9 - NO RASTRO DAS LEMBRANÇAS
Os dois riram juntos, completamente sujos e despreocupados, enquanto a poça fedia e a diversão tomava conta do momento. Mas, em meio à alegria, Jurismela sentiu um cheiro familiar no ar, algo que a fazia parar e refletir. Ela franziu a testa, os sentidos aguçados, e começou a farejar, determinada a descobrir a origem daquela fragrância intrigante.
- Jurismela, você está bem? - Perguntou Enovigenese, olhando para ela com preocupação.
- Sinto algo... é como um cheiro que eu conheço, mas não consigo lembrar de onde vem. - Ela se afastou um pouco, o olhar fixo à distância, em busca do aroma que a atraía.
Enovigenese a seguiu, intrigado, mas hesitante. Jurismela começou a caminhar, com passos cautelosos, como se o cheiro estivesse a guiando. O ar estava carregado de uma mistura de flores e algo mais profundo, quase como um eco de uma memória perdida.
A medida que avançavam, os sons da natureza pareciam ficar mais intensos, e Jurismela fechou os olhos, permitindo-se ser envolvida pela fragrância. Então, em um lampejo, ela teve uma visão fugaz: uma imagem de um lugar, um campo vasto, coberto de flores coloridas. Um riso suave ecoava em sua mente - uma lembrança de um momento feliz antes de sua vida mudar para sempre.
*****
" - Espera Jurismela! - Um pequeno filhote disse.
- Então ela se viu também correndo, ainda filhote.
- Corra mais rápido!
Ela estava com seu irmão jurismelo ambos estavam correndo muito felizes e brincando. Aquela havia sido a última vez que ela vira seu irmão naquele fatídico dia há tantos anos antes
Em determinado tempo ele acabou a alcançando, e então ela ouviu saindo de seus lábios:
- O último a chegar lá no topo não vai revirar o lixo, nem comer carniça!
Os dois chegaram no topo da colina ao mesmo tempo. Ao chegar lá, ambos caíram na grama rindo e não muito cansados. Depois eles desceram colina abaixo rindo."
*****
- Eu... não sei onde estou indo, mas eu sinto que preciso continuar. - Disse Jurismela, abrindo os olhos com determinação. Ela se virou para Enovigenese. - O que você acha que é esse cheiro?
- Pode ser só uma flor exótica, ou algo do tipo. - Respondeu ele, tentando ser racional, mas sentia a ansiedade crescer junto com a curiosidade. - Não tem como saber.
Jurismela olhou ao redor, sentindo que estavam se afastando do que conheciam, mas a sensação de urgência a levava em frente. Eles não estavam em um caminho familiar, mas a conexão que ela sentia a impulsionava, como se algo importante estivesse à espera dela.
A floresta ao redor começou a se densificar, e as árvores criavam um tipo de túnel. Jurismela podia ouvir o sussurro das folhas, como se estivessem falando dela. E então, o aroma se intensificou, inundando seus sentidos. Um misto de esperança e temor a envolveu.
Ela se lembrou de uma promessa feita a si mesma: encontrar seu irmão perdido e entender as conexões que a ligavam a ele. A fragrância não era apenas um cheiro; era um sinal, um convite a seguir em frente.
- Vamos, Enovigenese! - Chamou ela, com um brilho determinado nos olhos. - Precisamos descobrir de onde vem isso!
Ele a seguiu, mais decidido agora, mesmo sem entender a magnitude do que estavam prestes a encontrar. O cheiro os guiava, e Jurismela estava pronta para desvendar o que a esperava.
*****
" Quando os dois filhotes chegaram ao final da colina, eles viram uma grande casa que estava abandonada, era a casa 94 na rua da Cacimba.
- Quanta galinha! - Jurismelo disse, lambendo os lábios, vendo o grande galinheiro onde tinha cerca de 50 galinhas.
Ele quis pegar todas.
- Eu não vou entrar aí irmão, sente o cheiro, essa casa fede a morte.
Ela estava desconfiada. Seu irmão caçoou dela a chamando de medrosa dizendo que iria entrar lá assim mesmo.
Ela viu quando o seu irmão deu as costas a ela e foi em direção a um buraco. Nesse instante algo aconteceu: o galinheiro e as galinhas sumiram, mas Jurismelo percebeu isso tarde demais, pois o buraco por onde ele tinha entrado se fechara.
Jurismela viu seu irmão fechado dentro da casa cuja fachada estava completamente aos pedaços. A casa estava querendo desmoronar. Ela ergueu as orelhas e começou a latir quando viu uma garotinha chegando atrás dele e dizendo:
- Quero comer!
- Corre Jurismela! Corre! -
Jurismelo disse.
Mas ela não saiu do lugar. Continuou latindo em fúria, observando aquela garotinha que, na verdade, não era uma criança, mas um demônio. Jurismela conseguia sentir as trevas e o cheiro de morte que emanava daquela criatura, cada vez mais próxima de seu irmão.
- Vai Jurismela. Já já te encontro. Vamos apostar mais uma corrida.
Ela abriu um sorriso ao se imaginar correndo novamente com seu irmão. Apostar corrida era o que eles adoravam fazer.
Ele se aproximou mais do portão, ela queria que seu irmão saísse da casa, mas naquele momento, não pensou em nada, não pensou que não tinha como ele sair, só pensou na corrida e no amor que ela tinha em correr junto de seu irmão, e com muita dor no coração ela superou e começou a correr muito rápido deixando seu irmão para trás.
Quando viu que seu irmão não estava correndo com ela se deu conta que ele não conseguiu sair da casa. Então ela se virou e correu, encontrou a casa, mas ela estava em ruínas e não tinha nenhum sinal do seu irmão nem da garota demônio."
***
A biblioteca estava calma até que Chefe Charlie Cavalo, Dadimilho e Jurismelo começarem a conversar ao redor da mesa. As cadeiras adaptadas para que eles pudessem sentar estavam sempre um pouco desajeitadas, já que todos os cães andavam de quatro patas. A Velha Cadela estava deitada num canto, roncando levemente, alheia ao alvoroço que estava prestes a acontecer.
- Oxê, mas que diabo é isso que ocê tá me contando, Jurismelo? - Chefe Charlie Cavalo falou, coçando a cabeça com a pata. - Péra aí, ocê não é mais aquele chupa-cabra malassombrado? Arre égua! Se eu num tivesse ouvido com esses ouvidão, num acreditava!
Dadimilho piscou e, claramente surpreso, olhou para Jurismelo.
- Isso é verdade, Jurismelo? Eu nunca imaginei...
- É verdade sim. - Respondeu Jurismelo, com um meio sorriso. - E tem mais: sou irmão da Jurismela.
A cadeira de Chefe Charlie Cavalo fez um barulho alto quando ele se levantou de repente, derrubando a mesa com o susto.
- Pera lá, Virgem Maria, para lasqueira! Ocê tá me dizeno que ocê é irmão da Jurismela? Da nossa amiga de longa data? Dadimilho, me belisca que eu devo tá sonhano, rapaiz!
Dadimilho, ainda meio atônito, deu um passo à frente, mas ao invés de beliscar o amigo, ele se confundiu e deu uma leve mordida no ombro de Chefe Charlie Cavalo, que deu um pulo alto.
- Ôxente, Dadimilho! Que qui é isso? Mordendo meu cangote? Eu pedi pra beliscar, num pra arrancar pedaço, rapaz! - Chefe Charlie Cavalo recuou, mostrando os dentes, visivelmente irritado. - Ocê quer começar uma briga, é? Que eu tô pronto!
Dadimilho ficou sem jeito, abaixou as orelhas e logo pediu desculpas, recuando um pouco.
- Desculpa, Chefe! Foi sem querer... Me confundi, não queria te machucar!
Chefe Charlie Cavalo bufou, mas depois balançou a cabeça, ainda fingindo estar bravo.
- Tá bom, tá bom... Mas da próxima vez, cuidado, viu? Se não eu vou dar uma mordida de volta, e aí ocê vai ver só o que é bom!
Os dois voltaram ao normal, e Dadimilho suspirou de alívio. Enquanto isso, Jurismelo observava a cena com um sorriso divertido.
Antes que pudessem continuar, a porta da biblioteca se abriu de repente. Enovigenese e Jurismela apareceram. Jurismela correu na direção de Jurismelo, com os olhos brilhando.
- Jurismela! - Gritou Chefe Charlie Cavalo, arregalando os olhos ainda mais. - Arre égua, eu num tô aguentano, Dadimilho! Isso aqui tá parecendo história de novela! Dois irmão se reencontrano! Eu vou é chorar de emoção, rapaiz!
- Jurismelo! - Gritou Jurismela, com lágrimas nos olhos. Ela correu para o abraço do irmão, os dois se encontrando com alegria. - Eu nem acredito que te encontrei!
- Jurismela, minha irmãzinha! - Disse Jurismelo, cheio de emoção. Eles começaram a se lamber felizes, o que só aumentou o sentimento de alegria entre os outros.
Enquanto Chefe Charlie Cavalo olhava a cena, ele mal podia conter sua empolgação:
- Ôxe, Dadimilho, que coisa mais linda! Dois irmão se lambendo de alegria! Se isso não é o amor mais puro que existe, eu num sei mais nada!
Dadimilho sorriu, observando a cena emocionado.
- Sim, Chefe. É realmente um momento especial.
Ao fundo, a Velha Cadela continuava dormindo, alheia a toda a euforia. O ronco dela ressoava pela sala, mas ninguém parecia se importar, pois o momento era de pura felicidade.
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