ele precisava de ao menos um ventinho.

Não parou de se balançar mesmo ao escutar passos se aproximando da varanda, e logo soube que era Eike pelo brilho azulado claro bem mais forte que no início do dia.

— Sem querer atrapalhar seu balanço, mas me pediram pra te entregar uma coisa — Eike comentou, batendo algumas vezes um papel contra a própria mão, devagar, para indicar que aquilo era a coisa em questão.

Zyr fez uma careta, e estendeu uma mão para pegar o papel. Segundos depois, abriu bem os olhos, empolgado, e abriu um sorriso quase animado. Eike pouco entendeu, e fez uma careta como quem perguntava a razão daquela animação repentina.

— Não acredito que ela ainda trouxe... — Zyr comentou, encarando o papel como uma criança com brinquedo novo. — É um pôster do Khalil que o próprio Khalil assinou.

— Quem?

— O cantor uraniano que mora em Vênus agora, ele tava no mesmo restaurante que prenderam a Eana, ela foi lá pedir autógrafo antes do Controle aparecer. Eu amo as músicas dele, o Nikolai também — o meio netuniano explicou, calmamente, e ainda assim bastante empolgado.

— Por isso ela pediu pra entregar o dele também — Eike concluiu, finalmente tudo fazia um pouco mais de sentido. Ele puxou uma cadeira da varanda para sentar, como se ponderasse se deveria continuar a falar. — Mas ele e a Kallisto tavam conversando e eu não quis interromper. Posso te perguntar umas coisas?

O tom da pergunta era suspeito, e de certa forma, já era uma pergunta. Eike parecia incomodado com algo, ou melhor, com várias coisas ao mesmo tempo e isso era óbvio. Zyr assentiu, àquele ponto nada mais seria tão estranho, ou sequer tinha a chance dele não responder, meio que deviam isso à Eike por terem o acordado à força.

Supondo que eu seja um cacete desses que nem vocês, o que eu supostamente poderia fazer? — Eike estreitou os olhos ao perguntar, como se tentasse convencer a si mesmo de ainda ser uma possibilidade. — E supostamente eu seria qual deles?

Apesar de querer muito rir das várias suposições, Zyr conteve o riso. Nem todos encaravam aquilo com facilidade, nem todos precisavam.

Supostamente você seria da descendência de Urano, o que faz sentido porque é cria de Marte também e você nasceu aqui.

— Aqueles que casaram com os irmãos? — Eike abriu bem os olhos, alarmado. Zyr negou com um movimento da cabeça.

— Não, esses não, mas outra. Eu não sei exatamente o que ela fazia, mas tinha a ver com defesa ao invés de ataque. — Zyr franziu os lábios por um segundo, tentando pensar em qualquer outra informação que viesse à cabeça, ou até mesmo que alguma das vozes o dissesse algo. Nada veio. — Isso ajuda?

Eike queria dizer que sim, mas também queria dizer que não, talvez nem soubesse o que queria responder. Para ele, aquilo ainda parecia uma brincadeira, e parte de sua mente se recusava a acreditar no brilho visto em si mesmo ao toque de Psique. Muita gente brilhava ao mesmo tempo, poderia ter sido uma bela ilusão de ótica, ou alucinação, Zyr poderia muito bem ter dito para ele ver aquilo tudo e agora não lembrava da situação em sua totalidade.

Aceitar a realidade era muito mais difícil do que rejeitar, e facilmente poderia estar sendo ludibriado para ver o brilho de todos os outros. Mas a que custo e para que finalidade? A cabeça de Eike estava prestes a explodir. Ele tinha ido ali para fazer um serviço e receber seu salário no fim do mês, não para jogar brilho nos olhos até ficar cego.

— Isso é um alvo ainda maior nas minhas costas... como vocês aguentam essa merda? — Eike perguntou, por fim.

— Você tem pessoas com quem se importa? Que são importantes pra ti? — Zyr perguntou, baixo, e recebeu um aceno positivo vindo de Eike, como se aquela informação não pudesse ser dita em voz alta, ou como se ele não conseguisse dizer. — Então diga isso a elas. A todas elas.

— No que isso importa?

— Você nunca vai saber quando vai ser a última vez que vai conseguir dizer.

Eike esboçou uma careta, Zyr apenas ergueu as sobrancelhas, não tinha algo melhor para fazer. As chances de qualquer um deles morrer era maior que a de ficar com vida, ainda mais tão metidos em toda aquela porcaria. Poderiam levar um tiro no dia seguinte ou depois de trinta anos, e só o mero pensamento sobre isso fez Zyr sentir o corpo arrepiar em um calafrio. Ele lembrava brevemente de como a Lua anterior morrera, e algumas vezes podia até sentir. Não pretendia levar tiro algum novamente.

Ao mesmo tempo, inúmeros pensamentos dançavam quadrilha na mente de Eike, e nenhum pensamento minimamente coerente vinha à tona. Aquilo era péssimo, horrível, ruim demais para ele dar conta, não precisava de mais esse frangalho de situação para a própria vida. De alguma forma, as palavras do meio netuniano atingiram o interior de Eike mais do que deveriam, e ele não sabia se sentia culpa ou medo por isso.

[...]

— Já que estamos aqui, vamos falar de negócios — Nikolai comentou, e puxou uma cadeira para se sentar à frente de Kallisto.

Ela apenas o encarou, incrédula, como quem sequer tinha deixado ele puxar a cadeira ou abaixar o corpo. Kallisto não moveu o rosto, apenas os olhos, mantendo sua mesma posição anterior de quando tentava prestar atenção em seu próprio computador. Conhecendo Nikolai como ela conhecia, sabia que ele não sairia dali tão cedo.

— Quem disse que eu quero falar com você?

— Ah, me desculpe se fiz parecer o contrário, eu sei que quer minha cabeça em uma bandeja a caminho de uma fogueira, mas vai ter que falar comigo mesmo assim — Nikolai disse, teatralmente arrependido, visivelmente dramático.

Talvez ela não quisesse somente a cabeça dele dentro de uma fornalha, mas o corpo inteiro, até virar cinzas. E ele sabia disso, sabia bem até demais.

— Indo direto ao ponto, eu quero fazer uma coisa, e você vai me ajudar.

— Por que eu faria isso?

— Porque nesse momento tem tanta gente poderosa embaixo do seu teto que você ganharia um prêmio por passar tanto tempo com tanta gente junta sem uma explosão acontecer, e bom, é sua chance de ver o circo pegar fogo de camarote.

Kallisto apenas estreitou os olhos, poderia fazer isso mesmo sem a proposta de Nikolai, e embora ele não fosse admitir, ele precisava da colaboração dela bem mais do que ela precisava de uma proposta dele.

— O que você quer? — Kallisto perguntou, já com uma expressão de pouca paciência.

— Uma transmissão. Não posso entrar em contato direto com uma emissora, mas aposto como você pode.

— E por que não?

— Porque quero manter isso longe dos meus negócios em nome de lucros futuros. — Nikolai moveu os ombros, realmente tentaria se preservar, já estava na beira de um precipício e ele sabia que ao invés de agir como qualquer pessoa sã e se afastar, ele pularia. — Ajuda se eu pedir por favor?

— Não.

— Já imaginava.

— Escuta, já é muita folga você vir aqui como se fosse um hotel, mesmo que tenha sido meu combinado com o senhor Grimshaw de acolher quem ele trouxesse — Kallisto disse, e Nikolai conseguia sentir no tom de voz dela as várias faca mentais que a mulher gostaria de enfiar nele. — Uma transmissão revelaria exatamente nossa localização.

— É por isso que tenho duas pessoas de alta inteligência e baixa destreza pra contornar o sinal, não vai ser problema. Só preciso de uma emissora e um horário.

— Quem? E como? — Kallisto ergueu as sobrancelhas ao perguntar, não seria tapada a ponto de não perguntar os mínimos detalhes a Nikolai. Não era como pisar em ovos, mas sim em pregos, e continuava arriscado demais para os rastrearem.

"Venham aqui" Nikolai comentou, mentalmente, e torceu para Juno ou Lian ainda estarem acordados. Tinha ouvido algum dos dois falar com Blizzard minutos antes, não era possível que já tivessem dormido. "Zyr, anda aqui também"

— Acho melhor que eles mesmos expliquem — Nikolai disse, e colocou um sorriso nos lábios, sem separá-los. Não ia falar sobre o que não sabia, não com Kallisto, ele sabia dela saber exatamente quando ele decidia enrolar ou não.

Dois segundos depois, a primeira a colocar a cabeça para dentro daquele cômodo foi Juno, curiosa com o chamado. Em seguida, Lian, menos curioso e bem mais receoso, o rapaz só esperava que nada tivesse dado errado, de novo, a essa altura já não duvidava da capacidade das coisas para o seu lado só piorarem. Apesar disso, ambos tinham uma interrogação enorme estampada no meio da face.

— Os dois têm certeza que conseguem desviar o sinal de rastreamento de uma transmissão? — Nikolai perguntou, mesmo sabendo a resposta.

— Óbvio que sim, qualquer pessoa de cinco anos consegue fazer isso — Juno comentou, esboçando uma careta como quem estava ofendida pelo questionamento de sua capacidade.

— É fácil de fazer, mas eu acho que é bom quebrar o celular depois, só por garantia — Lian disse, menos exaltado que Juno. Pelo menos não seria o dele a ser quebrado, mas temia por quem fosse oferecer o celular para aquela porcaria. — Dá pra fazer um bloqueador de sinal com o que a gente achou.

— Perfeito, vê, são super confiáveis — Nikolai comentou, ainda com um sorriso no rosto.

— Eu discordo, mas sim, sei de alguém que pode ajudar vocês e que ultimamente anda muito interessada em todo esse assunto — Kallisto concluiu, ainda com a face desconfiada ao olhar para Juno e Lian.

"Confiáveis". Para Kallisto, tinha a exata face de quem daria choque em alguém na primeira oportunidade mesmo sem ser de propósito. Mas daria um voto de confiança aos dois por serem os únicos a socializarem minimamente, enquanto outros sequer tinham mostrado a face depois de chegarem.

— O que foi? — Ouviram a voz de Zyr adentrando o cômodo, ele vinha acompanhado de Eike, e olhava diretamente para Nikolai como quem não queria estar ali.

— Hora do plano S, meu querido — Nikolai respondeu.

— Vocês ainda não disseram que porra de plano S é esse, não era o plano de fuga? — Eike perguntou, com a face rígida e os olhos estreitos.

— S é de slide, você tá com o arquivo atualizado, né Zyr? — Nikolai levantou, com os olhos fixos em Zyr enquanto tirava o próprio celular do bolso.

— Você é quem esquecia de atualizar, animal. Conseguiu o horário? — Zyr perguntou, e embora Nikolai fingisse ofensa com o tratamento, foi completamente ignorado.

Nikolai apontou para Kallisto, ela quem conseguiria, e a mulher não tinha a face mais animada do mundo para aquilo. Ela faria, já tinha o celular em mãos, mas nenhum dos outros podia ter certeza disso enquanto ela encarava Nikolai com desconfiança. Tudo se tornava pior quando o netuniano parecia ir em direção da saída da sala.

— Ei, vai aonde? — Lian perguntou, confuso.

— Ligar pra minha mãe e avisar que vou ficar famoso, por que? — Nikolai respondeu, franzindo o rosto como se a resposta não pudesse ser outra diferente.

— Você tem mãe?!

— Em nome do que é mais sagrado, Lian, para de perguntar se as pessoas têm mãe! — Juno interviu, e Lian a olhou como se a intervenção fosse completamente sem sentido.

— Uma mãe não deixaria ele fazer o que faz — Lian concluiu, certo das próprias palavras pela primeira vez na última hora, e quem discordasse dele estaria profundamente errado.

Até mesmo Nikolai concordou, acenando com a cabeça, e imediatamente se retirou. Chamou Zyr ali exatamente para terminar de resolver aquela porcaria enquanto fazia uma ligação para casa, e o rapaz sabia disso, por isso sua face ao chegar já não era das melhores. Sempre assim, quando um não podia, o outro ficava de babá de decisões arriscadas, e ambos sabiam qual dos dois era mais adequado para isso.

Juno e Lian continuaram uma discussão quase silenciosa e regada de caretas pela afirmação dele, até podia estar certo, mas a forma de perguntar ainda não era das melhores e Juno não daria um passo para trás nesse julgamento. Ao lado deles, Eike esfregou o rosto com força, farto das pentelhagens daquela gente.

— Tudo bem, vai dar certo — Zyr comentou, baixo, mais para si mesmo do que para os outros. Sua preocupação não era o plano dar certo, e sim o que viria depois, e já imaginava os gritos que receberia por isso depois. — Kallisto, você consegue mesmo?

— Venha aqui — ela respondeu, e indicou para Zyr sentar na cadeira antes ocupada por Nikolai. Entre os dois, o meio netuniano era consideravelmente mais fácil de lidar, e isso deixava Kallisto mais tranquila.

Ela apontou então para a tela do celular, já estava chamando, e Kallisto colocou para todos escutarem no terceiro toque de chamada. Se Nikolai ainda estivesse ali, ela teria falado sozinha, mas sentia uma seriedade maior vinda de Zyr e seria justo deixar os dois responsáveis pelo bloqueador de sinal estarem a par das negociações.

Juno e Lian tinham praticamente a mesma face curiosa e intrigada, enquanto isso, Eike mantinha os braços cruzados e a expressão de pouca felicidade enquanto praticamente vigiava os três mais baixos que ele.

Alô? — escutaram a voz do outro lado da linha.

— Aleksy der Baum, estou certa? — Kallisto perguntou, e automaticamente sua voz assumiu um tom mais amigável, mais alegre. Apenas a voz, a face de Kallisto se manteve tão séria quanto antes.

Quem é você e como conseguiu esse número? — Aleksy perguntou, uma pergunta válida.

— Ultimamente suas reportagens foram bastante incisivas sobre o Grupo de Controle e sobre os indivíduos considerados divinos, o que acha de ficar rica por bater o recorde de audiência em uma quarta-feira que é um dos dias mais parados? — Kallisto continuou, não sabia ao certo quais os planos daquela gente, mas qualquer que fosse a ideia, certamente quem transmitiria faturaria muito.

Primeiro, veio o silêncio. Ainda conseguiam ouvir os ruídos vindos do outro lado da linha, sabiam dela estar ali, provavelmente pensando. Precisavam ter paciência, se a resposta fosse negativa teriam alguns problemas caso Aleksy resolvesse delatar tudo para o Controle, mas tendo em vista o posicionamento da mulher em seu trabalho, duvidavam muito disso.

Que proposta? — Aleksy perguntou, e podiam notar a cautela dela mesmo em duas palavras.

Kallisto moveu o rosto em direção de Zyr, indicando ser a vez dele de falar.

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